sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Sonhadora

Tenho observado os seus olhos.
Ficaram mais castanhos, maiores e mais brilhantes.
Como se uma lágrima estivesse ali pronta para saltar.
Dei com ela olhando para longe, sorridente, despegada do mundo onde vive.
Quem sabe, olhando outros mundos mais simples, mais coloridos.
O brilhozinho nos olhos e o sorriso irónico de quem sente o prazer solitário.De quem
acredita ter o mundo colorido e simples, nas mãos.
Porque olhas para além ? Ainda estás, ou já partiste?
Estou a viajar apenas, no caminho que abriram para mim.
E que fazes, na viagem? Sorris pateticamente? A tua viagem só te dás sorrisos?
Sorrir é uma benção.
Sorrio saltando à corda na cerca da minha escola.Jogando ao toca e foge.
E sorrio andando descalça no chão barrento da minha estrada antiga, onde o asfalto ainda não chegou.
Que te deu para quereres voltar atrás? E toda sorrisos...
Não é voltar atrás.
É saltar o tempo.Saltar o muro da minha amargura e desalento.Saltar os anos que não sorri. Nem sonhei nem olhei para além.
E basta-te?
Não sei. Depois se verá. Sei que quero andar na chuva morna que lava a poeira.Olhar o arco íris, sentir o cheiro da terra molhada, vermelha.
E ver o rasto das lesmas no jardim das rosas, que o avô tratou com carinho.As rosas cor de chá, viçosas e molhadas do orvalho, da noite.
Ai as rosas...as vermelhas, do vaso ao pé do tanque dos peixinhos, vermelhos, gigantes.
E os morcegos numa festa noturna, de mangas, das mangueiras do quintal.
Vou sentar-me junto ao portão, no muro, a contar as estrelas.E quero descobrir os segredos do Universo.Agora sei que os há.Para decifrar. E interferem no meu signo, ou no meu destino, que sei eu?!...
Já oiço o som dos grilos, frenéticos, impacientes.
Oh, viajar assim, olhando além e sorrindo basta-me sim. Não preciso de iniciar a viagem para perceber.
Qual a diferença? Não precisavas viajar.Podes daqui observar, sentir ...
A diferença está em mim.
A viagem é o pretexto. O meu sorriso não.O meu sorriso ilumina-se se iniciar a viagem.E vejo tudo o que me cegou.E cego-me de alegria.E oiço hinos prenhes de paz e amor.
Está em transe. Vou deixá-la abraçar a cálida idéia da viagem que fará. Ela, a eterna viajante que Deus predestinou, merece olhar mais além e saltar o Tempo.

1 comentário:

maria disse...

também acho que "ela" merece. Força.