segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Feliz Ano, meus amigos!




Se o mundo fosse um circo onde todos se divertissem, hoje seria uma diversão colectiva, um verdadeiro bacanal se é que me entendem e não me levam a mal, cruzes, credo, canhoto, que espero não haja menores por aqui nem virgens púdicas e falsas. E assim o mundo não seria a aberração a que parece estamos votados, neste tempo cheio de ideias e conceitos aberrantes, em que cada lei sua sentença, cada sentença sua condenação, cada condenação sua perda de liberdade. A cada falta de liberdade, sua miséria e manipulação. 
Cada um por si, cada um para si. Obscenamente obscenos.
Se o mundo fosse um circo e eu um mágico com pós de perlim pim pim, nesta noite, a derradeira noite d'um ano difícil, inseguro e amargo, transformava-o num ano novíssimo em folha e a estrear para ninguém botar defeito. Assim mais ou menos com a designação de, AQUELA MÁQUINA. O ANO! De todos os anos. Que se não fosse a bem ia a mal.
Transformava-o num ano próspero em fé e sabedoria, união e paz, família, saúde e sucessos.
Bania a inveja e a corrupção. Ai a corrupção meus amigos, fazia-a em picadinho, cortando-a pela raiz para nunca mais vingar. 
Acabava com o preconceito e com a guerra. Distribuía a riqueza e a cada um, punha à mão de semear, uma enxada para com ela cavar.Ou a sepultura, ou daqui para fora, ou ainda para colher frutos do suor e do trabalho. E enricar...
Ai se o mundo fosse um circo! Isto sou eu a divagar numa utopia besta porque o mundo é mesmo um circo montado para nos tramar.
E eu, um peão. Um palhaço pobre que só sabe chorar ou sonhar. Às vezes um trapezista na corda bamba, às vezes feito ginasta nos salários esticados até ao fim do dia, da semana, do mês. Outras vezes um ilusinista sonhador de jogos de sorte e azar. Tudo para não me finar.
Ai se  o mundo fosse um circo! 
O mundo não é um circo; o meu mundo não é. É antes, uma barraca montada e eu uma marioneta manipulada deste hilariante e trágico sítio do picau que já não é amarelo, mas continua pequenino, sem pernas para andar nem esperanças que me façam correr ou futuros sonhar.
Mas hoje, quando o ano estrebucha, vacila e finda cabe-me reflectir, cabe-me teimar, ou fingir-me de morta para não me angustiar.
Cabe-me desejar  as boas-vindas ao ano que há-de chegar. 
Já cá estou, já cá estamos para em tudo o ajudar. 
Se o mundo fosse um circo hoje era só cantar e dançar. Gargalhar.
Façamos todos de conta e assim pela minha parte vou desejar um belo fim de ano e muita coragem para receberem o que há-de chegar.
Sejam felizes e vivam que a crise havemos de superar. Se não for a bem, lá terá de ser, a mal.
Que chovam raios e coriscos, potes e picaretas e até que os cães a bebam de pé, que caiam o carmo e  a trindade mas façamos deste novo ano que se aproxima, aquele ano, aquela máquina. Mesmo que infernal.
Daqui a nada já será carnaval e nessa altura ninguém leva nada a mal.
Feliz ano, meus amigos. Vivam!  

só para que conste ;)


a sério que sim


domingo, 30 de dezembro de 2012

constatando


Está um frio de rachar, aqui onde me encontro. Nada me aquecerá hoje.
Digo eu, fechando a porta à chave para evitar desencontros com o tempo, enquanto conto os 
dias que faltam para novo reencontro com dias amenos que me trarão felicidade.

m.c.s.

a minha casa versus lar




É domingo mas nem por isso me mantenho na cama mais tempo. O braço doi-me. O despertador toca. Esquecimento meu. 
Nem o prazer que sinto no edredão de penas, oferta de Natal, de quem me quer bem, quentinha e confortável, me convence. 
Conheço os ruídos rotineiros de um domingo, nas casas abaixo de mim, ao lado, na rua. E os cheiros. São muitos anos. 
Este é o lugar onde me sinto mais protegida. Trato por tu tudo o que vejo e não vejo mas sei onde está. Cada coisa no seu lugar. Com linguagem própria. 
Tudo me fala. Ou se cala. Tudo se ri ou chora assim esteja eu em maré de amar ou de entristecer. De me alegrar ou me revoltar. De odiar ou simplesmente de me permanecer num, ao deus dará, um pouco sonâmbula, um pouco sonhadora, um pouco criança, um pouco velhinha. Um pouco eu e a outra de mim num todo que nem sempre me reconheço.
É domingo e este espaço foi um lar durante quase uma semana. 
O sol entra-me pela janela. Toca-me ao de leve.
Se este fosse um espaço isolado do mundo seria o melhor do mundo. O lugar mais seguro. Aquele onde o amor parte e volta sempre. A minha âncora. A minha certeza de poder deitar a cabeça e descansar. 
A minha certeza de que aqui não estou sozinha.
O meu lar está no fim. Amanhã será mais uma casa, como tantas outras.
Talvez melhor que outras, porque ficará a memória de ter sido muito feliz durante uma semana, desde que há cinco anos deixou de ser um lar para se tranformar numa casa fantasma onde eu fui assinando o ponto para ser dada como presente e não ser despejada de mim própria. 
Talvez melhor que outras, porque ao longo deste ano com o culminar no Natal, e dentro do espírito que a quadra quase exige, recuperei a lucidez e a saudade que me dominava. A vontade de olhar, sorrir e partilhar um ninho com as melhores pessoas do mundo no melhor lugar do mundo.
O lugar onde sou tudo e nada. Tenho tudo e nada. Amo tudo e tudo.
É quando tenho as minhas pessoas em casa que recupero o lar...

escrevinhando



Escrevo quando junto as letras.
E nas palavras encontro inspiração. 
Se estou em estado de graça. Ou de desgraça...
Escrevo quando tenho um pensamento à mão.
Um estímulo ou uma provocação.
Se estou triste. Se estou só. 
Se tenho tempo. Se tenho medo que o tempo voe. 
Escrevo na nostalgia. De tudo e da nguimbi também. 
Ao acaso e se for o caso. 
Se há uma chegada ou despedida. 
Uma festa ou uma promessa.
Escrevo de paixão. De amor ou d'amizade. 
Escrevo na saudade. 
Escrevo por mim e por ti. 
Para ti. 
Escrevo para não esquecer de me lembrar. 
De te lembrar.
E p'ra que não te esqueças de mim.
Escrevo por tudo e por nada. 
Também porque não.
E sempre, quase sempre porque sim.


m.c.s.

sete quintas, sete vidas



o meu momento




Felicidade é um momento que tem dias. 
Chegou com o Natal. E permanece.
Não interessa o lugar. O dinheiro. O tempo. 
Felicidade se chama família. Lar. Presença. 
Colo. Palavra. Gesto. Cumplicidade. Partilha. Amor.
Felicidade se chama beijo. 
E abraço. De um tamanho maior do que o universo, de todos os universos que possam existir, 
de todas as eternidades que estiverem por acontecer. 
Felicidade se chama Filhos.
A minha alma transbordante de alegria e paz. Em casa...

m.c.s.

sábado, 29 de dezembro de 2012

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

se o tempo parasse




A lua vai cheia no alto da terra. 
O céu ilumina-se na noite especial.
O frio não me toca. Nem solidão nem a nostalgia dos outros dias.
Há um milagre de amor no amor que me baila e me canta no lar que o sinto hoje mais do que noutros tempos.
É tempo de paz e tranquildade. De aceitação e alegria. 
É tempo de não olhar o calendário nem o relógio que me angustia nos outros dias.
Há um viajante descansando. Descansando-me.
E viajando-me o sonho de o poder abraçar quando quiser. 
Há um milagre de amor na presença do amor reinante no meu coração.
Nunca é muito, o tempo. Sempre quase nada. 
Mas enquanto for serei eternamente grata. 
Eternamente feliz. Eternamente amada.
A lua vai cheia no alto da terra. O céu ilumina-se na noite especial.
Eu queria parar o tempo e dele dispor. E escolher... 
Ser sempre a mãe mais feliz do mundo.

David Guetta Ft. Sia - Titanium - Legendado - Tradução | HD

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

arredondando


Neste tempo de vacas magras o que nos pedem mais nos hipermercados é para arredondar.
Agora também o Lidl. 
Quer arredondar? E a pessoa não é de ferro e depois ficam uns demónios a azocrinar-nos a cabeça e a espetarem-nos o coração e a gente por mais que não queira sentir-se culpada, sente. 
Arredondei uma, arredondei duas, arredondei três e à terceira foi de vez. 
Não há mais arredondamentos para ninguém pela parte que me toca.
Já basta o que basta e o que a balança e o espelho me estão sempre a gritar.
Estás redonda, maria clara. 
Homessa! Arredondar mais para quê? Só se for para não caber na culpa. Porque só nós os comuns mortais é que o sentimos. 
Afinal como é que a gente sabe que o arredondamento tem endereço certo e justo? Eu não sou de intrigas mas...
Eh pá que país pedinchas!

na garupa do rei mago





Diz que de Espanha nem bom vento nem bom casamento.
Lérias! Digo eu. Pois que estas coisas podem ter algum fundo de verdade , mas não devemos pôr um pueblo a amargá-las todas juntas. Algum ou alguma se deu mal e pagou o justo pelo pecador, para sempre crucificado colectivamente. Em forma de ditos e mexericos.
À velocidade que os divórcios acontecem aqui nesta ervilha, pois que dizem que é o pais da Europa onde há mais divórcios, eta povo este descontente com as rotinas familiares, de casal, afectivas e sexuais! cai por terra a ideia de que os culpados são os espanhóis. Este povo tuga gosta mesmo duma caldeirada, duma espanholada, duma tourada, que a gente não anda a dormir na forma e sabe, é mais por aí que o gato vai às filhós mas também é próprio atirar com as culpas para trás das costas ou ali mais para a fronteira. Há até uns que nunca passaram a dita, nem sequer chegaram a Elvas, comem os caramelos cá deste lado, não gostam de tapas, não lhes faz falta a siesta nem castanholas para dançarem flamenco e nunca estiveram perto duma paella.
Enfim! Pano para mangas...de alpaca, dava este assunto. 
Eu cá, não me esqueço que sou de origem espanhola, pelo lado da minha bisavó paterna. Que dizem, era dançarina. 
Pode não se notar mas existe salero para dar e vender na minha família. Nem preciso de ir mais longe. Sô Santos, meu pai, era um homem encantador. Alto, magro, tez morena, olhos escuros, brilhantes e marotos, rosto bonito e expressivo, cabelos negros e ondulados, de humor fácil e piropo na ponta da língua, de conversa fiada e dando música até vir a mulher da fava rica, cantador e poeta de quadras populares cantadas à desgarrada, bailador quanto bastasse e ainda gostava de fazer um bom teatro de pôr a chorar as pedras da calçada. Verdadeiro macho latino botando charme para tudo quanto vestisse saias até que deu de frente com uma menina linda, tímida e ingénua que o prendeu pelo beicinho para todo o sempre e até que a morte os separou. 
Aqui está o sangue quente e espanhol nas veias fervilhando. 
Bom, mas não querendo dispersar-me, volto atrás, não para me repetir, à semelhança dos desconfiados, dizendo que de Espanha nem bom vento nem bom casamento, isto porque mesmo que seja verdade não há perigo para os meus lados já que o vento é o ar em movimento, dizem, e é um ar que se lhe dá porque não tenho vontade de correr à frente ou atrás do vento, seja do sul, do norte, do este ou oeste e muito menos de casamentos, pois que fujo a sete pés deles, venham os mais pintados, espanhóis ou não.
Volto atrás para dizer que o que eu queria mesmo era passar-me para Espanha nos dias próximos. Lá é que a festa vai começar. Mas afinal não tendo nunca tido aulas de hipismo, isso é para os gaspares da vida, porque queria eu montar na garupa e passear-me por terras de nuestros hermanos? Não adivinham? Primeiro, para resgatar um presente de Natal que anda perdido por terras da península ibérica entre aeroportos e porões, não se sabendo quais e depois porque o que eu queria era celebrar os Reis. Podia até apanhar boleia dos ditos. Qualquer servia menos o Gaspar. Não sei mas não me apetecia ir a cavalo com este Rei Mago do Oriente. É que este ano não só recebi menos presentes de natal como recebi coices com fartura de uns e outros das finanças, que me puseram de monco caído como o peru na consoada. E a esperança de presentes adiados do lado de lá da fronteira, motiva-me . O que eu queria mesmo era a tradição do dia dos Reis a ver se me dava algum alento e trazia a surpresa que o Pai Natal de pirraça ou incapacidade não foi capaz de trazer.
Rei é rei e quem sabe me faria reinar em reino por mim ambicionado.Uma vez que sou meio espanhola até que era justo receber presentes cá e num pueblo qualquer, daqui por mais uns diazitos.
Acho já merecia. Sim? Sim. Todos merecemos, parece que estou a ouvi-los. Tenho a dizer que cada um sabe de si e Deus e os quadrilheiros sabem de todos.


hoje



Há dias que as palavras fazem a diferença
E um sorriso, precisa-se
Que um beijo sabe a salvação 
e o silêncio nos pede e dá o perdão
Há dias que a gente espera
Há dias que um abraço nos diz que sim
e um aceno nos dá a mão
Há dias que somos o princípio do fim
Nesses dias não me esqueço de ti
Nem de mim.
Hoje é dia...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

domingo, 23 de dezembro de 2012

conto de Natal




Era uma vez uma menina, que não sabia, porém era uma princesinha ingénua, alegre e bonitinha.
Teve como todas, o seu tempo áureo de encantamento por um príncipe e acreditou ser o sapato para o seu pezinho. E viveu encantada por algum tempo num reino que era o seu. 
Esta princesinha da estória, não via outro sol nem outra lua senão os que viviam na sua rua, à moda africana, no seu kimbo.
Um dia o príncipe mudou de rua, de reino e foi parar longe, pregar para outra freguesia, quer dizer, para um kimbo que já fora o dele. Mais temperado. Mais a sul. Conquistado. 
A princesinha ficou no seu casulo, triste, bateu o pé, chorou e não se conformou.
Dada a coisas de outros reinos, de outros mundos, e perdido por cem perdido por mil, foi bater à porta de um amigo. Daqueles kambas fieis que só não podendo é que não fazem algo pelos amigos. 
De novo a princesa viu a esperança no seu coração quando as cartas do destino ditaram a sua sorte. O amigo não era kimbanda, mas parecia.
Estavam no mês do Natal. O calor chegara à cidade. As vestes modernas de um tempo quente e húmido embelezavam a princesa que ansiosamente arfava, destemperada e dava-lhe novo alento, o destino escrito no baralho baralhado, cortado e lido de propósito para si,postas as cartas na mesa. 
Havia uma qualquer profecia no ar. Antes do dia de Natal, a 23 de Dezembro, o príncipe estivesse onde estivesse voltaria ao reino e procuraria a princesa.
Cresceu uma ansiedade na sua alma pura. Banhou-se duma nova luz. Embelezou-se de alegria. 
Naquele reino tinha acontecido uma desgraça e uma mulher muito jovem e com dois descendentes ainda pequenos, deixara de respirar. A princesa, por via disso esqueceu um pouco da sua estória, da profecia do seu amigo, da possibilidade de rever o seu príncipe.
Foi imcumbida de distrair crianças e adolescentes daquela família e fê-lo com agrado.
O dia 23 de Dezembro apanhou-a quase sem dar por isso. De surpresa. Deixou-se levar pelo dia, quase sem lhe pôr a vista em cima tal a distração. O sol pôs-se. Cansada mas de coração leve cumpriu a função o melhor que soube e pôde e quando regressava ao seu palácio viu surgir o seu príncipe encantado ao fundo da rua. Viu um sorriso maroto, brilhando no rosto bonito. Percebeu que a profecia se tinha cumprido. Chaqun chaqune. E acreditou.
E teve a certeza que aquele seria o seu príncipe para todo o sempre. Forever, para reforçar o conto.
Houvesse as guerras que houvesse. Comesse até o pão que o diabo amassasse, estavam predestinados.
Estabelecessem as regras, as leis que quisessem. Nada que os homens fizessem iria alterar essa ligação que já vinha de outras eras. Outros mundos, outros planos, outras vidas.
Mudou-se o reino. Mudou-se o século. Mudaram-se as vontades. Mudaram o príncipe e a princesa. Mudou o amor. 
O dia vinte e três de Dezembro ficou para sempre como um marco. Uma mudança. Uma profecia. Uma prova que o universo faz milagres que os homens não conseguem decifrar nem impedir. Foi o dia 23 como podia ser outro qualquer, 12, 29 ou outro. Tem piada porque hoje é 23 de Dezembro. O dia dê. O tal do gostinho especial. Aquele que originou este conto de Natal. 
Passaram muitos anos. O príncipe existe e reina em terras distantes. A princesa existe e não governa nem se deixa governar. Mas tem memória. Que não é curta.
E hoje recordou o conto de natal mais feliz que lhe aconteceu nestas andanças de sonhos e encantamentos, amores de trazer por casa e reinados que estiveram para ser mas nunca foram seus e sentiu a saudade de acreditar em milagres. E de novo ouvir o Carlos Lamartine como naquele dia, naquele conto de Natal.
Porquê que sei? Porque a princesa era eu. 

A Voz



Estando eu acordadíssima, às 7 horas da manhã de um domingo que prevejo descansado e descansável, liguei a televisão na SIC Mulher. 
E a abordagem a um tema que sempre me interessou prendeu a minha atenção ao pequeno ecran. A Voz.
Dizia uma terapeuta da fala que a Voz é a segunda cara. 
Achei curioso. Também, porque gosto de vozes.
Diz quem sabe que é o segundo rosto...eu direi que para mim é - o Rosto.
Não sei quando me comecei a aperceber da importância que a Voz tem na minha vida.
Deve ter sido logo de criança pois que em minha casa havia vozes bonitas. Pai, mãe, avô e tio. Depois no colégio, as professoras da 3ª e 4ª classe. No liceu, a professora de História. 
Na vida, alguns amigos. Todos os namorados. O marido, que curiosamente usava a voz como instrumento de trabalho.
A Voz tem de facto uma importância vital para mim. 
E perguntam vocês, e a tua voz? 
Pois, aqui está o busílis da questão.
Não gosto da minha voz. Queria-a mais grave. A articular na perfeição. Com boa dicção; mais baixa. Mas não é senão um desejo profundo de assim ser que não se concretizará nesta minha esganiçada vida.
Tenho voz de cana rachada no mais das vezes, até porque basta enervar-me, andar ansiosa, para perder os graves. 
Tenho sotaque. Um misto de angolano com português cantado que se calhar não resulta bem.
Tenho o pensamento mais rápido que as palavras e muitas das vezes não consigo articular de acordo andando à procura das palavras certas e que correspondam ao pensamento, gaguejando. Ora bem...
Digo palavrões o que na boca duma senhora não fica bem, sobretudo se quer impressionar.
Por último, não me importo de ficar rouca se estou constipada. É uma forma de anasalar a voz e torná-la mais sexy. Pronto, disse.
Uma voz bonita deve ser aveludada, mas firme. Grave e baixa.
Com boa dicção e a ter sotaque que seja de Angola.
A Voz tem tal importância para mim que bate aos pontos o rosto e todo o resto.
Voz bonita e sou conquistada. O contrário, não é verdadeiro. Jamais conquistarei alguém com este jeito de falar. Ou...sim? 

carta ao Pai Natal




Pai Natal, pela tua rica saúde, surpreende-me.
Sei lá, assim com uma coisa muito muito muito boa.
Já não há? Inventa pois ainda não tiraram o Natal do calendário.
Por algum motivo foi. 
Este ano, preciso de algo surpreendente.
Eu posso sugerir como quem não quer a coisa. De faz de conta que é surpresa mesmo. 
Não? Não percebo porque não queres uma achega. Posso ser-te útil. 
Tipo, comigo esquece. Não te maces nem te rales que se eu quiser também não.
Afinal o que eu quero mesmo é que me surpreendas.
Há tanto tempo que não sou surpreendida...aqui está uma boa razão. Um dia perfeito.
Ficava-te bem à cara. Ganhavas mais do que perdias e eu era só ganho.
Olha, tu é que sabes. Estou cheia de boas intenções. Poupava-te esforços. 
E eu...eu ficava feliz e surpreendida para sempre. 
Até outro Natal qualquer. Até outro Pai-Natal.

P.S. Ah, meu rico Pai Natal, se é para me deixares no sapatinho meias e botinhas de dormir, esquece. Evita a subida à minha chaminé. Não estou nem aí para aquecer os pés, quando o frio me vem da alma. Agora tu é que sabes mesmo. Eu já pûs as cartas na mesa, se não queres jogar deita o jogo abaixo.

Natal em Lisboa





participativa


sem palavras


Sade - Soldier Of Love

aconselhando





Não te estiques nem me dês música.
1º - não és bailarino.
2º - Só danço a música que eu própria escolher.
Digo eu para o caso de levares tampa.

m.c.s

o meu sorriso :)


Ainda sem o espírito do Natal mas com o espírito crítico te digo que mereces o melhor do mundo. 
Se eu tivesse poder seria Natal todos os dias e a tua vida seria uma festa. Sempre em festa...
Digo eu aqui deste lado paredes meias com a celebração da união da família, te oferecendo para esta quadra mais do que palavras, o meu sorriso :) 

sabe-me a muito




Sabe-me a sal o canto da gaivota que à janela veio poisar. 
E a música o sino da igreja tocando. 
A intimidade, o ronronar do Jeremias que me veio visitar. 
Sabe-me a paz a travessa ainda dormindo. 
Sabe-me a sábado já me acordando.
Sabe-me a muito que já foi pouco.
Dá-se a cidade na sua pureza.
Dou-me na tranquilidade da sua beleza.
É o o universo levando e devolvendo...
São tão simples os dias!
É tão simples a vida!
Que faço eu senão esperar o futuro como se fosse já a manhã me beijando, as horas me acariciando, o tempo no relógio me soltando e prendendo e se entregando...

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

uma confissão do fim do mundo!




Sempre disse que sou feita do que fui. O passado não me pesa mas deixa-se levar por mim e nem sempre me trata por tu no presente. O futuro é hoje pois que amanhã não existe.
Nada sei, mas desconfio. E para o caso de não haver amanhã, para o caso do mundo partir para lugar nenhum e se finar, eu tenho uma confissão a fazer. 
Sempre a quis fazer. Sempre quis uma saída em grande. Memorável. Ou de não haver 
memória...por estar no futuro. 
Treinei confissões pela vida fora. Treinei palavras, gestos, sorrisos, expressões. Inventei frases. Pensamentos. Estórias e poemas. Assinei por baixo.
Ainda assim, a minha criação não me pertence. Algures no mundo alguém as disse como eu, alguém as sentiu e tal como eu alguém as quis confessar. São as palavras que o vento trás e leva...
Nada invento. Nada me pertence. Não tenho o futuro na mão. 
Mas sei que O futuro mora aqui. Neste preciso momento. Aquele que sei meu. E é por isso que hoje, aqui, neste lugar, antes que o dia termine, para o caso do mundo se finar, eu, não pecadora, me confessarei. 
Não é novo mas é sempre uma novidade surpreendente e benvinda. 
Escuta bem porque estou por tudo e ou hoje ou nunca, e porque há coisas que se guardam para o fim e só no limite se dizem e depois de o dizer fica dito e não repetido. 
Já sabes que não gosto de segredos e este tem-me pesado muito, como um fardo para a minha pobre coluna vertebral.Vulgo espinha. Que por vezes se crava na alma. 
Um dia alguém mo disse e eu achei o fim do mundo alguém ter a pureza, a delicadeza, a honestidade, a beleza de, e para, o dizer.
Não era véspera do mundo se acabar e mandar tudo para as ortigas, não era nenhuma coisa de outro mundo nem sequer o princípio do fim; não foi um ver se te avias nem numa pressa que se faz tarde, foi porque sim. E sim, eu amei. E não esqueci.
Agora, hoje e aqui, sem medos nem sequer do lobo mau que quer enganar o capuchinho vermelho que vai levar o lanche a avozinha, enfim, não quero que te pareça uma estória da carochinha, mas aqui vai e seja o que Deus quiser, apesar de duvidar que Deus esteja ligado a estas minhas apetências para o drama, até porque dramático será, o mundo terminar, assim de supetão, como se o mundo se estrepasse e não houvesse amanhã, vamos fazer de conta, ou não, que vai escafeder-se mesmo e vamos todos para os quintos do infernos, arder no fogo do pecado, eu salvo a parte da pureza, da beleza, da honestidade, da delicadeza para te confessar que " gosto tanto, tanto, tanto de ti, que acho que te amo ".
Não és padre nem meu confessor mas faz de conta. Até porque, como se o fosses, tens de me dar a absolvição, pois amar não é pecado. Ah! E não ficamos cá para semente mas se ficarmos por tempo indeterminado, rega-a porque se não for regada finda-se como o mundo se findará. 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

para ti



Antes que o espírito do Natal me chegue e escolha palavras que pouco significam, palavras vãs, palavras, apenas palavras para cumprir calendário, 
antes que o tempo se torne pouco e me escape das mãos, da mente e do coração, 
antes que já não estejas em tempo de me ouvires, veres, leres, 
eu te quero dizer que gosto de ti, pá!

E te desejo uma quadra cheia de paz, alegria e compaixão.
Um beijo no teu coração e um abraço maior do que o universo.

piadola

No atendimento ao balcão, a conversa entre funcionário e o utente.
- ...mas teve algum processo crime?
- Que eu saiba, não. Só se matei alguém do coração.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

este mundo...



Apesar deste texto não ser uma estória, mais uma das muitas que vou contando, por vezes real, outras floreadas, não se sabendo onde termina a ficção e começa a realidade, inicio a dizer que era uma vez uma mulher que partiu há poucos anos deste mundo, infelizmente, pois que era daqueles seres que merecia a vida eterna.
Essa mulher cruzou-se comigo nos últimos anos por via duma desgraça que me aconteceu e que me aproximou de pessoas como ela, que foram verdadeiros anjos na terra com a missão de me protegerem.
Era uma mulher com mais de setenta anos, generosa, observadora, inteligente, sábia e desiludida com o mundo. E dizia amiúde e quando tinha notícia da maldade, da inveja, da traição e da violência dos homens uma frase bastante perturbadora: Este mundo já não é para mim.
Há seres escolhidos. Que nos marcam para todo o sempre. Acho, são aqueles por quem temos um respeito e admiração profundos.
Não são poucas as vezes, que nos últimos tempos eu própria repito este pensamento que apesar da minha amiga partir, ficou-me na mente. Sinto-o, perante a injustiça, a deslealdade, a mentira, a violência.
O fim de semana que passou, o mundo parou. Horrorizou-se e chorou. 
Há actos inexplicáveis. Que não parecem praticados por humanos.
Há actos que me fazem lembrar aquela mulher que comigo se cruzou e me enriqueceu um pouco mais a vida com a sua generosidade, sapiência e inteligência. Aquela mulher que nos seus últimos tempos de vida dizia com frequência que este mundo já não era para ela e que certamente este fim de semana teria dito repetidamente a mesma frase, sentindo-a, chocada, repugnada com o sucedido.
Eu recordei-a. E parefraseando Jesus Cristo direi também que " o meu reino não é deste mundo ", ou será que devo lembrar Saramago que disse " O meu mundo não é deste reino "?!
Todas as citações se encaixam e todas são poucas para retratar o sentimento de indignação, tristeza, incredulidade e impotência perante a monstruosidade d'um acto que infelizmente já não é isolado.
Na verdade, concordo em absoluto com Saramago. E direi que o meu mundo já não é deste reino.  

tenham um bom dia


Acordei com uma dor imensa no meu braço. Já fraturaram um ombro? É isso. Passados dois meses ainda doi que nem um condenado. Ainda me limita como uma velhinha cheia de reumático.
Abri um olho. Espreitei a janela. Noite ainda.
Senti um peso na cintura. Apesar da hora percebi o que me pesava. Quem me pesava. Não. Nada disso. Apenas uma gata. Nunca acordaram com um/a gato/a em cima? Pois, então não têm gatos, porque gato que é gato adora atracar-se aos seus donos e deixar-se ficar.
A Pitanga adora mais do que qualquer outro, eu acho. Ela quer colo, quer estar ao meu lado, na minha cabeça, nos meus pés, quer estar em todo lado assim se fazendo tão presente que até chateia.
Numa madrugada de sábado me interrogo se já não estou a chegar naquela idade que nem os meus vizinhos do Olival Basto, que a partir das seis da manhã ligam o rádio e ficam ouvindo música na cama, suponho, porque não devem precisar de dormir mais. Há 10 anos que é assim.
Levanto-me. A Pitanga olha-me, como sempre. Tiro os óculos da gaveta da mesinha de cabeceira. Porquê dentro da gaveta? Não, não sou algarvia que tem gavetas em tudo quanto é sítio para esconder a comida e outras coisas dos que batem na sua porta ( algarvios que me desculpem, se é o que dizem é muito, se é o que eu vi não é nada mas serve para a piada ). 
Na verdade o que acontece aqui em casa é que Dona Pitanga acha-se muito. E por se achar demais se me apanha os óculos, quere-os. Não para ver melhor porque acho tem olhos de lince, mas para brincar, e tomba-os, e óculos senhores, custam-nos os olhos da cara, agora é que é mesmo para rir, mas se ela mos parte choro que nem uma madalena arrependida de ter gata, de ser pitosga e de ter nascido pobre que tem que fazer muitas contas de cabeça para mudar de lentes.
Óculos postos, vejo as horas. Escandalosamente cedo. Estou louca? Ainda não são seis. Estou pior que os velhos do Olival. Será porque durmo sozinha? perdão, com uma gata? Será...
O psicólogo mandava-me tratar disso, mas eu não quero nada com essa raça. Existem alguns na família e santos da casa não fazem milagres.
Levanto-me. Dona Pitanga segue à minha frente. De vez em quando olha para trás. Para controlar a minha marcha, não vá eu desviar-me para  a casa de banho. Tem razão. Faço-lhe essa finta que me diverte sempre. O que vale é que nunca acordo com o amoque. Para quê? Vocês acordam mal dispostos? Não vale a pena. Temos tempo de nos deixarmos manipular pelas agruras do dia. Conheço uma criatura, assim chegada, que na primeira hora, ninguém lhe fale que é capaz de matar. P'ra quê esse mau feitio? Ganha-se rugas e isso não dá com nada. Até porque o creme para as atenuar, disfarçar ou com elas conviver duma forma elegante, altiva ou distante, custa-nos os olhos da cara, como aos óculos. 
Na casa de banho arranjo meia dúzia dessas rugas de expressão quando percebo que se não me chove em casa, jorra-me água do chão. Depois de perceber de onde nasce tanta água maldigo a minha triste sina. Inevitavelmente penso no pilim que me cai na conta a cada fim do mês. Pouco. Para tanta despesa. Mais os extras que ao invès de serem por exemplo uma ida ao cinema, uma ida ao teatro, ao sushi, ou mesmo ao bilhar grande, porque não? se transforma no pesadelo de chamar um canalizador. 
Eh pá, é quando chego a esta parte que não evito pensar que sou uma masoquista. Gosto de sofrer é o que eu acho. Então a teoria de que quando a gente tem um amigo, namorado, companheiro, marido, amante, sei lá, um qualquer coisa para todo o serviço mais o de canalizador, trolha, pedreiro, jardineiro, electricista, motorista, enfermeiro, homem estátua, não o devia dispensar ou ser dispensada, sem exigir um curso intensivo dessas valências todas que a gente não liga quando eles nos infectam a zona mas que damos o braço a torcer, eu dou, quando na despensa ficou a ferramenta mas a criatura não está à mão de semear nem nós queremos no mais das vezes mas que fazia falta para estes servicinhos fazia pois que não tinha lata para cobrar em nome de tempos bons?! Essa teoria, voltando a ela porque disso se tratava deita por terra a ideia de que, ah pois não preciso de ninguém, que o dinheiro paga tudo. Mentira. Quando a crise aperta é preciso lutar com todas as armas. E em tempo de guerra não se limpam as ditas, é ou não é? 
Bem, não estou para aqui a dizer que chamava cá a casa o ex-canalizador de serviço 27 anos, nada disso, mas cada vez que tenho uma avaria, cobro mais essa. Não ter recebido umas aulas de bricolage. Faziam-me falta agora. Acho que é de propósito que eles não nos ensinam essas coisas quando estão. Primeiro porque querem ser os maiores da cantareira e sempre solicitados e depois para a eventualidade de se porem a milhas, serem para  sempre imprescindíveis. Sim porque é isso que acham. E depois, valorizados. E por fim, recordados. Uma ova! Apenas são falados, e diz o povo que pessoa falada é pessoa mal afamada.
Vou buscar a esfregona. Limpo tudinho. Enquanto limpo não evito pensar, para que uma mulher está guardada. Apre, xiça, penico! A inevitável esfregona! Raça de sorte a nossa. Olho a água e ganho uma preocupação mais. Atiro-a para trás das costas. Hei-de resolvê-la. O que quero mesmo neste momento, é beber um copo d' água, e voltar para a cama depois de pôr comida na Pitanga que anda muito solidária na crise que vamos sofrendo cá por casa. Então não é que tive uma converseta de pé de orelha com ela e penso eu de que, desta feita entendeu tudo na perfeição e até aceitou? É que latas gourmet de camarão e salmão a 99 cêntimos são para fidalgas e aqui somos as duas da plebe. Contrariadas, mas somos.
Depois dessa tarefa volto para a cama. Sinto-me cansada. Com o sono interrompido. É sábado, caraças! Apesar de estar pendente d'um telefonema para quem sabe, ir para Lisboa, ir dar um abraço, dois ou três, a gente minha, apesar de estar a afiar o dente para uma ida ao sushi, cujo vício é dum prazer tão bom que me faz dizer sempre, que se lixe o resto, eu gosto e pronto! Apesar de estar já meio desperta, ainda quero sentir o calor dos lençõis e do ededron. O prazer de me saber pronta para o lazer livre da escalada do viaduto à chuva a caminho do dever que me dá o bem-bom ao fim do mês, apesar de tudo, enfio-me na cama. Bem no centro, pois que finalmente recuperei a posse duma cama inteirinha para mim, sem traumas.
É. Eu devo ser meio esquisita. Ou não. Nunca falo com pessoas sobre estes assuntos por isso não sei se há o sindrome da cama vazia como o da casa, do ninho, do lar vazio. Na verdade uma criatura passa meia vida dormindo acompanhada. Do lado direito da cama e ganha essa posse. 
A posse da metade e usa-a com um orgulho ridículo. O meu lugar da cama. Parece título de livro de cordel. Quando ganha os dois lugares da cama, acha que perdeu. Não aceita. Depois não precisa. Depois ainda, não se habitua. E como a lagartixa que não quer chegar a jacaré, aninha-se ali na sua metade e pensa até que cama de um corpo só, chega bem. 
Nunca! Há um dia qualquer que rebola na cama e se instala bem no meio. E sabem quando percebe o que sente? Quando diz: Finalmente estou inteira. Mereço a cama inteira. 
Vão por mim que é verdade. Digo eu, pois que não sei o que vai nas vossas mentes, nas vossas vontades, nas vossas necessidades. Há uma amiga minha que diz com uma certa piada: Roupa de homem na minha casa, só nos pés da cama... ;)
Bom, com isto tudo, despertei. O dia nasceu. É sábado mas eu de repente fiquei com vontade de escrever. A primeira frase já surgiu. As pontas dos dedos estão em fungas. O meu escape...
Rendo-me. Acordei com uma dor no braço. Não me impede de escrever, graças a Deus e a todos os santinhos. O universo é meu amigo, eu sei. Sou sortuda, pois sou. Mereço? Não sei. Talvez sim, talvez...sim. E para não parecer muito presunçosa, cheia de mim, arrogante e armada em mete nojo, digo politicamente correcta que...todos merecemos.
Tenham um bom dia e que Deus vos acompanhe sempre. Portem-se bem ou mal, conforme se sentirem mais felizes. Mas façam qualquer coisa por vós. Eu vou tentar. Estou a tentar desde que acordei. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

chove chuva em mim



A chuva me atacou ferozmente logo pela manhã. Foi-se a mim como se não houvesse amanhã. Perdendo a compostura. Me fazendo perder o norte. 
Agora que caiu a noite percebo que o que ela queria era dar nas vistas. 
Tem chuva assim, que não nos deixa escapar por entre os pingos. 
Afinal, vale mais uma boa carga de água ansiada, consentida e sentida, do que rezar para a " Santa Bárbara bendita que no céu está inscrita e na terra assinalada ", metendo a cabeça debaixo do edredon com medo dos relâmpagos, dos trovões, de Deus a ralhar...sabe-se lá porquê!
A coisa certa é mesmo aceitar. 
Hoje, a chuva me molhou a pele, o corpo e não chegou à alma me machucando porque eu ao invés de rezar padres nossos tortos, fazer aviões com os dedos, insultar o imbecil que passou na poça d' água com a roda, no momento em que eu ia a passar a pé, sorri para ela, lhe disse ao ouvido que não valia a pena, não me iria zangar. 
Em memória das grandes chuvadas no tempo do liceu, fazendo como hoje quilómetros até me resguardar, no caso , chegar a porto seguro, desprezando chapéu de chuva, capa de plástico e galochas. Em memória dessa idade, dessa terra, dessa leveza. Dessa alegria...
A propósito, estão na moda as galochas e quem segue cegamente o que a moda dita já tem nas sapateiras, dúzias delas, às cores, das melhores marcas, com pesos medonhos, sim porque pesam toneladas, ( ou sou eu que já não posso com as canetas e vou-me abaixo delas ) e anda a rezar a santa Bárbara e a todos os outros santinhos, que chova. A cântaros. A potes, ( com toda a cerâmica que exista ) , canivetes e mais a todo o vapor e que deus a dê. Sim porque metem Deus nisto. Como se Ele apreciasse galochas, alguma vez as calçasse e provocasse as nuvens, as fizesse chorar histericamente só para terem uso, mostrarem-se na banga e competirem levianamente. Como se Ele fosse cúmplice das vaidades.
Hoje a chuva me molhou até ao tutano. Sequei no corpo essa chuva doida de me molhar por nada, d' abuso, mesmo na hora de sair de casa. Me desrespeitando. Me deixando a vontade de recuar no dia. Mas em nome daquele tempo que brincava nela, dançava nela, namorava nela, segui em frente. 
A noite caiu. A chuva continua caindo. Num tempo chuva molha tolos n' outro tempo com mais personalidade. 
Tenho frio. Arrepio. Não sei se de memória se do toque da noite que me anoitece nesta sexta-feira chuvosa e agreste.
Como dizia o meu pai, pode chover à vontade que não é geral. 
Hoje já tive a minha dose.
Olho o tecto da sala. Só que não chovam gafanhotos...

conversando comigo




Marquei-nos encontro. Estás a rir? Não acreditas? Quem és tu para duvidares? Juro sangue de Cristo! Eu não falo sempre verdade? Parece me apanhaste alguma vez com a boca na botija dizendo mentira?!...
É! Marquei-nos um encontro. Numa esquina deste Outono que me parece o ideal para limarmos arestas. Colocarmos os pontos nos is. Acertarmos o passo, quem sabe?! 
Marquei encontro contigo. 
Perguntas, mas é mesmo para quê? 
Esqueceste? Às vezes faz falta.Sinto a tua falta. Mesmo do pessimismo, do medo e da tristeza. Da nostalgia,da desconfiança e insegurança que tens quase sempre. Bem sei que parece que estou a jogar-te nas ruas da amargura. Deixa. É só mesmo o que parece. Nem sempre é. Tu sabes. Aliás tu sabes sempre mais do que eu. Sempre me lembro de te ver pôr o dedo abaixo do olho, forçá-lo a abrir e dizeres matreira, abre o olho que aqui é Luanda. Tu tens vantagem de mim porque és tímida, calada e observadora. Perspicaz e curiosa.Simpática.
Marquei-nos encontro. Na estrada da vida. Numa curva do caminho, numa paragem qualquer de candongueiro, desses de nome bonito. 
Na minha imaginação. No sonho de te falar, tocar, olhar e acreditar que mais das vezes somos harmonia e equilíbrio. 
Andei um pouco perdida de mim e de ti. É tramado ficar imcapacitada. Mudar as rotinas. O chão fugir dos pés. Cair na monotonia pobre de uma vida limitada. Lamber as feridas. Respirar a um pulmão, despedir, abraçar, despedir, esperar...
Mas hoje decidi que eu e tu, nós, eu, apesar de não ser urgente, é aconselhável um encontro em nós. De nós...
Assim numa de, sou mais eu! 
Não, sossega o espírito desconfiado e um pouco complexo. Não vou levar a arrogância. Prometo que a fecho a sete chaves que nem ela vai saber que existe. Levo antes a lucidez. Para clarear as ideias. Juntar os trapinhos. Dois podem mais que um, então? Estamos juntas ou não estamos? Acho que ultimamente andamos meio perdidas uma da outra. De costas às avessas. Não é bom para nenhuma andarmos assim sem rei nem roque. Só unidas venceremos. E eu, quero muito vencer, tu não? Não. Não entendeste. Não quero vencer batalhas, guerras. Não estou para aí virada. A minha cena é mais sonhar, amar, encantar e ser encantada. Ai ser encantada! Parece já me estou a ver assim numa novela daquelas que a gente vê há tantos anos mas nunca conseguiu ser a própria da protagonista de final feliz. 
Lá estou eu a embandeirar em arco. É por isso que nos marquei um encontro. Preciso de ti. Que me puxes as orelhas, que me arregales os olhos, que me soletres com toda a frieza a palavra so- nha-do-ra. Lhe dês um sinónimo inventado por ti como só tu sabes, assim por exemplo , ma-tum-ba. E sei lá, a risques do meu vocabulário.Do nosso quotidiano.
Na verdade sinto saudades tuas. És a minha sombra. Mesmo quando não olho para ela. Sinto-te.
Deve ser do Natal estar aí à porta. É bom iniciarmos a noite de Natal juntas. Numa de noite feliz, noite feliz, o jesus Deus de amor, pobrezinho nasceu em Belém... malmequer,bem me quer, muito longe está quem me quer bem, acabas tu, enquanto me entregas um malmequer que eu desfolho. Malmequer.Bem me quer...sim, muito longe está quem me quer bem e na verdade Jesus nasceu em Belém. Ai, jesus que estou a ficar piegas tentando disfarçar ridiculamente. Desconversando. A propósito de pieguices leva-as contigo para o nosso encontro certo? Eu levava uma cebola,pois tenho muita pena mas não posso chorar mas o cheiro incomoda-te e no final das contas lágrimas de crocodilo não são verdadeiras. 
É de facto inevitável que nos demos encontro. De preferência na noite. E feliz.
Sabes? Como eu não gosto de segredos vou contar-te um. Estou louca de saudades tuas. Gosto de ti pá e como tenho a certeza que gostas de mim tal e qual como eu, sem tirar nem pôr quero mais é dar a mão e juntar as nossas possibilidades. Dar um abraço e dizer, estamos Juntas para o que der e vier.
Marquei-nos encontro. Para marcar a diferença. E selarmos a nossa igualdade. Para sempre...  

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

desabafo sem fé nem endereço



As cidades com esta mania da poupança cada vez escurecem mais, no fim da tarde. Percorro o caminho que me leva a casa a pé e penso na possibilidade de mais um tralho. 
É que os candeeiros apagados naquela hora nim, em que não é dia nem noite, um dia destes vão provocar um acidente. Quem me indemnizará? 
Já não digo nada, mas se pudesse ( estou esganiçada para variar ) gritava aos quatro ventos que não está certo. 
Sou uma cidadã que tem de andar a pé cerca de 2 kms ao fim da tarde e é se quero chegar a casa. 
Já não vou para nova :( e por isso tenho medo de espalhanços que me remetam para hospitais, centros de saúde, farmácias, baixas, doença, cama, solidão, medo...
Eh pá, que poupem noutras situações. 
O povo precisa ver para chegar a porto seguro.
Bolas! Xiça! Meu, já não dá para ficar indiferente, muito menos a fingir-me de morta...
Dêem luz às ruas no fim da tarde.
Desculpem este desabafo sem fé nem endereço, sim, sem endereço porque já não sei mais a que porta bater, para onde disparar. Não vejo!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

hoje


sonhei com o Brasil


Esta noite sonhei que ia para o Brasil.
O Brasil nunca foi o meu destino. 
Afinal eu não tenho destino, nem no Brasil nem outras paragens. 
O meu destino sempre foi errante. Erros sobre erros sem mudar de lugar.
Eu errando, eu um erro de casting.
Erros sobre erros enquanto o tempo navegava em águas turvas do meu desencanto.
O Brasil não foi uma escolha minha. Não foi um sonho. Nem sequer uma possibilidade.
A língua, o samba, a favela, a água de coco, a novela, o carnaval, o calçadão, o Roberto Carlos,o calor, os brasileiros e as havaianas não me compraram. 
Ouvi falar de tudo com encanto. Ansiedade e alguma expectativa. O El dorado.
Mas, apesar daquele sotaque bonito, daquele gingar de anca, daquele céu azul, nunca pensei sonhar com o Brasil. Nunca pensei ir para, ou ao, Brasil.
Esta noite estava de partida. Uma mala cheia de sonhos a caminho do Brasil.
Para trás uma terra inteira despedindo-se de mim. 
Um sol brilhando. 
Uma música embalando-me. Minto, uma música tentando seduzir-me. Agarrar-me. Tocar-me por dentro. Demovendo-me.Para não partir...
Acordei. Não parti. Chorei. Afinal, eu queria ir para o Brasil, ou não?
Percebi que o que eu queria era partir. Voar. Viajar. Sonhar.
Percebi que o Brasil nunca foi o meu destino mas ... só porque sonhei, acho que até gostava de ir para o Brasil.
Porque diabo sonhei com a viagem para o Brasil, cara?


domingo, 9 de dezembro de 2012

O aniversário

Hoje o " meu herói " faz 45 anos. 
Quem é o meu herói? Ainda não sabes?
É o protagonista duma história verdadeira de sobrevivência.
É um ser que luta todos os dias para se manter no mundo com alguma qualidade de vida.

É um guerreiro de luz.
É um caso de amor.
É o marido, companheiro, amigo, o herói da minha heroína. A minha irmã caçula.
É aquele que a ama para lá de quatro céus e para além do que não sabe...
É um Herói que amamos e admiramos muito.
Parabéns, Paulo!
Vais ter um dia feliz com todos nós ao teu redor.
Vais fazer-nos felizes.

sábado, 8 de dezembro de 2012

é sim!


anoitecendo-me


Anoiteço na noite que cai.
Anoiteço onde mora a saudade que me embala, me canta ao ouvido, se instalou e não se vai. 
Espero na escuridão da noite. Espero sabe-se lá o quê que há-de brilhar para lá duma curva da minha estrada. Das rugas e do tempo.
Olho as luzes da cidade.
Há um brilho qualquer que surge no fundo do caminho. Num ponto que já foi escuro. 
Não sei se me contempla. Como à época.  
Há um brilho que cintila amareladamente, esverdeadamente, azuladamente, acima do meu ombro. 
Diz que é o Natal a fazer esse milagre. O milagre das cores brilhando no alto do presente sem luz. Alumiando a rota escura como breu que dificulta os caminhos.
Há UM sinal, um ponto luminoso, um pisca-pisca que a mente me constroi e que parece adivinho está a chamar por mim. Eu gosto. 
Mas antes há-de chegar o presépio. E a estrela brilhante guiando os reis magos. 
Guiando-me nas noites como as de hoje que caem e me fazem anoitecer num beco qualquer, numa curva qualquer do caminho que me falta contornar antes de me chegar o espírito do Natal.
Enquanto isso, anoiteço-me esperando. Acredito no Natal. Ele há-de chegar.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

outono em mim




Amanheço na cidade ao clarear o dia.
Amanheço neste desencanto de não ser livre do meu destino. Hoje...
A água a escaldar embala-me a vontade de me aninhar de novo no leito morno duma noite dormida entre sonhos e sobressaltos. Amorna-se o prazer de me lavar e esfria a vontade de recomeçar.
Olho o relógio que me anuncia a hora de iniciar a rotina perdida. Relembro a taróloga que diz que para uma qualquer prova a vencer, vestir roupa clara. Estas coisas fazem a diferença. Como que campainhas que me previnem, sinais que me agradam, escolho uma blusa branca. Um casaco preto às pintas brancas. Calças pretas. Calço sapatos abotinados pretos, com salto. Cunha, melhor dizendo. Já não andava de saltos altos há tanto tempo! Confesso que tenho medo. Olho-os desconfiada. Não vá o diabo tecê-las e atirar comigo de novo para as pedras da calçada.
Vou à janela. Não chove mas nunca fiando que o seguro morreu de velho. Vou buscar o meu impermeável comprido. Há muito tempo que não o visto. Aliás, tenho-o vestido poucas vezes. Comprei-o para levar para França pois Fevereiro é agreste naquelas paragens e tudo menos passar frio,chuva e neve, longe de casa e não tendo outros agasalhos à mão de semear. Vesti-o lá e levei-o para a neve o ano passado aquando da viagem a Espanha. E pouco mais. 
Hoje está decidido, vou levá-lo para o trabalho. Tenho de me poupar. Não posso ficar doente. Percebi que não são palavras da boca para fora. Não posso mesmo ficar doente sob pena de ser atirada às traças, de desgosto, solidão e incapacidade. Ninguém tem obrigação de tomar conta de mim. Acho que sou uma doente meio difícil. Desobedeço a toda a hora. Amuo outro tanto e vitimizo-me no resto do tempo. Nos intervalos dá-me uns vaipes de optimismo e sonho com a cura para fazer coisas; ter projectos que depois na prática nunca os agarrarei. Para além de que me envelheço a olhos vistos.
Hoje há uma certa urgência em me perfumar com o perfume da minha eleição. Aquele que me recorda Luanda, encontros com angolanos, almoços entre angolanos, momentos especiais. Não sei se faço bem. Faço-o e não me questiono. Afinal hoje é o dia " d ", aquele tal do recomeço. Recomeçar cheirosa é o que se pretende.
A Pitanga gravita à minha volta, inquieta. Teve frio e procurou ficar encostadinha a mim a noite toda. Pobre gatinha! A partir de hoje e por tempo indeterminado a menos que muito em breve a minha carta de alforria se faça presente ficará entregue à sua sorte todo o dia. Estou com tanta pena de a deixar... Isto de estar dois meses sempre dia e noite, dia e noite com poucas, quase nenhumas excepções, aproximou-nos ainda mais numa dependência meio humana meio felina que nunca pensei na vida estabelecer, concordar e assinar por baixo.
Faço um prato de flocos de aveia. Para começar o dia da melhor forma. Espreitando o passado feliz e brindando a esse tempo de tão boas lembranças. 
O tempo passa tão rápido que de repente me vejo a colocar o meu cachecol preto em lã feito à mão e com a marca da beneton. Esse cachecol foi o F..... que me ofereceu no Natal. Há uns dois ou três anos. O F..... é uma pessoa de muito bom gosto. Presente que me dê é presente que eu amo. Só me dá dois presentes por ano. Um no Natal e outro no aniversário mas vale a pena esperar essas datas para sentir o prazer de receber algo que me enche as medidas. Nem toda a gente consegue essa proeza. As pessoas de bom gosto apenas. Que gostam de mim, me conhecem e podem, claro, gastar uns tostõezitos. Saio de casa. 
Há muito tempo não sentia a manhã despertar comigo. Pele com pele, voz com voz, olhos com olhos. Assim numa de muito manas. 
Aqui está uma manhã honesta. Promete pouco mas apresenta-se com o que tem, sem trunfos na manga.
Começo a viagem. A pé. Tenho de levar o chapéu de chuva, o saco com o almoço e a carteira, tudo na mão e ombro direitos. Não posso fazer carga com o esquerdo por isso, carrega maria clara.
Chego ao viaduto. Olho-o como que enfeitiçada. São 800 metros, disse-me o L.M. numa das vezes que me deu boleia viaduto fora até à zona alta da cidade. É o que vale, haver sempre uma alminha que me quer transportar. Olho-o como que enfeitiçada também porque passou sem mim dois longos meses. Olho a avenida junto ao rio. O castelo que está logo ali, as pontes e as árvores. As árvores pá! As gigantes árvores do jardim e da beira-rio cujas copas se empertigam para além do viaduto. 
A cidade outonou-se na minha ausência. Como se eu não existisse. Como se eu nunca tivesse pertencido aqui. Ah...e pertenci? 
Acho sonambulei-me fazendo-me passar por uma mais das filhas da terra, mas desconsegui chamar de terra-mãe a um solo que não me pertence, ao qual não pertenço.
Sinto-me a cada regresso, mais longe, mais ignorada, mais indiferente. 
A cidade outonou-se em tons da terra. Olho-a como se da primeira vez se tratasse. Sinto-lhe o ar bucólico e solitário duma terra a perder a folha. A perder a alegria. A perder a energia.
Hoje que preciso recomeçar, sinto o deserto da cidade no meu próprio deserto. Cruzo-me com uma mulher.Ao cimo do viaduto. Conheço-a, como conheço a cidade. Sem grande envolvimento. É costume cruzar-se comigo neste lugar. Eu subo, ela desce. Mulher do funcionário das Finanças que nunca me lembro do nome. Nora da mulher que vendia legumes no mercado e que aos sábados ajudava colocando-se lado a lado com a outra. Cunhada duma distinta médica da cidade que por acaso foi amiga colorida duma criatura que me foi próxima e que me descoloriu a vida. Afinal, parece que a conheço melhor do que parecia. Ou não...afinal conheço-lhe a estória de família, só por um acaso do destino. Como o acaso que me fez próxima desta cidade tantos anos. Cativa, melhor dizendo.
Renascer é voltar a nascer. Com a lucidez de uma segunda vez. Será que ajuda, a cidade a outonar-se? Pode ser. Há um certo romantismo nisso. 
Chego ao cimo do viaduto. Da cidade. Neste momento um único propósito me faz seguir em frente. É o primeiro dia de trabalho depois de uma paragem de dois meses. É nisso que concentro as minhas energias. 
Quanto à cidade, mais à noite logo se vê. Se chove, se neva, se se deixa ficar queda e muda à minha presença. Indiferente...outonando-se cada vez mais.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Nina Simone/ Feeling Good

uma estória como tantas outras. Ou não...


Vou contar uma estória a propósito da canção da Lily Allen - Fuck You

Pois é! É só o que me apetece dizer.
Bem sei que sou uma senhora mas...queria portar-me como tal, porque não basta sê-lo, tenho de parecê-lo também que nestas coisas convêm ser como a mulher de César, mas esta música tem uma estória que se fez para sempre na minha vida. 
Querem saber? Ok. Como nada me dizem eu vou contar.
Um dia, há uns anos, poucos, talvez há 3 anos mais ou menos, eu estava num dia como o de hoje em que só me apetecia rezar padres-nossos tortos e pelos mesmos motivos que os de hoje, como vêm isto é coisa antiga, e alguém que foi importante na minha vida nesse tempo mau, ofereceu-me esta música e com uma palavras mais ou menos assim: manda tudo para o caraças, não te desgastes. Não foi isto mas foi neste tom. Achei um piadão e fiquei bem disposta pois de facto encher a boca com um fuck you é tudo o que uma criatura como eu precisa para aliviar a tensão, perdoem-me os que me imaginam pessoa que nunca diz palavrões, não estrebucha nem perde as estribeiras. Mas mais vale um engano na vida que andarem toda a vida enganados.
Uns tempos depois esta pessoa saiu do meu caminho duma forma estranha e tão silenciosa que ainda hoje penso nela como os que pensam e esperam o Dom Sebastião.
Nunca mais ouvi esta música até porque se o fizesse vingava-me e com todo o prazer teria articulado um Fuck You a essa mesma pessoa que tão gentilmente me oferecera a música para que eu aliviasse o stress tido numa circunstância adversa e da qual tivera conhecimento por eu lhe confidenciar esse estado de alma. 
Um dia mais tarde, meses, fui a França com a minha filha. Visitar o meu filho que estava a fazer uma formação na área da dança aliada à imagem, num centro coreográfico, no sul. Aproveitámos e rumámos a Paris de TGV, única vez que andei nessa coisa e que me custou os olhos da cara. 100 euros uma ida de Montpellier a Paris. Mas acabei por ter o bónus de viajar no meio da neve, daquelas paisagens de parecer que estava nos postais de Natal que em Luanda recebia aquando da época natalícia e valeu o gosto para o desgosto de ficar sem cem euritos, isto em 2009 salvo erro, se fosse agora não os tinha, lolol!
Já em Paris onde chegámos pela hora do almoço fomos que nem loucas visitar tudo o que era urgente visitar até à noite. No dia seguinte de manhã, saimos de novo sem pequeno almoço tomado. Parámos na Praça da República e numa pelintrice de meter nojo, mas fazer o quê? somos mesmo pelintras, entrámos no MC Donald's que existe ali na Praça e fomos tomar o pequeno almoço que até era razoável. Estava eu a dar uma trinca num bolo quando subitamente ouvi - Fuck You pela Lily Allen. E sorri! Sorri muito. Até às lágrimas. 
E, lembrei-me do albatroz de voos rasantes dos mares do sul. Do carro da tifa nas ruas de Luanda, do muro onde os meninos se sentavam a comer pão com doce de tomate enquanto outros kanucos jogavam à bola, quantas vezes de trapos e senti-me em liberdade. Como qualquer albatroz de que me ensinaram a gostar. Voando nos mares do sul em voos rasantes acompanhando os barcos no alto mar. Numa liberdade tão grande que mandei um Fuck You cheio de intenção.
Como posso eu ouvir esta canção e lembrar-me disto tudo enquanto tomo um pequeno almoço do mais pelintra que pode haver numa praça de Paris? Posso, sim. E mais que poder, guardei na memória, para sempre este momento. 
Há canções assim. Momentos deste jeito. Sentimentos para sempre. 

P.L. Onde quer que estejas nunca vou esquecer que me ensinaste a aliviar o meu stress com esta música, nunca vou esquecer que me apeteceu dirigir-te também esta canção meses mais tarde e ta dirigi, nem tão pouco esquecerei que me lembrei de ti numa praça de Paris e...simplesmente sorri. :)
Fuck You!


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

intencionalmente sorridente


Sorrio sempre à vida. Se ela não me sorrir não é por falta de tentativa.
É, se calhar, porque não está para aí virada. Digo eu, sorridente, sem perder o sorriso mesmo que amarelo.

m.c.s.

divagando


Diz que a vida é dura para quem é mole.
E eu pergunto então - e o ditado que diz que água mole em pedra dura tanto bate até que 
fura, fica como? Vence quem? A vida que é dura ou o mole que consegue derrotar a dureza da 
vida?
Será que é como a do ovo e da galinha? Que ninguém sabe quem nasceu primeiro?
Eis a questão...

m.c.s.

Não é insulto, é recado



Para me, vos, situar, digo que já estamos no terceiro dia de Dezembro ( natal à porta, miséria à janela ) e é segunda-feira. 
Em Lisboa está um frio de rachar. O sol entra pela janela da sala. Parece um paradoxo, mas não, é mesmo assim. A Natureza dá-nos o que é natural. 
Estamos num Outono difícil sobretudo porque me parece que este ano, Deus que dá o frio 
conforme o agasalho, podia dar um jeitinho mais e forçar os comerciantes, ou o contrário, estes meterem a cunha a Deus para apressar o tempo e feirarem em saldos loucos para que os 
pobrezinhos que somos quase todos pudéssemos comprar uns casaquinhos, umas ceroulas, um 
gorro ou um cachecol em conta, para nos protegermos destes tempos agrestes. É aqui que penso que uma desgraça nunca vem só...
Acordo tarde. Curiosamente acordo depois das oito ( muito tarde, lolol ). Tarde, sim. Bués. 
Dado que em dois meses de boa vida ( há quem ache isso, há até quem ache que foi um estágio 
para a reforma) acordei sempre de madrugada e com uma dor no meu braço esquerdo que não me deixava usufruir da posição fetal de que tanto gosto, do calorzinho dos lençóis térmicos e 
do edredon de penas. Com muita pena minha. Bem sei que para os que lêem é assim mais ou 
menos um, penas que não se vêm não se sentem. Pois. Só mesmo quem está no convento é que 
sabe o que lá vai dentro. E eu nesta situação meio trágica de estar um pouco incapacitada em modo de braço ao peito, o meu rico bracinho esquerdo que no caso é o direito, por ser canhota, tenho a consciência que ajoelhei, espalhei-me ao comprido e tive de rezar uns quantos pais- nossos, vossos, deles, tortos, umas quantas avé-marias e muita paciência de jó para não me sentir a mais infeliz das criaturas ao cimo da terra. Desta terra que me acolhe mas não é minha. É deles. Nunca comprei nenhum pedaço ou lote e se o tivesse comprado não me aguentava à bronca com tanto imposto. É deles sim. Deste país que está de pantanas mas sorridente, que diz que somos ( ? ) um povo alegre e hospitaleiro.
Sorrio para a minha imagem. Já que faço parte desse povo meio pateta-alegre. Só para confirmar. A minha figura desgrenhada no corte de cabelo que fiz há uns dias, aparece-me ridiculamente cómica. Para não parecer trágica. Como o país que temos. 
E dou comigo a falar para o espelho:
Maria clara, estás linda, estás! Já te faltou mais para seres aquilo que toda a vida temeste. Uma velha pataroca,desgrenhada e pobre. Indigente. E até doente.
Acordei com uma dor nas costas que me impede de andar com normalidade. Sei que pode passar ao longo do dia. São os músculos, é da hérnia, do frio, do sedentarismo, sei lá bem eu! Nesta coisa de ser polícia de mim própria, verdadeira militante, não confundir com narcisista, conheço cada pedaço de mim como ninguém e já senti isto tantas vezes que sei que um ou mais voltaren, relmus ou outro qualquer, adia a questão ( somos pródigos nisso ) ou resolve-a. Quando não a resolve, uma corridinha ( com os pés bem assentes no chão ) ao senhor doutor e o assunto fica resolvido em três tempos com uns tostões na farmácia que também precisam de ganhar o seu pão de cada dia, umas injecções dadas pela senhora enfermeira que anda à lamira de mais uns euros nos bolsos, que isto está mesmo mau, ainda há quem não acredite e se ria por cima da carne seca, mas que um dia destes estamos a comer o pão que o diabo amassou, ah isso estamos. Já vi menos jeitos. Esse pão amassado pelo diabo, rijo que nem cornos, capaz de ser atirado aos ditos dos que nos puseram neste estado. E será uma verdadeira foguetagem esse tiro ao alvo de pão rijo que nem cornos pois os responsáveis são mais que as mães. 
Sento-me no sofá para aliviar as dores nas cruzes e este stress de segunda-feira, vésperas da minha rentré no mercado do trabalho ( ai jesus que lá vou eu ) e ligo a televisão. 
Eh pá, se queria aliviar-me escolhi mal. É que não há canal nenhum de notícias que não fale mais do mesmo. E o mesmo é duma sacanagem tão grande que antes que me dê o tangolamango, mudo de canal. Mas como não sou de modas, destilo o meu veneno porque preciso purificar-me. 
E como uma velha desgrenhada, pobre, doente e pataroca ao ver uma certa criatura arrogante ( rato matreiro ) que ostenta sempre o mesmo sorrisinho cínico naqueles lábios finos de pessoa mesquinha que nos tem atormentado a vida e provocado uma azia ( ele é que come o queijo e nós é que aziamos ) e uns nervos que nos há-de mandar para o beiral ou para o jardim das tabletas, falo alto. E falo sozinha.
Dona Pitanga olha para mim incrédula mas não recuo.
Falo alto, repito. Falo sozinha e descarrego o meu mau feitio, as minhas frustrações e impotência na minha rica televisão, na esperança louca que lá na terra longe onde a criatura foi botar charme, me oiça. E desmonte a personagem. Não desmonta. Nem há milagre que o faça. 
Tão pouco há uma ratoeira que o apanhe. Os apanhe...
- Vai à tuge, meu! Que já não te posso ouvir. 
E mudo de canal muito mais aliviada