quarta-feira, 31 de julho de 2013

A GAIOLA DOURADA - Trailer Oficial (HD)


Ontem fui ver em ante-estreia. Vale muito a pena. 

a minha tia e eu


Entre o Luxemburgo e  Cabo Verde, uma paragem em Lisboa. Para um abraço de chegada e outro de partida. No intervalo rimos, jantamos, conversamos muito, dormimos, matabichamos e reconhecemo-nos família. 
Passaram tantos anos desde a última vez...
A tia Manuela, irmã da minha mãe, filha do avô Carvalho.

pôr do sol na Caparica


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o metro do aeroporto

Sendo eu tão observadora, há coisas que me escapam, ou não me interessam ou nunca pensei nelas, ou escapam-se-me porque não sou tão observadora assim como me julgo.
É que estou farta de saber que o metro encerra. Logo abre, ou reabre, diariamente.
Nunca me ocorreu a forma como fechava. 
Hoje, porque precisei de regressar a casa a partir do aeroporto e queria fazê-lo de metro, não que seja o meu transporte preferido, tenha espírito de pobre ou seja uma lírica, mas porque uma viagem é apenas 1,40 e parece-me muito, muito bem, que isto de andar de taxi é muito giro mas é para quem pode, estava a dizer que, hoje dei com um portão encerrado. 
Porque a partir daí fiquei curiosa, prestei atenção à hora não arredando pé deste lugar. E finalmente às 6,25, há um homem, o homem da chave que balançando um chaveiro chega para abrir o dito portão. E assim os que estavam à espera puderam ter acesso ao buraco que é o interior das estações de metro.
Afinal o metro fecha, aqui, no aeroporto, através d' um portão que se abre com chaves, como na casa de cada um. 
Manualmente...

histórias de encontros da amizade

Família a gente não escolhe, os amigos sim, diz a sabedoria popular.
Apetece-me discordar. Na verdade, família a gente não escolhe. Avós, pais, irmãos, tios, primos, sobrinhos. Mas sogros, cunhados e por aí adiante, a gente não escolhe, só escolhe o marido e logo vêm atrás todos os apêndices que saltam fora quando caem de podres. 
Quanto aos amigos, a gente se tem aqueles de infância também não escolheu. Não escolhe. Eles caem-nos na sopa mesmo se não gostamos de sopa. Fazem-se na idade em que as crianças gostam de toda a gente que os trata bem. Fazem-se na idade do colégio. 
Das brincadeiras ao pé de casa, no bairro. Se são filhos de amigos do pai, da mãe. Ou até parentes de vizinhos.
Era aqui que queria chegar. Desta vez não rodeei muito porque isto é tudo tão transparente que não dá para muitas flores a enfeitar caminhos.
Quando a gente tem vizinhos de quem gosta como irmã, como filha ou afilhada, conhece todas as pessoas que lhes são próximas. 
E conhece também os parentes candengues. Foi assim que conheci a pessoa que me faz escrever hoje.
Tínhamos nove anos e tornámo-nos amigas. E depois colegas de liceu. E depois amigas íntimas, do peito, como irmãs. Kambas para a vida, mesmo se a vida nos separou por continentes. Quis o destino e ela que a sua profissão a trouxesse a mim, com frequência e ao longo de 38 anos que completo hoje de permanência neste país. 
Mas eu não vivia na capital nem nos arredores. Estive sempre a 100 kms da cidade grande e durante alguns anos apenas nos víamos nos aniversários, se ela ia a Torres Novas, ou se eu arranjava tempo e dinheiro para mais uma deslocação a Lisboa em tempo de estadia dela na cidade, que fora das férias, era de um ou dois dias. Nos últimos 11 anos, com as minhas crias em Lisboa a estudarem passei a vir a Lisboa todos os fins de semana e em período de férias e os nossos encontros passaram também a ser mais assíduos. Morámos perto uma da outra por aqui e tudo ficou mais fácil. 
Muito por causa da minha mudança de vida afectiva, fiquei mais disponível para todos. Fui a Luanda 3 vezes, a primeira das quais porque ela me ofereceu o bilhete a meias com outra amiga de infância e fiquei na sua casa. Nesses períodos estivemos juntas dia e noite e foi assim o culminar da nossa amizade pela aproximação física entre nós e com a terra. Porque eu nunca tinha estado tão feliz. Também porque a idade e a experiência de vida é outra. 
Reformei-me em Março último. Vim para o Olival Basto em Abril. Ela, a kamba diami ( minha amiga ) veio para Lisboa para ser operada a um joelho. E ficámos quase vizinhas. E voltámos a ficar unha e carne fisicamente. E passámos os aniversários de uma e de outra, juntas, passámos a operação, o internamento, a fisioterapia, os sábados e domingos, o centro comercial, almoços, jantares, compras, passeios, feiras, horas a perder de vista em casa, horas a perder de vista ao telefone e na internet. 
Mas a vida dela não é esta. Está lá, em Luanda. E hoje, daqui a pouco, parte para a nossa terra.
E custa. E doi. E vou ficar mais só. Muito mais só. E parece estou a perder o meu braço direito. Sei como é que é isso. Já me aconteceu na vida. Também com alguém que embora tivesse escolhido, se transformou em família, tal como com ela.
Uma amiga de 49 anos não é uma amiga qualquer. É como uma irmã gémea. Não se questiona. Não se põe em causa. Não se pensa nos quês nem porquês. Acontece na vida da gente, apenas e só. E conserva-se. E ama-se. Muito. 
Faz hoje 38 anos foi a última pessoa de quem me despedi antes de partir de Luanda. Dando-lhe um abraço maior do que o universo. Também hoje mais uma de tantas vezes, me despedi dela. Vai voltar em breve. Para mais uns dias. E voltará sempre. 
Também será kunanga. Também será técnica superior do lazer dentro em breve, como ela gosta de tratar a condição de reformada. 
Temos uma promessa feita no dia do meu aniversário. Para o ano faremos as bodas de ouro na nossa amizade e faremos uma viagem juntas. Só as duas. Ao Brasil. 
É a este estímulo, esta expectativa, este objectivo que hoje me agarro para sorrir e acreditar que poderemos dentro em breve fazer uma viagem que pode ser de truz, uma vez que juntas aprontamos para valer. Juntas, uma diz mata a outra diz esfola, sempre.
É por tudo isto e muito mais que hoje mesmo que não queira, arme em forte, a dor de ver a minha querida amiga ir embora, fechando mais um ciclo da nossa vida de amizade tão longa e quase sempre à distância, é mais forte.
Deixo uma mensagem porque não sendo ela lamechas como eu, gosta pouco que me ponha com choradeiras e a única coisa que me disse quando nos despedimos foi: Fica bem e porta-te bem. 
Kamba diami vai só bem ya? Vai para o teu lugar, que é na nguimbi que te pertences, que nos pertencemos. É lá que as nossas almas de filhas da terra são mais elas. Boa viagem. Vou portar-me...bem. O melhor que souber. E me der mais jeito. Ah, e finalmente posso fazer dieta. É que foi muita asneira junta. Muitos gelados, muitos pastéis de vento. E dos outros. E bolos de chocolate e não só. E pregos do vizinho debaixo. Muita radler. Enfim...foi muito bom. Nunca tínhamos estado tanto tempo juntas por tanto tempo depois de 1975. 
Vou portar-me bem sim. Porque quero ir ao Brasil contigo. Quero estar no Olival ou na Codivel contigo. Quero estar em Luanda contigo. Quero a nossa amizade por muitos mais anos. Enquanto estivermos por aqui neste mundo de Deus que tem abençoado ao longo dos anos esta amizade que afinal foi como família. Nem escolhemos, mas aconteceu e fazemos acontecer sempre.
Boa viagem kamba diami. Estou tão triste...mas estou tão grata!
Beijos no coração. Estamos Juntas.

P.S. Olha só a foto. Estávamos na Barra do Dande. Mais elegantes. Lol!
Não prometemos, mas devíamos, que temos de levar a dieta a sério.  Somos criaturas de risco né? Olha só a idade e todos os males que ela traz...A minha vida é feita de escalas. A intervalos. Breves momentos. Presentes. Coisas poucas. Por vezes muitas. 

só porque me apetece


sábado, 27 de julho de 2013

por caminhos d' água e do sol se pôr

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porque hoje...é sábado!

Hoje é um bom dia. É sábado. E ... oxalá... 
Que se criam sempre grandes e habilidosas expectativas ao seu redor. 
Porque é sábado, se torna o dia dê do calendário. E calava-me já, que as palavras são desnecessárias. As evidências falam por si e por mim. Lembrar Vinícius é uma saída airosa para quem gagueja perante a nobreza do dia.
Falar do dia enquanto se espera dele o melhor, é o meu vício. Um dos. Como tal, siga a marinha...
Juro, eu não queria. Mas eu não queria mesmo. Tinha até jurado sangue de cristo. Oh! Qual cristo! Meter cristo nisto é um pecado mortal. 
Era escusado associar o sábado ao mar. Está escandalosamente implícito e hoje eu queria era fugir do lugar comum. Não bater mais no ceguinho, coitado, pois está farto de alombar comigo. E eu estou farta de chover no molhado. A pessoa cansa-se. 
Mas marinha, lembra mar, este lembra água salgada. Praia. Biquini e toalha. Mirones. Sol. Mergulho e pirolitos. Lembra até baleias e tubarões. Engatatões. Alforrecas e peixe-agulha.
Nadador-salvador. Bola de nívea. A embandeirar em arco. E a propósito, lembra bandeiras . A vermelha. E aqui paro porque o mar está revolto e se calhar vêm aí as marés vivas nesta minha morta vontade de naufragar. Vai que me teriam de salvar da minha ignorância de nadar? Vai que me deixava enrolar na onda maior e não me fariam respiração boca a boca?!
Vai que eu não teria como agradecer? 
Se sigo o caminho da praia, o dinheiro vai miseramente contado não vá o diabo tecê-las e os amigos do alheio, que têm olhar de lince e mãozinhas marotas pensarem que pelo andar da carruagem sou apessoada de excessos. 
Pois é, não me parece boa ideia, tentar-me a nadar, seja lá de que modalidade for num mete nojo que deus me livre e guarde, não vá eu ficar no mato sem cachorro, sendo que os nadadores-salvadores estão lá para qualquer afogamento, mas há que evitar excessivas e inconscientes pretensões. 
Hoje é um bom dia. E...oxalá...mas não. Há sábados destes. Sem sol e sem mar. Sem mergulhos na asneira e no vazio. No arrependimento. Sem sul nem andorinhas do mar ou gaivotas. Sem albatrozes e outros algozes. 
Ainda assim, tenho para mim que o mar me chama. Me desafia. Me provoca e me estimula. Aguarda e guarda lugar de podium para o avistar mais e melhor. Acho até que me dará uns binóculos para mais rigorosa observação.
Tenho para mim que ainda vamos rir muito. Por último, que é quem ri melhor, enquanto o pôr de sol se põe a sul. Será que estou a prever uma insolação?
Aprendi que tarde é o que nunca vem. Um dia destes, se Deus quiser, Ele quer, estarei em frente desse imenso, provocador, fascinante, tranquilizador e estiloso mar do meu sonho de sábado atrás de sábado. De estória atrás de estória. De ideia atrás de ideia. Sem ficção. Que o mar existe e eu gosto dele. Demais. Romanticamente demais...
Mas hoje, apesar de sábado e do meu romantismo, a minha onda é outra.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

agora pensa...

A cabeça serve para pensar. Há quem diga até, cabecinha pensadoooora! Num tom jocoso que nunca percebi muito bem. 
Também já ouvi que quem pensa não casa, quem casa não pensa, e pensando bem no assunto, acho que há-de haver alguma réstia de verdade nisso, nem que seja para valorizar o pensamento.
Bom, mas de facto que a cabeça serve para pensar, lá isso serve. Também...
Quem não ouviu já? Algumas vezes me disseram. Até já kandengue crescida, feita mulher de hoje, naquela hora da séca a dar para a chamada de atenção, puxão de orelhas, dedo esticado, me dizendo palavras para servir de exemplo, num abre olhos, para quê que és parva? A cabeça serve para quê? Não é para pensar? Pensa! e coisas e tal... 
Sim, porque apesar deste tamanhão todo, tem muita gente se armando em mãe, avó, chefe, dona da minha vida e querendo mudar a minha cabeça, que, afinal, não serve apenas para ir ao cabeleireiro, mas também para pensar até deitar fumo. Às vezes branco, o que é um alívio para concluir que ainda não flipei dessa. E me vão dando algumas ideias que não são de ...credo, xiça, penico, uma criatura, que é para não dizer, gaja, que afinal sou uma senhora, uso saltos altos e visto-me a condizer e tudo, mas dizia eu, uma criatura começa a pensar e percebe que isto não é para todos, porque pensar doi. A dor tem danos colaterais. Então a pessoa pensa a intervalos, faz como aqueles conjuntos musicais do século passado, que tocavam duas 
músicas e quando acabavam a segunda diziam, descansaaaaaaar, naquele tom de arrasar a cabeça e o coração das kanucas.
E por falar em coração, pergunto eu, para que serve o dito? No mais das vezes atrapalha, digo eu que não quero olhar para ele como um músculo que não pode parar, sob pena de morte. 
Pergunto eu pensando, lá está, para que servem a cabeça e o coração? Para pensar romanticamente que o coração nos prega partidas, nos faz correr, rir, chorar, não pensar, não comer, não questionar. Que nos prende ao mundo; aos cheiros, paisagens, pessoas, terras, estações, ao passado e à memória. Que nos prende a vivências. Que nos faz amar e continuar. Que nos aprisiona e liberta. Que nos faz escolher.
E era aqui que eu queria chegar. Se a cabeça permitir e o coração concordar.
É que escolher em sintonia, harmoniza ambos. 
Por isso hoje o meu telefone fixo tocou às duas e tal da manhã. Quem era? A Amizade. Querendo conversa. Se pensei duas vezes? Nem pensar!
O coração disse sim, vamos conversar. 
A que horas me deitei? Às cinco da manhã. Porquê? Porque se a cabeça serve para pensar, ordena ao coração para não esperar e entregar-se ao presente que é único tempo que a gente tem. 
Não disse o que é que a amizade tanto tem para falar pois não? Coisas nossas. Que nos passam pela cabeça e moram no coração. 
Acordei às 9,30 horas com uma brutal dor de cabeça mas de coração tranquilo.
Encolhi os ombros e não pensei mais nisso.
Agora pensem...

m.c.s.

P.S. Obrigada Amizade.

amo-te mar!

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Sei que demorei para cá chegar. Nem sei o que me deu. Ou porque não me deu para me contrariar, para me forçar...
Não costumo fazer-me de rogada se quero sentir a maresia, o iodo e o marulhar. 
Movo ar e terra para chegar ao mar. Faço o que for preciso. Para me renascer. Para me enternecer, para me entregar e me revitalizar. 
Porém demorei para cá chegar. Acho desafiei o meu querer. 
Não dei valor para os meus sentires. 
Menosprezei a minha vontade. 
Ri da minha saudade. 
Alterei até o rumo do destino. Fui para norte em vez de rumar a sul.
Diz que há razões que a razão desconhece. Ou será que é o coração? Ou a memória? Ou tão somente a certeza que um dia eu iria e por isso desconsegui me atirar de cabeça, mergulhar na imensidão dessa necessidade tão presente sempre, mesmo se estou rodeada de montes e serras, subúrbios e cidades, apatias e descréditos?!
Isso tudo agora interessa quase nada. Não vou remoer-me de culpas, não vou apresentar desculpas. Nem sequer me sinto arrependida. 
Nada melhor que a gente fingir um pouco de desinteresse. Nada como ir com calma. 
Nada como não irmos com muita sede ao pote. Tudo é preferível a um afogamento. E uma distracção diz que é a morte do artista.
É que eu apesar de tantas vezes quantas vezes desisti, tentei ir. E mergulhar. Em vão. 
Ninguém me ensinou a nadar. E já não sei se me devo atirar de olhos fechados. É que o fundo do mar pode ser lindo de morrer mas o medo de me aleijar é superior. 
Enfim! Neste diz que disse, baralhei-me, parece que levei com um ouriço do mar na cabeça, mesmo antes de lá chegar e à laia de vou ali que se faz tarde, fui ver o mar.
E fiz-lhe uma declaração. Não de papel selado que isso agora rareia, mas usando como garante a minha palavra, que é o que vou tendo. Um pouco mais que as existentes em qualquer dicionário manhoso. 
Não estou arrependida. O mar está lindo. Bangão. Bailarino. Cálido e colorido. Envolvente. Apaixonante. Um charme.
O mar está mesmo como eu lhe tenho sonhado. 
Olha, só um à parte, até porque isso da gente falar com o que não é gente parece coisa de doido e eu nem apanhei sol na moleirinha nem nada, mas parece que não bate a bota com a perdigota, até porque te ofereci resistência, tanto que me deixei ficar por aqui, mas agora que te vejo com olhos de claramente visto, te confesso... Amo-te mar!

quinta-feira, 25 de julho de 2013

na Caparica



Pela praia caminho, ao encontro das gaivotas. Mais do que a voar, gosto de as ver poisar. Dominando a praia.
Pela praia caminho ao encontro da tarde e de mim...

uma tarde de praia na Caparica

Quando o vento levanta a areia, a solução é ir para a esplanada.

se eu fosse escritor



Se o dia me chama
Celebra e exige
Vou em busca do poema
Ao encontro do tema
Que me justifique
A celebração
Palavras que rimem
Com o coração
E o modo de ser
Neste desejo de escrever
A minha emoção
Ah quisera eu ter obra feita
Nos caminhos errantes da memória!
Quisera eu não verter a minha história
Para comover o mundo!
Quisera eu ser poeta, escritor
De letras e escritos, pintor
E talhar pela minha mão
Livros de inspiração
Qual talentoso escultor
Quisera eu
Espírito elevado e vagabundo
Ser
E hoje poder dizer
Indiferente
Que afinal já sei escrever.

m.c.s.

( 25 de Julho, dia nacional do escritor )

às voltas com os sentimentos

Há pessoas que não se deixam amar.
Ando às voltas com o tema e por mais voltas que lhe dê vou parar sempre ao mesmo sítio. O da convicção, que me diz que essa incapacidade advêm de outra. 
Não aprenderam a amar. Não lhe sentiram o sabor, o cheiro, a beleza, a voz. A essência. 
Não se deram. Não se dão. Não se amam. Estão mortos e ninguém lhes disse.
Digo eu, com risco de estar enganada, mas plenamente convencida que só um tolo recusa a se deixar amar. Só um ignorante estúpido, só um invertebrado, uma couve, não aprende a amar.


terça-feira, 23 de julho de 2013

Tralhos e retalhos de uma vida em queda livre, ou não

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Hoje encarei o touro de frente.
Fui-me a ele decidida. Agarrei-o pelos cornos e ...zás.
Tirei-lhe uma fotografia.
Qual touro? É um embuste, pois é. Estou a falar em sentido figurado, entenda-se. Metáfora, sabem o que é? Claro. 
Não há touro nenhum. Parece mais uma hiena. Enganadora, traiçoeira, esta ladeira, como soe dizer-se por terras de Ribatejo.
Foi aqui, mesmo aqui, a descê-la logo pela manhã no dia 3 de Outubro de 2012, que me estatelei todinha no chão, ao comprido, gritando, gemendo e chorando, descida abaixo. Parecia um avião aterrando, no meio do mato, mal comparando, que de avião não tenho nada e de mato a rua também não.
Foi também o tralho mais desastroso e dorido da minha vida de adulta. Quer dizer, tive outro trambolhão, empurrão, assim um daqueles, de cair que nem uma patinha, mas isso não é para aqui chamado e desse não parti um ombro, chafurdei na lama e nasceram-me...carago! 
Já falei de cornos que chegasse, por hoje.

a realeza da vida Real

Há coisas que não percebo. Ou por outra, devo ser eu que tenho mau feitio. E tenho dificuldade em encaixar o que vejo acontecer. Ou não estou no mesmo mundo que outros, não vejo o mesmo filme, ou... sei lá.
Mas resta-me o desabafo, porque a esse tenho direito. Aka, xiça, penico! Fonix...
Nascem, comem, bebem e vão à casa de banho como qualquer mortal. Fazem filhos do mesmo jeito, acho eu. Fazem tudo como nós, mais coisa menos coisa, tirando alguns pormenores de somenos. Alguns até matam elefantes, têm amantes toda a vida desrespeitando os cônjuges, bebem demais, jogam, tomam drogas, têm vidas cheias de ócio e de nada fazer, ou por outra, fazem sim, fazem filhos fora dos palácios e dizem as más línguas que até são culpados de doenças e mortes das caras metades. Tudo como os simples e pecadores mortais da plebe. 
Então, no alto da minha quase indiferença, quase indignação sou forçada a perguntar, para quê esta festa toda à volta das criaturas da família real, mais da criaturinha que nasceu agora? 
Família real somos todos. Temos todos. Belisquem-se a ver se não doi. Estamos cá, com as nossas vivências. Mais ou menos reais, sim, agora pensando bem, porque estou a lembrar-me que nem sempre caio na real, mas isso são outros quinhentos. 
Páro para pensar na minha realidade, bem real, se é que se pode dizer assim, mas é mesmo para dar ênfase à coisa. Gosto tanto dos meus príncipes! Amo-os de paixão. Quero coroas de flores enfeitando os seus caminhos. Quero rosas sem espinhos. Não é preciso nem ouro nem prata nem diamantes. É preciso mais do que isso, saúde, trabalho e felicidade.O meu príncipe e a minha princesa são reais. Vivem neste trono que é a vida, rodeados de desafios, motivos e incentivos.Alegria, humor, inteligência e sucessos. Por vezes vivem menos bem, menos motivados, mais cansados, tristes e desiludidos. É a vidinha deles e de cada um de nós que não nascemos em palácios mas, e se cairmos mesmo na real total? Nós sabemos que aqueles que lá nascem nem sempre são mais felizes, mais ricos, mais perfeitos, mais apaixonados, mais bem formados mais bonitos. Basta olhar para a chipala da usurpadora do lugar da avó da criaturinha acabada de nascer. Credo, cruzes canhoto, nem uma carripana estampada é mais feia que ela. Parece uma " tia da linha " toda recauchutada, sem sucesso. 
Ai que a minha vida dá-me tanto que fazer! Ai que os meus príncipes são o mais importante que a vida me deu. São sangue do meu sangue, carne da minha carne e nasceram no berço que eu e o pai lhes pudemos dar.
Não são reais?
Gostava tanto que as crianças dos musseques, bairros de lata, bairros económicos, bairros em geral, pudessem nascer com direito ao amor, à saúde, higiene, alimentação e educação quanto baste, para assim crescerem tranquilamente e se tornarem nos homens do futuro...
Esses é que não são reais. Fazem parte da realidade sim, mas não têm o direito de ser mais eles. Como nós, simples mortais, como eles os que agora nascem nos berços de oiro, com coroas de diamantes, apaparicados por todos e rodeados de mesuras.
Enfim! O povo gosta duma festa alheia, de embandeirar em arco, de fazer filmes à conta de gente que não está próxima e que lhes parece tirada de contos de fadas. Vamos olhar ao redor? Tem meninos nascendo por aqui. Que precisam de tão pouco mas que mesmo assim lhes falta. 
Façam o vosso filme. Sejam protagonistas de estórias de sucesso ajudando o próximo. Deixem os príncipes alheios lá nas gaiolas douradas, berços de oiro e pais de alta estirpe, grande linhagem, avôs que a gente sabe como é...podres encobertos, tal qual como os simples mortais.
Quando li a notícia desta criança que agora nasceu, lembrei-me da sua real avó, a princesa Diana e não dessa criatura que agora lhe ocupou o lugar.
E lamentei que não estivesse viva para viver o momento único e real que deve ser o nascimento de um neto. Apenasmente isso...ela que tanto fez pelas crianças mutiladas.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

verdadeira lixeira no viaduto entre o O.Basto e o Sr. Roubado

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a caminho do castelo de S. Jorge


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vale muito a pena ver


meeeedo!

Uma criatura tem uma noite de, raios a parta, valha-me Deus e nos acuda também, que quero dormir e o prostituto do sono está cá, porque está mesmo, mas não consigo olhar para dentro, que não sei o que isso é, nunca experimentei essa carência, só sei de lhe ouvir falar, mas até nem dava valor aos pobres que se debatem com essa anormalidade, dizem e agora eu sei, desesperadamente desesperada, a que chamam insónia.
Uma criatura mal adormece, depois de aquecer leite simples, nhac, nhac, no micro-ondas, que dizem que acalma, e nesse relaxamento pode ser que calhe, contar carneiros de invenção, ovelhas e todos os bichos que consegue imaginar às cinco da matina, mesmo se não têm quatro patas, e pronto, depois  de expulsar do quarto o único animal com quem convive pacificamente e adormecer sem se dar conta, vai ter de acordar dali a instantes.
O compromisso a chama e é daqueles que não pode fingir que não existe. Por isso, mesmo a bater com a cabeça nas paredes, dizendo mal da vidinha, vai à sua, tropeçando nas coisas, na manhã e no tempo, que é escasso e está marcado. O querer tem muita força e mesmo que não tenha energia para fazer força, também, aí vai ela.
Ela, eu, está bom de ver. Lá estou eu a falar na terceira pessoa! Que coisa foleira!
Mas, adiante, quando finalmente volto para casa, passam horas. De aflição e ansiedade.  
Adormeço no autocarro. Acordo a tempo de tocar para a minha paragem.
Quando abro a porta de casa parece estou no céu, sendo que nunca lá fui mas quero crer que será o melhor lugar do mundo para se dormir na santa paz dos deuses e sonhar com os anjinhos e todos os santos. 
E minutos depois não me faço rogada. Ainda tenho tempo para pensar que é um prazer dos diabos, um privilégio de algumas pessoas, meu, poder abandonar-me ao aconchego da cama, à maciez dos lençóis, ao acolhimento da minha almofada e depois, zzzzzzzzzz apaguei.
Duas horas depois, acordei. Com o barulho da chave abrindo a porta da rua. O coração disparou numa taquicardia desenfreada, daquelas que só pára no Samouco para meter água. Meeeedo! 
Nenhum dos filhos por cá. Ninguém mais tem a chave de casa. Ou...tem? Por segundos pensei naquela chave que perdi há cerca de um mês, sabe-se lá onde ou como, porquê, já que nunca perco nada, quer dizer sou do melhor para perder pessoas, momentos, tempo e até sentimentos, mas coisas, utensílios, não. Nunca.
De medo em medo, até chegar ao pânico foi outro segundo. 
A chave parou. A Pitanga nem sequer se mexeu, tão pouco acordou. 
Levantei-me e fui olhar a porta. Espreitei pelo óculo. Nada. Tranquilo.Tudo na mesma como a lesma. 
Eu suando das mãos, palpitando-me o coração percebi, que mais uma vez aconteceu. Nunca me dei bem com sestas. Sempre acordei delas, assustada. Desta vez não foi diferente. Do mal o menos. Ninguém entrara na minha casa. Valha-me ao menos isso. É que não vivo completamente sossegada com a ideia da minha chave em mãos alheias, tipo mãozinhas de veludo. Meeeeeeedo!


saudades

Depois duma noite às voltas com o sono, depois de ter feito filmes românticos, comédias e tragédias, escrito poemas que estão por rimar, e capítulos e capítulos encadernados, protagonizando uma história que é de ir às lágrimas de dor e de riso, num livro por assinar, tudo perturbadamente consciente,depois de correr com uma gata teimosa e com insónia também, finalmente adormeço. 
E acordo a seguir porque a minha vida não é nem dormir nem ficar pela cama preguiçando que nem reformada desocupada.
Há deveres para cumprir. Há vidas para viver. Há prazeres para descontar. Mesmo que bata com a cabeça nas paredes, boceje e feche os olhos, bêbada de sono.
Porém e porque isto dos antepassados nos passarem princípios tem muito que se lhe diga mas a gente não discute e porque me ensinaram que primeiro o dever e só depois o prazer, faço-me à estrada que é segunda-feira e mal pareceria começar a semana de mãos vazias e espírito cansado. 
Ombros caídos e esgar desdenhoso.
Depois?! Quem sabe?! Se dou umas braçadas e lhe vou visitar.
É que estou cheia de saudades do mar.

domingo, 21 de julho de 2013

às voltas com a razão

Não sei se sou eu que fujo do mar se é ele que não me quer. Ou se é o destino me dizendo que há outras coisas na vida, que estão aí para ser vividas. Antecipações, prioridades. Outros presentes, tentações, prazeres e cumplicidades. Desvios. Mudanças. Outras formas de ser mais eu. 
Sim, porque pensando bem, o mar não é o meu meio ambiente. Eu não sou peixe para ser pescado. E ser saboreado. Nem sal para temperar. E alga muito menos, que agora fizeram comichão na pele dos humanos e me impediram de me atirar de cabeça no azul da linha e da costa. Tão pouco sou barco, para navegar. Afinal, eu até gosto mais de voar, se invento que sei sonhar. Se invento que sou pássaro. Se gostava até de ser albatroz, só para imitar um alguém que me disse nos bons tempos da nossa amizade, que gostava de voltar de novo neste mundo, mas dessa vez albatroz, livre e fiel albatroz, dos mares do sul. E porque esse tal alguém me parecia a melhor pessoa, me pôs o gosto, admiração, ternura, por esses animais que voam em voos rasantes nos mares do sul e vão a terra uma vez no ano para acasalar, sendo que, consta, eu não fiz estudo nenhum, que apenas têm uma parceira uma vez nesta vida de Deus. São esses seres que me atraem e casam com a minha ideia de ser. Fantástico não? Parece que não pode ser. Só mesmo animais de asas...
Bom, mas sem divagações ou recordações que não batem asas, nem voam da minha memória, dizia eu que agora que o perigo passou, as notícias o confirmam e finalmente podia exibir o biquini que afinal é triquini, se isso existe, que a cria me ofereceu no aniversário ( há muito tempo que presente para a casa terminou, qual aspirador, batedeira ou máquina de fazer pão?!, fui eu mesmo quem disse que não sou mais dona de casa e existo pessoa individual, vaidosa e necessitada ), dizia eu,  quando afinal me podia bambalear nas areias finas, cantando em ritmo calmo, num misto nostálgico e divertido, quando vou para a gandaia, caminho assim, assim assim, alguém  me diz - maria clara, queres almoçar comigo no domingo? E eu que já estou a ver as minhas crias por um canudo, porque estas duas criaturas nasceram já com asas maiores que as do albatroz e parece ainda não chegaram, já estão de partida, e eu que raramente me faço de rogada para me sentar à minha ou a outra qualquer mesa familiar ou amiga e muito menos rogada para uma boa e bem humorada conversa de domingo, com gente que se quer bem, que me quer bem, de quem eu gosto, olho o sol bem nos olhos, sinto o cheiro do iodo inundar-me o espírito, tentando-me, imagino o azul verde esmeralda das águas frias que nestes dias se amaciaram numa temperatura gostosa, parece até lhes vejo piscando-me o olho, acenando-me convidativas, provocadoras, vejam só, até as linhas do comboio parece fazem um acordo com as espreguiçadeiras, o nadador salvador aposta com a bandeira verde, que eu não vou recusar, segredam-me já ao ouvido  que há uma limonada fresquinha à minha espera, um bronze bonito me embelezando, um descanso danado de bom, uma música me lembrando a existência,  saber escolher, melhor viver, um agradecimento ao criador, eu desvio o olhar, ralho com esse eu solitário e egoísta, mortinho por me desobedecer e digo, Não. Não caio em tentação. Hoje digo Sim ao convite para outra escolha. Outro destino. Outro desafio. Outro domingo de verão. 
Se não tivesse dado a minha palavra, dava agora. A palavra é tudo o que possuo. É por isso que escrevo. Tanto...
A palavra resolve as contas do coração. Justifica pagamentos à razão. 
Há uma mensagem que me diz que há uma menos cinco, passam para me apanhar. Que desça...
E eu que ainda não mergulhei no chuveiro, nem sei o que vou matabichar, ainda não escolhi sequer o que vou trajar, decidi que hoje ainda não vou ver, ouvir e sentir o mar. Há dias para tudo. Até para andar às voltas com a razão e escolher o coração...

sábado, 20 de julho de 2013

Rita lee Amor e sexo °


Porque hoje é sábado. E Verão. E estamos vivos...que é o contrário de estarmos mortos.

mentalmente clara


Cansei de bater no ceguinho. Quem se magoa sou eu. 
Porque ele, o ceguinho, tem os outros sentidos bem apurados e passa-me a perna, nunca dando o corpo ao manifesto. 
Digo eu, que acordei com as cinco oitavas no lugar.

m.c.s.

neste durante de mim

Acordei como me deitei. Cansada de pregar aos peixinhos. Não os da horta. Esses são surdos, cegos e mudos. Mas deixam-se comer. Para nosso contento.
Acordei a pensar no mar, com um olho no burro e outro no burro, que sempre é melhor do que chamar para aqui ciganos, que estes andam na sua lida, mercados fora, feirando que nem camelos, nunca que nem burros.
E porque acordei farta de dar com os burros na água, sem cana de pesca para ajudar à pescaria, liguei a televisão e mais do mesmo. Ainda não é hoje que vou ver o mar e mergulhar.
Só me resta bater asas e voar, que é como quem diz, vestir as penas do albatroz e sem lamentos nem arrependimentos, procurar a minha turma, rumo a sul. Para sonhar. E já agora, me banhar. Sei que tenho que pedalar muito para lá chegar, mas a minha paciência nem sempre tem limites.
E afinal, posso parar pelo caminho, que aqui ao dobrar da esquina, mas fora de portas, rumando a um destino comum a muitos mortais, que eu gosto de lugares comuns, já não há algas que me impeçam de mergulhar de cabeça no meu sonho de verão.

ele há coisas!

Ele há coisas!!!
Há tempos fui contactada por uma menina muito profissional ( da comunicação ) que por acaso é amiga da minha cria, para falar sobre os tempos difíceis e inesquecíveis de 74/75, em Angola, para um projecto de rádio e televisivo. Aceitei. Simplesmente, aceitei. Ela foi a Torres Novas em dia marcado e num fim de tarde, na minha sala, falámos informalmente sobre o tema que me é muito difícil ainda hoje, porque há sentires que nunca morrem nem esquecem. 
Esqueci o acontecido até que a minha cria me alertou para o programa que iria passar na Antena 1 num domingo próximo.   
Chegou o dia do programa onde eu seria  " a estrela da companhia ". E eu, confesso, borradinha de medo e de alguma vergonha por não saber como me teria portado na entrevista à Inês. Por não saber o que aproveitariam da minha confusa, gaguejante,  enervada e dolorosa narrativa sobre os tempos mais complicados e sofridos da minha existência. Aqueles tempos que me separaram da minha placenta para sempre.
Gosto de vozes. A minha, enfim, é o que se sabe. Tenho a maior admiração por gente que não precisa de se materializar de outra forma. Seja quem for a pessoa. Se for possuidora duma voz poderosa tem a minha  rendição absoluta. Fico absolutamente fascinada. 
Quando iniciei a escuta do programa onde eu iria falar sabe-se lá como, pois à época percebi que não tinha sido tão difícil assim, mas no momento da escuta do programa fui assaltada pela total insegurança e apreensão sem fim, como se fosse esse programa mudar muito a minha vida, como se fosse eu mudar também ou ser vedeta, enfim. 
Com a habitual e exagerada importância que dou às coisas percebi como  funcionaria o alinhamento do programa. A Iolanda Ferreira tomaria as rédeas do programa, os meus depoimentos seriam mais ou menos interrompidos pela locutora que daria a palavra  a uma historiadora, dona duma voz magnífica, dona dum saber que me fascinou, dona duma convicção que me encantou.  
Esta senhora elucidaria os ouvintes acerca da história feita. Assim que comecei a ouvi-la percebi que o programa passou de imediato a ser o programa da historiadora. A voz dela ficou-me na pele e  na alma. Tentei imaginar o seu rosto. A sua idade. 
Não consegui. Transformou-se na mulher sem rosto e sem idade.
Como tudo o que não é o mais importante da nossa vida, esqueci a entrevista, a minha voz e a minha narrativa, o programa e as intervenientes. 
Hoje estava na minha sala no computador a escrever um texto qualquer e tinha a televisão ligada. Ouvi uma voz que se tornou familiar. Olhei a dona da voz. Claro que não a reconheci simplesmente porque nunca vira antes. Apostaria este mundo e aquele que era a " minha " historiadora. Tentei perceber a sua função no programa de televisão e logo percebi que de facto a voz que deu alma àquele outro onde eu participei no início do ano na Antena 1 não era senão a voz da historiadora Helena Matos.
Senti-me assim como que amiga de longa data desta senhora possuidora duma voz poderosíssima que dá gosto ouvir só porque sim. 
Percebi porque fiquei tão presa à sua voz. Quando andava no liceu tive uma professora de História fantástica. Chamava-se Aida. Era tão poderosa, também, a sua voz,que era impossível ser-se má aluna à disciplina.
Hoje gostei muito de conhecer fisicamente a historiadora. Gostei de lhe reconhecer o timbre, a velocidade dada às palavras e à ideia. à conclusão. Ao conhecimento dos factos.
Enfim, foi um prazer.    

sexta-feira, 19 de julho de 2013

ainda...


Ainda não é hoje que vou ver o mar.
Olho através da janela deste fim de mundo por de trás da cidade grande e digo-te, universo - Não fiz mal nenhum a Deus nem aos santos e afins, não sou masoquista nem quero aprender, por isso, vou fazer-me ao caminho. Até porque há mar e mar, há ir e voltar.
Não interessa quando chegarei ao destino. Interessa sim, decidir pela caminhada.
Um dia destes, gritarei: Mar à vista! 
E então acho, mergulharei de cabeça e a pés juntos no primeiro mergulho para valer. 
Vou tarde? Nunca é tarde para descobrir um mundo novo. E me apaixonar por ele.
Ainda não é hoje que vou ver o mar. 
Mas juro que se depender de mim, um dia destes vou tirar a barriga de misérias. E salve-se quem puder. Ou então chame o nadador salvador.




quinta-feira, 18 de julho de 2013

Lendas da Paixão - Appassionato Orquestra


Deram-me a conhecer esta música num tempo mau, de sofrimento e mudança na minha vida. O tempo mau passou. A mudança aconteceu, para bem. E eu não esqueci a oferta...

segunda-feira, 15 de julho de 2013

nem sempre fechada a sete chaves


Há uma criança em cada um de nós. Diz o lugar comum. Aquele onde me encontro perdidamente adulta mais vezes do que desejaria. E de onde me escapo se tenho uma aberta, para brincar de polícias e ladrões ou jogar à macaca marcada no chão de terra batida.
Onde finjo de adulta, vestido de festa, sapatos de salto, bâton encarnado. Perfume caro. E uso a etiqueta atrapalhadamente. E como de boca fechada, de faca e garfo. 
E falo baixo e coloco o guardanapo no colo. 
Onde distribuo sorrisos que não chegam a gargalhadas que guardo para os putos da rua. 
Se me oferecem presente. Se me fazem surpresa boa. Se me chamam, das Dores. Se me contam anedota picante ou a última partida no irmão mais velho. Ou no chefe. Se é amigo do peito. Só porque sim, que a vida se leva a rir e a brincar...
Diz que há uma criança dentro de nós. Quem diz? O lugar comum. Que é aquele onde o mundo se encontra. Se acha e se perde para recomeçar e desanimar. E se obrigar.
Nos preconceitos e regras. Nos planos e obrigações. Nos rituais e seduções. Nas caras fechadas, corações duros, almas penadas. Vidas roubadas. 
Onde me reconheço. Onde desobedeço. Na negação de me fardar, de me etiquetar. De me sonambular. 
Onde me recuso a crescer, que dor de crescimento doi para chuchu. Tem chorar e sofrer. Tem pânico e pesadelo. Tem sair e não voltar, tem perder e pagar. Tem justo e pecador. Tem remar, remar. Tem naufragar. Tem morrer e virar poeira.
Há dias que a criança que há em nós acorda radiante, rebelde e traquina. Transforma-se num milhão. Vai para a roda, dá-se as mãos, e em coro canta e dança. Se alegra e não reclama. 
Salta o muro. Vai para a rua. Corre descalça, parece gazela, provocadora, gritando para os candengues, uôoooooooo! O último a chegar mãe dele é m'bica. 
Deixa de brincar ao toca e foge e avança no dia e no quintal do vizinho. Caçumbula maçãs da índia. Sobe na mangueira lá de casa. Pendura-se nas raízes da mulemba e se balança. Chama a caçula da lavadeira Alice e grita: Empurra Sebastiana, empurra. 
E sobem as duas à vez, sobem no ar nem precisam de asas para voar. Nem tapetes voadores. Nem sonhos.
Há dias que fica em pé na sala da 4ª e canta, caranguejo não é peixe, caranguejo, peixe é, caranguejo só é peixe quando entra na maré. E brinca de professora no galinheiro da mãe. E engana o baleizeiro com moeda que não vale. E corre atrás do carro do fumo e se avermelha, engasgada e chora de faz de conta. E vai alugar uma xica na oficina do Arlindo. E salta à corda. E come maboque da quitandeira que passa.
Vai para o colo da mãe e pede uma estória.
Abraça o cansaço e adormece feliz. E sonha com a kianda que falam está a aparecer na cacimba do bairro indígena. E com as salinas de quadrados salgados, onde o avô gosta de passear. E com bonecas, cipaios, balões da feira, papagaios, arco-íris e Natal.
Há uma criança em cada um de nós. Nem sempre fechada a sete chaves. Crédula, pura. Bonita e feliz. 
Eu alimento-a. Quando aparece. Quando quase morta a chamo, para me ressuscitar. E faço a promessa.
É esse lugar da memória que vive no meu espírito rebelde e travesso que guardo p'ra mim preciosamente, que quero conservar. Que quero validar. Onde quero sempre morar. 

desconhecimento de nós

Não me conheces. Não me conheço. Não te conheço. Não nos conhecemos.
O que sugeres? Eu, bem, eu sugiro um dicionário. Uma enciclopédia.
Para todas as hipóteses. E definições.
Todos os motivos e alterações. Todas as manhãs, sois e sombras. 
Todos os mares, rios e pontes.
E nomes. Terras. Mapas, caminhos. Luas e destinos. 
Signos. Adivinhações. Ousadias e credos. Políticas, clubes, hobbies e intervalos.
Idades e famílias. Alturas, pesos, sinais. Cores, músicas, flores e filmes e sabores.
Todas as possibilidades. Emoções, sentimentos, desejos e sonhos. 
Todas as decepções, lágrimas e traições. E fraquezas, cobardias e depressões. Vícios, manias e disfarces.
Memórias, juras e promessas.
Porque não me conheces. Não me conheço. Não te conheço.
Não nos conhecemos, sugiro os pratos na mesa. 
Refeições, conversas, olhares, perguntas e respostas. 
Todas as prosas poéticas e todos os poemas rimados ou não. Palavras, viagens, silêncios e jogos.
Todas as diferenças. Todas as parecenças. 
Todos os princípios e todos os fins servem para te conhecer. Para me conheceres.
Para me conhecer. Para nos conhecermos, finalmente.

no dia do meu aniversário


O meu bolo de aniversário. E o meu desejo trincado na vela.

domingo, 14 de julho de 2013

a propósito do dia 12, sexta-feira

Hoje é um tempo mágico. Porque é presente. E o meu aniversário. 
Porque nasci na magia duma terra feiticeira. 
Do amor de almas gémeas. Unidas que foram sempre para me fazerem gente que ambiciono sempre, ser, de verdade.
Na manhã fria dum cacimbo repetido.
A doze, número da soma dos meses do ano. Julho, que é número sete, dizem que mágico e especial também, segundo a numerologia e 1955, que há-de ser um ano de truz, não tive tempo de pesquisar para saber o que de tão bom teve esse querido ano, mas que foi singular foi com certeza, lol!
Hoje é um dia muito importante, porque existo há 58 anos. É um privilégio. Um luxo. Por isso estou imensamente feliz e agradecida a Deus. 
Sobretudo porque sou uma pessoa de sorte apesar dos pesares que têm sido dispensáveis mas que me fortaleceram.
Rodeada de pessoas mágicas e importantes para mim.
Por isso digo que hoje é um dia singular. Único. Amo de paixão, vê-lo chegar. Se pudesse fazia anos todos os dias e viveria entre festas, abraços e beijos. Num trono de muito amor. Em festa.
Ainda assim, vivo-o uma vez no ano com enorme emoção. E alegria no coração... e foguetes que lanço. E canas que apanho.
O meu agradecimento a todos os que fazem parte deste e dos outros dias para trás.
Às minhas pessoas, minhas crias que são uma razão demais importante para cá andar do jeito que ando. Que são os meus pulmões, mente e coração. Que são quem me ilumina a estrada.
Aos meus irmãos. Mano Zé tu és cinco estrelas sempre a caminho de mais uma. Aquela com que te brindo pelo apoio que me dás sempre. Por estares sempre lá, quer dizer, cá. 
Caçula, és o meu exemplo, ser lindo e extraordnário, que caiste na minha vida já eu era uma adolescente mimada, vinda do mesmo ventre que eu, só para me tornares melhor pessoa. Adoro-te. 
Há muitas pessoas, felizmente, que me acompanham quase desde que nasci por isso o meu abraço do tamanho do universo para elas. Amigos de infância, muitos. 
Para todos os que de alguma forma se cruzaram comigo neste percurso que amo de paixão fazer, que é a vida, um abraço grande, grande, maior do que a eternidade, que todas as eternidades que possam existir.
Não é exagero, não. Hoje sou melhor pessoa. Porque estou viva e comemorando o dia em que despertei para o mundo e fui separada da minha placenta.
Hoje vou viver cada segundo com a consciência de que é um privilégio somar dias, acrescentar conhecimento, multiplicar experiências e dividir prazeres, sentimentos, habilidades, escrevinhadelas. Solidões e tempo, com todos vocês.
A todos desejo o melhor do mundo porque estão comigo, uns sempre, outros quase sempre e outros ainda, estão, simplesmente ...
Obrigada por existirem e fazerem com que eu exista. 
Beijos nos vossos  corações. 

P.S. Ó p'ra mim tão fofa e doce! Eu bem digo, devia fazer anos todos os dias. Era um amor de criatura. 

ELIS REGINA - Casa no Campo


Não sei para o que me está a dar ao fim da tarde deste domingo tranquilo, digno duma casa no campo do tamanho da paz...
Ou sei?

acordar para a vida

Acordei tarde e a más horas. 
Cansada, suada e dorida. 
Lembrando sonhos que viraram pesadelos e pesadelos que nunca se transformaram em sonhos.
Aos pés, uma gata, olhando-me perplexa. E pouco feliz.
O calor abrandou, aliviou, parece disse, até breve, mas deixou as suas marcas.
Acordei sem pressas nem vontades. De abrir portas e janelas. 
De regar flores e ver o mar. 
Acordei sem desejos de sonhar...
Acordada que fui, por voz forte e firme, que diz que é a voz da consciência, dizendo sem dó nem piedade - Acorda para a vida!

contemplando

Olho através da vidraça, o mundo lá fora. 
Não tenho vista para o mar.
Não tenho a linha do horizonte, nem margens, nem adivinhações.
Não tenho albatrozes voando, nem sonhos se aproximando.
Não tenho motivos, exigências ou planos.
Não tenho amores nem desamores nem motivações ou provocações. 
Não tenho paisagens na memória, que hoje amanheceu presente. Sem peneiras nem fantasias. 
Não tenho futuros de fé, neste dia outonal e farrusco.
Não tenho orações, preces elevando as mãos nem céus azuis e santos.
Não tenho terra nem crias junto de mim. 
Olho através da vidraça, o mundo lá fora. Tenho montes em tela castanha. Pintados de verde esperança. 
Tectos de casas já velhas. Chaminés e antenas. Parabólicas. Tentativa de modernidade. 
Oiço uma bola bater pela mão duma criança, no rinque dos dias calmos como hoje.
Oiço o choro d'um menino, que se lamenta noite e dia e que não há forma de o calar.
Oiço o sino tocar na igreja, a chamar para a missa dos crentes.
Olho através da vidraça. 
Cansam-me os olhos, indiferentes. 
Desvio o olhar desanimada e olho dentro de mim. E vejo o que não vi ontem nem verei amanhã. Em mais momento nenhum. E pestanejo. E tiro os óculos. 
E arranco-me sorrisos e conclusões. 
Não tenho o que não depende de mim. Mas oiço o meu coração, a razão. 
Apago o que quero e renovo o que me apetece.
Afinal, tenho-me por inteiro neste domingo baço e desinteressante. E faço de mim o que me for mais favorável. 
Nem que seja, chorarem-me os olhos de tanto olhar para o que vejo e não vejo.
Olho através da vidraça. Olho dentro de mim e capto com o olhar clínico, o meu melhor plano.

Habib Koité - N´Teri


Porque hoje é domingo, vivo na Europa e tenho um saudade visceral da minha placenta.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

o dia dê

É hoje.............................................................................

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Aimee Mann - You Do

 Porque senti saudades...

para te dizer olá

Depois de pés ao caminho, mente desejando e voluntariando-se na imaginação para não ser longo e chato, 
depois de passar a avenida dos castanheiros selvagens a passo de caracol, 
depois de avistar o azul ao longe e o desenhar todas as vezes que não venho até aqui e que hoje não esteve verde esmeralda mas que foi tão acolhedor como há muito tempo não era, num baloiçado embalo, umas vezes doce outras mais alvoraçado, sempre branco e divertido, 
depois do túnel das toalhas pindericamente garridas, eis-me finalmente, bem lúcida, na praia que é igual a ontem, e a todos os ontens e anteontens que já a vivi e se torna especial porque é a que tenho. E foi escolhida, imposta por mim para este fim. Um dia feliz.
Sim, porque não percorro tanto caminho para morrer na praia, se bem que facilite. Por vezes acho mesmo que me estou só a pôr a jeito. Mas não há-de ser grave. A insolação. Que mereça internamento e cuidados médicos e hospitalares. É verão, calor e ilusão.... 
Céu, mar e areia é tudo o que preciso para reconstruir o clima. 
Há um povoado inteiro na beira da praia. Na margem de cá. 
Como um rio navegável, há uma fileira de cabeças e corpos seminus ondulando-se ao sabor da maré. Correntes trazendo e levando prazer. Parece baloiço de kanuco. Parece posso ir ao sabor da espuma, na primeira onda que me há-de encorajar. Até chegar à outra margem, feito rio, eu jangada, chegando finalmente a terra quente e firme.
Até te avistar. Sim, porque mesmo na imaginação, mesmo na saudade do futuro, não faço a viagem em vão. O momento é este. E eu estou aqui só para te dizer, olá.

hoje

Acordei de alma adormecida e mente num turbilhão.
A alma diz que sim, a mente diz que não.
E eu digo que as duas têm razão.

m.c.s.

entre ditados e pensamentos

" Se bô nasce num pé d´manga ca tem hipótese de ser um laranja " ditado caboverdiano que muito gosto.
Se tu nasces num pé de manga (( d'uma mangueira ) não tens hipótese de ser uma laranja.
Não fui eu que disse mas assino por baixo.

m.c.s.

nem mais uma palavra...


quelle chaleur!

Abençoados os ricos. Deles é o reino do ar condicionado sem pensamentos pobres como a conta da luz no fim do mês.
Digo eu que quando ligo o único que tenho e é na sala, faço contas que sou rica e esqueço-me que era péssima a matemática.
É que com este calor, até o rico desconfia que fica burro quanto mais o pobre!

m.c.s.

lembrando...

Eu não me esqueci de ti. Eu tenho é a memória fraca para lembrar o mapa e te localizar no meu coração. Digo eu que ando meio perdida e não encontro a rota dos pontos cardeais.

m.c.s.

desejo

Hoje eu quero a rosa dos ventos. Para sentir a brisa do sul e florir poderosamente.
Digo eu que não costumo pedir muito, mas quem não pede, não ouve Deus.

m.c.s.

na busca da fé

" Eu não sei quem é Deus mas vivo como se o conhecesse " disse Manuel Sérgio, o professor das " estrelas ".
Maravilhoso! Belo! 
Também eu queria, todos os dias da minha vida dizer, que não sei quem é Deus, mas vivo como se o conhecesse. Estou lá perto. Um dia Deus me dará o privilégio de viver em mim sempre, porque me tirará todas as dúvidas. Acredito, eu...

m.c.s.

é o julho a acontecer

Acordei nostálgica. E assim vou continuar.
Julho nasce, sorri, vibra e chora em mim.

Estou em tempo de sentir-me a perder, num jogo que a vida trava com o meu tempo.
Digo eu, que me estou a envelhecer.

m.c.s.

pipocando


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Musicas de Cabo Verde - ( Morna, na vós de; Bana- Isolada)


De repente vi a música. Abri o vídeo para tentar saber qual era. As músicas do Bana são demais conhecidas. E amadas. 
D'um tempo quando tinha quinze anos e fui viver para junto de uma família caboverdiana, cuja matriarca de nome Arminda, me ensinou a amar Cabo Verde e a estimar e respeitar o povo caboverdiano. Conheci ali na sua casa muita gente boa que jamais esqueci e que recuperei quando estive em Luanda há uns anos atrás. 
Esta música, esta morna, era cantada por uns e outros quando decidiam fazer serenatas, também a mim, por isso a sei de cor num crioulo invejável que me foi ensinado por essas pessoas que ficaram no meu coração para sempre.
Obrigada mano Zé por ires descobrir sabe-se lá aonde esta morna que tanto me diz...

aspiração

Há momentos que queríamos eternos. São especiais e únicos. 
Porque há pessoas especiais e únicas que nos oferecem momentos eternos. E nos tornam também únicas e especiais.
Quero o presente da eternidade dos momentos nas pessoas especiais e únicas mesmo que apenas num segundo. Para acreditar sempre na eternidade. 
Digo eu, que colecciono momentos eternos.

m.c.s.

no horizonte

foto tukayana.blogspot
Daqui eu vejo além. Penso além e amo além.
Daqui eu sei que a minha felicidade também está além.


m.c.s.

viajando na maionese

A minha casa é como um aeroporto. O lugar de partida e de chegada para os meus sonhos de andar nas nuvens. 
Vou voar hoje para sul, sem medo de perder o norte. Dia não são dias, digo eu, viajando na maionese...

m.c.s.

promessa

Um dia...
Bem, eu não gosto de promessas. Fiquei-me nesse preconceito de que promessas, tal como outras palavras, leva-as o vento.
Não gosto que jurem sangue de cristo com vontade de jurar sangue de barata.
Nem que prometam mundos fundos e não tenham nem uns trocados para dar. 
Nem que digam que sim quando não sabem, senão, ser nim.
Eu não gosto de promessas. Mãos erguidas e unidas como se estivessem a orar.
Dedo no pescoço e juntos o polegar e o médio sacudidos, num ritual antigo e fora de moda a reforçar juras que nem sempre, quase nunca se cumprirão.
Eu não gosto de promessas. Amanhã isto, aquilo e aquele outro. Faço, fazemos, compro, desisto, acabo, começo, terei, direi, irei, vais ver...
Eu não gosto de promessas. Tão pouco de as fazer. 
Mas hoje apetece-me fazer uma, numa excepção à minha regra.
Um dia...um dia prometo, que vou amar-te como tu mereces, de coração livre e inteiro.

acordei levando...


Hoje acordei a pensar em saldos. Eles andam aí. Os saldos. E não só.Também acordei dorida. Combalida e vencida.  A prostituta da idade não dorme, não se esquece, não me poupa. Poupados são os portugueses, nas palavras e nos actos. Ainda é pouco o que a gente vê por aqui. Por falar nisso, lá terei de ser testemunha de alguém que levou uma corneta para a ponte e vai daí foi à força parar a uma orquestra, orquestrada que foi a sua música. Quiseram provar por á mais bê num prazer mórbido e fascista, que cantava bem mas não alegrava e quem quer festa tem de lhe suar a testa.
Mas são também pobres os portugueses, pois que dão o dito e três tostões pelos  saldos que já espreitam, só para gastarem o que têm e não têm. E lhes foi roubado.
Tenho para mim que não é assim que lá vão, pois que sempre ouvi dizer que quem nasceu para lagartixa nunca chegará a jacaré e saldos, é coisa de pobre, tem cara de pobre e é dirigido aos pobres. Aos que lhes falta a garra e a vontade de vencerem, mesmo que não olhem a meios para atingir fins, nem os saibam justificar. Quem a sabia toda eram os caçadores de jacarés e crocodilos que os matavam, os exibiam como troféus, ficavam  bem na fotografia e depois lhes tiravam a pele para embonecarem as bonecas e calçarem os donos do povo, mas isso eram outros tempos e outros poderes, outros quinhentos de coisa colonial, se bem que por vezes parece  estou a ver esse filme,  rebobinada que é  a película. O cenário e as luzes da ribalta.
O povo, tal como eu, que hoje acordei a pensar nos saldos, suspira por eles. É um ritual. E o povo gosta de rituais. E da barafunda. E do vai e vem nos centros comerciais, quem dá mais, quem pode mais, quem se veste mais?!  Falando em vestir, faço um reparo, não é bem vestir, é mais  consumir, o que atrai a populaça sequiosa de novidades já que as notícias fresquinhas que quem manda, nos dá,  hoje são novidades e amanhã, mais do mesmo. É que para velho já basta a potassa. E continuando nos saldos que é um gosto que não compromete nem manda ninguém para a cadeia, a menos que roubem, o povo prepara-se para um assalto às lojas, para se vestir de moda que é isso que o meu povo gosta e quer, por pouco dinheiro, se bem que há por aqui, ali e acoli uns  perdedores que apostam em  deixá-lo nu em pelota, tal é o chá de sumiço que têm dado às poupanças do zé povinho.
E porque feirar é bem português já dizia o paulinho das dúzias, quando percorria as feiras de fio a pavio, hoje era o que me apetecia fazer, não fosse estar um calor dos diabos e ter acordado com uma dor limitativa e obscena, que parece me arrancam o coração pela boca e a alma pelos olhos. E me deixa prostrada a assistir aos quinquilheiros desta praça venderem a ervilha que é este kimbo, sem escrúpulos nem arrependimentos. Não fosse o big brother e acreditava que a minha hérnia está aos coices porque estou a pagá-las todas, já que não tenho humor nem estaleca para as provações.Acho vou ligar o 999 da MEO e assim acreditar que sou jovem, bonita, saudável, rica, feliz e burra e este país é um paraíso à beira mar conquistado, só para eu desfrutar. Ah e não será preciso lutar e contra os canhões marchar, marchar, até porque estou mal da coluna. Que se chegue à frente quem a tem. Não sei se os há.  Pois que nos últimos tempos entre bitacaias e carraças, venha o diabo escolha. Desconfio que com o acordo ortográfico acabaram as letras maiúsculas para  Homem com o dito h, big.



quinta-feira, 4 de julho de 2013

a posse


Abro a gaveta . Do armário da cozinha. Preciso de um espeto de madeira para com ele retirar uma torrada que ficou presa na grelha da torradeira. Dou-lhe pouco uso. À torradeira e também aos espetos. Agora.
A memória fotográfica diz que deve haver um ou mais espetos na gaveta. Tinha sempre. Faziam-se espetadas com frequência cá em casa. Nesta casa. 
Sorrio à visão d' um pacote de espetos, por encetar, novinhos a estrear. Na verdade não faço espetadas há mais de seis anos. Como sei? Sei e pronto. 
Abro a portinhola do velho bar do móvel antigo, tão antigo que lhe perdi o conto. É lá que guardo isqueiros de um tempo em que  se fumava à séria cá em casa. 
Avisto cigarrilhas e charutos que nunca fumarei. Entre as garrafas de licor, ofertas recentes, uma garrafa de uísque velho, meia cheia. Não evito um esgar. Não bebo álcool. Faz tanto tempo que aqui está que deve saber a tintura. Por mim aqui vai continuar.
Abro a porta da despensa. Preciso d' um botão. Estão alguns na caixa de costura. Que apinhada com as outras caixas sobressai pela cor encarnada, na prateleira forrada a papel claro. Há pouco tempo esta despensa foi arrumada. E tudo ficou nos seus lugares. Muito mais fácil ficou encontrar agulhas no palheiro. Por falar em agulhas, descubro o botão. E latas de tinta. E graxa castanha e preta. E frascos de cola. E cola sólida. E a pistola da cola.  E chaves de fenda. E parafusos. E um sem número de engenhocas que nunca soube para que serviam. 
Há um mundo silencioso, abandonado nestas paredes alinhadas e ocupadas de coisas votadas às traças. Não resisto a uma interjeição que me enche de som a boca, até aqui, calada.
Macacos me mordam! Estou na posse de utensílios que não fazem falta pois que a sua posse nunca foi reclamada.
Fecho gavetas e portas. Tranco lembranças que me estriparam, viraram do avesso, sugaram-me a pele e doparam-me a alma.
Sento-me no sofá da sala.  A casa quieta e silenciosa, enorme, limpa e harmoniosa descansa das guerras, mentiras, traições e abandonos. Depois de arrancados corações, escondidos cinzeiros, arrumadas as fotografias de família, trocadas almofadas, mudados móveis e candeeiros, tudo depositado na gaveta do esquecimento e da conformação, como finalmente a torrada. Vou acender depois o piloto do esquentador e pregar o botão que me caiu das calças. Nego-me a fazer espetadas e não fumarei charutos ou cigarrilhas, não brindo com uísque, não faço furos nas paredes nem penduro quadros. Porém tudo isto me pertence por usocapião. Ainda que não lhe dê uso. Pode ser que um dia destes, calhe.
Na vida quando parece que perdemos, vamos a ver e ganhamos. 
Ó p'ra mim cheia de espetos,  material de bricolage, charutos e cigarrilhas,  bebidas alcoólicas para dar e vender.
Ó p' ra mim protagonista de uma estória que não é de encantar mas que já não me desencanta mais. Depois de todas as gavetas aberta e fechadas.

lar doce lar

Hoje não saio de casa. 
Nem que a vaca tussa. Nem que venha o diabo mais velho.
Nem que me mandem ver se estou na esquina, eu vou.
Nem que me troquem as voltas.
Nem que tenham uma converseta de ao pé de orelha comigo e com os meus botões.
Nem que me acenem com tentações. 
Por falar em Tentações, já estou na primeira fila para ver e ouvir a minha cria falar para todos os que sintonizarem a CM TV no canal 8 da Meo por volta das duas da tarde.
Hoje troquei a praia pelo sofá. O panachê pelo sumo natural. O sol pela sombra. O dia radioso pelo ar condicionado. E as comidas calóricas por um gaspacho e umas fatias de presunto com melão.
Hoje a máquina fotográfica será trocada pela de lavar e as sandálias por pés descalços. 
O horizonte pela televisão e as conversas pelo teclado. Os corsários por calções e a blusa por t-shirt de alças. O cabelo solto por carrapito e a cara maquilhada por rosto limpo. Troco o mundo pelo lar e o povo pela Pitanga. Por mim. Em mim.
Hoje despojo-me do que é corriqueiro e usual e aceito o natural e simples da vida. 
Está um calor que, vai lá vai que até a barraca abana e eu estou numa preguiça de trazer por casa. Por isso na liberdade que me permite escolher, fico-me por aqui numa kunanguice gostosa onde tenho o que preciso e só me faz falta o que está. 

os putos

A porta abriu-se na estação do Saldanha.
Duas crianças de quatro anos entram a correr, carruagem fora. Mais atrás, o irmão mais velho e a mãe, mulher jovem e bonita. Olhos claros, cabelo castanho claro, ar feliz e transportando uma paciência ilimitada. À minha frente, sentam-se, mãe, menina ao colo dela e rapazinho ao lado. O primogénito, senta-se do outro lado, sossegadamente.
- Mãe, ó mãe...
A mãe penteia em tranças, o cabelo da menina que continua irrequieta como entrara. 
- Mãe, ó mãe, chama o menino de novo.
- Siiiiiiiiiim Gui! 
- Ó mãe estou farto que tu não falas comigo. Eu digo, mãe, mãe e tu não respondes.
Estou farto. E amuado estende o lábio para a frente e cruza os braços. Olha p'ra mim. 
Pisco-lhe o olho. A mãe também me olha. Sorri. Responde.
- Estou a pentear a Laura. Mas diz...
- O Miguel bateu num menino lá da escola. E foi atrás da Laura. 
- Eu não tenho medo, diz a Laura. O Kiko vai lá e bate nele. 
O Kiko diz lá do outro lado:
- Bato em quem? Estes miúdos estão marados, mãe.
- Não bates no Miguel pois não Kiko?
A mãe sorri para eles e para mim.
Eles percebem. O Gui ( perguntei os nomes e a idade ) diz-me: 
- Tenho estes anos e exibe os dedos em número certo. Eu e a Laura não brincamos juntos na minha escola. Sabes porquê? Porque eu brinco com o Miguel. Ele é meu amigo.
- E a Laura? perguntei em tom de provocação.
- É gémea de mim. 
A mãe sorri de novo. 
- Mãe, ó mãe, quero cerejas.
- Também quero. Kiko, queres cerejas? pergunta a Laura. 
- Não comprei cerejas, meninos. 
- Mas compraaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Pede o Gui.
A estação do Campo Pequeno surge. Levantam-se os quatro. 
- Vais para onde? Não sais connosco? pergunta-me o Gui. De Guilherme com certeza.
- Não. Saio no Campo Grande.
Faz-me um gesto com a mão pequenina em sinal de despedida. A mãe ri. 
- Boa tarde, boa viagem, diz a jovem mãe.
De repente o metro ficou vazio. E silencioso. E constrangedor. Volto a olhar em frente, fixando um ponto qualquer da minha memória. Alheada do que não me faz falta.
Mãe, ó mãeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee... 
No Campo Grande, mudo de linha e passados 12 minutos estou na minha estação.
À saída, uma mulher vende pêssegos e cerejas. Oferece-mas. Não compro. A loja da Marta tem cerejas doces e frescas. A bom preço. É lá que as vou comprar. Hoje. Os putos abriram-me o apetite.