domingo, 31 de outubro de 2010

Nanuto - Bisa

será da minha vista, deles, ou da televisão?

A minha televisão está com algum defeito. Ontem dei comigo a olhar para o José Mourinho, sempre charmoso e com os cabelos repletos de madeixas loiras. Não que lhe ficassem mal, mas não estava a ver o Zé Mourinho que nem os jogadores dele e de outros, vaidosos e pirosos a amarelarem os cabelos numa tentativa de ficarem mais bonitos, embora me pergunte sempre porque é que não ficam.
Hoje, olho o ecran e vejo Luís Filipe Vieira, loiro, apenas com algumas brancas nas laterais.
E disse de mim para mim: Que raio? Mas os homens do desporto enlouqueceram ou quê? Kotas com idade para assumirem os seus brancos...
E este fica ridículo, na minha televisão, está claro. Aos meus olhos entenda-se.
Que eu até nem tenho nada a ver com o cabelo, ou falta dele, de cada um. Até porque se as mulheres ( eu ) pintam o cabelo porque é que os homens não o hão-de fazer? Juro que nada contra, da minha parte. Mas o sr. Vieira, já tem ar de tótó, com cabelo dourado fica completamente de plástico e não vai dar para o levar a sério.
Estou a tentar perceber se é defeito da minha televisão ou deles. Mas a verdade é que os kotas não têm muita voz activa nos programas televisivos pois que só vejo gente nova, com cores de cabelo lindíssimas, pintada ou não, por isso tenho de esperar para perceber esta estranha coincidência que é, os homens de desporto com cabelo branco, aparecerem loirões.
Será da minha vista, deles, ou da minha televisão?

♫♥ Tango dos Barbudos ♥♫

Porque nos encontros de afectos se ouve música e fala-se de música das farras de quintal, foi lembrado este tango. Ofereço a todos os que ontem estiveram reunidos numa casa que recebe muito bem a família e os amigos. E para os outros também, sobretudo os do século passado.

o amor aconteceu


Ouvi uma história daquelas!...

Não jurei que não ia contar e se tivesse jurado tinha levantado o pé do chão, e feito figas nas costas, porque esta história de amor é tão deliciosa, quão forte e bonito é o amor dos seus protagonistas.
Perdoa pessoa que confia em mim. Moça, não vou revelar os nomes, nem dar pistas, não vou dizer onde, quando e porque ouvi essa narrativa. Fica mesmo segredo, vai ser daqueles que guardo e nunca mas nunca que revelo, nem que me torturem, mas...porque nem te imaginava capaz de uma paixão, de um fetiche assim tão peculiar, adorei saber. Eu é que só te perdoo nunca teres contado porque enfim...esqueço rápido e desculpo com facilidade.
A " minha " estória passou-se em Luanda. Onde é que podia ser?
Uma dama que não achava piada a um senhor respeitador e " antipático ", cheio de "manias ", segundo ela. Eu não acho nada disso, mas o moço pode ter mudado com o convívio dela.
Um dia, estavam sentados lado a lado, em circunstâncias que não interessam e ele de perna cruzada, baloiçava o pé descalço. Ela, olhou aquele baloiçar e os olhos entortaram conforme o pé ia e vinha no seu baloiçar. A moça, não estava a perceber, mas o coração dela, coração assim para o solitário naquele dia, começou a fazer poc, poc, poc, poc, apressado. Ela já conhecia essa pressa do coração de outras corridas.
A moça de si para si se disse: Que é isto? Tudo por causa desse pé que é bonito sim senhor, e que se movimenta para a frente e para trás?
E o coração não parava de bater forte.
Tenho a dizer que apesar de não querer dar pistas, esse pé era campeão no desporto, e as mãos também. Altos prémios de campeão de Angola e Nacional ( de Portugal ).
Foi assim que esse encontro que dura até hoje, se deu, naquele dia, olhos no pé, pé que fala linguagem de paixão, coração que responde numa batida forte e incompreensível.
Ele já em tempos que lá iam há muito tempo, de um tempo colonial, ia vê-la no liceu. Bata curta, quase a ver-se as cuequinhas. Cueca, pernas, pé. Fez sentido. Faz todo o sentido. Até hoje.
Ela diz que lhe deu mi gosta, ele diz que lhe deu mi gosta. Eu sei que se gostam muito.
O amor aconteceu-lhes.

encontro de afectos


Há encontros que duram um tempo semelhante a um intervalo de anúncios com imagens de sonho. São encontros de amigos e família. Quer dizer, kambas e " familha ".
Sou muito repetitiva. Porque gosto de bizar esses encontros. Como no liceu, no sumário repetitivo de : Revisão da matéria dada.
Uma refeição que dura o tempo do encontro. Tudo a que temos direito.
Kitutes da terra. Cacussos dire(i)ctamente do Mulemba X'Angola, batata doce e banana cozida, feijão de óleo de palma. Escondidinho de carne seca. Escondidinho de bacalhau ( escondidinho é um prato brasileiro, como o empadão, feito com mandioca cozida em vez de batata ). Confeccionado pela kamba anfitriã. Grelhados com miga ( miga feita por mim, pois então ) e canja. E doces. E broa com chouriço vinda do Ribatejo pela kamba que mora lá mas não sou eu, é aquela que se queixa sempre que tem uma escoliose porque durante o nosso tempo de liceu eu andava sempre com a minha mão no ombro dela, na rua a caminho do liceu, nos intervalos das aulas, etc, fazendo-lhe pressão no ombro e que assim provoquei o problema que ficou com ele mesmo até hoje ( não acredito mas pronto, entro na brincadeira.
Éramos muitos. Inicialmente a família e nós. Depois as colegas do liceu. E por falar em liceu, eu, a kamba dona da casa, a Olívia e a Paula já com alguma sangria e champanhe resolvemos relembrar as aulas de Canto Coral da professora Dilma e a vozes cantámos o hino do Liceu. As músicas que íamos cantar ao cinema Restauração pelo coro do Liceu, a Igreja de Jesus e outros. O mais grave (?) foi sabermos de cor o hino da Mocidade Portuguesa. Acho até que para darmos uma de que não estamos nem aí, nos aprimorámos na cantoria e saiu direitinho e maravilhoso. Quem achou foi o kamba Zezé, que nos transmitiu isso mesmo. Ah, foi bom, recordar esses tempos como se já não tivéssemos amanhã. As aulas no ginásio com os fatos de ginástica brancos com a sainha curta por cima e no peito o emblema da dita mocidade portuguesa e nos pés os quedes brancos.
E as aulas de Lavores irrequietas e enfadonhas, uma verdadeira sarna que quebrávamos com repetições dos ralhetes da professora, enquanto nos distraiamos do ponto pé de flor ou cruz, e que nos valiam uma falta de presença para não ser disciplinar, o que até agradeciamos porque nos permitia ir para a Cerca assistir aos campeonatos de ringue que eram um verdadeiro vício.
Falou-se do Baba. Sempre presente o nosso amigo Baba. E as suas exigências, como sendo, camisas de manga comprida sempre, de manga curta nunca, e fatos completos às riscas. E ai de quem não satisfizer essas necessidades do Baba.
Das tradições nos óbitos, que deram lugar às ostentações ridículas e exageradas de uma riqueza sabe-se lá ida buscar onde. Do perigoso tribalismo que faz retroceder as mentalidades e o progresso.
E até dos amores e desamores da sociedade angolana. Daquela que conhecemos melhor. A Luandense.
Pela tarde e noite fora sucederam-se as estórias da nguimbi.
Entre outras, duma história que não acabou bem, de uma viagem ao Uganda de ida e volta que acabou sendo de uma semana, por avaria, e desde mulheres casadas que mentiram aos maridos para viajarem com os amantes a maridos com casos com catorzinhas, assustados porque iam ser descobertos pelas legítimas, que disseram ir comprar peixe à Funda e afinal a Funda afundou-se numa mentira cabeluda e passional, a kanukas que foram dormir às avós e afinal saiam para se encontrarem com os namorados, havia de tudo e uma avaria no avião fez perceber que a mentira tem rédea curta. Então? Eu não digo? Para quê mentir?! Bem feitos os que foram apanhados, pois então?!
Em suma, foi um encontro daqueles...
Foi o verdadeiro dia de " actividades ". Que acabou depois da hora mudar, bem depois.
Esta kamba promove destes encontros de afectos que nos dão vida.
Qual chuva qual carapuça.
...brigada amigos que estiveram presentes.

actividades II

Cocada. Doce de jinguga e coco. Pé de moleque. Banana seca. Tudo bom.
Mas Kifufutila?! Verdadeiro manjar da terra mãe. Destaco. Com honras.
Doce feito com farinha de pau ( de mandioca ), jinguba moída, açúcar, canela...
Cuia bué!

actividades

Castanha de cajú da banda. Sabor diferente. Torrada na hora. Sem sal.Resistir a estes kitutes é impossível. Nos rendemos mesmo. Ao lado gengibre cristalizado. Banana assada e quitaba. Não dá para passar indiferente.

chove chuva

Chove. Muito.
Numa chuva poderosa.
Anunciada que foi, cumpriu.
Encolheram-se os ombros.
Sorriu o espírito, quase provocante.
Num logo se vê, que não me apanha de surpresa nem tão pouco distraída.
Chove mas não sei se chove em mim.
Há dias em que nada sei, nem de mim.
Nem me quero encontrar, nem perder por labirinhos cinzentos e húmidos.
Nem tão pouco vitimizações.
Num doce torpor olho através da janela que me abre portas.
A chuva fala uma linguagem agressiva. Por vezes calculista. Por vezes num sussurro sádico.
Não a oiço. Aliás, entra-me por um ouvido e sai-me por outro.
Nem a mudança de hora me perturba.
Os gritos que a solidão dá pôe-me surda de indiferença.
Não, decididamente esta chuva não me molha, não me chora, não mora em mim.
Pode a chuva acinzentar-se e ralhar ruidosamente que estes dias são de festa.
Têm o tamanho de um fim de semana alargado.
E um piscar de olhos cúmplice e solidário.
E a calma do sofá e o chá de gengibre.
Têm o gosto de um livro. E o ouvido apurado de um disco.
E o sabor da paz e do repouso.
E o rosto de amigos. De novo. Os mesmos e outros.
E uma boa conversa. Gargalhadas. Recordações. Estórias.
A chuva desta vez pode chorar à vontade. Ralhar. Praguejar que não me vai apanhar.
De botas, gabardine, chapéu de chuva e indiferença olho-a de frente e não a temo.

uma questão de tempo


A HORA MUDOU.

sábado, 30 de outubro de 2010

covilhã - festival - future plans

" Muita merda " para mais logo, meu príncipe.

festival de artes performativas

" Future Plans "

David Marques
Covilhã: auditório teatro das beiras 30.outubro.2010 21h30
Auditório Susana
Future Plans: Concepção David Marques
Criação e interpretação: David Marques e Patrícia Milheiro
Sonoplastia : Carl Simmonds e Sérgio Cruz
Produção Executiva: Eira
Apoio em residência: Teatro de Ferro
Agradecimentos: António Ferraz, Mathieu Jedrazak, Pedro Rocha
Classificação etária: maiores 12 anos
Duração: 45 min. género: dança


Sinopse: Future Plans joga-se na relação entre vários olhares, entre a virtualização de um futuro que é apresentado e a percepção que os intérpretes e o público vão construir dele. Neste jogo de visões, dois seres sozinhos, num espaço de pequenas dimensões, ritualizam um processo de mudança entre o presente o futuro. São propostas legendas, palavras que se conjugam com o movimento para construir leituras sobre a peça. A necessidade de celebrar a mudança como preparação do futuro parece resultar num estado de alheamento da realidade dos intérpretes e de prazer na aleatoriedade. Se a relação entre os corpos em cena poderá parecer votada ao fracasso, as legendas que são projectadas no palco sugerem uma possível narrativa onde se podem ler as coisas que não se vêem. Biografia: David Marques [Torres Novas, 1985]. Licenciado em Dança (Ramo Espectáculo) pela Escola Superior de Dança. Recebe, em 2005, bolsa de mérito pela obtenção da média final mais elevada na referida escola. Inicia a formação em dança em 1991, com Helena Azevedo. Na Escola Superior de Dança contacta com: Angelique Wilkie, António Carallo, Clara Andermatt, Francisco Camacho, Jean Paul Bucchieiri, Margarida Bettencourt, Peter Michael Dietz, Rui Nunes e Sílvia Real. Tem formação complementar – workshops de criação coreográfica – com Meg Stuart, Emmanuelle Huynh, Deborah Hay, António Pedro Lopes e Victor Hugo Pontes (Fórum Dança). Interpretou, entre outros, Untitled Accident, de Patrícia Milheiro (Quinzena de Dança de Almada, 2007) e Algum dia tinha de ser a sério…, de Lígia Teixeira e Ivan Franco (Box Nova – Centro Cultural de Belém, 2006, Ciclo Dança e Novas Tecnologias, Teatro Aveirense, 2007) e “im-“ de Francisco Camacho e Vera Mota (Festival Citemor, 2009)..É criador e intérprete de Motor de Busca (co-produção EIRA e Festival Citemor, apresentado em Portugal e Espanha: Festival Internacional de Dança Contemporânea BlackBox, Évora e ALT.09 – 8º Festival Alternativo de Artes Escénicas de Vigo, Espanha), e Future Plans (eira33 e Teatro de Ferro, 2009). Frequenta a formação ex.e.r.ce no Centre Chorégraphique National de Montpellier Languedoc-Roussillon, sob a direcção de Mathilde Monnier. Neste âmbito, recebe bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. É artista apoiado pela EIRA desde 2008. David Marques esteve presente na organização da Quarta Parede 1º Andar – mostra de criadores emergentes, em 2009, n’A Moagem – Fundão, com o espectáculo “Motor de Busca”

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Parabéns Mimi

Uma flor para quem é uma flor.
Gostava que soubesses que nunca me esqueço desta data. Fazes parte de um 29. Um de tantos que me cruzam a vida em dias diferentes, de meses que nada têm a ver. Acho que Deus escreveu alguns números para mim. Este número foi escolhido para mim e tu nasceste nele.
Habituei-me a saber de ti e a olhar-te, à distância, apesar de estares perto há tantos anos. É que és como uma irmã mais velha que eu não tenho.
És a irmã da minha kamba, irmã de amiga minha, é minha irmã e é um pouco assim que gosto de ti. Dava-te mil uma razões. Mas sei que gosto porque sim.
Tu lembras-me sábados da Vila Alice. Gargalhada. Irmãos. " Baba ". O Baba chamando-te Fernanda, que não és. Lembras-me Voz. Cantigas, fado.
Lembras-me coragem. Persistência. Independência.
Lembras-me o ano de 1975. Em Luanda. Em Portugal.
Lembras-me cultura. Prazer. Teatro e poesia. Convites que aceito.
Lembras-me Viagens.
Lembro-me da tua última viagem...de me teres convidado para as últimas duas viagens que fizeste e eu bem que me animei. Mas não pude ir. E tu foste. E voltaste e estás viva e fazes anos hoje, mas sabemos também que nada será como dantes, depois dessa viagem.
Por isso e porque hoje é o teu dia te desejo tudo de bom. Uma vida longa e saudável.
Parabéns minha querida.
E um abraço do tamanho do Mundo.

boinas, bonés, barretes e carapuças


Não resisti. A chuva pôe ao de cimo a minha veia gastadora.
Alcanena nada tem. Quase nada tem. Mas tem um Pára-Raios em frente de mim, que é só atravessar a rua, e vende de tudo um pouco do que é surpéfluo. Malas, carteiras, cachecóis, brincos, pulseiras, anéis. E chapéus. Boinas, bonés.
E recebeu a nova colecção. E eu precisava de comprar um mimo a uma menina e bati com os olhos nas boinas e bonés. Pûs-me a jeito, como sempre, de os apanhar, enfiar a carapuça ou apanhar barretes. Seria muito prevista se não o fizesse e o mundo não teria a menor graça.
Depois, tenho cabeça para o enfeite. Não sei, mas gosto de um barrete bem enfiado. Sem eles a minha vida não era a mesma coisa.
E de modos que hoje resolvi oferecer-me o primeiro presente do Outono. E já que está a chover, a fazer vento e frio que o alerta aí está a dizer-nos que isto não se pôe melhor e aqui de el rei que o fim de semana está estragado, ( está está, queriam! ), quase fiz como os putos e praticamente saí da loja com o dito enfiado orelhas abaixo. É para usar, é para usar.
E depois já sabemos que chapéus há muitos, mas antes que se fizesse tarde e o mau tempo passasse, sim porque podia dar-se o caso do sol se atrever a aparecer, estreei-o vaidosa.

Em grande

Time Out fica responsável pelo Mercado da Ribeira
Económico com Lusa 22/10/10 16:00

"Um bar/discoteca, uma pequena sala de espectáculos, um "food court" com esplanada e uma área para cursos e conferências são alguns dos espaços a nascer no Mercado da Ribeira.
O projecto de intervenção no primeiro piso e em parte do rés do chão da praça (a venda de frescos mantém-se na restante área) foi apresentado hoje pela câmara, que promoveu um concurso público para concessionar aquela área de 5500 metros quadrados, e pela revista Time Out, autora da proposta vencedora.
Na conferência de imprensa, o director da publicação de cultura e lazer, João Cepeda, sublinhou que esta será a primeira vez que um título editorial explora um espaço de grandes dimensões em Portugal e justificou a aposta com a necessidade de os órgãos de comunicação social terem capacidade de "inovar e dar experiências às pessoas".
Para isso, haverá também, por exemplo, um restaurante, uma loja, uma área de informação e turismo e um quiosque."Pedia-se gastronomia, cultura, cinema, e respondemos com um projecto que pode ser a versão real daquilo que a revista fala", afirmou o responsável, certo de que a crise não impedirá o "público esclarecido" da capital de conhecer o espaço. A concessão, adjudicada já na próxima quinta-feira, implica a realização de obras de mais de quatro milhões de euros e uma mensalidade de cerca de 12 mil euros, durante 20 anos.
João Cepeda sublinhou que cada espaço mudará "tanto quanto necessário" ao longo do tempo, de forma a fazer da Ribeira "uma montra do melhor que há na cidade", e adiantou que a revista não irá explorar directamente todas as áreas.
O projecto, já divulgado aos comerciantes, foi concebido com a Arquitectos Aires Mateus e baseia-se num cruzamento entre a tradição e a história e a vertente das tendências actuais.O presidente da autarquia, António Costa, sublinhou que o mercado não vai deixar de o ser, mas sofrerá antes uma renovação que o tornará uma referência internacional.
"Ou os mercados se modernizam e têm movimento, ou entrarão em declínio. Temos de investir na revitalização destes espaços", disse aos jornalistas, acrescentando que a era dos centros comerciais está ultrapassada.
"Talvez no subúrbio tenha algum futuro, mas hoje o que está a dar são os verdadeiros mercados, o comércio de rua, a redescoberta do espaço urbano", defendeu. "

Imaginam como na minha casa estamos contentes? Pois, estamos sim. E orgulhosos.

liberdade

São 17,22. Neste momento acabei de entrar de fim de semana prolongado.
Apesar da chuva, prevejo boas abertas ali para os lados da Amizade, do reencontro, da degustação e da gargalhada e estórias.
Como sempre, muitas estórias verdadeiras que parecem da carochinha, mas que são da nguimbi e do povo. E nossas histórias. Coisas nossas.
De novo, outro fim de semana daqueles. Como eu gosto.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Comemoração do 11 de Novembro


"25-10-2010 / 22:25 / TPA
Palancas Negras e Benfica de Lisboa, no Estádio 11 de Novembro
O Clube encarnado luso vem a Angola, para disputar a Taça de Independência de Angola, às 18 Horas de Quarta – feira, 10/11, no Estádio Internacional 11 de Novembro, num confronto contra a Selecção angolana de futebol, no quadro dos festejos dos 35 anos da histórica proclamação nacional.
A competição é organizada pela Arena Angola em parceria com a Federação Angolana de Futebol, FAF, e insere-se igualmente na projecção para os Palancas Negras, da Taça CHAN do Sudão, em Janeiro de 2011.
Esta é a segunda vez que os Palancas Negras, e os benfiquistas defrontam-se na sua história.
De notar que, em Angola, existem cerca de 3 milhões de benfiquistas associados. "

Ah pois é! Nem podia ser de outra maneira.
O Benfica do meu coração jogando com a selecção do meu coração.
E prognósticos, só no fim do jogo.
Viva Angola! Viva o Benfica!

tu sabes

Dois bancos de pedra...porque sim.
Há sonhos difíceis. Alguns inatingíveis, digo eu.
Bancos de pedra num país sem mar. Este, da imagem de luz. Numa terra de neve e montanhas. O frio e os caminhos tortuosos nada ajudam. Sem mar é difícil encontrar a estrada do sonho.
Mas hoje, cheia de intenções, apeteceu-me chamar os bancos que guardei. Bem guardados. Caminhar na paixão que alimento pelas imagens, e eu que não gosto de segredos e nunca gostarei, não me querendo cativa a coisas pouco claras, paro, prendendo-me nos meus sonhos. E permaneço. A pedra e cal. Ilusão... de óptica.
Vejo o que quero ver, sinto o que quero sentir. Sonho o que quero sonhar.
Chamei os sonhos de novo, porque sim.
Tu sabes. Tu sabes porque hoje estou aqui a sonhar, mesmo sem avistar o mar. Fazendo as pazes com o meu banco de pedra onde gosto tanto de sonhar.

nascimento

Nasce o dia neste lugar.
É vida chegando. É Luz. É Sol.
Sou eu celebrando...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

hoje não!

Hoje o banco falou áspero comigo. Eu não queria conversas mas ele insistiu.
- Senta-te, ordenou.
Não me dou bem com ordens que parecem reprimendas. Gosto da maciez da voz, mesmo a da consciência. Um doutor diplomado, um dia disse-me que era coisa de infância. Chorar se me ralham, falam alto ou me abrem os olhos. Mudar agora para quê? Exigia psicólogo. Há por aí uns que são família, mas esses não valem. Não me sento no sofá para aprender a secar ou reter as lágrimas. Burro velho não toma ensino.
Nem me sento no banco, não sei, não me apetece. Mas o dito está numa de mais velho e mais poderoso.
- Senta aí! Diz ele.
E eu não sentei, nem sento. Hoje não.
- Dá-me uma folga, disse entredentes, quase de mim para mim.
- Senta, que é para não te desacostumares.
- Hoje não. Não vejo o mar daqui. E estou de pé, com os pés bem assentes no chão.
- Inventa-o. Tu tens imaginação. Não te custa nada.
- É preciso que ele queira que eu o invente. Só lhe vejo a crista. Da onda.
- Se há onda, há mar. Mais crista menos crista...
- Aí é que tu te enganas, isto não é nada como a sabedoria popular a dizer que onde há fumo, há fogo. Esta onda, decerto não pertence ao meu mar.
- Como é que sabes que não é o teu mar? Mares são mares. Água salgada aos potes.
- Aí é que te enganas. Ainda não aprendeste que quando eu me sento para sonhar vejo o meu mar mal abro os olhos para o sonho. E sou informada das calemas, das marés, das ondas enrolando na areia. O meu mar sussurra-me sonhos e me oferece beijos. O meu mar não me abandona.
- Então porque não o vês, hoje?
- Porque não quero sentar e sonhar. Basta-me saber que está lá.
- Então quer dizer que me vais deixar aqui sozinho. Quero saltar da máquina para aqui e te pertencer com letras que me colocas a verde esperança.
- Podes dizer tudo o que quiseres mas hoje eu não tomo assento.

confissão

Mea culpa, mea culpa...Meo, desculpa!
A treta que as desculpas não se pedem, mas evitam-se, é mesmo uma treta grande de gente que gosta de usar chavões e julga que fala bonito só porque repete que nem papagaio, o que ouviu num algures distante ou passado à pouco.
Sim, sim, sei que estou a encanar a perna à rã. A vocês não vos peço desculpas, mas lá chegarei provavelmente, porque não sou de achar que desta água não beberei. Ai bebo, bebo, como qualquer mortal e engano-me e acuso e xingo e peco como toda a gente.
Calma, não vos estou a querer dar música. Até porque ultimamente ando com voz de cana rachada e até vou recorrer a uma kamba doutora para me queixar no fim de semana. Dá mais segurança, parece que amiga médica não nos pode dizer que o que temos é grave. Percebem né? Ando cheia de cagunfa.
Lá estou eu a escapar por entre os pingos da chuva, mas pronto, não dá mais e o que tem de ser tem muita força. Até porque ontem tentei aqui deixar uma confissão e se tivesse conseguido já hoje estava perdoada porque teria rezado o meu acto de contrição, e tudo o que fosse preciso para ficar livre de pecado, mas, tinha tanto sono, mas tanto sono, como quando estava para parir a minha filha, eu uma miúda de 27 anos, apavorada com a idéia de parir, que já no hospital prontinha para o efeito e só queria era dormir. Não! Que eu desconfiava que não eram peras doces...mas voltando à noite de ontem, eu escrevi tudo direitinho, aliviei a vergonha que sentia, o peso da culpa etc, etc, e quando ia para guardar não sei que voltas dei, que perdi o texto. Até me apeteceu chorar, mas como me apetecia mais dormir, foi o que fiz. Quando estava prontinha para cair nos braços de Morfeu, pensavam que era que braços? Morfeu mesmo e só, eis senão quando, dei comigo aliviada de ter perdido a conversa escrita que tinha estado a ter convosco, porque era um texto tão pesado, tão cheio de culpa que parecia um cão carregada de pancada e eu não gosto nem de pancada nem de parecer cão. E como há males que vêm por bem, estou para este texto como os meus kanukos estavam para mim quando eram candengues e faziam asneira. Telefonavam logo. Quando eu chegasse a casa já estava digerida a asneira e era só ganho, para eles. Assim estava eu.
Pronto, agora é que não dá mais para escapar e vou dizer aqui e agora que eu pecadora me confesso que O Meo não foi culpado da semana sem televisão. Pois...é isso mesmo. Lamento não ser perfeita. Nem calma. Nem esperta.
Agora vou fazer o que toda a gente faz. Até porque não sou especial. Faço parte da estatística.
Vou desculpar a minha atitude agressiva, precipitada e um tanto malcriada com a PT, na pessoa de alguns dos seus administrativos e técnicos.
Sou vaidosa. Gosto de olhar o espelho. Olhar-me. Nos meus olhos. Mas gosto bem mais de olhar olhos nos olhos de qualquer pessoa e não pestanejar sequer. Não baixar os olhos nunca. E se acaso o fizer será por vergonha que ainda vou tendo.
Vou desculpar-me dizendo que vivo sozinha com a D. Pitanga. E não percebo nada de electricidade. E de outras coisas, muitas, também. Demais. E que se a caçula estivesse cá em casa estava garantida e isto não teria acontecido. Que não sei do que é que ela não percebe. Não sei porque não chamei um homem cá a casa. Bem entendido que homem homem teria que perceber de electricidade, assim como o mano Zé ou o amigo Zé Manel. Não tive os deuses a meu favor verdade seja dita. Estiquei o dedo acusador e precipitado e desanquei na incompetência das criaturas da PT e Meo, incompetência essa que apregooei aos quatro ventos. Pûs em causa o trabalho do Bruno, rapazinho bonito e afável que a minha Pitanga quis seduzir assim que entrou em casa e que simpaticamente me transportou na carrinha da PT para Alcanena para o meu emprego. Não se faz, o que eu fiz. Tinha que ir ver ao quadro, mas qual quadro???, e eu sei lá ver isso com as cinco oitavas no lugar?! E saber que há fases diferentes e que posso ter luz na sala e não ter nos quartos e por aí adiante. Eu ainda hoje troco os nomes às tomadas e chamo-as de fichas e vice-versa!...
Sabem o que é que eu acho? Quando a gente vive com um homem anos a fio, devia ser proibido ele sair sem antes dar um curso de canalizador, electricista, pintor, pedreiro. Enquando estão, a gente pergunta o que é, como se faz e a resposta invariavelmente, é: Eu faço. E parece que são as melhores pessoas do mundo. Fazem tudo, pois claro. Mas não ensinam nada.
mas não me quero limpar com desculpas esfarrapadas.
Eu errei. A PT portou-se muito mal comigo. A Meo falhou durante mais de dois meses. Acusei e tinha razão. Nesta última semana com a televisão, que não vi, eles não foram os culpados.
O que aconteceu foi que durante o fim de semana, terá disparado o quadro. Aquela fase não funcionava e deixei de ter televisão no quarto. E na sala. A box do quarto tem um cartão. E por isso a mensagem na da sala. Desconfiei da minha falta de inteligência, e resolvi comprar uma ficha tripla ( só há pouco tempo sei o que isso é ), porque podia ser disso, achei eu. Uma colega sugeriu que visse o quadro. E fez-se luz. E televisão. Quando o Bruno me tocou à campainha se tivesse um buraco enfiava-me nele. Em vez disso encarei-o, pedi-lhe muitas desculpas e ficamos assim a a apertar as mãos numa na paz do senhor. E ainda me disse que quando tivesse algum problema lhe ligasse que ele viria.
Ufa! Já estou mais aliviadinha.
Não podia ficar bem com a minha consciência se não viesse aqui dar-vos conta do que aconteceu.
Preciso dela leve para levar por diante a minha vidinha sem grandes pesos, até porque tenho duas hérnias discais e tenho um medo que me pélo de ser operada...

Angola: Paulo Flores " Maria Diapambala"

momentos


O concerto de Paulo Flores

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A vida é uma festa


Depois de algum tempo de ausência, kamba voltou ao meu cubico, para comentar e que comentário, aiuê... Leiam então.

kamba disse...
xéeeeee kem te falou ki nos mandavam lavar as cuesas dos cavalos pruke nos apanharam na bicha do pitéu?????????se enganaste então....nos carregavam na sétima pruke nos davam encontro na rua, na hora do récolher ki era das zero hora caté nas 5 hora da manhã, quando estavamo a vortar das festas....tax intender??? era anssim....se o ambiente tava memo fixe fixérrimo nós amanheciamos na festa e esperavamos as 5 hora sem borbulha( ker dizer, sem maka, sem problema)sempre a dançar e a se divertirmos, mas se o ambiente num tava memo cuioso arriscavamo memo e bazavamos no kubico mas sempre vigilante pra não se darmos encontro com a policia...aí se se davamo encontro cum els, uaué tavamo memo lixado, ou conseguiamos lhes driblar e dar gasosa pra escapar ou entõ se o azar era memo teu, nada, nem adiantava reclamar se o cainga era armado em mau, era meo ir só lavar o cú dos cavalo ou varrer a esquadra....Mas num ficavamo com 'trauma', quando amanhecia e nos xotavam iamos no kubico dormir e pronto, dia seguinte contavamo o mabo nos avilo e familha e se riamos...xéee só a consumição ki aplicavamo nos boelos ki caíam na patrulha!!!!! era rir ou kié.......gozar é gozar, até comaçavamos a lhes estigar pruke num tem jeito di lavar as mutukurias dos cavalos, ki a esquadra num ficou bem limpa, ah pruke na semana passada quando o fulano foi apanhado os cavalo dele ficaram mais bonito, ah pruki quando nós varremo a esquadra ficou bem limpimha....era os gozados eram os ótro era rir, rir....A VIDA SÃO 2 DIA SÓ....NUM ADIANTA SE TRAUMATIZAR, A VIDA É UMA FESTA....

narrativa

Então como o prometido é devido, vou contar.
Eu e os meus kambas chegámos ao CCB. A primeira pessoa que vimos foi uma baixinha com tantos anos que já lhe perdemos a conta. Sabiamos que conheciamos a figura, mas ninguém se lembrou do nome. Depois chegou, pela boca de Paulo Flores. Ana Maria de Mascarenhas.
Ah, pois é. É ela. Foi ela, foi ela, foi...cantou o artista principal com a sua voz bonita e postura humilde, homenageando a diva angolana, sentada ali na plateia. Maria Provocação. Os kanukos só conhecem se ouviram as mães, as avós ou bisas cantarem, mas que toda a cidade desde o asfalto até ao muceque cantava, cantava sim, que encantava.
Na emissora também passava.
A plateia encheu. Gente desconhecida, e conhecida também. De outros tempos e destes. De todas as idades. Angolanos. Muitos, quase todos. Somos Grandes. Ouvindo Paulo Flores percebemos.
Angola é uma paixão ardente. As palavras, a musicalidade das palavras...a vibração. A magia da terra passando por todos nós. A saudade. A enorme saudade de algo que se perdeu, a vontade de recuperar...
A primeira música soou na sala. " Caboledo ". Linda. Um arrepio no corpo. A exaltação da alma. A lágrima teimosa que teimamos em deixar correr face abaixo, até parar nas palavras que cantamos num coro afinado pelas almas de todos nós.
Depois outras. Inteligentemente escolhidas para um público especial. Em Lisboa. De Lisboa. No CCB.
Na plateia à minha frente, algumas figuras angolanas que todos conhecem. Entre elas, Bonga. De óculos escuros. Mexendo-se nervoso na cadeira quando Paulo o mencionou. Também a caboverdiana Lura se encontrava mais lá à frente. Gente da televisão, Margarida Mercês de Mello, linda e elegante. E do cinema. Um cineasta da Vila Alice. Muita malta da Vila Alice. Gente que esteve na festa do liceu D.Guiomar de Lencastre e que vim encontrar ali. A dôtóra Necas, resplandescente.
A tia da kamba Susete que estivera connosco no dia anterior. Enfermeira das antigas, que ensina sobrinhas e sobrinhas-netas como se cuida de um bebé.
Tio Aires, poeta do meu amor da Rua Onze, foi evocado e também Milo Ouro Negro com o seu, Amanhã quero acender uma vela na Muxima...aiuê! Que todos mesmo os kanukos de agora cantaram.
Rui Mingas também não faltou naquela sala encantada. Nem Franjó. O coração parecia que não ia aguentar a emoção.
Momento alto foi de Nanutu. O grande saxofonista convidado que deu um show tão estiloso, na sua passada, como talentoso no instrumento. Um verdadeiro artista. Que dá gosto ouvir e ver dançar. Também Tito Paris encantou demais. Num duo perfeito com Paulo Flores, soou Clarisse. Um crioulo rouco e doce, onde não faltou a palavra crecheu.
Foi hora e meia tocando pequenos céus com as palmas das mãos. Foi muito bom.
Verdadeiro estado de graça.
Conforme começou, assim terminou. Emocionadamente. Com Makalakala, num recado directo e frontal para os pançudos da minha terra. Num lamento pelo povo que continua a passar mal. A meio, Paulo diz que a emoção não o deixa cantar mais e deixa de cantar. Acaba o espetáculo assim, na emoção. Na canção que sai depois da última canção ter sido cantada.
No átrio encontraram-se pessoas de novo. Que não se viam há muito tempo, algumas, desde o tempo colonial.
Meninas distribuiram t-shirts de Paulo Flores.
Tiraram-se fotografias em grupo. E nós, um grupo grande, fechamos a porta do CCB. E fomos acabar a noite noutro sítio.
Dormi três horas esta noite. Vim para o meu kimbo de manhã. O mano Zé ajudou nisso indo levar-me a Alcanena.
Lavei a alma e hoje sinto-me mais angolana de Angola, que nunca.

domingo, 24 de outubro de 2010

coração descansado

Estava eu a contar qualquer coisa que não recordo, quando, de repente a minha amiga muito amiga, como irmã, diz:
...por isso mais um ano e venho viver para cá, reformo-me.
E eu que estava a falar, senti que parei o raciocínio. As palavras ficaram presas na minha boca. Provavelmente até mudei de côr. Para o pálido.
Ela sorriu e disse-me:
- Não, eu não venho de vez. Não sou capaz de deixar a nossa terra. Umas temporadas cá, outras lá. Podes sempre ir. Ontem a falar com a kanuka, falámos de ti por causa disso e ela até disse que quer ir trabalhar para lá, por isso " a Clara está sempre garantida ", " pode vir sempre ".
E eu sei que lhe disse uma coisa do tipo " que susto que me pregaste, viste que até me calei de repente? fiquei fraca..."
Hoje, calmamente sentada no sofá, com o computador no colo, pernas esticadas e assentes no descansa-pés, olhando a televisão de vez em quando, falando com a cria também, quando aparece na sala ( está a trabalhar ), ouvindo o som do jogo dos miúdos no rinque aqui em frente, e esperando que esta kamba, o maridão, outro kamba também, e a kanuka me venham buscar aqui no Olival Basto para irmos ver o Paulo Flores nos maravilhar com as suas cantigas de saudade e amor, eu sinto o meu coração batendo em passo certo de coração descansado e cheio de amizade.
É mesmo bom termos gente que nos acautela a felicidade que vamos viver quando fazemos a viagem de reencontro connosco.
Eu sei que sou uma privilegiada. Eu sei que não sei se mereço. Mas eu também sei que os amigos são o melhor que a gente tem.
Amo-vos muito kambas!

surpreendente

Contavam-me que uma criança na Vila Alice, bairro de Luanda, muito meu conhecido de ali ter crescido, um dia, após a Independência, habituada que estava a transportar a água em bidões, ao ver finalmente a água sair de uma torneira se assustara, dera pulos de alegria e incredulidade.
Uma história a que não dei grande importância, porque me pareceu um pouco fantasiada e exagerada. Soube que de facto a água chegava à Vila Alice com alguma dificuldade há uns anos atrás, por isso o benefício da dúvida.
Também me contavam que o mesmo se passara com a luz. A criança desta história pulara alegre e surpreendemente ao ver a casa iluminada de luz eléctrica, gritara: Luji,luji!
Contaram à minha frente, ontem, que uma familiar da narradora viera a Portugal, naquele período mau que os angolanos passaram após a independência, com todas as faltas e dificuldades que o país vivia, olhara pela primeira vez para grão de bico, cozinhado num prato e surpreendidíssima dissera:
Mamã, olha que batatinhas tão pequenininhas...
( Durante um período longo, em Luanda não havia grão de bico, quem nascera depois de 75 não lhe conhecia a existência, a menos que viajasse para o exterior )

Concerto de Paulo Flores no CCB

Paulo Flores
Nanutu

Hoje, no CCB, Paulo Flores. Convidados, Tito Paris e Nanutu.
Depois conto-vos como foi.

TITO PARIS e MARIZA - Beijo de saudade

Hoje, no CCB, Tito Paris será um dos artistas convidados de Paulo Flores, juntamento com Nanutu.

lugar de oração

Igreja da Ilha do Cabo ( Luanda ) Porque hoje é domingo...
Interior da Igreja da Ilha do Cabo ( 2008 )

( re )encontro

Como já disse aqui, não conheço quem se despeça tanto quanto eu. Não conheço porém quem reencontre tanto quanto eu.
Isto significa, abraçar. Sempre. Chorar e sorrir. Estar...
O meu sábado começou com dois abraços grandes. A gente muito minha. Uma desde Agosto, outra desde Setembro. Da nguimbi.
E continuou. Num abraço grande numa kamba que não via há dez meses. Que me " trouxe " na viagem sofrida de Luanda para Lisboa. Que me desejou boa aterragem, ela que ganha a vida a " levantar " e a " aterrar " nos aeroportos do mundo.
E beijos e abraços nas pessoas que lhe são chegadas e que também não via há algum tempo.
As minhas kambas e eu...aqui em Lisboa. Não, ora uma, ora outra. Agora, juntas. As três da vidairada, como nos velhos tempos do liceu. Como se fôssemos os três mosqueteiros.
E na mesa, enquanto se come cachupa, funje de carne, cabidela, ou um assado no forno, relembram-se acontecimentos de uma terra e suas gentes, depois da independência. Histórias que só sei de ouvir dizer e que são contadas ali na primeira pessoa, vividas num tempo que dizem sempre, muito mau, com uma frase que conheço bem, de ouvir a todos os que ficaram em Luanda. " Que tempos aqueles. Foram tempos muito maus. Nós passamos...! " ontem narrados com um distanciamento que o passado impôe e com um humor que é apanágio dos angolanos, rindo da desgraça passada, e ridicularizando-a, sendo que hoje nos parece mesmo ridícula, porque foi superada. Mais uma prova superada e narrada sem mágoas. Uma característca deste povo.
E perante uma mesa farta na cidade de Lisboa, recordaram Luanda na época do peixe espada sem pele, a que chamavam cinturão das FAPLA. Do carapau sem cabeça, a que chamavam cubano sem cabeça. Dos ovos em pó. Do peixe frito que tinham que comer, assim em doses industriais para beberem um fino, nos bares que vendiam finos. Das filas. As filas intermináveis para se comprar fosse o que fosse. Onde cada pessoa parava e entrava,e perguntava depois, o que é que estava a " sair ". Recordaram as " bichas " da carne. Muitas vezes apenas para receberem aparas. Das filas para os sapatos, sempre sapatos de homem. Em que davam o número a que correpondia o pé e chegada a hora, depois de desesperarem na fila, os sapatos que eram entregues nada tinham a ver com o número. Para um 38 podia ser entregue um 42. De qualquer forma servia a alguém, porque todos precisavam.
Falaram ainda do recolher obrigatório que durou décadas. E das consequências da desobediência a essa medida. E ali na sala soube de pessoas que conheço que foram lavar cavalos e varrer o quintal da 7ª esquadra, porque foram apanhados nas filas de géneros alimentícios, tardiamente.
E porque as minhas kambas são como os saltimbancos, de todas faltas que havia em Luanda e que elas a cada viagem tentavam suprir comprando no vôo do Rio de Janeiro, pão, carne, fruta e outros para levarem para Luanda, para elas e seus familiares e amigos.
Ouvi ali histórias na primeira pessoa de gente que sempre ajudou à vida de várias pessoas mais desfavorecidas. Do abrir de portas a essas pessoas, para as alimentarem, pagarem a escola, criarem-nas como filhos. As madrinhas. As madrinhas verdadeiras, aquelas que sabem exactamente o que essa função quer dizer. Na falta da mãe. É em Angola que se pratica o ser madrinha. Desde sempre. E não foi a guerra nem a Independência, nem as provações que mataram esse dever que é conferido desde que se assume o papel de padrinhos.
Estar numa roda de angolanos de todas as idades, desde a matriarca da minha kamba até ao neto desta é tão prazeiroso que dá vontade de ficar eternamente. É como estarmos numa faculdade. Da vida. A aprendizagem que se faz, o que se retira dali enriquece tanto que surge a pergunta de sempre.
-O que é que eu estou a fazer aqui?
Sempre que estou assim, num encontro de afectos com as minhas pessoas de Angola percebo que
nos intervalos não vivo, como me faz falta viver.
Como não posso dramatizar, termino com uma frase que está na boca do povo constantemente.
Fazer o quê? É um problema que estamos com ele mesmo.
Mas que custa depedir-me do que é Viver, custa...

sábado, 23 de outubro de 2010

atitude racista (?) !!!!

Mais uma viagem. Para um fim de semana que pretende ser de trás de orelha.
Ver crias, mas pouco. Almoço de amigos, assim daqueles que são do peito, muito. Tanto que o mundo pára e só existe o espaço onde estamos e nós. E depois porque duas destas pessoas são o que há de mais rico e belo no plano da amizade. E são muito responsáveis pelos momentos mais altos da minha felicidade. Ainda vai haver tempo para uma palestra Herbalife, com médicos da empresa. Um domingo muito saudável, portanto. E a completar o domingo, Paulo Flores, num concerto no CCB.
O fim de semana pode estar a preparar-se para ser espetacular. Até temos o Sol a fazer-nos cócegas e a comprovar que o verão do S. martinho não é treta, porque o dito s. martinho, quando a cria fizer anos estará aí todo elitista e snob troteando na elegância dos cavalos que se irão pavonear na vila da Golegã, aqui ao dobrar da esquina, como dizia, o fim de semana pode ser cinco estrelas, mas há mau tempo no canal, no autocarro que me transporta mais a umas dezenas, para Lisboa. Porque eu posso até estar à beirinha do egoísmo e pensar que este sol é só para mim, que mereço muito e tal e coiso, patati, patatá, mas...injustiças e racismo refervem-me as entranhas.E vou aqui que nem cão a roer ferro e não saio deste autocarro sem que antes o senhor motorista oiça poucas e boas. Agora não que não o quero enervar e o homem tem de conduzir direitinho, perfeitinho, na paz do Senhor, mas mal pare vai comê-las todas.
Então o que é que aconteceu?
Autocarro com lotação pela metade. Conheço já algumas pessoas que ao sábado viajam para Lisboa, vindas de Castelo Branco. Velhos de boné. Mulheres de meia idade ( como eu, que raiva )cheirando a nafetalina e de cesta com víveres para a filha que estuda na capital. Os que vão para o aeroporto. E um rapaz negro com menos de vinte anos. Brinco na orelha e boné tapando parte do rosto.
Dez e trinta. O motorista que estivera a fumar um cigarro entra e pôe o veículo a trabalhar. O rapaz negro levanta-se.
-Senhor motorista, só um minuto. O meu colega está a chegar, com os sacos, vai só comprar o bilhete.
Eu olho para fora. Vejo o colega. Negro. De mochila e vários sacos. Pede que espere. O motorista responde ao rapaz que já está dentro do autocarro.
- Não posso esperar. Viesse mais cedo. Tem outro às 10,45 horas.
Não houve protestos. Nem do meu companheiro de viagem, nem dos outros. Nem do que esperava apanhar este autocarro. Nem meus.
Não sei o que foi na alma destas pessoas. Não sei sequer se o motorista tem alma. Se tiver é bem negra. Nada que se pareça com a cor da pele destas duas criaturas, protagonistas deste ignorância medrosa e cobarde que se chama racismo.
Poderão dizer-me que esta conduta nada tem a ver com racismo. Que podia ter acontecido com um branco. Podia. Claro que podia. Então chamar-lhe ia outra coisa. Mas eu nem sempre chego a horas aos autocarros. Com motoristas que conheço e desconheço. Nunca fiquei em terra. Porque será?
Bem sei que não tenho escrito na testa a palavra fatídica - R-E-T-O-R-N-A-D-A. Nem escreveram que tenho dois tios mestiços. Um cunhado que tem avó mestiça. Amigos negros e mestiços. Se não, provavelmente outro galo cantaria e ficaria muitas vezes a cacarejar nesta capoeira impropérios por ver o autocarro bazar sem mim.
Só um pequeno à parte. O rapaz que vai comigo para Lisboa, atendeu o telemóvel e falou num crioulo perfeitamente perceptivel para mim que tive professoras como a querida Arminda e tantos outros amigos guineenses e catanhós.
-O motorista não podia esperar. Tens outro autocarro às 11.45. Espero por ti na garagem. Em Lisboa.

Assim. Naturalmente. Sem reservas. Reservas tenho eu. E nem que seja só para que fique nervoso, vou fazer das minhas.
Então como é que é? São de segunda? Este senhor não sabe que o seu ordenado só existe porque há utentes? Brancos e negros, amarelos e outros.
A minha vesícula está aos saltinhos e eu tenho um almoço que prevejo fabuloso para viver. Não posso ficar com este fel nas minhas entranhas.
A sério, não acredito como neste país colonizador e que pretende ser exemplo, chegando-se à frente quanto às relações fraternas com os PALOP, ainda existam criaturas que com um poderzinho conferido pelo emprego desinteressante que têm, o exerçam desta forma racista.

verdadeira filha de Deus

Na foz do rio Dande tudo parece estar nos seus lugares.
O sol brilha, o céu é azul e as águas temperadas do sal do mar se aquietam. Porque é domingo aqui. O dia do descanso. Dos justos. Dos pescadores de águas paradas e revoltas. Como Deus manda.
É Setembro. E eu estou aqui olhando este manto imenso e morno de cinzento azulado que se prepara para beijar o mar num leve e sentido beijo ansiado de longe.
Eu sei que estou aqui. Vejo-me e sinto-me. E sinto o que vejo. Como nunca sei que existo.
Mais que nunca, sei que este é o meu chão. O meu rio, o meu mar. O meu céu.
O meu lugar de felicidade.
Verdadeira filha de Deus.
Numa religião de muitas promessas e pagamentos, muitas missas e descargas de consciência, receios de justiça injusta, medos, castrações, eu passeio-me desde sempre por igrejas e capelas, basílias e mosteiros, confissões, e actos de contrição, baptizados e casamentos, funerais e desfiles de vaidades em dias de festa. Alegrias. Frustrações. Resignações. Sofrimentos. Pedidos. De mãos postas e joelhos no chão.
Desta vez, aqui neste lugar de Deus, tudo foi diferente. E único. Um momento que aconteceu e não se repete. Assim.
Não implorei. Não entrei no lugar de culto, nem acendi velas. Não desfiei rosários de contas de avé-marias e pais-nossos. Não ralhei com os santos que não me atendem lamúrias, escolhas, futuros. Não fiz o número da coitadinha.
Não cobrei.
Aqui, neste pedaço de mundo, neste dia, especialmente neste momento, agradeci.
Deus existe. É angolano e trouxe-me de volta ao meu lugar de felicidade.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Mercado Negro - Daquela Montanha

amanhecendo

O Sol amanheceu na cidade, espreguiçando-se por entre o nevoeiro denso e imaculado. Acordando-a. Num despertar cuidadoso. Delicado e firme.
Com elegância e encanto.
Um verdadeiro Astro. Rei.
Eu, esfregando a preguiça que me cerrava os olhos cansados e pesados, acreditei que hoje o sol podia ser mais meu amigo e esquecer-se de mim e do meu dever.
Sem que me perdesse de vista.
Louco engano. Fraco desejo este...
Mas também está bem. Ele não tem culpa que nem sempre o dia nasça olhando-me o sono.
O sol todas as manhãs desperta para a vida e envolve-me no seu brilho.
E dê lá por onde der não há Outono nem nevoeiro, que me faça desistir de viver num convívio tu cá tu lá com este sol que me aquece a alma e me desperta os sentidos.

podre de sono

Há telefonemas que recebemos que demoram o tempo de ficarmos com as mãos dormentes, e as orelhas a ferver e não é do corte e costura, mas do tempo, horas que estamos para ali, esquecidos de que é noite, madrugada, quase manhã. Ontem/hoje, tive um telefonema desses. Percebem que estou a bater com a cabeça nas paredes e só me apetece comer ameixas verdes?! Foram três horinhas e tal que dormi, mais os tempos não mortos, mas muito vivos da D. Pitanga que morre de ciúmes dos meus telefonemas, e que fez questão de se manter desperta enquanto eu falava, ria, ouvia, quase chorava, e achou que já não valia a pena ir à cama.
Não posso ter muitas noites destas que já não vou para nova.
Eu estou sempre pronta para uma boa conversa, para qualquer coisinha que precisarem, mas quatro horas depois da meia noite, num monólogo, ou num diálogo, ou apenas escutando, é um exagero, não? Na manhã e tarde seguintes, é.
Há telefonemas que duram breves minutos e que começam com um " então amiga, estás boa? E já tens programa para amanhã? Queres vir almoçar comigo? ". E são breves, estes alôs que nos dão mas tão deliciosos que já rejubilamos de alegria de irmos abraçar quem nos chama amiga e não nos vê quase há um ano. Quem a gente conhece desde pequenina e é nossa amiga desde então.
Há telefonemas destes e daqueles. Gosto de uns e de outros.
Gosto de telefonar. Gosto de receber telefonemas. Gosto de falar e de ouvir.
Mas hoje, estou tão podre de sono que não sou capaz de receber mais nenhum telefonema que dure mais do que cinco minutos. Please! Não me liguem yá? Deixem-me recuperar.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Parabéns Bolinha

Um dia qualquer, numa fotografia qualquer, de um comentário também qualquer, comentaste.
Há algum tempo. Já anos. No Sanzalangola. E eu gostei do nome que ali deixaras. Bolinha.
Já lera alguns comentários teus a outros. Sempre simpática, educada e sensata. Nada que se parecesse comigo que provocava alguns ressabiamentos com as palavras que ali deixava.
E foi isso que me encantou. A nossa diferença que nos juntou.
Gosto do teu nome Constância.
Gosto que tenhas amor pela minha terra como se fosse também tua.
Que a olhes de igual tal como ao seu povo, que é meu. Que a recordes com amor e saudade.
Gosto de saber que tens abacates e goiabas no teu quintal, no Alentejo. E uma Pitangueira.
Gosto de te saber avó de gente pequenina, linda. Gosto de falar contigo e trocar mails e comentários. Gosto de te ler aqui no blog quando comentas.
Gosto da tua amizade. E paciência para as minhas coisas. E dos conselhos e opiniões.
Gosto da tua presença constante.
Em suma, gosto de ti.
Que contes muitos anos de vida, deste jeito. Que Deus te dê tudo o que te faça feliz.
Parabéns.
E obrigada por existires e seres minha amiga.
Kandandu maior do que o Universo.

esperando sentada

Como janela que vira para o mar, o espaço sóbrio, antigo, secular me cala o que o coração grita, mas se debruça sobre as águas da Baía, numa sedução e paciência de jó que só nesta terra tem. E canta na melodia dos pescadores da Ilha fumando cigarros negros como eles, no canto da boca, e panos garridos fazendo de saia. E turbante na carapinha. E reza à Sant'Ana ali do outro lado, onde a vista alcança Norte.
Na hora que o dia pára e os primeiros candeeiros espalham a luz, a minha sombra escondida no tempo e na alma, salta silenciosamente para a rua e se passeia por estes cantos e recantos de magestosa harmonia e beleza sem igual.
Luanda escurece lá fora e se ilumina dentro de mim.
Queria inventar um banco de jardim. Feito todo de pedra. Como estas paredes de uma fortaleza sem fim. Colocá-lo aqui onde o tempo não passou e a vida corre devagar. E inventar os meus sonhos por sonhar, olhando o mar. E o farol da Ilha. E a Samba...
E sonhar-te. Aqui, neste lugar. Ao meu lado, olhando a minha cidade, o nosso mar.
Um dia, eu sei, um dia isso vai ser um sonho verdadeiro e serei feliz.
Vou esperar sentada e enquanto espero, vou ter Luanda no olhar e no coração também.

o rio

O rio Almonda, muito perto da rua para onde fui viver quando cheguei a Torres Novas.

apontamento

Em t. novas existe um rio. O Almonda. Que passa dentro da cidade. Durante anos foi altamente poluído. Hoje existem carpas que parecem baleias de tão gordas, que a população infantil e reformada, netos e avós portanto, não se cansam de as empantorrar com miolo de pão. É vê-los por essas pontes fora dando pão às carpas, como quem dá milho aos pombos, todos regalados como se estivessem a fazer uma boa acção.
E também existem patos. Tão lindos e engraçadinhos, dando ao rabinho e nadando por esse rio abaixo. E tal a confiança que ganharam, que mais parecem a Pitanga cá em casa, que é dona do pedaço. Ali também é tudo deles. Vêm para as margens do rio e pé ante pé, quer dizer, patati patatá, é vê-los na calçada da avenida e até atravessando esta, quem sabe rumando a um destino melhor, ou pior, pois dizem que há para aí umas criaturas que não são torrejanas que lhes torcem o pescoço e os metem no tacho, e lhes chamam um figo, ou vodka...
No Nogueiral, que é uma parte da cidade muito antiga, junto à ponte construiram umas escadas para melhor acesso. Antigamente havia lavadeiras lavando a roupa ali ( ainda me lembro disso ), na água fria do rio.
Ontem, enquanto tirava umas fotografias, a minha amiga Manuela viu-se a braços com estes dois patos que a iam tirando do sério pois caminhavam lenta e despreocupadamente à frente do seu veículo. Businou, esbracejou e os benditos patinhos não se arredaram para a deixar passar.
E assim num de repente só a ouvi dizer: Maria Clara, enxote os patos.
Estão a ver-me né? Guardadora de patos em terras do Almonda e de Gil Paes...
Mas era só o que me faltava!
Fiz foi uma bela foto aos dois patos atrevidos que me fizeram rir a bom rir. E a amiga manuela passou quando eles decidiram curvar à esquerda, para a margem do rio que por acaso é empedrada com calçada portuguesa.

andavam a pedi-las

Já hoje fiz uma maldadezinha, que me deu tanto gozo!
Escrevi ao senhor provedor do cliente pt. Escarrapachei a minha vidinha toda de cliente Meo num e-mail profundamente acusador. E pedinchas, pois então. P'ra cá com uma indemnizaçãozita por perdas e danos. É só p'rós outros ou quê?
Então e os chás, xanax, compensans e outros mais que não bebi mas que podia ter bebido à conta dos nervos que tenho apanhado que só não me arrepelo toda porque não sou masoquista e ficava sem cabelo?!
Agora quero ver se o senhor em causa está de boa saúde e tem uma coluna vertebral sem mazelas da idade, como hérnias, etc, etc...
Também vos digo, estou por tudo. Se não me responder, tiro-me de cuidados e vou pessoalmente à loja da PT, declarar que quero o material todo que ali foi colocado, da minha casa para fora, que não estou para sustentar pançudos. Acabam-se os serviços da PT cá em casa.
P'ra quem está há uma semana sem televisão, isso é canja. Depois, não me posso esquecer que vivi vinte anos numa terra que não tinha televisão e fui bem mais feliz lá que com todas estas mordomias da modernidade, aqui.
Querem guerra? Vão ter guerra.
E posto isto, estou muito mais relaxada, que é como quem diz, estou-me burricando para o que pode acontecer.
Até que é porreiro não ouvir notícias, não ver telenovelas, não assistir ao reality show da TVI.
O que for soará e eu aqui venho a correr desabafar. Tipo, maria queixinhas...
Eles andavam a pedi-las!

para ontem

Todas as pessoas deviam ter um senhor víctor como eu, às quartas-feiras.
A gente entra e ele vem ao nosso encontro solícito e sorridente. Leva-nos a uma mesa e serve-nos as entradas. Pergunta pelo marido da caçula e pelos meus meninos.
Só volta a falar connosco à saída. No acto do pagamento.
Hoje, disse-me, agarrando-me no braço: Então Angola está a aproximar-se não é? Já está aí a chegar...
Acenei afirmativamente com tanta veemência que ele voltou a sorrir cúmplice:
- Isso agrada-lhe!
-Já devia ter sido hoje, respondi-lhe. A ele, mas também a mim própria.

Sonho Impossível - Maria Bethania

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

hoje, mais que nunca

Pôe-se o Sol nesse sábado de cacimbo, em Luanda. Num Setembro do meu destino. Que estava escrito. Belo, vermelho, enorme. Intocável. No mar...
No mar dos meus encantos. Esse mar que não cheirava, não sentia e só via nos sonhos que ainda me esforçava por sonhar. O mar que me trazia e levava recados na onda que enrolava e desenrolava na areia. O mar, que me segredava, uns segredos, que esses, sim, eu gostava de ouvir e de saber. E de guardar, então?!
Sigo a luz e contemplo a cidade e a Ilha...
Do alto da Fortaleza.
Cheira a massaroca assada e a ginguba. Da Chicala, o vento transporta o perfume, música para os meus ouvidos, prazer para os meus sentidos.
A máquina dispara imagens de luz para hoje recordar. E eu não estou em mim. Depois de comer o pão que o diabo amassou, eu estou de novo, aqui. Com os pés assentes na terra e o coração levitando num ar puro, nunca tão oxigenado, purificando esses anos todos só para eu respirar nos poros todos da minha pele, na força toda do meu amor.
É o momento. Sou feliz!
Quisera hoje, neste instante, poder dizer que estou aqui de novo, no Momento.
Na falta de me encontrar, na falta de todas as faltas, o meu olhar procura a Luz. O Mar. O momento para te abraçar. Hoje, mais do que nunca...

Paulo Praça - "Um Amor Alheio"

terça-feira, 19 de outubro de 2010

p.q.p. isto


Começo este texto dizendo que eu sou muito boa pessoa.
Se parasse agora iria ser xingada, não é? Ah, porque é uma convencida e tal e tal. E que petulante que é ela. E não lhe cabe um feijão... E tão cheia dela. Ó p'ra ela, ainda tem muito que suar para lá chegar. E saberá o que é ser boa pessoa?
Claro que sei o que é ser boa pessoa. Estou rodeada de boas pessoas. Vocês por exemplo, que têm a paciência de aqui vir de quando em vez, assistir ao descalabro que é o meu dia a dia. Às tentativas de ser poetiza, frustradas claro, às tentativas de acabar com solidões, com ódios e raivas, enfim, às tentativas para uma vida melhor e mais feliz. E deixam mensagens. E me dizem pessoalmente que tal e coiso, porque sim e porque não...
Então veremos porque sou boa pessoa.
Estou sentada no sofá da sala em frente a uma televisão que diz: Cartão não inserido. O desenho do cartão e tudo, a cores bem vivas e modernas. Laranja e verde alface. Comme il faut. No canto inferior direito uma palavra que me leva às lágrimas.
meo
Já lá chegaram? Pois, é que o técnico ainda não chegou ao meu telemóvel, apesar de ter combinado comigo ligar a partir das 18,45 horas. São 20 horas, ou seja, depois de finalmente achar que tinha o problema resolvido e nunca mais teria que reclamar falta de televisão, eis senão quando no domingo à noite chegada ao kimbo me deparo com esta mensagem no ecran. Liguei para os senhores. Não resolveram. E como não constava do meu processo, a migração da televisão para satélite, sabe-se lá porquê, nem sequer me poderiam dizer que avaria tinha agora. Ficou registada e hoje finalmente telefonaram-me para a resolverem.
Tinha compromissos. Marcados. Desmarquei para esperar pacientemente pelo senhor da PT e nada. O que é que eu digo? Sou ou não sou boa pessoa?
Sozinha em casa com a Pitanga e um computador. E ainda não espumei de raiva nem insultei estes senhores que me hão-de mandar para a urgência um dia destes porque não há nervos que aguentem. E os meus andam à flor da pele.
Olha, eu!... Que podia estar noutor lugar, com pessoas, divertida, e estou aqui desejosa que não me telefonem mais hoje para ter motivo mais do que suficiente para amanhã expelir o fel todo que tem estado a fermentar dentro de mim, porque eu sou boa pessoa mas não sou nem frouxa nem santa e o senhor provedor vai saber disto e de tudo o que ficou para trás e que já vem de Agosto.
E vocês que são boas pessoas, obrigada por estarem aqui lendo o meu desabafo.
Que eu tenho a minha paciência no limite. P.q.p. isto, aka, xiça, penico, chapéu de côco...ou eu sou muito azarada ou isto é macumba bem feita. E eu que não conheço nenhum Kimbanda...

Expensive Soul - O Amor e Magico

cantadas há muitas

Calcei o sapatos pretos que fazem toc-toc, toc-toc, e que me valeram o nome de generala, na primavera passada, quando os comprei e desfilei na calçada. Avancei na calçada da cidade, que nem um tiro. Direita ao quartel, ah, perdão, ao emprego.
Das obras de Santa Engrácia, ao pé de casa, tudo continua devagar devagarinho, à minha passagem, até na inteligência, sensibilidade e educação.
Do alto de um andaime já não é a primeira vez que oiço crioulo com um sotaque carregado de quem é guineense e não caboverdiano. Com beijos repenicados, à mistura.
Alguma vez vos cantaram o hino nacional? Estranho não é?
Pois hoje, não ouvi crioulo nem beijos repenicados. Ouvi em coro o hino nacional, a portuguesa, sim senhora. Trolhas, num coro afinadíssimo.
E sabem que mais? Fiquei indecisa entre fazer-lhes continência ou pô-los em sentido.
Sensatamente marchei dali para fora antes que a caserna se animasse mais, que o mundo da construção civil não é a minha guerra.
Porém achei piada. Se havia de sair alguma obscenidade, saiu o hino. Se calhar foi quase a mesma coisa. Vai-se lá saber qual foi a intenção, e do jeito que o país está a pegar fogo...

tempo de mudança

Hoje senti frio, pela manhã.
Abrilhantaram-se-me umas idéias sobre o tempo que está a chegar, que me escureceram o coração.
Vêm aí dias terríveis.
A habilidade é escapar por entre os pingos da chuva.
Será que tenho destreza para isso?! Com a minha falta de jeito...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

beira-rio, beira-mar

Na Barra do Dande vejo o velho rio a dois passos do mar, que de longe se tornou perto.
Vejo o mar pacientemente aguardando pelo rio grande.
É a Natureza. Não dá p'ra fugir...

O susto cheio de medo

Ando assustada. Não há mealheiro lá em casa. Só uma lata do chinês, com uma ranhura para moedas de 50 cêntimos e 1 euro. Ainda não está cheia, nem lá perto. Todos os dias olho para a bendita lata e pergunto-me quando a abrirei. Será que chegarei a enchê-la? Não me parece.

O leite vai subir. Da vaca. E da soja, não? Não há calores, nem suores, nem afrontamentos que entrem comigo. Dizem que é da soja. Acho que vou ter de comprar um leque, ou dois ou três, para me abanicar porque vou ver os produtos naturais e a minha saúde por um canudo.

E os iogurtes? Já não tenho iogurteira. Mas acho que vou voltar à forma primitiva. Ainda sei fazer desses iogurtes, num aprendizado daqueles tempos que era preciso poupar muito.E diz-se que são mais saudáveis e tudo. Só benefícios, portanto. O meu estômago passará a latir a a vesícula a rosnar, mas isso é só um pormenorzito de somenos, no mundo animal.

As salsichas...ah, se não existissem não me faziam falta, mas para qualquer eventualidade... Sabiam que eu sou do tempo , e vou-me enterrar toda pois perceberão que sou muito, mas muito antiga, mas não consigo deixar de dizer que sou do tempo de me lembrar de aparecerem as salsichas em lata...jesus maria, não é?
Dizem para aí que parece que não vamos ter perna para o passo nem que nos estiquemos todos. Cachorros...acabaram.

Os leites de chocolate...meu rico batido! Espero que não se me acabem os meus batidos porque já não sei viver sem eles. E o chocolate dizem que se deve comer, pelo menos o prémio Nobel de medicina de 98, que por acaso é médico da Herbalife, come todas as noites um quadradinho de chocolate preto; que acalma dizem também. E estes senhores que gerem e mandam no nosso destino não nos querem muito, mas muito calmos mesmo? Assim para o anestesiados? Pois então? Não à subida dos leitinhos de chocolate que são tão bons, o da ucal então...

O pão...integral, de centeio, de sementes, ómega 3, para o coração, sem sal, farinha de trigo, de 3 farinhas...enfim, deram-me uma máquina de fazer pão, no Natal passado. Está lá fechadinha. É agora que vou mudar de ramo. E passar a padeira. Farei pão de forma e comerei uma fatiazinha por dia porque vai ter de dar para a semana e eu se quiser sou muito poupadinha.
Se quiserem, fazemos negócio. Eu vendo um pãozito a quem estiver muito necessitado.
Em tempos de crise quem tem olho é rei, em terra de cegos, claro.

O negócio pode ser uma saída. Poderei tornar-me a madame rissol. Eu e os rissois temos uma relação próxima, quase apaixonada. E posso alargar para croquetes, empadas, pastéis de massa tenra. Pastéis de bacalhau, não. Nem sempre calham bem, dizem que é da batata, e convenhamos que a batata pela lógica, não vai melhorar, e bacalhau, vai ser custoso encontrá-lo daqui para a frente.

Pois é. Surgiu-me uma ideia iluminada, daquelas que desenham muitos cifrões à frente dos nossos olhos. E uma máquina registadora. Só a facturar...
Parece que me estou a ver já. Mais ao reclame luminoso a catrapiscar: A tasca da Tia Clara...
Bonito o nome. A puxar ao pirosérrimo, como convêm.
Mas será que terei clientes?
Pode ser que os senhores governantes gostem de comidinha caseira. Também faço. Arroz de feijão com pastéis. Feijão com couve. Requentado. Petingas no forno. Açorda com pataniscas.
Uma boa açorda me estão a sair estas medidas.
Confesso que ando assustada. Já pensei que se passar um pouco de fome não se perde nada. Só quilos, o que era uma benção. Seria maravilhoso, não gastando e podendo usar as roupinhas que pûs de lado há uns tempos. Mas e se mesmo passando fome não chegar? Sempre posso comprar uma tenda e montar a barraca à porta do tribunal...e ainda assim se deprimir e não quiser viver...assim? Nem dinheiro terei para uma pistolita.
Confesso que ando assustada. Com medo de meter medo ao susto, que vou-vos contar, como certa gente feia que para aí anda...

...

O representante dos juízes disse que " quebram a espinha aos juízes ..." se lhes retirarem o subsídio de renda de casa ( cerca de 700 euros mensais ) .
Mas convenhamos que não é a todos. É só aos que residindo na localidade da comarca onde trabalham, usufruem do dito subsídio.
Dâaaaaaaah!

domingo, 17 de outubro de 2010

O`questrada-Se esta rua fosse minha

surpreendida

Estava longe de encontrar naquele local de encontro de antigos alunos do Liceu, uma jornalista. Ex- jornalista do Diário de Notícias. O encontro era para ex-estudantes. A colega de liceu
quis dar uma palavrinha a todos. Disse quem era e mostrou dois livros por si publicados. Sobre África.
Um amigo meu, há pouco tempo ( 2 anos ) dissera-me que uma jornalista do D.N. iria escrever a sua história por terras de Angola e da África do Sul, nos últimos anos de 70. E o nome dela. Falei cá em casa sobre isso. A cria sabia quem era a jornalista, claro. Apenas pelo primeiro nome. Não sabia que a F. N. era angolana e que estudara no Liceu Feminino, que tinha a minha idade e que fora minha colega de liceu. A cria era colega da jornalista no D.N.
Ontem abordei a F. Figueiredo, conhecida no D.N. por F. Naves. Se conhecia a minha cria, que deixara o D.N. há mais de 2 anos para outros vôos por si considerados maiores. E recebi um sorriso enorme de surpresa por ser mãe da Ângela Marques. Porque a conhece sim e bem.
És mãe da Ângela? Ah! A Ângela é muito boa profissional. Muito boa! Ela ainda está....?
Dá-lhe um beijinho meu.
E eu que fui ao encontro do meu passado deparei-me com alguém do meu passado que eu nem sonhava, que me conhece o futuro pelas melhores razões. E fiquei assim num orgulho que não cabia em mim de inchada que me senti. Meio apatetada de sorriso nos lábios e também no coração.

Amadou & Mariam - Sabali [OFFICIAL FULL VIDEO]

Este vídeo, fui buscá-lo a um blog que sigo religiosamente. Gosto muito desta música e fiz questão de a trazer para aqui. Foi sem autorização mas sei que não se importa.

sábado, 16 de outubro de 2010

o olhar mais longo

As palavras têm o poder do milagre. As imagens de luz também. E há pessoas que ajudam ao milagre. Hoje sinto que tenho o mar nas minhas mãos. Do Tejo para o Mar foi um olhar mais longo. De não solidão.

Desenhos de Luz,hoje

A mesa dos professores
A Zita e a professora de inglês Maria do Amparo
Professor do liceu do ano 73 a 75
Grupo de alunos do Liceu D.Guiomar de Lencastre no almoço 2010, no hotel Tivoli Oriente, em Lisboa, bem como os professores.

reencontros

Hoje foi um dia, de certa forma, ansiado e alegre. Um misto de emoções e sentimentos que teria de pensar para classificá-los. Não me apetece definir sentires, vivências...
Sei que pela primeira vez fui participar no almoço anual que há cinco anos se faz, de antigos alunos do liceu D.Guiomar de Lencastre. Fui porque sim. Quis. Fiquei curiosa. Expectante. Apesar de não conhecer ninguém ali. Impensável há uns tempos atrás, pôr-me ao caminho e enfrentar um grupo de mulheres desconhecidas, da minha idade, mais novas e mais velhas, em grupo. Mas já não tenho desses constrangimentos. Estou receptiva a tudo o que me pode dar alegria, prazer, emoção, bem estar. Por isso fui. Porque através do facebook cheguei a uma colega de um tempo bem longínquo, quando tinhamos 14, 15 anos. Depois foi fácil.
Uma das organizadoras, Zita Soares, simpatiquíssima e amiga do facebook ajudou-me, mostrando-me a Ury Borges, a minha colega de turma que tinha voz de cana rachada e parecia um louva deus, ou um gafanhoto saltitão, nas aulas de Canto Coral, com a professora Dilma.
Encontrei algumas colegas do mesmo ano. Caras muito conhecidas, aqui e ali. Encontrei alegria e muito boa disposição. Um ambiente conhecido para a maioria que já ali vai há 5 anos.
Tive algumas surpresas muito agradáveis e de certa forma emotivas.
Ver a Ury ao fim de tantos anos foi bom. Forte.
Ser abordada por uma antiga aluna do liceu que me perguntou se eu era a clara e de seguida me diz que me conhece do facebook, foi incrível. Não imaginava alguém dirigindo-se-me deste jeito, porque sim. Foi tão grato, tão grato que valeu logo o almoço e o tempo de que dispunha para ali estar. ( Obrigada Fernanda ).
Por fim, ver um friso de luxo que me fez voltar atrás no tempo, e voltar a sentar-me na secretária de uma qualquer sala de aula, depois de tocar para a entrada, esperando a professora, que fazia parte deste friso... foi assim, como que comer cerejas depois de um ano privada delas.
A stôra Darcília, a Stôra Maria do Amparo ( amparito como lhe chamávamos ), a stôra Fátima Manso, a stôra Lígia...como eu gostei de ver e falar com a professora Lígia, ganda stôra, de inglês, rígida e amiga, que todas gostávamos muito. A minha kamba Milú perdeu esta oportunidade de oiro. Mas aqui vai um beijo da stôra direitinho para ti, minha kamba...
A Zita no fim botou discurso, como organizadora do encontro e conseguiu arrancar-me umas quantas lágrimas, que eu também não me faço de rogada...
Falando das salas de canto coral ao fundo do edifício principal, do bar da D.São, contínua que tão bem conhecíamos, dos crocodilos dos tanques, da Cerca, enfim, da nossa vivência naquela que foi a nossa escola principal, a ver-nos crescer, a amparar-nos e a ensinar-nos a sermos gente.
Um dos momentos altos para além deste, do discurso da Zita, foi o da stôra Amparo dizendo poesia e o professor homem que eu não conheci, dizendo poesia de autores angolanos. E fazendo esta afirmação que me arrepiou e não fosse eu ter vengonha e ter-lhe-dado um abraço de apoio. A propósito do poema " Voltar " disse ele: Só estou à espera que a minha mulher se reforme, para voltar. Os meus filhos já lá estão a trabalhar..."
No fim, despedimo-nos com um até para o ano, que acredito que seja, para a maioria dos que ali estiveram. A Zita fez um pedido.Que cada um que ali esteve hoje, leve outro, para o ano.
Da minha parte vou fazer os possíveis para que as kambas vão comigo.
Quando for dormir, se tiver tempo para estar acordada e não apagar rapidamente, poderei organizar as imagens que retive, as conversas e palavras que se disseram, os beijos e abraços que se deram, o ambiente que se viveu e acho que hoje, repousarei leve e trasnquilamente, dormindo o sono dos justos.