terça-feira, 24 de novembro de 2009

Ser Grilo

Lá para o início do ano, serei um grilo.
Nunca me ocorreu desejar ser um animal.Gosto de bichos, mas ser como eles, isso não.
Gosto de ser gente, mesmo quando tenho que ser uma lesma, um camaleão ou um rato.
Isto de querer Ser, tem a ver com o Ter. E Ser outra que não eu, implica Ter do bom e do mau. Com o mau que a vida me presenteia, tenho que me aguentar à bronca, que remédio, com o mal dos outros, costuma dizer-se, que podemos nós bem. Mas neste particular, não é bem assim. Ser o Presidente da República por exemplo. Que luxo não é? Pois, mas ser homem, para mim já era mau; gosto de ser mulher, ser algarvio,com aquele sotaque estranho, pior ainda, e ser velho e à porta ( ? ) de ser gágá, nem quero pensar.Ser a Manuela Moura Guedes, muito bom, ganha bem, uma vida óptima, férias em grupo,para os destinos inacessíveis aos comuns mortais, coisa boa, mas...aquela bocarra, enorme e cheia de botox, aquelas maçãs do rosto parecendo rabinho de bébé, aquele tamanhinho reduzido, aquela pose ridícula e as tiradas de envergonhar um país inteiro, direi mais, de chamar os homens da camisa de forças...pois, também não.
Pronto, é por essas e por outras que me deixo ser quem sou e dentro do género, tenho dias.
Mas ser um animal, até que teria uma certa graça.
A graça das nervosas gazelas,a lembrar África, das alegres borboletas a lembrar flores, do porte e elegância dos cavalos a lembrar a festa, as caçadas, ou o Gerês , da graciosidade das girafas, a lembrar a savana, e aprendi há pouco, e gosto, da liberdade dos albatrozes, a lembrar...bem, o mar, será? Sei pouco de albatrozes, mas tenho especial simpatia por estes pássaros independentes, solitários e...um nada egoístas.
Hipoteticamente, responderia se me perguntassem, que poderia ser qualquer destes animais, porque gosto deles. Depois, há também as carochinhas, que me remetem para a história do João Ratão, muito pouco romântica, porque ela, uma interesseirona, que só com a moeda eles lá iam, apesar de se encantar com o João, e ele com muita sede ao pote, ou por outra, fome, e acabando no fundo do caldeirão da feijoada. Por essas e por outras é que serei um grilo.
Mas, continuando, também gosto das Joaninhas, às bolinhas, pequeninas, ternurentas, voando, voando que o pai foi para Lisboa e elas indo ao encontro dele...Lindo!
Há animais que eu admiro, invejo, respeito. Logo, poderia ser um deles. O Leão, o rei da Selva. Ah como é bom reinar, nem que seja na nossa casa, nem que seja quando estamos sozinhos, sem o risco duma Pitanga nos pôr em cheque...
Mas animal que eu admiro, é o hipopótamo. Não sei se é agora, que as crianças gostam tanto da " Popota ".Mas que gosto de hipopótamos, gosto. Só que não corro o risco de ambicionar para mim a sua vidinha.Ele é dentro de água, ele é fora dela. Ele é comer tudo o que é verde, ecológico, ele é uma vida regalada...faltava-me um pouco mais de adrenalina para me sentir uma verdadeira hipopótama,a Popota dos tempos de hoje.
Decidididamente, não quero ser um bicho. Não saberia sequer escolher.
Mas a partir de Janeiro, passando todas as festas a que tenho direito, não tenho escolha e serei um grilo.
Toda vestida de preto, para parecer mais magra. O preto fica-me bem, portanto, não é por aí...é mais porque se não quero ser um texugo, uma lontra ou uma baleia ( se não me acautelo e não fecho a boca )terei que ser um grilo.
E ver-me-ão comer apenas folhas de alface.

1 comentário:

Anónimo disse...

Explêndido.Parabéns