quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

domingo, 14 de dezembro de 2014

à sexta, não é sábado

O mundo lá fora existe. E mexe. Remexe e acena. 
Provoca...
Ou nos toca ou nos deixa indiferente.
É um processo. Uma escolha.
Amanhece. Depois, o dia cresce. E fecha-se no horizonte. 
Faz a ponte para a noite que nos escurece. Para o dia de amanhã.
Os sonhos? Sonhados. Ou adiados. 
Os votos? Cruz ao calhas. Ou em branco. Renovados. E a crença,  nem sempre vence.
Mas sábado é diferente. E a gente espera. A gente joga. Com batota. 
À sexta-feira engravida-se de alegria e encanto. Bebe-se dança-se e excede-se. Dá-se largas ao corpo e ao sexo. E chora-se pelas ruas da amargura d' outros prantos. Peregrinos.
Renovam-se os votos e as esperanças. As promessas. 
No descanso. No encontro de afectos. Num almoço marcado, num passeio explorado. Numa surpresa, um sorriso. 
Uma piada. Duas gargalhadas. Num engate. P' ra depois. 
À sexta-feira o mundo lá fora existe. 
Cá dentro é rosa. Com perfume de romã.
Encho o peito. E olho p' ra lá do monte.
Trinco a maçã...
Inspiro com força e me deleito nas linhas da vida que espero imperfeitamente perfeita. P' ra hoje. 
Não quero viver de véspera. Hoje não é amanhã.

hoje contra o Porto

A vida toda. O ano inteiro. De inverno e de verão. .
Na catedral ou noutro estádio menor. Na rua, no ar, no mar, até debaixo d' água...
No centro comercial, no sofá, ou em casa. 

No Natal. Benfica sempre... 
Quer ganhe ou empate. E se perder não faz mal porque lhe serei sempre leal.
Benfica, tu és o meu amor, tu és o meu amor, seja onde for, força Benfica!

uma história de quase natal

- Que chatice, a greve! A semana que vem vai ser dura. O que vale é que só faltam duas semanas. Temos a apresentação dos trabalhos...
- Temos que avisar a professora.
- É. E olha que nem a do metro é de 24 horas...
- Vamos mudar de assunto, Miguel que é que pediste ao Pai Natal?
- Tudo. ( sorrisos malandros para o lado e para a frente onde estavam as meninas )
- Meias...( risos ). Tens que pedir juntamente com o livro.( disse ela )
- Os meus pais dão-me sempre tudo o que quero. ( ele )
Elas olharam uma para a outra. 
- As meias dão sempre jeito ( uma delas ) eu gosto de receber. 
- Yeah! Pijamas não curto, mas meias gosto. Bem quentinhas. ( a outra )
- Eu gosto de receber pijamas. Dos polares. ( a primeira )
- E de preferência com lençóis polares também, p' ra ser o pacote inteiro. Não tenho nenhuns. Só de flanela. ( a segunda )
- E tu Miguel? Só calores né? Dormes de ar condicionado.
E o Miguel ri-se. Sem jeito. Elas já tinham estado a falar da bolsa de cada uma. Que dava para o passe e para alguma parte das propinas mas não as cobria na totalidade. Ele de Cascais, onde vivia. Do atraso dos comboios. Que se verifica mais que nunca agora.
- Sabes o que são lençóis polares, pijamas polares? Sorriso de desdém. ( uma delas )
- Soube há 2 minutos. (ele) Riram os três. 
Claramente, elas eram as estudantes pobres. Ele o menino rico. Os três, parecia, darem-se muito bem. 
Eles ( dois ) em frente de mim e uma ao lado. No metro.
Eu a caminho da Baixa. Ainda sem o espírito do Natal. Sem vislumbrar a rena e o pai natal, a neve e os coscorões. A chaminé e o sapatinho. A aletria, o polvo e a missa do galo.
A pensar em presentes possíveis. Meias? Nunca gostei que mas dessem. Lençóis também não. E pijamas pior um pouco. 
Há dias dei comigo a pedir um pijama. E compraram-mo. Meias e lençóis não me ocorreu, mas...também não dizia que não.
Eu a caminho da Baixa. Ainda sem o espírito do Natal...
Eu a querer saltar a quadra. Mas sem energia para o fazer. 
Eu a não querer apagar o sorriso que os putos me deixaram.
Eu sem o conseguir.
Não há natal que me alegre. Sem o espírito natalício. Eu que nunca estive tão pobre. E o espírito reclama. 
E não vá empobrecer-se também o espírito...

a partir do Oriente...


a nova avenida da Praia do Bispo - Luanda






sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Angola linda, em tempos diferentes








No espírito do Natal


Barcelona do meu olhar - Desde a Sagrada Família






fotos tukayana.blogspot

liberdade

Soltam-se os demónios em chamas
Por entre as lembranças mortas,
Abeiram-se de algumas portas
E deitam-se naquelas camas
Que os recebem clamando...
Soltam-se os fantasmas, cantando
Insistentes e radiantes
Desumanos...
Ouvem-se aplausos das gentes
Nos pesadelos da louca
Abutres rindo sem boca,
Seres medonhos, repelentes
E corações dilacerados
Há muito no inferno penando
Desterrados...
Soltam-se acordes, batuques
Sons, gestos e dor
Espíritos sem pés, dançando 
Sem ritmo nem claves de sol 
Decepados
Expurgando-se
E tentam um passo, um caminho
Pró medo de serem diferentes
Não aceites, maltratados
Desafiados...
Soltam-se as lendas 
E os sentimentos esquecidos
Ignorados
Enraízados....
Soltam-se amarras, correntes
Alguns cadeados
Acendem-se luzes, uma vela
Traça-se uma saída na tela
E o mundo é dos apaixonados
Soltam-se demónios em chamas
E deitam-se amores nessas camas...

m.c.s.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

dona Pitanga no seu melhor


pote de mel

- Não me digas que lavaste o pijama que vesti a semana passada?!
- Pois lavei. Disseste que estava apertado. Comprei-te outro. Rosa, às flores. A dar com as botinhas de dormir. Uma roupa de princesa. ( risos )
- Isso foi para o texto. Não estava e gostei bué dele. ( estava um pouco sim, mas nada que não sobrevivesse a umas horas de sono bem dormido ).
Depois duma viagem de hora e meia, cheguei. De novo. Para mais dias. Como planeado.
Passei o dia aqui. Pela meia-noite acusei o cansaço. 
- Vou subir. 
- Se precisares de alguma coisa, diz. 
Subi as escadas. A casa estava fria. Gelada. Entrei no quarto. Um borralho. 
O aquecimento, ligado. 
Em cima da cama, o pijama novo. Rosa, de princesa. As botas de dormir a condizer. O robe.
As toalhas. A cama aberta. Os lençóis brancos, bordados à mão.
Um pote de mel no meu coração...

um dia destes...

Um dia destes, junto as minhas mágoas, ódios de estimação, vinganças e até frustração, que trago guardados na fatídica gaveta da memória, descomplexo calcanhares de aquiles, lanço tudo às feras e faço uma fogueira, gaste o que gastar. 
Converto tudo em cinzas, que ao mar vou deitar e acabo com um, mil e mais um, de muitos capítulos, mil e mais que muitas, tristes histórias que me andam a encher. Que estão a transbordar.
Um dia destes, junto as minhas asneiras, enumero-as, uma a uma, com precisão e intimidade, trato-as com todo o cuidado, mesmo os pais nossos tortos, os aviõezinhos com os dedos, impropérios, inconveniências, matumbices, precipitações e distracções, faço-lhes um velório, com velas e flores, tulipas negras, véus, carpideiras, mãos no peito, por minha culpa, minha tão grande e única culpa. Mil perdões, pelas ofensas, más intenções e piores decisões e vão jazer em paz nos quintos do inferno. P' ra não cair em tentações, recaídas, inevitáveis seduções. 
Um dia destes, pode ser a inventar, semana de nove dias que alguém há-de achar, vou despir-me sem pruridos, inquietações, nem travões, vou tomar banho de luar, estrelas cadentes e o que no céu mais estiver a dar, vá lá, chuva também e lavar, esfregar e limpar a alma com fé, até esta se libertar dos kalundus e purificar. Olhar o mundo de baixo, do lado e também de cima, para me convencer que são todos como eu. Nus de más intenções, cobertos de muitas razões. Humanos no errar, desumanos no sentir, ímpares no amar. Iguais no ressacar.
Um dia destes, sem marcação d' hora, agenda, nem cruz no calendário, sem compromisso afinal, muletas, sorrisos pardos, pancadinhas nas costas, ou apupos e indirectas, ressabiamentos e outros males menores, apenas um dia e só, daqueles que o universo escolher, vou ajoelhar. Pedir perdão e orar. Para me ressuscitar. E me converter.
Para novamente viver a ganhar, empatar e perder. Dar vazão ao coração e ter espaço e oportunidade, sabedoria, esperteza, matreirice e muito jogo de cintura para de novo me magoar. Perdoar. E asneirar. Na gargalhada de desdém, nos aviões com os dedos, nas bocas para lá de foleiras, no erro ou propósito de não me requintar.
Para ao sabor do tempo, do vento e do que for e será, me repetir e também inovar.
Um dia destes...se não for antes...

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

o Salvador

Se estás com Deus estás a salvo. E até o diabo vacila.
Hoje acordei com Ele. O Salvador.
Não há demónios que me atormentem. Nem fantasmas. 
Aprendizes de feiticeiros. Crápulas. Invejosos. Egoístas. Indiferentes.
Hoje a energia do Universo tocou-me e vou ser feliz.

m.c.s.

há mulheres

Há mulheres que amam com a força do mar revolto e do vulcão, 
com a brandura de afago de mãe e da brisa de verão, 
com a coragem do trapezista,
a garra do leão,
com a ingenuidade da criança,
com a verdade do coração.
Há mulheres tão genuinamente fiéis e leais que se acontece a paixão por um seu diferente, o mundo passa a ser seu igual em género e número.
Há mulheres, diamantes por lapidar. Vidro que pode quebrar.
Podem até cair. Levantam-se e não deixam de acreditar.
Há mulheres que escolhem como destino, o amor, amar.

m.c.s.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

benficando-se

Pitanga
Pitanguinha,
Não é tanga
Minha Gatinha
É uma manta encarnada,

Encarnadinha,
P'ra te proteger do frio e mais nada.


m.c.s.

porque foi sábado

Hoje é sábado. Devia ser um dia diferente. 
Porque o sábado faz a diferença. 
Porque nessa diferença eu sou diferente. 
Mas em tudo foi igual ao domingo ou terça-feira. 
Porque tenho eu esta (in)diferença hoje, sábado?
Porque o que faz os sábados diferentes não é ser sábado, mas libertares todos os dias em mim, sábado que és. Tu. Diferente.

m.c.s.

...

Esta noite estiveste no melhor lugar de mim.
No meu sonho... 

divagação

...e os dias passaram. 
A andorinha partiu, o rio secou e o frio doeu.
No mar, as águas se arredaram para a tristeza passar. As ondas, foram passadeira por onde havia de caminhar. Para se reinventar. Para se salvar.
...e os dias passaram. 
As folhas se amareleceram. E espalharam-se pelo alcatrão. Morada. Chão vagabundo, desse pisar.
O pão endureceu. A palavra se calou, o poema se perdeu e eu estéril reconstrui os dias que teimosamente ficaram. 
E assim, só assim, os dias passaram...

m.c.s.

sábado, 6 de dezembro de 2014

uma história de quase Natal



Pessoa de gostos simples, alguns pirosos, passeio-me pela cidade conforme me dá mais jeito. Vou a lugares comuns a pobres e ricos, remediados e d' outros. 
Desta feita, tinha encontro marcado com a Amizade no centro comercial Colombo, lugar que ambas ( eu e a amizade ) tratamos por tu. Quer nas lojas para as nossas bolsas, no hipermercado, nas praças centrais, quer na Restauração. Não me rala que me digam, que horror, centros comerciais! Para quem? Sou eu que vou. Que digam que é onde vai todo o bicho-careta. Tão pouco que falem nas minorias ( aonde é que eu pertenço? ), que crescem e se tornam avassaladoramente maioria. Muito menos que digam que detestam, odeiam, não sei como és capaz. E acrescentem, ainda se fosse o Amoreiras ( coisa chique, porque torna e porque deixa, ao domingo de manhã encontram-se por lá os políticos e outros que tais, baaaah! ), o Átrio Saldanha ou o Corte Inglês ( os novos ricos e os velhos gagás tresandando a euros. E não vou também a esses? ). Não quero disso saber porque quem vai ao Colombo sou eu e lá me sinto bem. Desde a primeira vez acabado de inaugurar. Devo dizer que pode passar-se um mês sem que o visite, como numa semana posso lá ir dia sim dia não.
Ontem foi dia. Depois da filha sair no Alto dos Moinhos, vindas d' um pequeno almoço na estação fluvial do Terreiro do Paço, segui sozinha ( mais uma carruagem a abarrotar que isto já é Natal e há dinheiro pelos vistos ) até ao Colégio Militar. 
Aí chegada comecei o périplo por lojas que me interessam. Douglas, Área, Zara, Zara Home, Nature, Misako, Ritual, Parfois, Celeiro, Gato Preto e Fnac. Aqui procurei os livros duma lista que me foi facultada para que escolhesse um. Para oferecer, está claro, porque para mim vi lá vários, o último do Ondjaki, o último do Lobo Antunes, por exemplo. Mas, primeiro quem está primeiro. 
Comprei então dois livros para duas pessoas do meu coração. Contente com a compra, até porque tinha 10 € em cartão, lá fui eu almoçar. Sozinha. Uma sopa, um crepe de legumes e frango e um sumo natural. O saco sempre comigo, evidentemente. A seguir fui à casa de banho, pendurando o dito saco no gancho da parede. Estava eu na Primark ( loja procurada pelos menos brindados pelo dinheiro ) quando tocou o telefone. Era a minha amiga dizendo onde estava. Desci até à praça principal. A da árvore de Natal. Procurei-a e não a encontrei. Enquanto esperava mesmo em frente às escadas rolantes de acesso aos andares de cima, resolvo tirar umas fotografias. Fui andando e fazendo a volta à árvore. Ela liga-me. Percebo então onde está. Nesse momento apercebo-me que não tenho o saco da Fnac. Olho em volta. Lembro-me que fora à casa de banho. Subo a escada rolante nada convencida de que os livros estivessem pendurados no interior duma casa de banho visitada por tanta gente, alguma apenas gentinha. A meio lembro-me que andara na Primark com o saco da Fnac. Desço rapidamente. Penso que estou xexé pois só posso ter perdido o saco sem sequer dar por isso, quando andei a fotografar a árvore de Natal ( coisa importante  ). Tristíssima e furiosa comigo própria, desacreditada no mundo em geral e neste em particular, desço as escadas rolantes. No pilar bem em frente vejo um saco grande e amarelo. Respiro fundo e acredito que pode ser o meu saco.
Sorrio direita a ele. Era o meu saco. Com os dois livros dentro. O tempo que passou desde que o deixei ali até que o  recuperei seguramente foi de mais de meia hora.
Há horas de sorte. Aquela foi uma dessas. Quem diria?! Ganhei a tarde. 
E mais que isso, pensei contente que ainda há gente séria. Que não mexe no que não é seu. Felizmente para mim.


eu vou


Solto laços 
Quebro elos
Desato a voz
Corto as correntes
Ilumino os passos 
Preparo a prece
Guardo o medo
O beijo e o abraço
O segredo
E vou...
Daqui para o meu lugar

Onde a paz me embala o sonho
E me dá garras de voar
Onde a vida não parou
Nem a asa se quebrou
Eu vou...
Para trás ficam ontens 
Fantasmas
E sombras mudas
Tempestades
Furacões
Desilusões...
Solto laços
Quebro elos
As amarras
Sem receios nem cansaços
E vou
Ocupar os meus vazios

m.c.s.

Barcelona há duas semanas



fotos tukayana.blogspot

divagando

Que importa o dia no calendário? 
O deserto de olhares famintos
O céu azul e o mar também... 
A onda que vai e vem
O sol a brilhar? 
Multidões...
Água de coco
Segredos
Canções
Poemas sem fim?
Que importa este verter de intenções? 
Se não te espraiaste em mim...

m.c.s.

de Espanha nem bons ventos...

Foto tirada no bairro gótico. Em Barcelona.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

hoje, filha, da melhor mãe do mundo

Ela era linda. 
Doce, simples, pacífica.
Qualquer pessoa que para ela olhasse, que com ela convivesse rapidamente percebia a pureza, a beleza interior do seu ser. 
Nunca a ouvi julgar o seu semelhante. Tão pouco enfurecer-se. 

Tinha a lágrima sempre à mão e o sorriso no olhar. A voz oscilava consoante as emoções.
Amava serenamente como serena era, desde que se levantava até que se deitava. 
Ela era uma jóia rara. Um exemplo de mulher, filha e mãe. De cunhada, nora e tia. De vizinha. 
Ela era aquele ser humano que qualquer um queria para o seu aconchego. A paz que cada um de nós precisa na sua vida. O porto seguro. 
Por ela o mundo seria Amor. Praticava-o a cada segundo da sua vida. Por ela não vinha mal ao mundo. Este ficou a dever-lhe quase tudo.
Ela era a minha mãe. Que cedo partiu para a eternidade, depois de muito ter sofrido. Apenas com cinquenta e três anos.
Ela era a melhor pessoa do mundo. E não sou só eu, sua filha mais velha, que o afirmo. E sinto. 
Hoje faria setenta e nove anos.
Por ela, tento todos os dias ser o mais próximo do que ela representava. Um ser singular. De excepção. Não consigo. Porém não desisto, porque ela me ensinou que a vida não é fácil mas é possível. E pode ser maravilhosa. E cada um de nós deve perseguir o que de melhor possui. A capacidade para ser feliz.
Enquanto a minha memória e o meu coração te recordarem, minha mãe, serás eterna em mim. 
Obrigada por teres nascido. E teres sido a minha mãe.

como o dia

Puxei uma manta. Cor de rosa, coral . A alegrar-me a tarde. Não alegra.
Tapei os meus arrepios. Aos meus pés, dona Pitanga. Só por acaso nesse lugar. A aproveitar a manta. O lugar dela raramente é tão rasteiro. Esse lugar está guardado para os males menores. Fantasmas. Ameaços. E ratos de sacristia. Inclui os dos dois géneros.
No lugar do coração estão bouquets de rosas que não recebi, mas semeei. Beijos por dar e sois que arrecadei. À espera de melhores dias.
No lugar da mente está um dia, quem sabe quando, cheio de brilho e paz. Confiança e verdade. Por viver. E ontens onde não me sentei.
Chove. E acinzenta-se tudo à minha volta. É o canal Q, tentando sorrisos que não dou. É o Harry Nilsson, cantando Without You com a mesma voz sofrida de há quarenta anos, que me arrancava lágrimas castigadoras e suspiros idiotas e me fazia cantar num inglês mais do que perfeito toda a letra que aprendi primorosamente só para mais sofrer e chorar. Quase desfalecer. Ao som desse choradinho feito de flechas nos corações das meninas tristemente pirosas que se punham a jeito dos estúpidos rapazes desse tempo, de todos os tempos, porque os rapazes são sempre estúpidos ( salvo seja ).
O silêncio em mim, na casa, à volta, a janela recebendo os pingos da chuva, a luz indirecta, os livros fechados, as estórias adiadas, os fins ignorados, tudo se juntou para conspirar contra o meu sossego. A favor da minha falta de paciência.
Um desafio para passear, cancelado, por um problema de saúde que se arrasta e me rouba a liberdade de ir por aí fora, uma mala por fazer e algumas contrariedades, me fazem pensar que há dias que só fora de casa se levam. Se despacham. E não se pensa mais nisso.
Desde que haja galochas, que não tenho, gabardine, que deixei esquecida numa esplanada de Paris, em Julho, chapéu de chuva, ( qual o pobre que não o leva por engano duma chapeleira, assim como quem não quer a coisa ) e disposição ( será que estou com ela? Não sei, não ) tudo está alinhado para desanuviar os pensamentos, erguer a cabeça, arrebitar o nariz, sacudir a poeira e fazer uma cruz. Que por acaso hoje até é dia de euromilhões.
Acendi a luz do candeeiro para ver melhor porque já se faz noite em mim.
Não fosse eu um espírito a quem ordenaram que fosse forte e brincaria com as fragilidades das palavras que me bailam à frente da memória e do presente e hoje seria dia, um daqueles que a gente sabe que é o dia certo, o tal, de mandar tudo para as urtigas, beber uns copos ( ai a minha colite que late que nem cão raivoso ), fumar um charro ( nunca é tarde ) ou cortar os pulsos.
Toca o telefone. Fixo. Aquele que passa mais tempo na gaveta da cómoda da entrada do que no suporte. Hoje, está com sorte, porque dona Pitanga friorenta como é, escolheu estar aos meus pés, aquecida pela maciez da manta rosa coral.
Atendo. São os tipos da NOS. Às vezes qualquer sacana desconhecido me salva os pensamentos nefastos, provocados pelas minhas alucinações e por este mundo sacana e conhecido que me põe como o tempo. Cinzento, tempestivo, feroz. Para esquecer. Ou lembrar, antes que se faça tarde.
Adio os propósitos. Que sou cão que ladra mas não morde. E vou fazer um chá. Só que a colite mo deixe beber sem sobressaltos...

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

sonhadora

Arranco a culpa
Arranco a ferida
Rasgo a dor
De nada e tudo doer
A alma triste e perdida
Mas não o fogo d' um amor
Por nascer
Arranco a dúvida
E a desculpa
A solidão
Arranco até o coração
Só não arranco a tua presença no meu ser...
Nem a noite que o segredo calou
Nem a chama
Nem a esperança
Que no tudo mergulhou
Respiro-me livre
Profundamente
Respirando-te 
Na minha mente
E na Inspiração
Sonho que és tão somente
Ah...louca sonhadora...
Não mais que, a minha respiração.

m.c.s.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

voar

De alma cheia
E leveza no olhar
Me banhei de sol e luz 
Pelos caminhos 
Que a corrente persegue até ao mar
Purificada
Às asas d' um albatroz juntei
Linhas paralelas 
Outras perpendiculares 
Que desenhei
Cruzei os céus
E pintei
De cores singelas
E movimentos circulares
Estrelas
E brilhei...
E sonhei
Pelas mãos de um anjo voar
E voei
Daqui, até ao luar.

m.c.s.

anoitece na cidade

Anoitece na cidade... 
Olho a chuva que cai, teimosa lá fora. O vento que sopra nas árvores. O monte que se enegrece. 
É um tempo de mudança. De despedidas e perdas. De desesperança.
Não fora dias de sol e muitas luas, flores, beijos e abraços, encontros e repastos e outonava-me na concha antiga que se bem abriga, melhor isola e castiga.
E acrescenta cansaço e dor à vida.
Anoitece na cidade... 
Na penumbra desta sala há um silêncio secreto. Consentido e merecido. Como um hino mudo, às leis da natureza. E às suas forças. Que não se cumpriu.
Um sol posto que não se viu. Um carinho que não se sentiu. Uma emoção que não arrepiou. Uma estrela cadente que não me encantou. Um frio que de mim se apoderou. 
Há um acordo mental fazendo fé na palavra que rompe os silêncios e ecoa no espírito em mudança.
Há uma gata dormindo no sofá de que ganhou a posse. 
Uma música melancólica fazendo jus à presença nova do tempo que em outono se transformou.
Há a preguiça e a displicência travando o instinto e a vontade.
Há a nostalgia d' outros dias, outros montes, serras e rios. Outras fontes.
Há a saudade de ti. 
Anoitece na cidade.
Foi um dia que já partiu abraçado à noite que chegou. Neste Novembro que feliz se instalou.
Não fora o cenário que me envolveu e protegeu e seria pouco mais que uma réstia de nada. Assim sou tudo.
Anoitece na cidade...


a lágrima

Fria,
Mais fria que o gelo gelado da incompreensão
Salgada,
Ainda mais que as águas do mar, na sua imensidão
Pesada,
Mais que os ombros vergados ao peso da solidão
A lágrima...
Formosa
Transparente
Audaciosa
Como uma bola de neve, resvala, se apaga, mas rola
E queima
E marca a nossa história
E deixa chagas na memória...

m.c.s.

não digas nada

Não digas nada
Não quebres o silêncio das vogais
Palavras que ficaram por dizer
Que eu quero dançar
A melodia do olhar
Que ao coração me há-de prender
Não digas nada
Sente a nota musical
Ao toque da minha mão
Há uma prece no ar
Harmónica, celestial 
Em secreta união
Não digas nada
Que o tempo fala por nós
E o som da sua voz
Tacteia, sussurra e soletra
E numa festa desperta
Hinos de entrega e doação
Que inspiram e rodopiam 
Tocando a minha emoção
Não digas nada... 

m.c.s.