quarta-feira, 18 de novembro de 2009

As gaivotas

Ali, no Parque das Nações, junto do rio e perto da noite, as gaivotas ensaiam passos de uma dança antiga, de um tango qualquer. Muitas são as pessoas que se passeiam e que formam casais. Ou famílias, com criancinhas e tudo. Dia de semana, fim de tarde de Outono e início do lazer. É preciso comer. Mastigar.Entretar o estômago e o tempo.
Eu estou sentada na esplanada, bebendo água e escrevendo os meus escritos de sempre ou de nunca.Para entreter o tempo e a mente. À minha frente está uma mulher simples, mais velha que eu, comendo sozinha. Batatas fritas.
As gaivotas bailarinas, aproximam-se. Primeiro tímidas, depois tomadas de uma surpreendente audácia, chegam junto da mesa. Cobiçam-lhe as batatas fritas.Olham-na de frente.A mulher estende a mão e como quem dá milho a pombos, oferece as batatas.
Observo incrédula. As gaivotas que habitam ali junto ao Tejo, afinal, gostam de batatas fritas. E come-nas satisfeitas. A mulher levanta-se e devagarinho afasta-se.
As gaivotas aproximam-se de mim. Inquieto-me. Não tenho batatas fritas. Só tenho letras, palavras. Não arredam pé, ou melhor, pata.Ficam ali a olhar-me como se quisessem tornar-se mais cultas com as minhas palavras.
Pensei, que um dia destes, ainda verei as gaivotas chegarem com peixe fresquinho para a troca.
Que pensariam as pessoas se as vissem a querer partilhar a sua refeição com os humanos e quem sabe receberem de volta batatas fritas? Ou lendo, depois de engolirem as minhas palavras?...Quem sabe, ensinando pessoas a ler, a comunicar ...

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