quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

a ideia de felicidade


Ser feliz é percorrer o olhar pelo que a vista alcança e sentir paz. Viver...
Ser feliz é sorrir às coisas simples, receber de volta sorrisos e descomplicar.
E comer maboque, salivar um peixe seco, cozinhar um feijão maconde.
Cheirar os cajus da árvore, colher o algodão dos campos, assar a maçaroca que a lavra deu. Descascar a cana-doce.
Beijar e abraçar amigos. Como irmãos. Caminhar, mãos dadas, braço dado com a mesma intenção.
Sentir o perfume do bombô, a assar. Do doce de coco, da quitandeira da baixa.
Do miconde apregoado na ilha. Do mar. Da prata da lua, nele, a se espelhar...
Xingar o ladrão que foge, o trânsito infernal, a luz que se vai. Os mosquitos. A chuva e a falta d' água. A gasosa.
Ser feliz é ser mãe, tia, madrinha dum povo inteiro chamando.
Ser kota, mais velha. E receber lugar na cadeira, respeito, atenção. Chapéu que o velho tira. Consideração.
Ser feliz é ter identidade, sotaque, paciência, opinião.
É ter terra. Alma livre e coração amando.
Ser feliz não é orquestrado, acontece. Nasce-se. Quando se nasce onde eu nasci.
Vivo na europa construindo na ideia, a felicidade, que é a minha natureza quando estou lá.
Um dia, mais do que ser feliz na ideia, vou ser feliz de corpo inteiro e espírito elevado. Nem que seja a última coisa que construa. Juro sangue de cristo...

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

em Luanda o sol pôe-se assim...







a loja do careca

A loja da esquina, do sr. Custódio,  a que a pequenada do bairro da Vila Alice chamava, a loja do careca. Porque fora em tempos d' um indivíduo careca que a gente nunca conheceu.
Esta loja ficava a poucos metros da casa onde vivi dez anos, precisamente onde se vê o prédio amarelo.
Aqui vinha comprar o que sô Santos não me dava da sua loja.
Fiambre cortado na máquina ( quando o pai ainda não tinha máquina ) pastilhas bazooka, chocolates da Regina e muito mais. Isto quando tinha talvez 7, 8 anos.
Revi os donos da loja e suas filhas, há dois anos no almoço da Vila Alice e foi uma festa.

bem no meio do largo Camilo Pessanha


numa esquina do largo Camilo Pessanha - Vila Alice


hospital Maria Pia - Luanda


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Luanda vista da Ilha


lá para as bandas do Bengo - Angola


por pensar nisso

Nada me derruba mais que a maldade e a traição.
Mas, ainda assim, desengane-se, quem me tente tombar.
Do chão, não passo. E posso até levar algum tempo, mas ergo-me.
As árvores morrem de pé. E há quem diga que sou uma força da natureza.

m.c.s.

dá-me luz



Começa o dia e a semana.
Que te importa um dia ou outro?! perguntas.
Importa. O norte perde-se rapidamente se os dias iguais, os vivemos, emotivamente iguais.
E o sul está longe.
Tão longe que é à segunda-feira que a dúvida se instala. E me cega os instintos. E apaga a linha da sina.
Bailam impossíveis à frente dos sonhos, aqueles que te sonhei. E as dificuldades se perfilam intermináveis em fila de espera, não desistente.
Perco todos os cordões umbilicais, laços e âncoras. Portos seguros. Sou um barco à deriva, perdido da tua praia.
Por vezes, preciso de estímulo e orientação. Sou falível e mulher. E tenho coração.
Que gosta de ti. Também no início da semana.
Sobretudo hoje, que te sinto tanto a falta. Nesta ausência do ontem, tão romântico e puro, em ti.
Está frio. Tremem-me as mãos que não te alcançam. Não sinto o teu perfume nem a maciez da tua poesia. Não me disseste olá, nem me deste um beijo no café da manhã.
Não me abraçaste, até mais ver que não demoro.
Não estás na minha rota.
Longe, não te encontro, à segunda-feira. E a distância ganha forma, agigantando-se. O teu silêncio me enfraquece. E o medo do vazio se faz mais forte. O escuro é um quarto feio e triste. E a voz emudece. Num sussurro da alma, sorrio...Dá-me luz...

m.c.s.

em jeito de pensamento

Pobres dos que mentem. Da felicidade nada sabem. Apenas conhecem o inquietante, angustiante, momento repetido, da mentira.
Pobres...de espírito. Presos nas tramas e artimanhas que inventam e escondem.
Digo eu, aqui a pensar que, felicidade é tocar o céu com a ponta dos dedos e triste vida é a de quem não tem coluna vertebral para se pôr em bicos de pés...

m.c.s.

madrugando-me

Agarrei a madrugada. Com a mão que te ofereço e o coração que te pertence.
Inspirei o aroma do orvalho, como se fora o único sentido que me fosse dado ter.
Nas gotas transparentes que beijam o alecrim, despertando-o, no canta
r frenético dos melros, pintassilgos e rouxinois em festa, na brisa suave que me chega do mar, no silêncio do dia se libertando das trevas, na subtileza do que é belo, sem perturbar a intenção à natureza, tudo me gritou e me convenceu que hoje será diferente. Serei mais diferente...
Estamos em tempo de mudança. E eu acompanho a mutação sem me transformar num camaleão. De olhos postos na tela colorida dos dias que me são dados viver e naqueles que hão-de vir. Colorindo-me com alegria e serenidade.
Aprendi com os seres felizes que todos os dias é preciso acordar o dia.
Agarrar o tempo e pendurar o sonho no sol. Como papagaio colorido, nos ares, que nos faz mover e desejar. Gozar. Crescer e cuidar.
Em mim a diferença é visível. Não me nego ao sol que me entrou porta dentro, invadiu o espaço e me fez rejubilar.
Não te digo não, mesmo se ainda não me perguntaste, assim-assim, talvez ou o tradicional sim?!
Vou amar-te tanto, como amo os dias que vivo em ti. E aqueles que em mim vives. Vou amar-te mais do que te amo, porque alimentas esta fé que me nasce nos dias, que agarro a cada momento de partilha, doação, voz, palavra, poema. Emoção.
Vou amar-te mais do que te amo porque me fazes feliz e livre. Porque me fazes sorrir e acreditar.
Porque... meu amor, não sei fazer mais nada. Tão bem...
Agarrei a madrugada. Com a mão que te ofereço para me passear neste inverno de solidão e o coração de quem não mente o que sente. E nunca te diz que não.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

absurda(mente) dor(mente)



Arranco vozes que me gritam medos.
Silencio grotescas interjeições.
Sufoco gemidos e outros lamentos.
Dou largas à dor e amanso-a com as minhas próprias mãos.
Torço as angústias e arrumo o tempo, em compasso de espera,
que me há-de ser útil quando não tiver mais nada
e os dias forem repletos de vazios.
Desenho caras, pintando-as de negro breu, desta hora de fragilidade.
Sinto a falta, no ar que respiro, de alívio, que não é chegada a hora.
Há nas paredes, nos bancos, nas vozes, nas vestes brancas, verdes estrelizadas,
um não sei quê de sedativo que preciso. Que me há-de acompanhar.
Aceito-o e depois fujo.
Para me permitir viver entre ais e uis e outros grosseiros sons logo que a boca recupere as vozes silenciadas.


m.c.s.

no Miramar

Dizem que remexer no passado é coisa de velho. Tempo acumulado, guardado, empoeirado. Eu gosto. E não é de agora.
E quando a gente gosta, pôe-se a jeito. Procura e acha. E quando não procura nem encontra, nos cai na sopa. Porque o universo é poderoso.
Poderosa me sentia também, menina franzina, franja preta, mais olhos que barriga, saia plissada, sapato mata barata na esquina, pulando traquina, pela mão amiga do tio mais novo, parecia era irmão mais velho.
Todo o domingo iamos, então. Eu num padecimento de formigueiro na boca do estômago, coração pulando parecia era gazela, desmaiando de vergonha, aquela igual à de cão, exacta qual o Nero, cachorro do colégio, que a dona Dina dizia.
Morrendo de curiosidade, porque não dizê-lo, sonhando com o palco, a música, os apresentadores, a voz limpa de sotaque, grave, alegre de boa dicção, soube mais tarde, chamando, pronunciando o meu nome, igual ao da avó. Vivendo o momento.
Provando o que valia. Nas cantorias.
Na verdade não era boa no canto, apesar de me esforçar e gostar. Ensaiava a semana inteira, ao espelho, para não me enganar.
Mas quando subia no palco, a cabeça latejando, o suor escorrendo, o rosto se avermelhando, pernas tremendo, caranguejo não é peixe, caranguejo peixe é, caranguejo só é peixe quando entra na maré, faltava -me o ar, olhava a plateia e a vergonha vencia a minha alegria. N'um só minuto tinha de cantar tal qual fosse a verdadeira artista. Um minuto apenas, que demorava uma eternidade.
O público, o tio, os apresentadores, o conjunto tocando, o som longínquo do mar, o céu azul a espreitar, os homens atirando aos pombos, aos pratos, ali do lado, tudo me dizia que tinha de cantar. E cantava. Porque morria de vergonha de desistir.
Ainda mais, de desiludir o tio, quase irmão mais velho.
E ganhava prémios de desencorajar. Pedra d' água. Café somil e outros que não sei mais o quê, sei só que metiam medo ao susto, que até esqueci o nome. A forma e o sabor. Coisa de adultos.
Naquele tempo, meu tempo no início, vida boa, tenra idade, ali tentei uma carreira, que ninguém encontrou, nem eu e se perdeu no esquecimento e desinteresse, entre domingos e afecto de tio amigo, encolher de ombros, outros interesses. Mas que me ficou na memória fazendo parte da minha história.
Naquele tempo, meu tempo no início, tenra idade, ao domingo, no Miramar eu me perdia pelas cantigas de encantar ou de arrepiar. Eu me encontrava, candengue feliz. No Cazumbi.
Eu queria ser cantora. Louca sonhadora...
Nem cantora, nem palco, nem Cazumbi . Já nem Miramar, sequer.
Tudo se perdeu no tempo. Nos dias que de tão longos, ficaram no esquecimento. Só eu e a minha memória, a imagem, para voltar à história.

o meu destino

Paro, escuto. E olho.
Sei bem que avançar é confiar.
Os olhos no fim da estrada, coração no horizonte, sorrisos na boca em versos a declamar viagem feliz, que a felicidade está já na caminhada.
Boca repleta de beijos guardados para te oferecer. E algumas palavras. Novos sons, rimas diferentes. Inventadas.
Sem excessos, que não precisas dizer nada nem eu acrescentar a esta forma de ser, de ir, de chegar, o que não faz falta ao poema.
Paro escuto e olho. Preciso perceber a sinalética para clara orientação.
Nesta selva que é a vida, não basta seguir o coração. Nem te saber numa curva do caminho. Segura, convincente, tremente e tímida atitude. E desafiadora também.
Não basta acreditar no abraço d' um tamanho não dado, coro de palavras que nunca falaram. Comunhão, afinal.
E por isso me sento numa pedra do caminho, banco da minha inspiração, enquanto te olho, semáforo, no belo das suas cores,
amarelo-sol radioso da busca nesta maratona diária; verde-esperança, fé em mim, na vida e em ti também, prado para rebolar, sonhar e me achar; vermelho, minha cor predileta, acácia da terra-mãe, fogo da minha paixão, sangue de que sou feita, meu coração.
Vejo a seta da minha interpretação.
Meu deus grego? Do amor...Que sei eu...
Lá diz o poeta, só sei que nada sei. E muito bem o diz, porque o poeta tem sempre a razão mesmo quando fala com o coração.
Vejo a seta. E num andar por aqui ao deus dará, umas vezes avançando, outras recuando ou parando, aqui vou estando. Lá está, como deus quer. Um dia destes há-de querer. Tenho fé, que vou chegar à estação, porto, apeadeiro, campo de aviação, não importa. Sei que vou bater-te à porta.

uma hostória de amor no Miramar


 Se o cinema Miramar me recebeu nos primeiros anos da infância, também foi o último onde fui, naquele cacimbo quente de 75. No século passado.
Foi no fim da tarde do último domingo do mês de Junho, desse ano que tocou todos os que estavam de pedra e cal na cidade.
Olho essa bancada, o que sobrou do que foi um espaço ao ar livre, bonito e muito bem posicionado na paisagem e na cidade, onde as matinés aconteciam apenas quando o sol se punha no mar, espetáculo que calava fundo na alma da gente e o privilégio de assistir dali, olho essa bancada e me sento de novo num lugar, vários, muitos lugares. Sentei sempre, no decorrer dos anos, quando o corpo se ausentou, porque a alma, essa, continuou dona do momento, senhora do ar, do filme, do mar e do céu que me abrigou.
Olho essa bancada e o pensamento voa, voa, voa, por entre histórias de encantar. Mesmo se a última vez foi ao som dos petardos, na luz dos balas tracejantes, a horas d' um recolher obrigatório que fazia crer que estávamos na guerra. E estávamos.
Mas naquele domingo, no pôr do sol cacimbado, a hora foi de paz. E amor. E o dia ficou assinalado.
De mãos dadas, primeira vez de mãos dadas, no cinema. Uma estreia, num amor no princípio do fim. Num amor prestes a partir e a se perder de nós, por via de desencontros de guerra.
Olhando o filme só por olhar, o calor da sua mão, o tremor do coração, sem palavras, bloqueada a imaginação, me fiz protagonista duma história de amor tão linda que só lhe faltou o final feliz. Para ser A História.
Duma história de amor tão intensa, que a minha alma ficou lá. A eternizar o momento.
Olho o que resta d' um espaço onde me reconhecia menina, adolescente, mulher feliz e apostaria o que tenho e não tenho que o que resta deste abandono, ainda se lembra de escutar o meu coração batendo forte, do rubor da minha face, do encanto, desse dia, do tamanho desse amor.
Qual era o filme? O Relojoeiro. Do que tratava? Esqueci. Não vi. Só olhei...
m.c.s.

um dia, não hoje

O sol se escondeu
No inverno do tempo
Que se anoiteceu
Chuva e vento...
E eu a entardecer
Ao sabor do momento
Pensei em ti
E sorri...

Um dia, não hoje,
Livre de datas por sugestão
Impondo condutas de celebração
Um dia, daqueles fáceis e simples
Dia de não solidão,
Que o mar convide ao poema
Dando o mote e tu o tema,
Um dia, não hoje,
Quero ouvir a canção
Dançá-la no meio da rua
E na maior sedução
Olhando para a lua
Murmurar baixinho
Que sou tua...

Um dia, não hoje
Sem o espírito da obrigação
Nem desculpas para a emoção
Quero dar forma e cor
Asas e som à paixão
E dizer-te que o amor
É voz que me fala ao coração.

m.c.s.

essa sou eu



E porque o sol me conquistou,
Nasce sábado,
Cresce a manhã e a vontade de viver,
Osso duro de roer, paciente e persistente,
Vou ao encontro do dia, fazendo por o merecer.
Se me quiseres encontrar, não esqueças do que digo a brincar,
Que sou séria no meu disfarçar...
Segue a linha do horizonte, espreita a curva do caminho; vai sozinho.
Pela linha do destino.
Quem anda como quem voa, quem sonha como quem crê, quem ri como quem ama...essa sou eu.
Quem recolhe imagens de luz, se senta no banco de pedra, aproveita intervalos e não te esqueceu,
Sorri para a areia da praia, olha os barcos velejando, gaivotas no céu planando,
passeia na rua deserta e tem nos olhos a chama, aquela de quem muito ama, feita poema, p' ra te oferecer, assim tu o queiras ler...essa sou eu.
Abraça a cidade bonita, chama a si o que é seu, escolhe abrir-se ao prazer e beija o sol envergonhado, mesmo se mal humorado,
tenta sufocar a saudade, dando largas à liberdade de gostar de ser quem é...essa sou eu.
Se me quiseres encontrar, prepara o coração, escolhe a noite, a hora, o momento
E não duvides, não,
Que eu salto as fogueiras do fogo, que arde e já se sente, percorro serras e montes, atravesso todas as pontes,
Caminho pelas ondas do mar, só para te ver e abraçar...

m.c

pensamento

Desde que peço a Deus com muita fé que afaste da minha vida a erva daninha que causa dano e atrasa o meu crescimento, olho o jardim e aprecio deleitada o perfume das rosas, mesmo se já não são tantas como outrora e se tornam raras...

m.c.s

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

na rota...

Pé-ante-pé, verso em verso, nos caminhos do poeta, 
caminho para a fonte, não segura, mas contente, contigo na minha mente.
Da chuva, recebo a frescura, de ti a informação. 
Ou será que é só menção?! 
Ir formosa, vaidosa, segurando o coração, teu deleite, quero ser. Para ti, florescer...
Uma dúvida me assalta, mais o lobo que m' espreita, ou será que é raposa, pele e capa?! Sempre escapa...
Escape eu, nem que seja, pelo caminho que apontas. Seguro, já se vê.
Não quero saber do porquê.
Salto o muro, não tem volta.
Minha rota...
Ah, a dúvida! Insegura que sou, lerda de entendimento, 
nestas coisas do sentimento, encanto, romance, chama-lhe amor, se quiseres, 
passei por tamanha dor, que parece fiquei cega, às palavras e sinais e a outros gestos tais... 
Pé-ante-pé, verso em verso, nos caminhos do poeta, avanço e me convenço, bússula para usar, desejo de me orientar.
Para trás, mija a burra. Diz o povo. A mim faltam-me ideias. 
Não quero saber da bichinha, necessidade e atrevimentos, 
o que sei é do meu querer. 
Seguir em frente, te acenando, neste jogo ping pong, baralho na mesa, carta escondida. Para bingo e jackpot. 
Sempre escapa...quem tem capote. 
E a chuva que não dá tréguas! O vento a dizer que não e eu forçando a barra. 
Vou ao encontro do sol, mesmo chovendo a potes. Mesmo se o pé esbarra.
Dá-me a tua mão p' ra não me perder no caminho. 
Tu melhor que ninguém sabes qual é o destino...

m.c.s.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

quem sabe?!...

Se eu soubesse, 
que nos passeios pela vida, 
hoje, encontraria o lugar, que transborda de ti, neste vazio que abraço, 
nem o vento nem a chuva, tempestade, furacão ou dilúvio, me causariam qualquer medo, palpitação ou sofrimento. Desalento...
Se eu soubesse,
que mesmo a visita do sol, mesmo a lembrança das flores, mesmo ausente de dores, ainda assim, não te sentiria presente, 
não suplicaria ao Criador um dia quente e ameno, sereno, 
para te lembrar na saudade. E te sorrir de verdade.
Não esperaria na fé, 
um só sinal, um só aceno, um só sorriso, menos, até...
Se eu soubesse, 
que o mundo, que desaba a cada hora, a cada dia, num segundo,
para este, aquele ou aquele outro, 
se uniu para me provar seu desmedido poder, 
apenas lhe diria que, mande o que quiser mandar, mais dano não vai causar, 
porque o que eu queria do seu poder, é quase nada afinal, 
que te traga por fim, até mim, só para te ver. 
Só para me encontrar e me perder no teu ser...

m.c.s.

ser humana

Hoje acordei a horas escandalosas. Meio da manhã. Um sol invejável tocou-me a pele e a alma sedenta. Bebi o milagroso copo d' água e sumo de limão, como de costume, passei pelo espelho do hall, reprovei o mau aspecto a que não me habituo, apontei-lhe o dedo, acusadora, numa recusa do tempo que se instalou inevitavelmente, difícil de aceitar e conviver, antes do rosto lavado, retocado, disfarçado de rugas e sinais, do dito tempo. 
Fiz-lhe uma careta, encolhi o ombro doente, que ultimamente doi mais, ( fruto do inverno rigoroso ), num relógio, que diz que sempre fica a dar horas e não pensando muito no que por aí vem, sendo que do que está para chegar, apenas me interessa um encontro por mim ansiado desde a partida, coisa de placenta, vim ao computador e deparei-me com fotografias que me levaram à minha terra, tão rápido que a velocidade da luz não é nada comparada ao que a minha alma percorre em voo de pássaro livre a caminho do seu destino. Ao encontro da kianda. De mim...
Há dias, por mim falo, que o mote, para que a sensibilidade derrame lágrimas salgadas de saudade e lembranças duma felicidade que foi vivida e nunca esquecida, é inventado, sei lá, ou será coisa do universo para me fazer vazar o que me oprime, me magoa, me humilha e me ultrapassa. O que sobrou de mim. E perceber-me simples ser. Humano.
Ser humana é isto. Ter coração que sente, olhos que enxergam e mente que guarda. Alma que se dá. E se expõe.
Ser humana é sentir que preciso de ti. Sim, de ti. Não procures ao teu redor. É contigo que estou a falar. Não sabias, que preciso de ti? De todos de ti. No que tu me dás, no que tu me gostas, no que tu me respeitas e apoias. E no que tu me criticas, me prevines e esperas de mim.
Ser humana é importar-me e reclamar-me. Estender a mão e apertar a tua. Mesmo que estejas longe, pois que do longe se faz perto. E salvar-me.
Ser humana é cair e levantar-me, naufragar e ressuscitar, no que ficou de mim depois de me morrer de amor, dor e desilusão. 
Ser humana é dar e receber perdão. 
Olhei as imagens de luz dum passado longínquo, numa terra abençoada e humanizada e chorei lágrimas grossas e ávidas. 
Chorei do passado, do presente e de mim. Chorei, de ti. Por ti. Todos de ti que não me conhecem. E também daqueles que amei e não me amaram. Que respeitei e não me respeitaram. Que não desiludi e me desiludiram.
Chorei a dor de ter chorado, chorei a paz que me foi roubada e chorei um tempo que me fugiu.
Olhei as fotografias que me humanizaram e percebi que acordei mais humana que nunca. E assim vou permanecer...

domingo, 9 de fevereiro de 2014

stephanie - a tempestade

No Olival Basto o tempo está agreste que eu sei lá onde isto vai parar.
Eu e a Pitanga estamos silenciosamente aguardando.
É que não vale a pena gritar ó da guarda quem nos acuda, porque o medo que nos assiste é mudo. E não mora nenhum agente da autoridade perto de mim.
Será que vamos ficar gagas de susto quando isto passar? A ver vamos...digo eu, digo eu, engendrando algumas jigajogas para sobreviver a isto.
Sei que estou farta de remar contra a maré e posso ir com o vento, num ar que se me dê, mas a gente tenta. Não é? Nem que seja para contar como foi optimista...

Mussulo ontem