segunda-feira, 31 de outubro de 2011

partilhando com o mundo

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E perguntam vocês, o que é que ela está a fazer lá em cima? Em terras de fim do mundo do diabo mais velho e de figuras ilustres da nossa praça, da história, e das estórias da actualidade como a desse senhor que está acusado de homicídio e que gente minha conhece de Bragança. O Dominguinhos!
Ora bem, vim passar os Santos com os meus primos.
Fui convidada pela Leonor e...bô, carai, aceitei na hora e pensei depois. Levei uns dias num chove não mollha, tentando perceber se iria para Lisboa para junto das crias; uma delas esteve mês e meio pelo Ribatejo trabalhando e a outra esteve a curar-se de um acidente de viação e a trabalhar bué, ou, se optava por subir devagar e pachorrentamente o mapa com todos os senãos que isso traz. E venceram os senãos, num sim-sim, afinal o que é que vou fazer para Lisboa?
- Vai mãe, vai passear, vai, faz-te bem, o que é que vens fazer p'ra Lisboa?
Dar espaço ao filhos foi o que me fez desistir da capital por quatro dias a favor de arejamento em terras para lá do Marão aqui assim na raia de Espanha que até se avistam montes e serras dos nuestros hermanos, olé!!! E na feira se cruzam connosco xicas guapas que eu sei lá, e que descem ao povoado para se divertirem nos carrinhos de choque, nas barracas dos tirinhos ou nos matrecos, que há assim a perder de vista e de moedas para as fichas. Ou pelas ruas onde os quinquilheiros vendem a banha da cobra num comprem mulheres, que é de borla, quem dá mais, de menos que a vida está a ficar cara demais para tanto bolso vazio, mesmo se falam espanhol e nasceram aqui a uns quilómetros.
Vim então comemorar o aniversário da prima Leonor, calhou mesmo bem, com jantar, fotografias, vinho verde, champanhe, bolo e vela e o neto cantando e tocando os parabéns na guitarra a fazer lembrar a minha cria mais velha tocando na sua guitarra clássica nos tempos de estudante de música no conservatório da sua cidade ( passou tanto tempo e tenho saudades de a ouvir tocar, dunas, são como divãs... ).
Vim então respirar este ar do norte. Rir e conversar muito sobre o passado, com uns, do presente com outros e do futuro com todos. Estar em família. Com três gerações. Bem dispostas, divertidas e bem humoradas, de férias e com tempo para estarem.
Vim passear. Comer os petiscos nortenhos. Iniciar-me nas castanhas,
Vim descansar.
E aqui estou. E aqui estamos. Eu e a minha família que ainda somos alguns. Uns dez.
O que é que estou a fazer em Trás-os-Montes? A tentar momentos de felicidade num encontro com a família que me quer bem. Me trata com carinho e respeito. Num encontro com o passado, as raízes, o que fui, o que sou e o que quero ser.

domingo, 30 de outubro de 2011

hoje o dia sabe a festa

foto tukayana.blogspotHoje o dia sabe a festa
A feira e a diversão
E para rimar com festa
Já ia um baleizão

Não fosse o gelo que gela
A pele quente do verão
Não fosse o tempo invernoso
E o pastel caprichoso
Orgulho da região
E eu saboreava com agrado
Um gelado de limão

Hoje o dia sabe a festa
No norte deste país
Andei pela multidão
Cochilei uma sesta
Fiz tudo o que bem quis
Até andei d'avião

Hoje o dia sabe a festa
Dos Santos o povo gosta
Mas suou-me bem a testa
P'ra da festa ter uma amostra

Hoje o dia sabe a festa
Nesta linda região
Muito há a divertir
Para a folia sorrir
Ao meu pobre coração

Hoje o dia sabe a festa...

m.c.s.


tradições e condições

foto tukayana.blogspotMuda a hora e tudo muda.
O sol apenas de manhã se anunciou. Aos poucos o dia foi tornando-se cinzento e frio. Gelado.
Estou a norte e a norte tudo é diferente.
Preparam-se campas limpando-as e florindo-as. Com as flores que se vendem na frente do cemitério. Há almoços de família porque os filhos que vivem no Porto, em Lisboa ou no sul fazem questão de vir para as comemorações dos Santos. O Dia 1 de Novembro, Dia de Todos os Santos aproxima-se a passos gigantes. Novembro está já aí. Até a hora mudou, para meu desassossego.
Chaves está em festa. É a Feira anual. Toda xptó. À moda antiga com escolhas, parte delas, modernas. E diversões para crianças e adultos. Para ricos e pobres. Para todas as condições sociais que aqui ninguém liga a isso.
Uma festa tradicional. A tradição, dizem que já não é o que era, mas em Trás-os-Montes as tradições mantêm-se vivas e são passadas de pais para filhos, netos, bisnetos. Só quem conhece esta realidade poderá perceber o que se passa nesta região. Assemelha-se muito a Angola. Parece estranho. Direi mais, descabido, mas olhem que é como estou a dizer.
Trás-os-Montes é uma região de muitos contrastes. Nas cidades e aldeias. Nos campos, nos montes, nas serras, planícies, rios e riachos. Nas suas gentes. E na cultura das mesmas. Porém, as diferenças não os separam. Bem pelo contrário, une-os. É nisto que estabeleço um certo paralelismo com Angola. Nas vivências. Se não vejamos - Uma família pode ter membros que não sabem ler, que estão desempregados, que trabalham a terra, funcionários públicos, emigrantes, doutores, daqueles de doutoramento, cientistas, políticos, ricos, pobres e remediados, católicos, ateus ou budistas, que se sentam na mesma mesa e conversam sobre os mesmos temas. E têm as mesmas convicções, os mesmos sonhos e o mesmo querer. E a uni-los os laços que nunca se destroem.
Trás-os-Montes é a região dos contrastes. Das diferenças e dos sentires. das tradições. Do apreço às raízes. Da protecção à família, sendo que apesar de todas as mudanças, ainda se acarinham e respeitam os velhos.
Hoje mudou a hora. Muda a hora e tudo muda. Menos a admiração e o respeito que tenho por esta região e seus habitantes.
Há tradições que nunca deviam chegar ao fim. Estar em família é uma condição que devia ser obrigatória. Eu assinava de cruz.

vai uma t-shirt?

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à dúzia são mais baratas

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talento e outras habilidades

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desenhando

Arte, numa feira de cariz popular. A feira dos Santos, em Chaves.

rotunda sul, rotunda norte

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Entre estas duas rotundas, sul e norte, venha o diabo e escolha, numa terra de fé, negócio e peregrinos, sobejamente conhecida e visitada.
Porquê? Porque as obras não são as de santa engrácia mas quase, e o pior é que não há quem indique alternativas sendo que as placas ainda confundem mais e todas estas dificuldades nos fazem parecer muito estúpidos e não somos.
Saem duas criaturas de torres novas a tempo e horas o que é um feliz acontecimento, para que uma vá de viagem a partir de Fátima, subindo no mapa. Adianto que como não gosto de falar na terceira pessoa porque nem sou jogador de futebol, nem treinador e tão pouco falo com eles, uma das criaturas era eu e a outra o mano Zé.
Tínhamos meia hora para comprar o bilhete e esperar, eu, que o autocarro vindo de Lisboa e pertencente à auto viação do Tâmega chegasse. Só que quem não sabe é realmente como quem não vê. Anda às apalpadelas e tão devagar que até doi. E mais uma vez comprovo que os ditados populares são sábios como sábio era o sô Santos quando me dizia: Que anjinha! Que é como quem diz: Santa ignorância, que burrinha que és!
É que me convenci que o dito transporte pararia na garagem da rodoviária. Mas não. Depois de muito andarmos rua abaixo rua acima, rotunda abaixo, rotunda acima, lá conseguimos achar a estrada certa e sem impedimentos de obras para a garagem em causa. Só que a menina, antipática que eu sei lá, porque será? mandou-me dar mais uma volta às rotundas porque a agência dos transportes rodoviários que eu desejava, ficava lá para baixo, disse ela a despachar-me, ou senão pergunte aos taxistas que estão aí fora. Ok. O mano Zé perguntou e lá fomos nós, não cantando e rindo, mas inquietos. Eu repetindo a frase do pai, num silêncio a dar para o aborrecido - és uma anjinha - és mesmo uma anjinha, que ainda acreditas no pai natal.
Mano Zé, deserto por me despachar para norte, apostava que poderia ver surgir a camioneta e colocar-se atrás dela numa caça à mesma, albarroando-a num valer tudo menos ficar em terra.
Porque será que nestas terras assim e noutras assado, as pessoas a quem pedimos informações nunca são residentes? Em Fátima não há naturais. Foram todos lá, não ver a bola, mas pagar promessas, rezar terços, vender cautelas, roubar por esticão.
- Mora aqui?
- Não, não.
- Sabe qual é o parque número 14? - Coçam a cabeça como se subitamente tivessem um ninho de lêndias a parir piolhos, olham o horizonte que normalmente é a basílica, na esperança de uma milagreira inspiração e acabam dizendo que vai ser difícil devido às obras. E nós criaturas de Deus vemo-nos ali nas voltas do diabo, quase, quase desistindo.
-Não faz mal. Se me guardarem o troley, lá na garagem da rodoviária ainda vou conhecer a basílica nova.
Sim, porque não conheço essa obra acabada e ao que consta terá custado uma fortuna sendo que tem dentro muito ouro a valer a dita fortuna a acrescentar à da obra. E já me deixava ficar, assim, por isso mesmo, ( que o ser humano quando não é um revoltado é um conformado da tuge ), dando uma volta à localidade que se tornara gigantesca qual confusa metrópole, só porque nos perdemos por estradas e becos sem uma luzinha ao fundo do túnel, ficando sem qualquer saída para às 9, 30 estar sentadinha no autocarro a caminho de Chaves. A minha paciência iria ser testada nas duas horas e meia seguintes, hora a que os expressos tinham marcado uma viatura para Vila Real onde se esperaria mais uma hora para se mudar para Chaves. Uma seca das secas. Começar um fim de semana assim é tudo o que uma criatura quer para ter um enfarte, um avc ou uma dor de barriga daquelas que está proibida de ter quando vai viajar cinco horas quase seguidas num autocarro que tem estabelecido quando e onde parará e que não tem acordo nenhum comigo. Apenas a cobrança de 20 euros. E a obrigação (?) de me transportar em segurança.
Quando o mano Zé já quase desistira do parque 14, da agência e do local onde supostamente pararia a camioneta, eis que, como por milagre ( estávamos na terra deles ) e com dez minutos de atraso, vê a tão desejada e falada camioneta. E como pensara assim o fez. Uma verdadeira corrida atrás dela até que a mesma parou. Vimos surgir a senhora da agência ( somos muito espertos, ou observadores e somamos dois mais dois, dando: mulher da agência que vem tratar assuntos de viagem com motorista ) e confirmei com ela. Disse-me que só havia um bilhete ( sorte a minha ) e lá fui com ela ao outro lado da rua, buscar o dito. O mano Zé esteve a encanar a perna à rã para que o sr. motorista não bazasse sem mim, pois que o senhor estava incomodado porque já vinha atrasado de Lisboa.
E foi assim a minha maratona, ontem, sábado, pela manhã.
Viajei na última fila do autocarro, mais quatro criaturas. Eu bem no meio, tendo espaço para esticar as pernas se fosse caso disso. À minha frente viajavam dois homens mais ou menos da minha idade que nunca se calaram nas 5 horas seguintes. Um do lado direito e outro do esquerdo. Nem o MP4 abafou a gabarolice do que ia do lado direito, naquela de que, estão a ouvir-nos, vou falar para a plateia. Tinham ar de polícias que foram para Lisboa saídos da santa terrinha e tudo o que aprenderam foi por lá mas quando regressam às origens são como os " avecs " . Vêm cheios de si e dos outros. Mas pronto, entre passar pelas brasas e ouvir música, comer mentos e halls de limão, ver a paisagem e escrever, o tempo passou-se.
De vez em quando olhava os montes, as serras e as fragas e ia jurar que ouvia o sô Santos dizer - És uma anjinha! abanando a cabeça e repetindo - és mesmo uma anjinha! e o mano Zé acrescentar - Que vaca que tens! quando, depois da perseguição ao autocarro 10 minutos depois da hora de saída, percebeu que havia um único lugar " reservado " para mim.
Pois então não dizem que guardado está o bocado para quem o há-de comer? E eu tenho dentes até às orelhas. E estou de bem com Deus em qualquer lado sobretudo em terras de aparições e milagres, achando natural que o " milagre " se tenha dado. Ou será que foi apenas e só uma feliz coincidência, o universo unir-se para me facilitar a vidinha?
Ainda não foi desta que conheci a basílica nova de Fátima. Mas que andei rua abaixo rua acima entre a rotunda sul e a rotunda norte, andei, e fiquei com uma noção do inferno que é visitar um lugar de fé em época de obras nas estradas e acessos às mesmas.
E reafirmei a certeza de que o que tiver de ser, será.

Cheguei a Trás-os-Montes. Estou em Chaves, onde este fim de semana se festejam os Santos numa Feira dos Santos do mais rico e belo.
Também nós festejamos o aniversário da minha prima Leonor, com um jantar magnífico, entradas muito saborosas, sobremesas deliciosas, um bom vinho e champanhe para comemorar, num ambiente familiar onde não faltou uma guitarra para um dos mais novos da família tocar os parabéns à avó, e um divertidíssimo karaok.
Sou ou não sou uma pessoa de sorte? Serei uma anjinha mas de vez em quando tenho uma vaca daquelas...mas mais importante do que tudo isto é que de facto estou de bem com Deus, porque tudo o que faço é inocente, porque me apetece e o sinto e sobretudo porque para além de gostar de mim, gosto demais dos outros quando os outros são aqueles que classifico de - minhas pessoas.

sábado, 29 de outubro de 2011

ao encontro de mim

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Que bem que se está em Trás-os-Montes!
Beijos gelados para todos, neste noite fria a norte do país.

a minha cidade



Da Ilha vemos a baía e a marginal de frente.
É a minha cidade! Luanda, continuas linda e ainda vais ficar melhor.

Luanda, estás Linda!













Aiuê Xiamiêeeeee! Saudades buéeeeeee!
Da Ilha para a Marginal. A obra concluída. Em Janeiro passei por aqui ainda havia obras gigantescas. Postei as fotos que tirei na altura. Hoje está assim deste jeito. Linda! Na banga, vê se pode! E eu aqui, deste lado.
Aiuê minha terra! Saudades, tantas. Todas.
N'ga sakidila kamba que todos os dias me mandas pensamentos e curiosidades. E agora fotos da nossa terra. Kamba que quando chego a Luanda estás lá no aeroporto à minha espera com um sorriso do tamanho da amizade e uma paciência de jó me levando a dar uma volta pela cidade ainda eu não estou a acreditar que já estou a tocar o céu com a ponta dos dedos, me sentindo nas nuvens.
Me contando das mudanças, dos melhoramentos, das pessoas, do país. E eu pasmando, chorando, rindo, enrouquecendo de emoção e me apetecendo beijar tudo o que mexe e todos os que oiço, vejo e comigo se cruzam numa celebração que poucos entendem mas que me invade o coração porque recupero a alma africana que podem querer roubar mas jamais conseguirão.
Edgar, meu amigo como irmão, tu és Grande! Com as fotos que me enviaste trouxeste novo ânimo, nova vontade, nova teimosia que nos ultimos dias me abandonou, deixando de acreditar que te voltaria a ver no aeroporto me aguardando.
Nunca que vão conseguir kapiangar a minha alma. Este terra me pertence. Eu pertenço a esta terra, por isso vou ter de quebrar o feitiço, sim porque ficando só comigo o pensamento, cruzes canhoto, chapéu de coco, xiça, penico, batendo na madeira três vezes, não sei porquê em janeiro quando estava para regressar a portugal me ocorreu que nunca mais voltaria e bateu uma angústia profunda. Me chamei de parva, maluca, anormal e não voltei a pensar nisso senão quando anunciaram as medidas duríssimas aplicadas aos funcionários públicos. Confesso que pensei logo: pronto, não volto a Luanda. Depois fui criando fantasias sempre de pé atrás, porque tal e coiso e porque sim e porque não, quem sabe, vou sim, vou não, claro que vou, de costas ou de barriga, não posso deixar de ir porque ali, quer dizer, aqui, é o meu chão, a minha casa... e aqui estou eu adorando imaginar dando a volta à Ilha e depois passar a ponte até chegar à marginal...
Luanda estás Linda!

Best Youth - Hang Out

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

gatices e vizinhança

- Olá vizinha.
- Olá, estás boa?
- Estou. E afasta-se.
Quero abrir a porta cá de baixo , mas não encontro as chaves.
- Não tens chaves para entrar?
- Não mas posso ir buscar à minha mãe, ao café.
Tinha visto a mãe, na mercearia da Rita, onde fôra buscar uma caixa de broas dos Santos para levar à minha prima.
- Deixa que eu procuro.
Ela que já se afastara a caminho do café da mãe, do outro lado da rua, volta atrás e com um ar muito assumido, baixa o tom de voz que usara até ali e pergunta:
- A sua gata anda saída?
Não, respondi intrigada. Porquê? Pobre Pitanga. Saída? Há dois meses que não tem cio, graças a Deus, porque é doloroso assistir ao desespero da pobre bichinha.
E ela dispara:
O meu gato anda aluado.
- Anda? Digo eu ganhando tempo e fôlego para continuar a conversa com uma garota com os seus 10 anos que por acaso é minha vizinha.
Anda, anda muito aluado. Pensei que a sua gata andasse saída. O Black não se pode aturar.
Afastou-se a caminho do café num desencontro com a mãe que está na mercearia da Rita. E eu subi as escadas. Meeeeedo! Muito meeeeedo! Qual será a ligação entre a minha Pitanga " saída " e o aluado Black?
Não quero fazer futurologia, mas esta miúda conseguiu que eu imaginasse uma ligação entre o Black e a Pitanga e francamente não gostei desse tu cá tu lá do Black com a minha Pitanguinha, apadrinhado pela dona.
Apeteceu-me dizer à miúda que fosse devagar com o andor mas ela ficaria a olhar para mim com um ar divertido com que anda sempre e desisti.
Será que tenho que reforçar a vigilância? Ah pois, vale mais prevenir do que remediar. Não vá o gato preto da vizinha do lado trepar paredes, janelas, varandins e fazer uma visita
à Pitanguimha da minha alma.

Amadou & Mariam - Ce n'est pas bon

viva o poeta

Lhe escrevo hoje num despudor atrevido de quem gosta mesmo é de escrever e atirar palavras p'ra quem as apanhar, não de jogar conversa fora, entenda-se, palavra do tipo carapuça, que agora já vai estando em tempo de lhe enfiar do cacimbo que faz nas noites mais longas e frias que o calendário já ajustou com o tempo.
Mas não lhe escrevo só por isso. Há muito que estou para lhe escrever mas não tinha pretexto. Esta mania de querer rimar sem ter a palavra certa vai ter de me passar um dia, porque afinal não sou poeta e apenas versejo no sonho de crescer até chegar no ponto de lhe sorrir assim, acreditando que afinal a rima que lhe dedico faz sentido.
Lhe escrevo hoje porque me disseram para lhe escrever, as vozes que costumo ouvir, que eu gosto de vozes bangosas e kambas que me sopram no ouvido, que nem kianda emergindo das águas cálidas do sul mais a sul que este sul, que até há quem pense que fico com kalundu, não sei se fico, mas lhes oiço e lhes obedeço porque hoje faz sentido. Digo eu, que me tenho remetido no silêncio dos deuses, só porque sim, mas não me fingindo de morta porque a inquietação não deixa ficar parada tempo demais, mas fico só a olhar, a olhar, quieta no meu canto, bebendo versos, saboreando cores e cheiros num banquete onde não faltam amores e desamores, memórias e outras estórias. Sempre nos poemas rimados e por rimar e mesmo naqueles que nunca vão rimar porque me disseram que poesia é assim mesmo. O que precisa é encantar e lhe juro mesmo sangue de cristo, que esses poemas e prosas encantam quem deles se alimenta, se abandona na arte de despir a pele curtida e vestir a alma ávida.
Lhe escrevo hoje porque o dia nasceu rimando no poema que transforma o dia normal em dia prenhe de poesia.
Lhe escrevo hoje só para lhe dizer isso tudo aí.
Viva o poeta.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Expensive Soul - Brilho

Historia de Luanda 2.

prevenindo...



Aprendi que deixar de acreditar é fechar as portas para o mundo.
E a primeira porta que a gente fecha é a do nosso coração.
Por isso, bora lá tu, que ainda acreditas, de pé atrás sempre, para a porta não se fechar...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

acontece...




- Vens muito fresca...

Olhei-a. Um milhão de letras se agruparam para uma resposta curta e grossa.
Olhei-a de novo. Para quê? Merecerá?
Não me exasperei. Apenas senti cansaço. A aumentar o do início de uma manhã atribulada, igual a tantas outras no acordar e no depois, até ali chegar. Diferente na temperatura e estado do ar. Na chuva que iniciou a sua aparição e parece ser como o toyota, num chover no molhado que parece que é pirraça por andar tudo deserto de acabar com o sol, o calor, a praia e verão prolongado, gozando o calendário.
" Vens muito fresca! "...
Estávamos ali num autocarro tão cheio que não cabia mais ninguém. As marretas na fila da frente olhando-me. Olhando-a. A Belita esperando. Quase arrancando-me as palavras da boca que insistia em se manter cerrada.
" Vens muito fresca! "
- Cada um com o seu frio - disse sem expressão. E acrescentei
- Não conseguiria ter esse cachecol no meu pescoço.
Pronto, disse, estava dito. Espetei o meu aguilhão. Ela merecera-as sim. Tinha obrigação de saber que não pode interferir na forma de estar do outro. Cada um com o seu frio. Com a sua roupa. Com a sua pele e o seu estar.
- O cachecol é fino, mas já estou com calor. Disse e riu satisfeita.
Encolhi os ombros. Não vou mudar ninguém. Não vou receber a medalha. Não faço disto um cavalo de batalha.
Mas não tenho dúvidas. Não sou friorenta. Nem fria. Ando é muito cansada e com uma falta de paciência nunca tida antes para certas coisas como meterem-se nas minhas escolhas.
" Vens muito fresca! "...
Ah sim! Fresquíssima. Qual estátua de gelo. Depois de um acordar atribulado, duma correria até ao TUT, a frescura é o que se queira para se enfrentar um dia feio e invernoso. E ainda por cima há dias assim que só me saem é duques nos baralhos de cartas mal baralhadas.

Marisa Monte - Sintomas de Saudade

obrigada sim?

Disseram-me assim:
- Tens a mania de escrever felizmente com " s". Mas não é.
- Não é? eu incrédula.
E não muito convencida fui certificar-me.
Afinal tenho mesmo a mania de escrever felizmente com " s " o que significa uma mania muito do burra, matumba, ignorante, etc, etc, etc...
O que vale é que quem me corrige de vez em quando, sabe mais do que eu.
Tenho a certeza de que daqui para a frente só se estiver muito distraída é que irei dar erro com traço por baixo, a esferográfica encarnada. Como fazia nos ditados às minhas crianças, quando fui uma espécie de professora da terceira classe no colégio onde também me ensinaram a não dar erros.
Ai se a menina Piedade sonhasse!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

LANA DEL REY-VIDEO GAMES

É p'ra mim, p'ra ti para quem o apanhar...




Aprendi que uma ferida na alma não cicatriza enquanto tiver pena de mim própria.
Então, o meu conselho, para quem está ferido é um bora lá puxares dos galões e seres mais tu, numa auto-estima que podes exagerar um pouco, só para compensares.
Como os nossos patrícios angolanos, que as más línguas dizem que sofrem de excesso de auto-estima...
Excesso de vez em quando, xeeeeeé, faz bem. Bué...
E depois tem ainda a frase batida que toda a gente gosta de dizer e acreditar.
" Quando se fecha uma porta, abre-se sempre uma janela ".
E não é que é verdade?
A sabedoria do povo é Deus lhe emprestando o remédio do caminho para a cura. Por isso, eu repito, bora lá exagerares até encontrares o equilíbrio. Alma ferida é que não pode.

no dia da massa

Não. Este blog não passou a ser um blog de culinária. É um blog de uma coisa qualquer. Conforme calha ou estou para aqui virada, mas não é especificamente de culinária.
Afinal que culpa tenho eu que hoje seja o Dia das Massas?
Eles inventam tudo. Nunca tal tinha ouvido. E confesso que quando ouvi na Antena 3 a novidade, me ocorreu massa, muita massa, um euromilhões daqueles chorudos de massa, em terça-feira, dia de sorteio. Mas não. Os locutores não chamam massa a dinheiro, kumbu, cheta, bagalhuço. Pelo menos quando estão no ar. E desmotivei-me. Com a massa, mesmo massa, pasta, ora bem, volto a ter a mesma sensação ao falar de pasta, sim, porque uma pasta para guardar toda a massa era bom. Lá está a mente a cozinhar cifrões, euros, cêntimos...
Mas vamos ao que interessa. Em dia de massa não me parece que a vá comer. Mas fi-la no fim de semana. E vou dar-vos a receita.

Esparguete de Atum ( tipo bolonhesa )
Faz-se um refogado ( azeite, cebola picadinha, alho, louro ) Depois, muita polpa de tomate. E em seguida o atum escorrido ( ou do conservado em água, ou óleo ou azeite; aqui, a " massa " no bolso de cada um é que vai ditar a ordem ) . Depois, azeitonas descascadas. Para quem não se importar de deitar os caroços fora enquanto come ( é uma porcaria e não dá jeito nenhum mas pronto, cada um é pró que nasce e come ) pôe as azeitonas inteiras. Deixa estofar um pouco. Acrescenta oregãos, sal a gosto, gengibre em pó ou da raiz mas ralado, e salsa. E de seguida fica pronto.
Coze-se esparguete ou qualquer outra massa, com sal, água, e uma colher de óleo ou azeite. Escorre-se qaundo pronta e serve-se.
Quem quiser pode acrescentar ao atum, cogumelos, pimento cortado em tirinhas, etc. E pode fazer o estufado com um copo pequeno de vinho branco, a seguir à polpa de tomate.
Sirva-se primeiro da massa, depois do estufado de atum e depois por cima queijo ralado, muito queijo ( digo eu ).
Em tempo de crise, um prato de pasta, com pouca massa, fica económico e porque no poupar é que está o ganho, experimentem. Se não gostarem, não voltam a fazer.
Um bom dia da massa e comam-na se fôr caso disso. Cá p'ra mim, preferia gastá-la...

domingo, 23 de outubro de 2011

bolo

foto tukayana.blogspotO único bolo que sei fazer de olhos fechados, que é como quem diz, do qual sei a receita da frente para trás e de trás para a frente. Bolo de Ouro.
E hoje, assim como quem não quer a coisa, fi-lo para que o comessem enquanto bebessem café.
Querem-na? Aqui vai...
250 g de farinha, de açúcar e de margarina. Raspa de limão. 5 ovos. Batem-se as gemas com o açúcar e depois com a margarina. Por fim a farinha e depois as claras em castelo. Junte-se a raspa de um limão.
Vai ao forno e depois é esperar que o dito arrefeça.

cozinhando tapioca

foto tukayana.blogspotTapioca para todos os gostos. Com canela. Sem canela.

fazendo brioches

foto tukayana.blogspotSabem o que é isto? Não prometo dar algo em troca mas por acaso sabem?
Não vão embora. Prometo não ser chata.
Isto é um brioche. Leram bem. Brioche. É que eu agora faço brioches. Na máquina, evidentemente. Água, farinha para tal e óleo. Umas horitas e já está.
Se engorda? Claro. Bué. Digo eu...
É uma vez sem exemplo, com muita pena minha.
Gosto de ser uma fada do lar. Quantos mais tachos melhor. E forno. E máquinas a funcionar. E desta vez, juntei as crias cá em casa e zás que aqui vai disto que é uma pressa. Ele foi brioche, ele foi bolo Ouro, ele foi tapioca e muito mais. Dia não são dias e apesar da crise, os meus príncipes merecem e eu também.

parabéns

Parabéns, meu bailarino preferido.
Estiveste brilhante. A tocar a perfeição...

elo de ligação

Ontem nós fomos uma

ontem aconteceu

Numa coincidência ( em que não acredito, pois tenho para mim que nada é por acaso ) a cidade, ontem à noite reuniu condições para assistir ao que eu chamo de - O Espetáculo.
Um grupo folclórico ( da região ), músicos do grupo, o maestro que integrava o grupo da coreógrafa e que criou músicas e recriou outras, uma cantadeira demais conhecida de todos nós e que pertence a este lugar e ao grupo folclórico e dois balilarinos de dança contemporânea deram alma ao que a coreógrafa propôs e se propôs, ao longo de cerca de dois meses. Resultou um trabalho fantástico que a cidade merece e quem participou na peça, também.
Porque é um filho da terra (?), se bem que apenas porque cá nasceu e viveu até aos 17 anos, no fim, foi com orgulho e emoção que o " mestre ", homem sobejamente conhecido de todos nós, anunciou ao público que o bailarino ( o meu príncipe ) era um bailarino, filho da terra. Foi por mero acaso do destino (?) que fez parte deste projecto, mas uma coincidência maravilhosa que muito agradou a todos os que sendo da terra, com ele trabalharam.
Ontem voltei a sentir-me em casa. Sentindo o que sempre senti naquele espaço. Quer como público quer como participante. Uma alegria, um prazer imensos de fazer parte deste mundo fantástico que é o das artes. Que afinal, é universal.

ser mãe dum artista


" Não tenho dúvidas nenhumas de que ser mãe dum artista é ser diferente e muito, muito compensador."
Escrevi eu, ontem. Aqui. Mas não é só.
Ser mãe dum artista é para além de tudo vê-lo despojado. Nu. Liberto.
Exposto, frágil, único, solitário, primitivo, compulsivo, espiritual, crente, belo, singular, generoso, poderoso, imortal.
Brilhante. Dotado.
Ser mãe dum artista é um empréstimo. Uma dádiva.
É um lugar que se chama entrega. Escolha. Incondicional.
Afinal, ser mãe dum artista é a busca do sentido e da imortalidade. Do passado, das memórias, da genética.
Porque sou mãe dum artista, sendo essa condição um privilégio que não escolhi, honro-o e agradeço humildemente essa capacidade que me foi dada, ao Criador e à Natureza.
E ao artista...

sábado, 22 de outubro de 2011

votos do coração



És o meu bailarino preferido.
Amo-te a perder de vista num infinito orgulho de ti.
Muita merda, para mais logo à noite, meu príncipe.

ser mãe...

Porque hoje é sábado, estou na cidade do Almonda e sou mãe de um artista, tenho necessidade do blog. Não para meu confidente. Não para publicitar. Mas para partilhar. Tenho para mim que um acontecimento feliz só tem real valor se o partilharmos, como as viagens que fazemos sozinhos, que acabamos a narrar a um amigo, um familiar, alguém, para que sejam perfeitas.
Hoje a minha viagem recua vinte anos. Quando no teatro da cidade, no palco do teatro da cidade, uma criança que eu parira iniciava as suas aulas de dança. Era ali a escola. A única, na cidade.
Foi ali que durante anos e anos diariamente vi evoluir a aprendizagem. Nascer a garra, determinação e prazer nessa forma de arte tão delicada e poderosa.
Naquele palco, com aquelas pessoas, partilhei momentos belos de rara alegria e prazer. Noites cheias de corações enormes em corpos esguios e corações apertadinhos de ansiedade em orgulhos de mãe.
Ser mãe de um artista é ter o coração nas mãos, o sorriso à beira das lágrimas, a cabeça a mais de mil e a boca calada com milhões de palavras bailando nos lábios. Ser mãe de um artista é sofrer por antecipação. É estar na corda bamba com ele. No limite, sempre.
É erguer as mãos em preces e agradecimentos. E palmas.
Ser mãe de um artista não é melhor nem pior. Não é fácil nem difícil.
É diferente.
O que é preciso então para ser mãe de um artista?
Nada de mais. Apenas Amor e Arte. Muito amor e muita arte...
Hoje, mais logo à noite, quando o artista que eu dei à luz, evoluir, na peça que ensaiou, no palco aonde um dia, há vinte anos eu apoiei no desejo de ser bailarino, tenho a certeza que não terei dúvidas de que ser mãe de um artista é ser diferente, e muito, muito compensador.

sinceramente



A TODOS, UM ÓPTIMO SÁBADO.

gatices de dona pitanga







E cheguei ao fim da sessão fotográfica, pois que a modelo reclamou do flash e como é um pouco mais arisca que eu e menos vaidosa também, deu por encerrados os trabalhos.
Ai, como gosto desta gatinha!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

sessão fotográfica de d.pitanga







































Enquanto estou na cozinha, D. Pitanga não se tira de ao pé de mim.
E fica deste jeito nos lugares mais improváveis. Servindo de jarrão, cão polícia, ou dama de companhia. É mais isto.
Ai como eu gosto desta gatinha!

entre pontos e vírgulas e outras pontuações


Se há dias que não nos questionamos, outros há que não só o fazemos como depois não gostamos das respostas. E outros ainda que não temos sequer respostas.
O conjunto de dias entre perguntas e respostas ou falta delas, somam as dúvidas que nos fazem acreditar que nunca teremos certezas. E assim, viver, torna-se uma incógnita tão insegura, que fascina e apaixona pelo desconhecimento do que está para vir, se é que virá.
A grande certeza é que a vida é um grande ponto de interrogação.
Alguém duvida?

divagações XI

O solitário nem sempre cabe na sua dor.

parabéns Constância

Ofereço-te uma flor. Da minha terra. Da terra que fizeste tua e amas como amas tudo. Incondicionalmente.
Que o dia de hoje seja um de muitos para comemorares.
Que a sensibilidade não te falte e a saúde te acompanhe sempre.
Muitos parabéns minha amiga.
Feliz dia de aniversário.
Obrigada por existires na minha vida. És uma amiga de mão cheia que eu quero ter sempre por perto.
Kandandu.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

humilhação

A humilhação é o pior e mais grotesco sentimento que um ser humano pode infringir ao outro.
Digo-o eu. Valendo o que vale, por ser eu a dizê-lo. Mas este é o espaço onde posso dizê-lo, por isso faço-o.
Conheço os sentimentos possíveis, o que o nosso coração e mente, juntos, podem sentir, ou sofrer.
Já sofri a humilhação de uma forma tão dolorosa que me perturba profundamente qualquer humilhação infringida ao outro. Dizem que vem de um estado de inferioridade relativamente ao outro...
Tendo sempre a sentir compaixão pelo humilhado mesmo quando é culpado do motivo (?) que provoca essa violência.
Era muito pequena e assistia à violência feroz com que os gatunos eram tratados por civis e militares ( P.M.) quando apanhados em flagrante delito. E foi uma imagem negra a que me acompanhou ao longo da vida e me fez reagir sempre como hoje o estou a fazer.
Ao ver as imagens medonhas da captura e morte de Kadhafi, senti repugnância e vergonha. Pela falta de dignidade com que o ser humano é tratado. Nunca me imaginei desperdiçando lágrimas por tiranos, mas já não é a primeira vez que acontece.
Hoje lembrei-me de Saddam Hussein.
E lembrei-me ainda de um homem que poderia ter sido o presidente do meu país e que acabou mostrado ao mundo, na maior solidão de todas as solidões. Cheio de moscas, atirado para um buraco. Como um cão sarnoso.
Digam o que disserem, pensem o que quiserem, é destes homens que estou a falar e não daqueles a quem eles provocaram mal e porque e apenas deles, isoladamente do resto, quero falar, digo que não consigo ficar indiferente à História quando é vergonhosa e nos é dada a assistir sem filtros, nua e cruamente. Selvaticamente. E não ficaria bem se não viesse aqui dizer que a humilhação de uma morte sem dignidade não dignifica povo nenhum, país algum, e ou qualquer regime político.
Esta noite, indignei-me, envergonhei-me e entristeci um pouco mais, mais uma vez.
Mas eu...eu sou ninguém!

desabafando no fim de tarde

Chego à mercearia cá do bairro. A Rita está a repôr produtos na arca. Sozinha na loja.
A esta hora não me pareceu normal. Passará a sê-lo, não tenho dúvidas. O pão sobra, o que é claramente, sintoma de falta de clientes. A fruta que fica de uns dias para os outros ( uvas brancas, melão e diospiros daqueles que se comem como as maçãs ), outro evidente sintoma.
- Boa tarde, d. clara. Está melhor ?
- Não, Rita. Mas espere lá, como é que sabe que eu não estou bem?
- Então? Você queixou-se que estava enjoada a outra vez que cá esteve. Ainda não lhe passou? Tem de ir ver isso.
Fiquei sensibilizada. Com a lembrança deste menina. É. Parece idiotice não é? Sem que me dê para ser kalimero, até porque não me adianta nada, todas as vantagens que já tive na vida queixando-me de qualquer coisita, se existiram, são passado. Já não são nada. Zero. Como se não as tivesse tido. Irrita-me que digam a propósito: Não és mas já foste. Não tens mas já tiveste. Isso ninguém te pode tirar.
Eh pá, caraca! Se acabou não existe, se não existe é vazio, um ar que lhe deu, um nada no meio de nada. E porque é assim, cada vez me queixo menos. Até porque se nos queixamos os ouvidos fazem-se de mercador, moucos que até dá vontade de ir com um funil, gritar, melhor berrar, a ver se percebem que uma criatura que se tem a ela própria nem sempre cabe na sua dor.
Deixando-me de tangas, pois que cada um tem aquilo que merece, ( será? ) cá vou cantando e rindo e às vezes suspirando. É nestes suspiros, desabafos e ofertas de broas dos Santos que a Ritinha vende na loja, que eu lhe terei dito que me sentia mal dos interiores e ela não esqueceu. Até porque para além do resto, quer vender. Broas, queijo de Castelo Branco, frutos secos; tudo o que a minha colite adora para me provar que existe, logo reclama. Não falando na vesícula que andava mansinha que nem um leão amestrado, mas está a mostrar-me, rugindo forte, quem manda neste corpinho que precisa de sopas e descanso. E por falar em sopas, entrei na mercearia da Rita para comprar alho francês, nabos, courgetes, cenouras, para fazer uma sopinha. Tudo produtos nacionais, comme il faut. Perguntam vocês, alguns que me conhecem sem ser do virtual: Então só para uma sopinha? Nãnãnãni! Claro que não. Essa não seria eu. Lá chegarei. Àquela que nem olhando nas montras das lojas me reconhecerei.
Apesar de não me queixar a ninguém, quase a ninguém, nem me confessar à maioria, ainda tenho o meu príncipe esta semana, e por isso mimo-o, o mais que posso. E isso passa pela loja da Rita. Ela até já pergunta: Então e o seu filho gostou do queijo? E o seu filho gostou das broas? O seu filho gostou das uvas? É claro que, apesar de me desbroncar toda, para muita coisa sou um túmulo, não parece, mas sou, ( ai se eu falasse como oiço tanta gente falar dos filhos ...eles não me perdoariam, e com razão, pois há direitos que não tenho ), e eu respondo à Rita que sim, o meu filho gosta.
O meu filho está e gosta. E eu estou a adorar ser, de novo, mãe de um filho presente fisicamente.
E apesar de andar mal, como se diria na terra longe, mali, mali, sou uma piegas porque mali ficarei eu daqui por uns dias e isto não é sofrer por antecipação. É ter a certeza de que se a Rita me " oferecer " queijo, broas, e outros, eu não vou querer comprar porque o lar que eu perdi e recuperei neste último mês de uma forma rotineira e maravilhosa, vai virar uma casa demasiado grande. Fria e triste. Apenas com duas gatas pingadas.

Duas gatas pingadas fomos nós, a Rita e eu, neste fim de tarde, na mercearia de bairro. Pior presságio não pode haver para as mercearias tradicionais. Se esta mercearia fecha não sei como me desenrascarei, pois que as grandes superfícies ficam lá longe e eu não tenho como lhes chegar se não fôr à boleia de uns e de outros. Assim como assim, há problemas maiores para resolver. A minha má disposição é um deles. E como sobreviverei para a outra semana. Este mais difícil de resolver. O que vale é que a caçula melhorou da pneumonia e a minha princesa recuperou ( mais ou menos ) do acidente. Uma amiga do peito, dizia-me há umas horas atrás que fizesse uma lista dos problemas e lhes desse prioridades de acordo com a capacidade de os resolver. E fosse resolvendo. É sábia esta amiga e durante os últimos anos foi quem me valeu para que a minha vontade de sobreviver não fosse para o cano.
Vida fácil? E boa? Ah! Sim, sim.
Não a vendo a ninguém porque não há quem tenha dinheiro para ma comprar, mas se querem algo de borla, dou-vos um conselho - não a invejem porque tirando eu, ninguém se entenderia com ela.

quem foi que disse...?

Ao telefone, a informação surgiu como se fosse culpada.
- Não há rampa. Mas entre com o automóvel que eu ou uma colega minha iremos ao seu encontro para que assine, não se preocupe.
- A minha mãe pode então tratar?
- Pode.
Hoje a mãe da utente chegou-se ao balcão. Fez-se luz de imediato. Ainda lembrava o telefonema de ontem ao fim da tarde. A colega tratou do assunto em causa, tomando conhecimento do que se passava. Foi à rua para a assinatura.
No fim, a mãe tentou uma gorjeta. Sem sucesso, claro está. Percebia-se que a senhora estava " grata ".
Há um sentimento de vergonha imenso quando situações destas acontecem. Sim, porque os funcionários públicos também são utentes. E também têm pessoas próximas com deficiência.
É uma imoralidade sem tamanho uma repartição pública não ter acesso a cadeira de rodas e marginalize assim os utentes com deficiência física.
Quem foi que disse que o terceiro mundo mora em África?

gagos? Hoje não, por favor

Gosto de ditados. Acho graça às frases feitas. Mas há ditados e ditados.
Nem o pai morre nem a gente almoça é um dos que é de muito mau gosto. Quanto a mim. Não sou filha de chocadeira e não tenho poder de encaixe para tão sinistro dizer do povo. Mas não há dúvida que não se pode dizer que desta água não beberei.
Quando uma pessoa está com os nervos em franja e apanha com um gago como é que fica? Com brotoeja, capaz de trepar pelas paredes, mandar o gago às urtigas, pentear macacos, dar uma volta ao bilhar grande, ou, no limite, resvalar para o lugar comum e ainda que não tolere pensar que se a criatura não se despacha dá-nos uma coisinha má, que nos tira completamente do sério, daquelas que até a barraca abana, inevitavelmente surge a típica e horrível frase que ouvir um gago quando em dia de ir às lágrimas é qualquer coisa como: nem o pai morre nem a gente almoça. Logo eu que ando cheia de fastio.
Hoje levei com um gago e juro-vos, eu que não tenho nada contra ninguém até prova em contrário e cada um é p'ró que nasce, apeteceu-me comê-lo vivo, numa fatia de pão. ( os gagos que me perdoem mas hoje tenho dentes até às orelhas).
Gagos? Hoje não, por favor.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

chega devagar o outono

foto tukayana.blogspotSopra o vento esta noite
Sopra forte...o vento norte!

Traz a carga do passado
Traz os medos do futuro
Beija a lágrima teimosa
Segreda tristezas que tais
Angústias e outros ais

Leva a brisa da esperança
Leva de mim o bom tempo
Espalham-se folhas pelo chão
Arrefece o meu coração

Chega devagar o outono
Instala-se a nova estação...

m.c.s.

ainda lisboa ao domingo







fotos tukayana.blogspot


Ainda Lisboa...