terça-feira, 26 de janeiro de 2016

vou

Toco a brandura dos dias
Encosto a alma à sua leveza
E reajo às manhãs frias
Rendendo-me a tamanha beleza

Desperto, sorrio e vou...
Dar-me à vida que me abraçou...

m.c.s.

sábado, 23 de janeiro de 2016

estamos juntas

"...qualquer dia alguém edita um livro com os teus lindos poemas!! tu és especial. tenho tantas saudades da nossa infância ! a tua presença faz-nos bem à alma. bjjjj "
Ela é uma amiga de infância muito querida. Deixou este comentário num poema que publiquei há uns dias. E fez-me sorrir logo pela manhã. Grata e pronta para o abraço do tamanho do mundo. E da paz. Porque estes são os comentários que ultrapassam as redes sociais e o virtual. D' alma. Na nossa cara.
Por vezes pergunto-me sobre quem gosta de mim. Quem de mim precisa. A quem faço falta. A quem faço bem só com a minha presença. Baralho-me. Perco-me nessa avaliação, dessas quase certezas. É tudo tão relativo! A dúvida surge quando a auto-estima é nivelada por baixo e nesses momentos, julgo-me, pouco mais que só. E esquecida neste mundo. Deste mundo.
De repente uma Fatinha, da minha infância, diz-me que a minha presença lhe(s ) faz bem à alma. A tal amiga daquelas que cresceram junto de mim, muro com muro, paredes meias, daquelas que estiveram sempre lá. Nas quedas que deram em fracturas; na confecção de roupas para as bonecas, na ida para a escola no primeiro dia ( pela mão dela que já lá andava ). Nas brincadeiras e partidas. Nas cantorias. Na primeira comunhão. Nas histórias de mãe no patim da casa em noites estreladas. No baloiço e no Boby, o cão que ladrava às nossas pernas enquanto nos baloiçávamos no ar. Nos cigarros negritas comprados pela empregada e fumados na casa de banho do quintal. Nas idas à missa das seis, ao domingo. No gozo que nos dava rir e troçar de uns e de outros. No primeiro baton inventado com lápis dos olhos e creme nívea. No perfume comprado avulso na drogaria do pai do Rabeca. Nas idas à Baixa de autocarro. À cidade Alta; à tia Argentina de onde se via a Baía e os Coqueiros, a Ilha e o Cacuaco. 
De onde se via Luanda exuberante e maravihosa. À rua do Casuno ali em frente do parque Heróis de Chaves, a casa da tia Miúda, e dos primos Xila e Márito, que tinha um piano na sala, fascinante piano a que o Márito arrancava notas musicais, quem sabe para nos impressionar. Das idas para a praia, à boleia. Das invenções de preparado dos bronzeadores. Dos lanches na pastelaria Paris. Das conversas de adolescentes. Da primeira compra de óculos de sol. E do perfume na Romy. Das idas às costureiras. 
Da ida às primeiras boutiques da Baixa. Da nossa banga por aquela Luanda fora, meninas em idade de a termos... 
De repente, uma Fatinha da minha infância, lembrando-me o que fomos. Crianças e adolescentes felizes. Lembrando-me que não posso, nunca, permitir que me reduzam a um número apenas e só, de estatística. Porque tive a infância e adolescência mais lindas que foi possível fazer acontecer. Porque cresci ao lado de gente maravilhosa. Que não via os dias passarem. Passava pelos dias empolgada, surpreendida, curiosa e alegre. Gente que fez história. Na minha história de vida. 
Amo-te tudo querida Fatinha. E também eu me sinto tão bem quando estás! Quando estamos. Porque sempre que isso acontece, Estamos Juntas, mesmo. Minha irmã espiritual. 


m.c.s.

a minha rua

Há uma canção velhinha que diz, " Se esta rua se esta rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes,só prá ver, só prá ver meu bem passar..."
Esta rua tão velhinha chamava-se Rua do Saber Andar. Até às bombas da Mobil, tinha asfalto e electricidade. Daí para a frente e até ao Hospital de São Paulo e aos eucaliptos, era de terra batida. Sem candeeiros na rua e luz nas casas. 
Chamaram-lhe Avenida Brasil. Puseram-lhe um " do " e passou a ser Avenida do Brasil. Mais tarde, chamaram-lhe Rua do Brasil. 
Quando eu nasci a minha casa já tinha luz. Os candeeiros já alumiavam a avenida de terra vermelha. Eram troncos em madeira...
Quando fui para a escola ( colégio Nossa Senhora de Fátima a poucos metros da minha segunda casa  onde iniciaram os trabalhos de colocação da conduta da água, a que se seguiu o asfalto. Do muro do colégio, do muro de casa todos os dias ia vendo as manobras dos tractores removendo a terra vermelha. Abrindo buracos. Fechando buracos. Era uma animação para o meu espírito infantil, curioso e sonhador.
Esta é a minha rua. Aquela que me conhece de trás para a frente e da frente para trás. Aquela onde ficou a minha placenta. 
Que assistiu às minhas primeiras palavras, gargalhadas, brincadeiras. Aos meus primeiros passos. Que esteve presente em todos os momentos importantes da minha vida de 20 anos. 
Levou-me à escola. Levou-me para casa. Abraçou-me em momentos de alegria, tristeza, inquietação. Ajudou-me a crescer em liberdade. E a aprender a ser justa.
Ladrilhei-a no pensamento. E deixei que o amor chegasse. Passeei-o pela rua. Vi-o passar...
Esta rua, a única que é minha porque ali nasci, ali vivi e dali parti há 40 anos já me viu regressar. Já se embelezou só para eu passar. 
Quando olho a minha rua, assim, de fotografia, sinto-lhe o chão. O cheiro e o céu. E fica sábado à tarde de novo. O dia da felicidade. Dos papagaios coloridos lançados para cruzarem os céus a competirem com os bandos de pássaros e com os aviões.
Do cheiro do pão acabado de sair dos fornos da padaria Independente. Da cachupa da Dona Arminda. Do bombô a assar junto do bananeiro, um branco velho de cabelo e bigode todos brancos. 
Das mornas e coladeiras cantadas e tocadas no quintal da vizinha. Dos jipes preparados para as caçadas de pacaças e veados dos irmãos Necas e Henrique ( vizinhos ).
Das mangas do meu quintal...
Da mãe, do pai, do avô. Das amigas de infância. 
Esta é a minha rua. Porque é aqui que eu sei que estou no meu chão. Aquela a que chamo minha numa posse que ninguém ma conferiu mas da qual não abro mão. Só se for para a abraçar de novo. 

pensamentando-me

A essência da vida encontra-se nos pormenores; por isso, destacáveis de felicidade.

m.c.s.

uma mulher como eu

Uma mulher como eu, reforma-se. Mas não se conforma. Vive o que lhe falta viver. A liberdade de ser, estar e querer. Poder.
Uma mulher como eu não anda sem relógio, mas não quer saber das horas. Nem tem horas para nada. 
A casa é o seu abrigo mas é fora dela que se anima. E protege. Do ócio e das horas errantes e esquecidas.
Uma mulher como eu não gosta de dar justificações, mas dá, por jeito de ser. Voluntariamente. E respeita. E coloca-se no lugar do outro.
Uma mulher como eu, passa pelos dias. E quando não passa e deixa que os dias passem por ela, é infeliz.
E procura que a vida saiba a muito, no pouco que ela lhe oferece. 
Uma mulher como eu, é pessoa. Cidadã. Mãe, família e amiga. Mulher. Ama e quer ser amada. 
Sonha e concretiza. Confia. Surpreende-se. E quando isso não acontece, desespera.
Uma mulher como eu tem mente elástica. Não complica. Desconstrói. Se for caso disso. 
Perdoa. Não esquece. É enganada. E sofre. Comete o erro várias vezes na esperança de ser diferente. 
Uma mulher como eu não é xenófoba, homofóbica, nem tradicional. Ou clássica. Não é preconceituosa nem antiga.
Da coragem conhece as atitudes e os medos. Caminha sobre eles na certeza de que é preciso ganhar caminho.
Uma mulher como eu é solitária mas não sozinha. Contorna a solidão e ri-se da situação. Divide os dias, multiplicando prazeres. Lê, ouve música. Passeia-se. Deixa que a passeiem. 
Vai ao cinema. Ao teatro. À revista. Aos festivais de música. Aos espetáculos de dança. Às igrejas. Aos museus. 
Vai ver o mar todo o ano. Vai à praia no Verão. Viaja. Quando pode. E gosta de conversar. De gargalhar. 
Uma mulher como eu, trabalha. Em casa. Cozinha, lava e limpa. Arruma. Faz tricot. Vê televisão. Passeia-se pela internet.
Uma mulher como eu, tem marido, namorado, amigo colorido. Ou já desistiu de ser par. E quer ser eternamente só. Sem plural, quaisquer dúvidas, adiamentos ou reticências. 
Uma mulher como eu, conhece o significado das coisas. Olha nos olhos. E usa a palavra. 
É mulher de pontos. Sem nós. Finais.
Uma mulher como eu, escolhe.
O que me falta para ser uma mulher como eu? É que falta...

m.c.s.

subvenção vitalícia

Subvenção vitalícia? NÃO, Senhores.
P' ra mim, um direito só para os filhos. Convertido pelas mães em subsídio de Amor. Eterno. 
E não há Tribunal que se meta nisso. É coisa de placenta.

m.c.s.

quadra

...e se a lucidez me deixasse agora
Uma coisa lamentava
Endoidar sem viver a hora
De dizer-te o quanto te amava...

m.c.s.

rima

 Se um só beijo me desses
A minha vida te daria
se a quisesses...
Se a minha vida, tu negasses
Tudo no mundo faria
Só p' ra que me beijasses...

m.c.s.
m.c.s.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

pensamento

Levaste o meu olhar;
e eu, cega, não tive olhos para mais ninguém.
m.c.s.

pensamento do dia

...se uma mulher se deita princesa ( de conto de fadas ) e acorda ao lado do seu amor, tratada como rainha,( da vida real ), não mais esquecerá, nem quererá abrir mão dessa condição.

m.c.s.

confissão

Ser feliz é, ser cúmplice do tempo
Dizer sim ao momento
eternizar o abraço, 
oferecer o beijo,
sorrir à ideia,
agarrar o caminho,
que te aproxima de mim
Ser feliz é, não negar o carinho
Não esconder-me em segredos 
Não desfazer os laços
Dizer não aos medos 
Acreditar-me (te) nos passos
Que me levam, a ti... 
Ser feliz é, confessar
Neste ano, nesta hora, 
neste princípio de dia
Agora...
A minha alegria
Da vida, transportar
o amor semear
para o poema crescer
E o sonho, renascer...
Ser feliz é recomeçar
Ser feliz é ( te ) amar...

m.c.s.

perdidos e achados

Se pertencemos a um lugar, não custa voltar; 
nem custa ficar. 
O que custa é partir. 
O que custa é fugir para outro lugar.
Digo eu, a pensar nas vezes que ando à deriva;
sem rumo nem roque. Comigo a reboque.
Desencontrada do tempo. 
Sonâmbula aparente. 
Apátrida no sentimento. 
Emigrante de mim.
Alma errante, sem cura, doente.
E esteja onde estiver, em busca constante...
Ao encontro do meu chão. 
Do meu céu. 
Do meu mar.
Do meu eu...
Se pertencemos a um lugar, tudo lá se tem de seu.
Pode faltar o tino. Mas nunca o coração se perdeu.

m.c.s.

digo eu...

AMOR VERDADEIRO - O pleonasmo supremo. 
O menor erro também. 
Porque nunca é demais, nem errado, repetir, sublinhar, enfatizar, o Amor.

m.c.s.

cavalos de fogo

Vejo-te chegando, tal qual o inverno. 
Com a atitude. Desta estação.
Sentas-te. Ao meu lado.
Adivinhando os meus sonhos.
Entrando neles. 
Fantasiando-os.
Não sei se os queres. Te fazem falta, ou, os vais segurar nas mãos livres, para livre ser eu, de os sonhar.
A mim, basta sentir na sombra que fazes, a luz, que me tornará menos só de ti. 
Sonhando mulembas com raízes gigantes. Aéreas.
O meu baloiço. A dar balanço para voar. E continuar a sonhar cavalos de fogo...
E velhos do saco... 
E sereias do bairro indígena. A kianda...
Um mundo de ti por descobrir...
O abraço que me há-de impedir de partir...
Hoje sonhei-te. E te senti perto, mais perto que alguma vez estiveste. E gostei. Desse p' ra sempre que durou um sonho meu, na madrugada. 
Desta estação, onde te espero. E onde não sei fazer nada melhor do que te sonhar, ver-te chegar...

m.c.s.

andiamo, nem que seja ao pé cochinho

Um troley. Dois sacos. Um computador. Uma estação. Chuva miúda. Um comboio. Jovens de regresso a Lisboa para recomeçarem os estudos. Domingo invernoso. Início do ano.
Um vesícula aos ais. Zangada. Escoicinhando. Sem delicadeza nem licença. Dores nas costas. Partida...
Uma viagem interminável. Gente dormindo. Na net. Auscultadores. Música. Oriente. Gente chegando. Gente partindo. A noite anunciada. A chuva continuada.
Metro. Linha vermelha. Linha amarela. Mudança. Senhor Roubado. 
Um troley. Dois sacos. Um computador. A estação. Final. Duas horas e tal depois...
Taxis, nem vê-los. A rua deserta. Chuva. Mais da mesma. Chapéu de chuva. Dificuldade. Cansaço. Sem idade para estas tropelias. Sem energia. Na mente a minha alegre casinha. A minha querida gatinha. O meu querido sofá. 
No coração, a saudade. E a memória destes quatro dias. Que já são passado.
Voltei. Ao lugar de sempre. À minha casa.
Deixei o lugar onde regresso quando preciso de um abraço. D' um espelho. D' um mimo. De alguém igual a mim. De horas de conversa que não tenho com mais ninguém. Sem qualquer espécie de filtro, defesa, protecção ou preconceito. E julgamento.
Foram uns dias diferentes. Bons. Para repetir sempre que a caçula me lá quiser. E o Paulo assinar por baixo.
Agora, andiamo - nem que seja ao pé coxinho - que o ano acabou de começar. E temos um jogo do Benfica para vermos todos juntos. No estádio da Luz. Um dia destes. E por aí adiante...

m.c.s.

errante ser

Errante, tornou-me a vida. 
E suas ( minhas ) escolhas.
De vez em quando acho-me.
E é a Natureza e o Amor que me emocionam. 
Em momentos de verdade. E mediunidade.
Frente a frente com os meus eus, vislumbro caminhos que nunca me perderão de mim. Que me perderão em ti.
Errante ser, escolho ser. 
Só para me perder na natureza desse amor e seguir o caminho p' ra te encontrar, todas as vezes que te perder...

m.c.s.