terça-feira, 24 de novembro de 2009

Pitanga IX

Juro que sou normal, e que a minha vida segue na normalidade. Por vezes há uns desvios, mas normais também.
Esta manhã, como sempre o despertador tocou às 6,45 horas.A Pitanga saltou para cima de mim.Pôe-se ao nível do peito, com as patas quase na minha cara, esperando miminhos. Que eu dou, ainda meio a dormir. Falo com ela e parece que me ouve e percebe o que lhe digo.
Depois do meu banho, percebi que esperava por mim no tapete. Meti-me com ela e ela muito calma.Estranhei.
Vesti calças jeans estreitas para dentro das botas vermelhas sem salto, botinha de fugir à polícia, ou seja, correr atrás do autocarro, mas pronto, camisola de gola alta, bem grande, daquelas golas que eu gosto e que servem para, além de tornarem as pessoas mais bonitas, taparem as desgraças, ou seja, arranhadelas de gatos, e portanto impedirem " bocas " de gente maliciosa, que nunca teve nem terá arranhadelas, de gatos ou outras. Por último, agarrei num colete preto de lã quase até aos pés, para vestir por cima disto tudo. Eis senão quando, percebi que tinha brinde. Agarrada ao colete vinha a D.Pitanguinha, feliz e contente, com ar de travessa, gozando com a minha cara.Ralhei que me desunhei e ganhei uma malha enorme puxada pelas unhas maiores ainda da querida gatinha que de querida, por vezes tem muito pouco.Pelo menos sentido de oportunidade, não tem, pois provocou mudança de planos na minha manhã. Fui à procura de uma agulha de puxar malhas, ao baú das lãs, de um tempo em que era prendada e fazia cachecóis e camisolas, de uma forma compulsiva.
Não ajustei contas com a minha gatinha má porque estava a ficar tarde e porque, se seguisse o conselho de quem conhece os gatos, deveria castigá-la e não lhe dar a latinha que ela tanto gosta, de um paté de salmão que deve ser saboroso e até já me deu vontade de provar e ela não me deixaria sair de casa.Porque todos os dias faço a mesma manobra. Antes de sair, abro a lata e como ela gosta mais do seu conteúdo do que de mim, embora olhe para trás a ver-me sair, continua a comer gulosamente.E eu saio a salvo.
Cheguei ao terminal da Rodoviária às 8,20 horas e o meu motorista já lá não estava mais aquelas vinte e tal criaturas, que todos os dias me fazem companhia.Nem a bota vermelha, manhosa, me facilitou.
Amaldiçoei a Pitanga e a minha vida. Lá teria que incomodar o meu irmão.
E fi-lo. Como sempre, ele atendeu o meu apelo. Enquanto esperava por ele, uma senhora velhota, aproximou-se de mim e disse: Oh MENINA, o TUT para o Hospital onde é que se apanha?
Ilucidei a senhora, a rica, cega e bondosa senhora.Apeteceu-me agarrá-la ao colo, rodopiar com ela, como se estivesse num salão de festas e à moda das aldeias, dançar, dançar alegremente.
Agradeci à Pitanga, mentalmente, o meu atraso.
A MENINA,ganhou o dia. Esta velhota, vinda do nada e o meu irmão, foram anjos que me pegaram ao colo, logo pela manhã.
Pensando bem, devo estar muito bem com Deus e com os céus.
Vou fazer por merecer esse apreço, pelo menos hoje...

4 comentários:

Ângela disse...

Gosto muito da forma como contas as tuas histórias.

maria disse...

Escreve um livro sobre a Pitanga.As histórias simples, transformam-se em contos com um andamento, que só tu.Bjos

P L. disse...

Para a menina da gola alta.

Um cão alguém disse,é prosa
Um gato é um poema.

cs disse...

na próxima encarnação kero continuar a ser tua amiga, mas POR FAVOR PASSA-ME O DOM DE ESCREVER LINDO, DE COLOCAR NO PAPEL DE FORMA SIMPLES E BONITA OS SENTIMENTOS, AS PEKENAS E SIMPLES COISAS DA VIDA, como TU FAZES

jinhos