sábado, 30 de junho de 2012

pela boca morre o peixe



Recebi uma mensagem que dizia mais ou menos assim: Dia 2 de Julho pelas 12 horas tem consulta na clínica dentária bla bla bla...
O bla bla bla fica mesmo em frente ao meu local de trabalho, do outro lado da rua, mas, quando a atravesso já vou como cão a roer ferro. Arrasto-me como se levasse uma bola de ferro presa a um pé. Não. Não estou mal dos pés. Ou estou, mas isso dará direito a outra mensagem, essa de neurocirurgia. Para além da perna direita encurtiçada, agora estava-me a fazer falta ser um verdadeiro sobreiro. Esta coisa de nos adormecer o pé dá um arrepio na espinha se pensamos que tivemos uma trombose e não demos por nada. A minha espinha arrepia-se com pouco mas é o medo.
Boca ao lado? Já vou tendo a cada vez que faço um esgar de escárnio.  Mente confusa? Isso já não é sintoma, nem defeito, é feitio e estou habituada. Braço esquerdo mexe bem? Mexe demais. Pareço polícia sinaleiro no alto do seu pequeno palco do poder em dia de semáforo avariado.
Então a que se deve esta dormência, macaca de emitação da outra que já habita em mim há muito anos e com a qual fiz um pacto - eu não me incomodo que aí estejas mas tu vê se não me causas muitos sarilhos e me deixas viver a minha vidinha sem pressas nem medos da marquesa e dos senhores da bata verde?
De facto o peso não é amigo. Elas andam aí, as cabras das hérnias. E arreganham-se todas quando eu mijo fora do penico, perdoem-me mas é mesmo isso e não sei dizê-lo doutro jeito, neste meu jeito de me resvalar a língua e o pensamento para o vulgar. Vulgar quer dizer normal, aprendi eu. E o normal neste país é dizermos e fazermos asneiras, uma atrás de outras, sem qualquer filtro  ou remorso, pudor ou arrependimento. 
O peso não é amigo, dizia eu e eu estou um tractor. Daqui a uma semana começo a minha dieta. Sorriram? Bem sei que ninguém me leva a sério e que isto de adiar por uma semana parece tanga, mas não é. D' hoje a uma semana, meus amigos, estou de férias, por quase um mês. Sim, tenho muitas férias. 30 dias. Isto quer dizer o quê? Idade. Anos de serviço. Direitos. Não posso falar muito alto senão desperto os invejosos, larápios de sonhos e roubam-me os direitos de sonhar, sim porque deveres nunca mos roubaram. Eu gosto de ir ver o mar mas nunca disse que gosto de ficar a ver navios. 
Prometo que quando voltar ao trabalho estou mais magrinha. Ahahahahahahah, mais magrinha...menos espaçosa era o que queria dizer. Eu consigo. Se meter isso na cabeça, eu consigo. À semelhança de outras coisas bem mais penosas que estão cá e o dano que me causam só eu o sei.
Mas, afinal, tudo isto para dizer que fui ao dentista e voltarei 2ª feira. Apesar de matar à dentada as minhas hérnias, precisei de ir e preciso voltar e repito, vou como cão a roer ferro. Muito mas muito contrariada. É que não gosto de ficar à mercê de uma bata branca. Tenho sempre medo delas, de tal jeito que no limite, até faço a tensão da bata branca, para o que me havia de dar, e tenho pavor, de gelar qual bloco de gelo, daqueles aparelhómetros podres de simpáticos ( ? ) que nos gritam aos ouvidos e nos fazem sentir uns desgraçadinhos tristes e desamparados. Conformados e sonâmbulos. Na forca. Não. Não gosto de  ficar-lhes nas mãos.
Nos últimos anos, tenho sido saudavelzinha. É que não posso ficar doente. E o que tem de ser tem muita força. Se calhar por isso é que de tanto roer ferro preciso ir ao dentista, de tanto fazer força o meu esqueleto manifesta-se. O que sei é que não tenho visitado gabinetes, consultórios, centros de saúde, hospitais e sou muito feliz assim. Apavora-me a ideia de fazer exames, de os mostrar e morrer de medo dos resultados. Odeio tomar medicamentos e ficar-lhes dependente. Apavora-me a ideia de doença eu que já fui uma doentinha militante que achava que sucumbiria se não tivesse o " meu " médico à mão de semear. Ao pé da porta. À distância de um telefonema, a separar-nos uma funcionária que dizia muitas vezes às duas da manhã, quando estava morta de cansaço e sono e esganada de fome - dona clara, o doutor vai vê-la, logo que a doente que lá está dentro, saia . E só com isso eu já melhorava quase tudo.
Nós os doentes dizemos com uma propriedade doentia " o meu médico " mas são eles que nos tomam conta da vidinha, decidem por nós e o pior é que gostamos. Sorrimos pateticamente para eles como se fossem nossos donos, nossos pais, nosso deus, nosso tudo. Pudera! O último com quem privei mais demoradamente não me apanhou nas curvas do caminho porque não quis percorrer esse caminho comigo, estou a falar do psiquiatra que olhava o computador e nem sequer me punha a vista em cima. Médico que não olha dentro dos nossos olhos, ou que não finge que olha, não me inspira e por isso sem qualquer remorso menti-lhe. E ainda hoje não me arrependo, eu que odeio a mentira e não sou mentirosa. Qual desmame qual carapuça, se nem sequer tinha tomado os medicamentos...a minha amiga Manuela foi a psiquiatra, a psicóloga, a mãe, a amiga, a minha sombra, a minha polícia, o meu chão e foi ela que me ajudou à cura de dor de corno que era o que eu tinha, recusando-me a viver por me achar mutilada.
Mutilada acabo eu se não levo isto das hérnias a sério. 
E pela boca morre o peixe. Da boca vou eu tratar segunda-feira. Mas repito, pareço uma condenada que vai arder na fogueira. E os bruxos são eles. Não eu, que estou inocente.

o dia tal...



Hoje é uma data que ano após ano,  nunca me passa. Dou sempre por ela. 
Fazem anos as minhas amigas de infância Ana Maria Rocha e Mena Lima.
A mãe Eduarda, mãe da minha kamba Milú, São, Mimi, Zézé e Dinho hoje faria aniversário também, se não tivesse partido para sempre.
E ainda outro acontecimento que quem é meu kamba sabe. Mas que me reservo o direito de fazer segredo se bem que não goste deles, os segredos. Não é por mim que não revelo, evidentemente, já estou na fase da vida que sou um livro aberto.
Dia com cruz assinalada no meu destino com acontecimentos de alta importância. 
Não é à toa que o 29 é importantíssimo no meu mapa...astral. 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

fotografando



fotos tukayana.blogspot

pitangando neste verão quente

foto tukayana.blogpot
Ela anda toda espapassada do calor. Ela não quer comer, mesmo as suas latinhas gourmet. Não brinca e   quer distância de mim.
Se acordo de noite, quando acordo de noite, dou com ela deitada na minha cama, toda esticada mas nada de encostos nem confianças. Esta noite fiz-lhe como fazia às minhas crias quando eram pequenas, que espiava os seus respirares para ter a certeza que estavam vivas e acabei a rir do ridículo (?) da situação.
Quando aparece na sala e me olha com o seu olho azulão celeste, bato com a mão esquerda no sofá e alterando a voz num mimo que conhece bem, chamo-a: Vem meu amor, nananinha querida, anda ao colinho, minha linda, e ela não hesita e sobe o sofá a correr e a saltar. E trepa por mim acima. E fosse inverno, ficava instaladíssima, perturbando a minha escrita. Agora não. É sol de pouca dura. A bicha tem calor.
Quando a gente ama a gente cuida, este é um lugar comum de muita sapiência.
Ando preocupada com Dona Pitanga. O calor tem um efeito nefasto nela e transforma-se encarnando a personagem de gato vadio.
Porque está deste jeito, fiz um périplo pelas grandes surperfícies da zona. Primeiro foi o Intermarché de Alcanena. Depois o Modelo de T. Novas e por fim, exausta e também eu cheia de calor, o Pingo Doce. Não entreguei os pontos mas juro que quase excomunguei esta gata manienta que só come o que ela escolhe e não adianta dizerem-me que devo deixar-lhe  a comida e ela se quiser comer coma se não 
quiser não coma. O que é que é isso? Sou lá capaz de imaginar a dona Pitanga esfomeada e odiando o que tem no prato. E porque está muito quente, a comida deteriora-se e ganha mosquitos e cheira mal e tudo e tudo, Deus me livre. Encontrei as latinhas que apesar de caras ainda são as únicas que ela gosta e mesmo assim nos últimos dias mal lhes tocou. Faço filmes horríveis com ela. Estou no tribunal e imagino-a a passar mal. E quando chego à minha porta e não a oiço o coração começa a  cavalgar e não evito grosseiramente concluir para com os meus botões - estás lixada maria clara. Essa gata dá-te cabo do canastro. E dá. Dá mesmo. 
Não daria um único passo para  comprar comida para mim. Por ela ando sempre a caminho do supermercado e depois vai de pedir ao mano Zé, à Lara ou à Ana que me levem para baixo, porque quem me conhece e conhece a minha casa sabe que moro longe de qualquer das grandes superfícies. Sempre que ando de TUT o motivo é a dona Pitanga e sua alimentação, mas não me importo. Quer dizer, importo-me só um bocadinho.
Enfim, estamos nisto. Dona Pitanga e eu. O calor e dona Pitanga.
Neste momento a ventoinha gira no máximo, que não há cá gente rica e como tal não há ar condicionado, e a minha gatinha instalou-se no sofá em frente à dita cuja e recebe o vento fresco. Consoladinha da silva.  

quinta-feira, 28 de junho de 2012

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Força Portugal!


Dou comigo a pensar que me falta o orgulho de ser português. E também a felicidade dos que acreditam.
BOA SORTE PORTUGAL!
( Embora também tenha costela espanhola, vou torcer pela Selecção Tuga, ora pois então, são as meias finais! )

SIC NOTICIAS - DIA SEGUINTE 25-06-2012

segunda-feira, 25 de junho de 2012

os cabeçudos

foto tukayana.blogspot
Saia plissada. Blusa branca. Chinelo de meter no dedo. Dourado. 
Eu. De cabelo pelo pescoço, franja curta. No meio da testa.
Eu sozinha no passeio da loja do sô Santos. Entre a baixa e o muceque. 
Se olho na esquerda, já estou descendo a avenida até à mutamba. Sempre a direito que não tem nada que enganar. Lhe conheço quase de olhos fechados. Cada vez que o avô Carvalho  vai nos Correios, ver a caixa postal, todo o domingo de manhã, eu vou com ele. Sempre a direito que até parece que a carrinha azul anda sozinha.
Se olho na direita, não invento caminho. Só lhe conheço até ao hospital de s. paulo. Até aos eucaliptos. Acaba o asfalto ali. Depois...é preciso acrescentar terra, casas, árvores, autocarro e pessoas para morarem lá. Nunca me dizem, quer dizer, nunca escutei qual é o bairro que fica depois de acabar o asfalto. Mas sei que há. A Lucrécia todo o dia vem de lá e vai para lá, no pé dela.
Sozinha no passeio da loja, viro-me para a esquerda. Eu gosto da posição. É mais fácil. Sou canhota. O que eu não gosto mesmo é do que adivinho que vai acontecer.
Diz que é carnaval. E que vem lá o cortejo de mascarados, banda de música, tambores, clarinetes, trompetes. E...cabeçudos.
Se franzir a testa que até a franja desce nas sobrancelhas e fizer força nos olhos, já lhes vejo esses gigantes de papelão e massa, parece engoliram um garfo, gigante também.
Os cabeçudos! Tem um jeito de andar, de mexer a cabeça, de marchar e de  se apresentar nas roupas compridas e coloridas que não fora morrer de medo deles e lhes batia palmas e lhes dava as boas vindas. E lhes queria sempre ali desfilando na avenida.
Mas não. Eu tenho medo, muito medo dos cabeçudos. Se não quero comer a sopa e me disserem que veem aí eu como tudo. Se não quero fazer o trabalho da escola, experimenta só falar de cabeçudos e já estou a abrir o caderno para fazer aquela conta de multiplicar  que mete tabuada dos nove. Ou se estou a escutar a conversa dos mais velhos. Ou se ando a correr à volta da mesa e do mano Zé, ou se estou em cima do muro empoleirada e agarrada nas folhas da mandioqueira, ou se estou apenas a olhar o fim da avenida até ao Zé Pirão e os cabeçudos veem lá, eu fujo para a casa de banho e tapo os ouvidos com as mãos até eles passarem. Até o carnaval acabar.
Há algo em mim que se me escapa. Há algo nesse medo que me faz fugir que eu queria ter percebido e vencido. Os cabeçudos mereciam palmas. Quando a arte sai à rua o nosso espírito enriquece e agradece. Quanto mais rico mais livre.
Acho já perdi o medo dos cabeçudos do carnaval...

Fim de tarde


Fim de tarde


Olho o mar
No fim da tarde
Sou o centro
Mudando o mundo
Sou sonho
No mais profundo
De mim...
Olho o mar
E vejo sul
E oiço o norte
E sinto-lhe  a brisa na voz
Desenhando-me o poente
Sou a rosa dos ventos
Será verdade?!
Estarei demente?!
Olho o mar
E não estamos sós
Eu não sou só
Nesta vontade de sorrir
Nesta vontade de florir
Sopra o vento
Meu alento
Meu desejo de navegar
Traz-me o mar
No fim da tarde
Dá-me tempo...


m.c.s.

sábado, 23 de junho de 2012

delicioso

QUEREM RIR?
Então leiam isto que é uma delícia e ouvi na praia.



Hoje no Tamariz, enquanto apanhava sol e relaxava na toalha, 3 miúdos de cerca de 10, 12 anos, brincavam. A mãe de um deles veio chamá-lo e ficaram apenas dois.
Ouvi isto que me pareceu muito bom, fez-me rir e desconstruir toda uma conversa que tinha tido com quem me acompanhava acerca dos " tios " da linha enquanto comia uma sardinhada ao almoço, numa das esplanadas da praia.
Um para o outro depois do companheiro de brincadeiras os deixar:

- Vamos brincar nós?
- Só nós, não. Com o Luís.
- Com o Luís não. É um betinho.
- É MELHOR QUE NADA!



Lololololololol! Muito boa. Valeu, putos da praia do Tamariz. ;)))

poema


Poema

Lentamente
Passo a passo
Caminho
No silêncio das palavras
O que escrevo não é nada
Só o eco do meu sentir
Espalhando
Transbordando
No seu caudal
Rio meu
Margem nua
Corrente visceral
Por um pouco
Muito pouco
O teu sentir será meu
E eu...tua
Minha sina
De menina
Lentamente
Passo a passo
Ao encontro da foz
Mar da minha voz
No silêncio te abraço
As palavras entrelaço
Para te oferecer o poema
Rio teu
Margem nua
Sol e lua
Por pouco
Muito pouco
Serás meu
Serei tua...

m.c.s.

é karma, só pode


Ontem foi dia de são carro de praça que era assim que o sô santos e todos os da época dele diziam.Não. Não enriquei de repente. Não. Ainda não foi desta vez que o euromilhões me brindou. Quer dizer, não sei, porque sou boa a jogar mas sou péssima para confirmar suposta e improvável riqueza. Se calhar porque já sou rica em tanta coisa que não ponho grande fé em fortunas feitas de papel do banco de portugal. Se agora quisesse, estas notas, este banco de portugal, tinham pano para mangas, mas não me apetece começar a manhã a desconversar. 
Volto então ao ponto de partida, que foi ontem ao chegar a Sete Rios. Estamos na semana do ordenado e apesar de não ter recebido o subsídio de férias a que tenho direito, não deixo de me sentir feliz  nestes dias mais próximos. Dias que me dão a ilusão de que posso fazer coisas que gosto e mereço. Isto é água de pouca dura, até que as minhas contas maiores estejam pagas, por isso, dura pouquinho. Mas enquanto dura, sou feliz. 
E aí vai disto. Porque cheguei pesada que nem uma burra e a minha hérnia todo o dia de ontem latiu que nem uma cadela raivosa, entendi por bem apanhar um taxi. Há qualquer coisa estranha entre mim e os taxis. Entre mim e os taxistas. Que provoca já comentários entre os amigos, que também se dão conta disso. Jocosos. Maliciosos. A dar para o humilhante. É que tenho a língua comprida e dou com ela nos dentes, ou é esta necessidade de falar. De mim, do que me acontece, do que o universo me apresenta. De tudo e de nada. E nesses nadas por vezes materializam-se carros de praça, e que solicito, que ali esperam pacientemente que chova. 
Ontem não foi diferente d'outras vezes. Não é proibido falar - deve estar escrito na minha testa tapada pela franja que as crias embirram que devia deixar crescer e eu teimo que é ela que me rende a tal conversa que acabei tendo com os taxistas de ontem. Sim porque foram dois. Sim porque ambos me teceram elogios que já mereciam um babete. 
E estou eu aqui a perder tempo com elogios que taxistas fazem a quem transportam e lhes vai pagar.Mas é assim, há quem fale muito mal de taxistas. Eu não tenho razão de queixa. Só tive um episódio assustador mas também eu andava nervosa com a minha primeira ida a Luanda após 33 anos de ausência e não soube parar a tempo de perceber que o homem estava enervadíssimo, vai-se lá saber porquê, enervadíssimo é favor, louco varrido, espumando, e eu e a minha cria levámos com a sua loucura, acho que foi a única vez na vidinha que tive medo de estar à mercê de um taxista. E cá para nós, até acho, quase 4 anos depois, que ontem esse mesmo homem me transportou até ao Rossio, não sei mas foi só uma suspeita minha. Também este enervadinho mas perfeitamente controlado. 
Mas, voltando à partida, o senhor taxista de Sete Rios, começou por dizer:
- Então lá vamos nós para o Olival Basto. Bairro simpático...
Eh pá, podia ficar silenciosa, mas não me apeteceu. Estava mesmo a merecer resposta. Ele queria resposta e aí vai.
- Bairro não. Já não pertence a Lisboa, A ver se ele ao chegar às bombas de gasolina não muda o tarifário. Ó se muda! E continuei. Pertence a Odivelas. Quem me dera que ainda fosse Lisboa, pagava menos.
E a nossa conversa começou aqui e acabou à porta da minha casa. 
- Mas a menina só paga cerca de um km no outro tarifário. Sei lá, mais uns 50 cêntimos. 
- Mas quando quero vir para Lisboa pago imenso.
E pronto, o senhor que me tratou por menina 3 ricas vezes na viagem, explicou-me como devo fazer para pagar menos que não é senão pedir taxi a Lisboa. Já outros me aconselharam isso. 
À tarde, atrasada que estava para o lançamento do livro da Sónia resolvi chamar um taxi a Lisboa pelo número que gentilmente me deu, ressalvando que estava à vontade porque não pertencia a nenhuma central de taxis mas sabia de cor o número em questão.
A minha conversa com a telefonista da central correu mal. A senhora começou por me dizer que pedisse a Odivelas,  que era da minha área. Depois de me fazer entender com todas as letras, dizendo-lhe que parecia estar incomodada com o meu pedido e com a minha bolsa, dados os argumentos da senhora que parecia estar a trabalhar para o inimigo, lá desistiu. A senhora repetia que eu começava a pagar logo que o taxi se deslocasse para o serviço.  Mostrei-lhe que sabia que era obrigação dela contactar com o taxi mais próximo do lugar onde me encontrava e pronto, contrariada lá me disse que não demorava e era o taxi 16. Pediu-me o nome e a morada e pela primeira vez dei o meu nome. Ainda fui comprar o euromilhões ao antipático da papelaria em frente à minha casa e dali a uns minutos tinha o taxista fazendo sinal com os dedos em telefone. Era o 16 e eu entrei.
Começou ali outra saga.
- Chama-se? 
- Maria Clara Marques.
- Marques? 
 Perdão, maria clara santos. Apesar de ser também marques. 
Este é o conflito que tenho com o meu nome e a legalidade. Se tenho de o dizer de acordo com o BI, sai-me Marques em vez de Santos, porque de facto assim é. Na vida, sou só maria clara santos. Há 5 anos que sou só e basta, maria clara santos e com muita propriedade o digo, mas o taxista não tem de saber  isto, claro.
E o senhor continuou: Mil perdões se não cheguei mais depressa, estava na calçada de carriche e vim assim que pude.
Dali à telefonista foi um ai. Dali a exaltar-se porque devia participar da senhora que me  aconselhou a usar outra central, outro ai. E quando me passou a tratar por - maria clara, estávamos no terceiro ai.
Para além de que parecia ter engolido uma enciclopédia, o google mesmo, de tão rápido e tão caro falava, coisa que me enervou.
Da menina da manhã passei a maria clara isto, maria clara aquilo, mas o pior foi quando me perguntou se usava táxi muita vezes durante a semana, onde trabalhava e se na volta ia precisar dos serviços dele.
Eh pá, aguenta aí os cavais. maria clara, tudo bem, deram-lhe o meu nome e a criatura gostou de o usar nessa coisa de ficar mais familiar o contacto entre o prestador de serviços e aquele que os recebe, Quem sou eu para lhe dizer para medir distâncias, a mãezinha dele é que tinha de lhe ter ensinado isso, mas da minha rica vidinha sei eu e desabafos tenho-os com quem escolho ter e ainda assim, olhe lá...
- Não, não ando de taxi durante a semana. Não trabalho perto. Quando me reformar, logo se vê.
Olhou-me através do retrovisor e disse:
- A Maria Clara vai desculpar-me, mas não tem idade para a reforma. Pronto. Apeteceu-me dizer-lhe que não, sou uma menina. tenho lá idade para me reformar. Mas sorri. Não há-de faltar muito, disse. 
- Mas que idade tem? Uns 50...
- Sim. Uns 50 e mais alguns, muitos.Olhou-me de novo. Não lhe dava mais de 50, acredite.
E eu acreditei, claro. Custa alguma coisa acreditar? Cheguei na idade que darem-me 50 anos já é uma bênção.
Fiquei com o horário do Helder Vasco. Assim se chama o homem. com um nome assim que não bate a bota com a perdigota, não admira tanta perturbação, mas pronto, cada um é pró que nasce. Fiquei com os números de telemóvel. Para lhe telefonar quando precisar de ir a Lisboa ou voltar para o Olival. Acha ele...
Eles andam à lamira de clientes. Corridas que valham a pena. Uma cliente ligara-lhe porque precisava dele dali a 5 minutos, para a Parede. Lamentei por ele, porque lhe renderia bom dinheiro enquanto eu, ó, ia para o Rossio. Ele lamentou mais do que eu, pois que ao telefone com a senhora desfez-se em desculpas e insistira na hora a que a senhora precisava estar na Parede.
Eles, os taxistas, nunca foram tão simpáticos.  Andam em crise. Como todos os que vivem do seu trabalho. 
Por mim, acho que esta coisa que existe entre taxistas e eu, eu e taxistas, é algo kármico. Acho, vou levar sempre com eles e eles comigo. Fazer o quê?  

foi assim...



Sónia Morais Santos fazendo a minha dedicatória, que me deixou sem palavras...
Obrigada querida Sónia! E Parabéns.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

lançamento de livro

É hoje que na FNAC do Chiado, a amiga e jornalista Sónia Morais Santos vai lançar o seu livro, Cocó na Fralda, nome do seu querido blog.
Blog que sigo numa devoção de quase vício.
A apresentação estará a cargo do digníssimo ( como ela diz e bem ) jornalista João Miguel Tavares que será ajudado por três " cocozetes " que conheço muito.
Os quatro antigos jornalistas do DN. A M.J. ainda lá está...

Todos Amigos e colegas que são, da SMS.
Eu fui convidada e vou fazer-me presente. E sei que vou adorar.
Parabéns Sónia.
Vou devorar esse livro.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

gozando com a minha cara

foto tukayana.blogspot
O que é isto? É uma parte da minha folha de ordenado deste mês.
Quem me paga quis certamente gozar com a minha cara. 
BOAS FÉRIAS? 
Ok. Não falamos mais nisso. Há quanto tempo não faço férias na marquise? E não estendo a toalha? E não vou fazer um refresco de café com rodelas de limão, açúcar e muito gelo? E não compro a CARAS? E não sei as coscuvilhices todas dos famosos? A Luciana que deixou o seu marido Djaló. A Rita Guerra que anda aos beijos com o míúdo Carreira, filho do Tony. Ah bem. Há bués.
Por isso maria clara, boas férias e vai de fazer uns dias por casa, à janela, entre uma rissol e um feijão frade com atum, uns tremoços e  uma praça da Alegria e um Manuel Luís Goucha, umas máquinas de roupa que os cortinados da sala precisam de ser lavados e uns pontos de costura numas roupinhas que estavam para ir para a igreja mesmo em frente mas com alguma arte do dedal ainda fazem mais uns verões que parece que isto só melhora lá para o ano de são nunca à tardinha.
Ah e também há móveis para mudar. Roupas e sapatos e malas, jesus maria, tantas malas para arrumar.
Livros para ler e muito sono para adormecer e acordar quando quiser. E muito bocejo para bocejar. De pasmo... 
Afinal, a grande lata, a grande pulhice, direi mais, a grande filha da putice vai fazer de mim uma pessoa como manda a sapatilha. À maneira.
De que me queixo eu, ahnnnnn?  
Terei umas boas férias. De costas ou de barriga, mais praia menos praia, mais viagem menos viagem, terei umas boas férias porque as quero ter nem que para isso tenha de engolir alguns sapos como este
.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

mais uma vez, música


Hoje, finalmente, recuperei a música no canto superior direito deste meu espaço de escrita, fotografia e música. 
Tenho de agradecer à Joana Dias que foi quem me ensinou a colocá-la ali, quando há uns meses bons perdeu um serão, quer dizer, não foi tanto, mas perdeu algum tempo descobrindo como se fazia isso.Hoje, para além de jantar lá em casa, uns grelhados no carvão e  salada de tomate e pimentos que tão bem sabe fazer a mãe dela, minha amiga Manuela, ainda se encheu de paciência e mais uma vez me explicou como poderia ter som nesta geringonça onde poucos mais que eu, se fazem presentes. 
A avaliar pelos comentários, estou só ou quase só. Se bem que por vezes sou surpreendida com uma cena deste estilo: Então e a Pitanga está boa? Franzo a testa e pergunto: Como? A Pitanga? Mas conhece-a de onde? Do blog. Não vou todos os dias mas de vez em quando vou lá lê-la. E eu fico com cara de tacho e sem saber se esta pessoa se descaiu ou se tem interesse em dizer que me conhece. Mais às minhas  intimidades, julga ela.
Na verdade, também ando desmotivada. Tem dias que já não sei o que escrever. Tem dias que tudo me parece tão insípido e visto. E escrito...
Mas não vou por aí. Deixo-me estar aqui no meu alegre cantinho que tão bem me tem feito, tanto bem como a Pitanga. Dois fiéis amigos que não vou dispensar só porque não comentam, no caso, no blog.
Já cá mora de novo o meu vídeo de música no canto superior direito para quem abre o blog. Neste momento é o que me interessa. Gosto de abrir e clicar na música que eu escolho. Não fosse a Joaninha e eu ainda estaria no mato sem cachorro.
Obrigada Joana.     

terça-feira, 19 de junho de 2012

presente

foto tukayana.blogspot
Não sabia o que era viver com uma gatinha, dia e noite. Tratar dela. Por tu.
É muito melhor do que alguma vez imaginara. Eu nem sequer imaginava. Gatos não eram flores do meu jardim.  
Desde pequenina que amava cachorrinhos. E sofria por eles. Via-os crescer e depois via-os desaparecerem. Viviam no quintal, à rédea solta. E conforme entravam em casa também saiam para a rua. E atravessavam-na. E ficavam por lá, debaixo das rodas de um qualquer automóvel.
Nunca me acostumei à perda. De animais. Nem às outras.
Na minha casa houve quase tudo o que é possível haver. Pombos, galinhas e galos, patos, galinhas do mato às pintinhas, gansos, uma águia, periquitos, papagaios. Peixes, rãs e sapos, um cágado enorme e várias tartarugas. Um macaco.  Cães e gatos. Estes, nunca dentro de casa.
E a Pitanga. Dona Pitanga que há três anos coabita comigo num tu cá tu lá que parecemos irmãs, mãe e filha ou grandes amigas. Como tal, sofro se a Pitanga não está bem. 
Bem sei que viver fechada não deve ser muito saudável para um felino. Privada da liberdade fica condicionada a uma casa com algumas divisões mas fica igualmente privada da sua sexualidade. Era aqui que queria chegar.
Dona Pitanga tem cio como qualquer gato adulto, que não foi operado. E não é bom. Nem de ver.
Ultimamente são cios uns  a seguir aos outros. Há quadros e candeeiros do meu quarto que correm sérios riscos, há peças de louça que parte. Há uma ladainha que oiço ao entrar no prédio e que incomoda com certeza toda a vizinhança. Não come e não dorme nem deixa dormir. É deprimente e humilhante esta situação, digo eu. Para além de que, afasta-se de mim e não me obedece.
Hoje, voltou a querer colo. Voltou a querer festas no pescoço e a abandonar a cabeça no meu braço.
A minha Pitanguinha voltou e eu fotografei o momento.
Ficou decidido. Vai tomar a pílula. Para acalmar e deixar de estar em sofrimento. Já contrario a sua natureza privando-a da liberdade e do convívio saudável  com animais da sua raça. Não posso nem devo  privar-me de ter a minha gatinha como sempre. Normal, chata, ciumenta e companheirona.
Presente...

Silversun Pickups - Bloody Mary (Nerve Endings)

segunda-feira, 18 de junho de 2012

beijas-me


Beijas-me a alma inquieta
Mil beijos
Mil gestos 

Mil cores
Frutos e  flores
Vermelhos lábios
Carícia leve

Intensa 
E fugaz
Que o vento traz
Afagos

Sabores
Rosa e carambola

Acácia, romã, 
Cereja, mamão
E pitanga
Despertam a minha paixão.

Beijas-me a alma sedenta
De colorida ilusão
E inventas aquela canção

A caminho da madrugada 
No encontro da solidão
De ti e de mim
Vidro, cristal
Coração
Imperfeito e banal...
Beijas-me a alma marfim
Inquieta e sedenta
E pára tudo
O mundo fica pequeno e mudo
E tu meu princípio e meu fim.

m.c.s.


domingo, 17 de junho de 2012

Filipe Pinto - Insónia

o homem de quem se fala bem e mal

O homem que passa de besta a bestial num ápice.

fim de semana


Tenho andado preguiçosa. Tenho andado indisposta. Deito-me mais cedo. Nem por isso durmo mais. 
Não tenho ido andar. Doi-me a cabeça. Acho tenho pensado demais...
Enquanto espero o ofício que me desligará do que fiz quase a vida toda, mais de metade da vida, impaciento-me com os dias. Está errado. Eu sei. E é uma luta inglória. Nunca a ganharei, obviamente. Quase me apetece falar de mim para mim e rir da minha cara. De vez em quando acordo e digo mesmo: Põe-te mansa maria clara. Já amargaste tanto, é uma questão de tempo, apenas, e de saber esperar. Os dias nem se dão conta da minha existência quanto mais da minha impaciência.  E esse papel, essa ordem, esse desvinculamento, pode demorar ainda muitos meses. Os pessimistas dizem que ainda verei Alcanena terminar. E terei de ir para Santarém. Os optimistas dizem que lá para Dezembro estarei livre. Livre. É a palavra correcta. 
Nunca pensei que chegaria assim, sem que doesse, este desejo de mudar. De me instalar, para além de tudo, numa escolha minha. Disseram-me, uma daquelas pessoas que não oiço durante anos, porque não está, porque nada diz, mas existe e eu sei, e de vez em quando diz, olha-me nos olhos e diz...que quando dei a novidade da reforma, bateu qualquer coisa e de repente, daaaaaah,  privamos  há muitos anos e ou estamos a ficar kotas. Foi mais uma pergunta que uma afirmação. E nem precisei de responder. Há gente que conheço de toda a vida, e sim, estamos a ficar kotas. Toda a vida pode significar, 40 anos, 50 anos, a minha idade. 
Sim, estamos a ficar kotas. Nem acredito que vou fazer 57 anos. Acho até que esta confusão que pela primeira vez na minha já kota existência, me dei conta, a trocar a idade e cheia de propriedade a dizer uma idade que não tenho é sintoma de que os anos a acumular me perturbam. Tenho dito muito, que,  aos 57 anos, porque tarda e porque deixa, e tal e coiso... e depois então bate ali qualquer coisa que me diz que mentalmente estou a preparar-me para assumir mais um ano de vida sem que doa. Este papão da velhice persegue-me. Não são as rugas. Tive sorte porque nem tenho muitas. Ainda não há no meu buço o código de barras que algumas mulheres carregam. Não são sequer as minhas limitações a que me vou adaptando. É o tempo. Esse sacana que me foge. Que não tenho para a frente. Não o ritmo que me impõe.  


Mas...hoje é domingo. Estou descansada. Depois de me deitar quase de manhã, depois duma festa bonita a que tive oportunidade de assistir e participar, depois de ser acordada por uma mensagem que me dizia o horário dum comboio para o Ribatejo. Depois de perceber que tenho a cabeça a estoirar mais uma vez, fica-me um fim de semana bom a dourar esta minha impaciência de segunda a sexta, em que não faltou um convite para o sushi na sexta à noite, acordar no sábado com trabalho, muito trabalho, horas na feitura de 150 rissóis para a tal festa de casamento em Alfama e organizado pelo Alfama-te, e finalmente a festa, com marcha nupcial e tudo mais a que tinham direito. Um fadista japonês que canta fado em Tóquio e que também o faz em Alfama, uma desgarrada entre o tal e o Vital, outro fadista que conheço e que é bem lisboeta, e pai do noivo da festa. Música, desde brasileira, homenagem à noiva que é brasileira, a música pimba, e a música dos anos 80, onde eles já vão, perdi-os de mim entretida que estava a brincar às mães pois que as minhas crias nasceram  nessa década, enfim, houve sempre música para todos os gostos e até para os convidados brincarem ao portuguezinho piroso e básico. O DJ que é uma criatura que conheço destas festas e amigo dos organizadores do Alfama-te a páginas tantas, quase no finzinho, bêbado que nem um cacho, enrolando a língua e mandando gafanhotos, dizia que a festa estava gira. Os miúdos são fantásticos. Esforçam-se demais e deviam relaxar. Para hobby era muito à séria. E ele, estava ali porque gostava muito e não pelo dinheiro, porque ganhava 3 mil como director duma seguradora e não precisava daquilo para nada. Já eu, que estava sóbria e não ganho 3 mil, bem preciso de fazer de vez em quando uns pastéis ou uns jantares.
Enfim, uma festa giríssima. Mais uma a juntar a outras a que tenho ido.
Mais um fim de semana...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

no Rock in Rio 2012 em Lisboa




fotos tukayana.blogspot
Os concertos que vi, no Rock in Rio. David Fonseca e Malú Magalhães, James, Xutos e Pontapés e Bruce Springsteen.
Fantástico é o que me apraz dizer.  

relembrando









Almoço da Vila Alice dia 2 de Junho último, no hotel Lezíria em Vila Franca de Xira.

Nestas fotografias estão algumas das pessoas que foram determinantes na minha vida para que fosse o que hoje sou. Há gente aqui que não via há mais de 37 anos. Há gente aqui que não via há 4 anos. Há 1 ano. 
Foi muito bom estar aqui.

gente de verdade

Encontrei a Lourdes à porta da loja da Rita.
- Como é que estás Clara? Há quanto tempo...
- Tá boa? Gosto de a ver. Disse, dando-lhe dois beijos num prazer de a conhecer de sempre e olhando para a Rita, disse vaidosamente:
- Sabe que conheço esta senhora desde pequena?
A Rita ri. Os olhos da Lourdes iluminam-se.
- É mesmo Clara. Lembro-me de ti novinha e da dona celeste e do senhor Santos, diz nostálgica. Inumera as  pessoas que me dizem respeito. Fala da nossa avenida, das suas pessoas e dela.
Quem é a Lourdes? Porque a encontro neste lugar à beira-rio dum Ribatejo sonâmbulo e decadente?
A Lourdes é angolana, uma angolana mulata e bonita. Sempre foi. Também me lembro dela de há muitos anos. Na minha rua. Sem e com as meninas loiras de caracóis aos canudos, em puxinhos com um laço de veludo em cada um. Vestindo de igual e o Vasco gatinhando na sala da tia da Lourdes, minha vizinha e costureira da minha mãe, que me fazia as batas do liceu.  A tia que era torrejana e casara com o tio da Lourdes e filho da dona Vitória, uma das mulheres angolanas, mais ricas de Luanda.
A Lourdes que vivia ali ao dobrar da esquina, da avenida Brasil com o Marçal, onde a sua avó era senhora de muitos terrenos e algumas casas e lojas. Que eu me acostumava a ver passar, bonita, dengosa, simpática e conversadora.
Quando há 37 anos a Lourdes nos apareceu à frente, foi uma alegria. Nem acreditava que neste desterro que eu achava que era torres novas, havia uma alma que eu conhecesse desses belos tempos de Luanda e da avenida. O primeiro muzongué que comi aqui, foi ela que mo mandou pelo seu filho Vasco, um adolescente giro e simpático, que bateu à porta para dizer: Foi a mãe que mandou.
Depois fomos-nos encontrando. Uma vez fizemos uma festa numa quinta duns amigos do sô Santos. Um domingo de reunião. De muita música, comida e bebida. Kitutes da terra.  Todos angolanos e residentes que foram nessa terra tão saudosa. Não faltou a moamba que a Lourdes cozinhou nem a cachupa que a mãe da Ana Maria Oliveira, também fez questão de cozinhar, como boa caboverdiana  e prima da mãe Arminda, que é. Ana Maria,  minha kamba que costumo encontrar e passar uns dias em Talatona onde ela vive, quando vou a Luanda. Foram bons esses tempos logo depois de termos deixado Luanda, quando ainda todos acreditavam que passados que fossem 5 anos, ( nunca percebi porque o limite era 5 ), voltariamos para Luanda. De todos nós, só a mãe da Ana Maria voltou...A Lourdes foi trabalhar para a cozinha do hospital. E ali esteve durante longos anos. Quando havia festas por lá, ela era a fadista de serviço, porque cantava e encantava. 
O Alfredo, filho caçula,  nasceu, cresceu e hoje já tem uma cria. Trabalha no restaurante que foi do sr. Vítor que partiu tão cedo e nos deixou a mim e à caçula, desoladas porque gostávamos de lá ir à 4ª feira, e ouvir um e outro, diferentes, mas iguais na simpatia e bom trato. Na piada e no sorriso. Na educação e atenção. Eu deixei de ver a Lourdes. Mesmo morando perto de mim. Mesmo quando ia ao hospital. Apenas uma vez, ainda era o hospital velho e que estive na urgência desde as 8 da manhã até às 8 da noite, à espera que o cirurgião viesse ver-me. Na triagem o doutor Eli achara que podia ser apendicite. Esse doutor Eli, também.... Brasileiro há muito a viver nesta terra, não acertava uma...comigo. Mas era simpático e pai duma criatura que estudava com a minha cria mais velha desde o infantário e por força de nos encontrarmos tanto, era-me simpático e confiável. E eu gostava dele. Apesar dos pesares.
Depois de ter feito exames mais profundos, fora da urgência, por minha conta e risco, afinal o que eu tinha era uma colicistite, bom petisco, dizem,  que me ia mandando para os anjinhos. Nesse intervalo entre a possível apendicite e sabe-se lá o quê que o senhor doutor cirurgião, a única coisa que me soube dizer foi que não era do apêndice, o que me aliviou tanto que agradeci aos céus e a Deus não ter que ser adormecida para me esquartejarem, pois esse é o maior pânico que tenho na vida, levar com uma anestesia e que a coisa corra mal,  a Lourdes apareceu-me ao caminho e falou com a Antonieta, uma indiana que viera  de Moçambique e tinha sido cunhada do meu amigo e padrinho de casamento César, e trabalhava no atendimento  e juntas estiveram a animar-me enquanto esperava o resultado das análises feitas para saber se era apendicite.   
Há uns dois anos atrás estivemos juntas num velório duma retornada de Angola que ambas conhecíamos bem. A Nêta também. Aliás, esse velório foi um verdadeiro encontro de retornados que eu já não via há muito.
As filhas da Lourdes também lá estavam, bem como o Alfredo. Elas, as loiras, de olhos azuis, perderam os canudos e já não vestem de igual. Agora são gente crescida e vivem na cidade, minto, uma, a mais nova vive no Entroncamento onde é professora. A Gina, a mais velha trabalha na Câmara e casou com o neto do sapateiro da travessa onde  vivi  com os meus pais. Acho são todos felizes. A Lourdes sempre me pareceu feliz. Todos têm ar de pessoas de bem com a vida, com a cidade e cabendo na sua pele. Como num filme tudo me passa da memória para o presente. Ela procura momentos do passado que me são gratos. Encontramo-los juntas e recordamo-los com saudade. Luanda sempre presente. Luanda sempre no horizonte. 
- Dá-me o teu contacto. Parece impossível mas não tenho o teu telefone. Quando fizer uma moambada telefono-te para vires comer connosco. Ainda gostas de caldo? E feijão? Sabes que o meu neto, que já está na universidade e nunca foi a Angola adora feijão d'óleo de palma e funje de peixe?
E eu sorrio comovida. Esta é a minha gente. Fico em casa quando me falam assim. Quando me tocam assim. Fazem-me tocar o céu com a ponta dos dedos.
Dei os contactos. Fiquei com os contactos. Moramos a uns quarteirões uma da outra. A cabra da vida afastou-nos. Mas quando nos encontramos parece que nos vimos no dia anterior. Como família.
Afinal, não há muita gente da idade dela que me conheça desde sempre. Senti-me culpada. Fiquei desolada por não ter estado mais próxima durante estes anos. Um casamento, filhos para criar, uma profissão absorvente e a necessidade de me refugiar aqui e acolá para viver um pouco, mais o egoísmo que reconheço tive, foram causadores. 
A Lourdes tem 75 anos. Continua linda. Com voz bonita que parece beija as pessoas com as suas palavras, parece nos abraça a cada frase, a cada lembrança. Olhar sereno embora nostálgico, poisa em nós como se fossemos família. Parece é nossa mãe...Há dia felizes! Quando encontramos alguém que fala a nossa língua e cabe nas nossas memórias, enfeitando-as e suavizando-as.
Hoje foi um desses dias raros, que me enchem a alma inquieta e sedenta de gente de verdade. Que sabe amar...  

quarta-feira, 13 de junho de 2012

portugalidade

Quarta-feira  desportiva e internacional. De competição. 
Fim da tarde quase serena, quase deserta, em dia de jogo de portugal com a dinamarca. Esta coisa meio machista dos tais  11 mais 11 a correr atrás duma bola que eu odeio ouvir no despeito de quem não gosta, não percebe, não sente a adrenalina de ver jogar. De ver fazer bonito, de ver ganhar...
Não sei como não gostam. Acho mesmo que não gosta quem nunca brincou com uma bola. Quem nunca jogou por entre os charcos duma chuvada ou se sentou no muro observando os meninos jogarem descalços, com os pés vermelhos da terra barrenta.  Quem nunca escolheu o clube. Quem não torceu por vitória. Quem não teve um amigo ou um namorado jogador. Quem não gosta de jogar. De perder ou de ganhar...
Portugal jogou e ganhou. Os portugueses estão mais felizes. Entretidos. Têm tema para mais uma cerveja geladinha numa qualquer esplanada deste Portugal à beira mar debruçado a ver a banda passar... E neste resultado, só me apetece dizer: 
- Yeeeeeeeees! Siga a marinha que é o mesmo que - siga p'ra bingo!

terça-feira, 12 de junho de 2012

ousadia




Depois de um interregno, onde me perdi na tolice de desejar voltar a ser adolescente, recuperando inesquecíveis e  loucos tempos, me dando ao desfrute de sonhar num coma que parece não ia acordar mais, aqui estou eu ressuscitada, que tal como a paixão que não pode durar uma vida pois é doloroso demais esse estado físico que sufoca a alma e parece a vai engolir, ser adolescente é tarefa quase impossível porque já não caibo na minha pele, nem sei jogar o jogo pois as cartas foram baralhadas, foram partidas e deitadas e eu acordei do sonho mas percebi que não sei jogar. Entro para ganhar e saio no prejuízo de ser derrotada. Sempre...

Que me sobra? As sobras dum tempo farto. De derrotas para avaliar. E contar. E outras cartas para baralhar. Voltar ao jogo do toca e fica, toca e foge, ora agora jogas tu, ora agora jogo eu,  num dueto que apostava, para ganhar, quem sabe?!  seria um dueto imparável e impagável nos tempos presentes, sem passado e sem futuro. Até me vou sentar só para recuperar melhor esta alma que acordou mole e ingénua, igual à outra, pronta para a vida, na suspeita de te saber aí desse lado. Como se não soubesses nada. Como se não percebesses nada. Como se não existíssemos.Quanto tempo já? Não vou quantificar. Porque não quer dizer nada. Tem segundos que valem  uma eternidade e tem eternidades que apagamos num segundo assim como a onda apaga o teu nome que escrevo na praia, numa ousadia que me desconheço e desminto se disserem que tenho. Quanto tempo já? Não interessa. Parece pouco porque é um tempo bom mas ia jurar que é de sempre. E sinto saudades, mesmo quando me faço umas férias que ainda bem passaram depressa porque juro, não sei viver na eternidade, não sei sonhar na eternidade porque já lhe sonhei tudo. Já não sei ficar na eternidade, porque gosto mesmo é de ficar sentada a olhar horizontes onde te desenhas numa beleza que é de dentro. Afinal o que eu gosto mesmo é de sentir este vício de ti. Esta pretensão de escrever para ti. Depois de um interregno, voltei a sentir o perfume das rosas. E voltei a ver o voo rasante do albatroz. E a alegria das borboletas. E o sol brincando com o mar no fim da tarde. E  a cor da paz. 

Voltei às entrelinhas desta vida, presente dos céus.
Voltei a escrever só para ti. 

revisão


- Olá vizinha! Tá boa? Não a vejo há muito tempo.
- Olá tudo bem? ele sorriu e respondeu, tudo bem.
O vizinho é aquele indigente que mora a mais de 200 metros da casa onde vivi há mais de 20 anos e que a partir desse tempo me intitulou de vizinha, o que não me incomoda.
Levei um susto dos diabos com a sua presença e voz súbita, distraída que vinha com os meus pensamentos, pois que nos últimos dias eles atropelam-se a quererem as minhas boas graças, mas não há nada para ninguém, que me cansei de ser benevolente, romântica, chorona, e já estou a partir para outra que não é senão a mesma mas sem  mesuras ou frescuras. Que isto de sentirmos com o coração e não com a mente, tem muito que se lhe diga e já estou como a minha amiga Manuela que diz que uma criatura chega a uma altura que já não sabe se é o cão que morde em nós ou se somos nós que mordemos no cão. 
A minha vida é só uma. Estou a um mês de fazer 57 anos. Preciso pôr as ideias em ordem. As emoções antigas nas gavetinhas onde sempre estiveram e   que nos últimos dias libertei. Preciso limpar o pó das prateleiras e etiquetar cada dia, cada sentir, cada lugar, cada sonho e cada pessoa. Depois, abrir este músculo que me permite viver, e deixar lá o meu passado. Fechá-lo e pô-lo manso a bem da saúde.
Do meu passado retiro o dia de hoje faz 57 anos. Dona Celeste e o sô Santos juravam ali na Missão de S. Paulo, serem fieis a vida toda, amarem-se e respeitarem-se até que a morte os separasse. E cumpriram. E são o meu orgulho, porque eram pessoas de palavra, de sentimentos e de decisões honestas. 
Do meu passado retiro-me para viver o presente. Estamos nos Santos Populares. Sardinha assada e arraiais. Amigos. O fim de semana mostrou-me que é possível. Não só o presente, mas também um pouco de futuro. Vi jovens que me dizem muito, trabalharem por um sonho para além de sonhos mais ou menos seguros que concretizam diariamente. Vi jovens embarcarem nos sonhos e juntos, todos juntos serem felizes, em festa. Vi um bairro alegre e bem disposto. De música, guitarras e voz. 
Do meu passado, espero um tempo ameno que me permita seguir em frente quando a minha reforma chegar. 
Entrei na loja da Ritinha. Estava zangada com uma quadrilhice duma vizinha. Contava-a ao brasileiro que vai fazer faxina ao emprego da caçula. 
- O senhor não trabalha na ...?- Sim sou eu mesmo. E a senhora não é amiga da dona Paula?- Sou irmã. 
-Irmã é? Olhe só....
Não percebi. Porque não? Bem sei que fisicamente, e não só, somos diferentes e há quem não saiba do laço de sangue que nos une...
A dor de cabeça que se me pôs no fim da tarde que por piada até disse que era mau olhado, ferrou-se-me nos olhos que não os consigo ter abertos. O dia está no fim. A Pitanga anda impaciente e aborrecida da comida que lhe ponho. E reclama. 
Do  meu passado retiro as flores, as canções, os sorrisos, as estórias...e parto para a gandaia. Só para me sentir viva. Porque a vida pode e deve ser uma festa.
Hoje dou por findo este dia cansativo e aborrecido e vou meditar para dentro.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

quadras dos Santos

foto tukayana.blogspot
Escolhi a flor e a flor ofereceu-me uma quadra, em época de festas de Santo António.
Nada que não soubesse...agora já não mudo. Digo eu...

domingo, 10 de junho de 2012

amor

Miragem
Sonho
Mistério
Ou doce loucura?

Viagem...
No tempo da saudade

Onde me deito
Perfeito e imperfeito...
Que perdura
Olho as cores do arco-íris
E percorro campos de milho
E de cana
E mangais
Lavras de mandioca
Salinas 

Cacimbas e pantanais
Percorro-me na infância

E depois...
Sigo a estrela da esperança  

Brilha-me na luz a lua cheia
E banham-me de mar as lembranças
Por ti amo sábados à tarde
E cacimbos de nostalgia

Por ti canto a canção d' amor
E danço kizombas
Da tua alegria

Por ti suspiro e acredito 
Nas estórias d' assombrar
Por ti sinais são milagre
Por ti nunca será tarde

Para no meu destino acordar
Por ti me acordo  a  sonhar...

sábado, 9 de junho de 2012

Bonga - Kambuá

parabéns kamba diami


Passaram 48 anos desde que nos conhecemos. E nos tornámos amigas. Kambas para a vida.

Se me perguntares o tamanho da minha amizade, não sei medir. Tem uma extensão que a minha vista não consegue limitar, as minhas mãos são pequenas para desenhar e o meu coração não precisa calcular.
Estás lá sempre. Nos momentos alegres e tristes. Naqueles que me dão felicidade. Que me fazem chorar. Que me têm a sonhar e a meditar. Estás lá com os conselhos, com o abrir d'olhos, com a compreensão e com a protecção. Estás lá com a tua alegria, bom humor e inteligência para rires de ti e de mim, de nós e da vida...
Estás sempre, quer estejas em Luanda, Lisboa, Porto, Odivelas ou Olival Basto, na China ou no Dubai. Em S. Paulo ou no Rio. Em S.Tomé ou Cabo Verde. Na África do Sul. 
Estás no facebook. No chat. Nos comentários. No telefone, como há poucos minutos. Nas mensagens.
O que te desejo hoje? O que desejo sempre. Muita saúde. Paz. E elevação espiritual. Que Deus te acompanhe sempre e te mostre o caminho que precisas percorrer para te sentires feliz.
Que nunca me faltes. Se possível, nos melhores momentos. 
Que te desejo hoje? Um dia de aniversário intenso. Cheio. Feliz.
Muitos parabéns kamba diami.
Adoro-te. Obrigada por seres minha amiga do peito. Como irmã.  

sexta-feira, 8 de junho de 2012

quase




Foi quase um sorriso
Na tua expressão
Teu nome enfeitando
A minha ilusão
Foi quase um gesto
Em nome da paz
Tua mão afagando
O meu perdão

Foi quase uma visão
No mundo parado

Uma música tocando
A nossa emoção
Foi quase um tempo

Voltando p'ra trás
Uma promessa
Um carinho
Um beijo d' amor
Foi quase um tremor

No abraço ansiado
Foi quase o destino
Há muito adiado
Foi quase perfeito...
Foi um quase tudo
Ou um quase nada

Foi quase uma lenda
Uma história encantada...

m.c.s.

até Deus quiser...

Ao som de " deus "  - Nothing really ends -  despeço-me. Não podia escolher melhor som para te deixar partir. Para me deixar ficar virando a página. Escrevendo o xis no calendário. Fazendo o luto. De novo. E mais uma vez...
Quando oiço esta melodia transformo-me numa outra pessoa. Muito melhor. Repleta de magia. Como era aquele tempo. Como mágicos eram nós aprendendo o amor. Como mágico era o pôr do sol na contra-costa declarando-se para o Mussulo. Como mágicos eram todos os momentos que vivemos então.

Quando oiço esta melodia, transformo-me naquela menina acabada de despertar. De cabelos longos, pele morena, lábios vermelhos, nariz arrebitado, calças boca de sino e blusa mil flores a condizer. E de cigarro nos dedos. Transformo-me naquela jovem mulher de olhar profundo, tocando tudo o que admirava com o cuidado de quem toca a porcelana. E vê através dela.  Que via a vida como se olha um diamante. Com  respeito, prazer e cobiça. Sonhando com o que estava ali ao dobrar da esquina, à mão de semear. Esperando os sonhos concretizar. Esses sonhos candengues e tão fáceis de atingir...enganada que estava na sua louca inocência de um mundo por descobrir. E nem sempre melhor. Nunca melhor. 
Ao som desta canção de hoje, sim, porque podia escolher outra, aquela que dizia que... às vezes chegam cartas com sabor a lágrimas com sabor amargo, de Júlio Iglésias, ou a Katie Melua em If you were a sailboat... em noite de lua cheia, ao som de " deus " nesta nova melodia é mais fácil despedir-me, porque nunca saberás se choro por mais uma das muitas vezes te perder de vista ou se  emocionada pela voz que canta; ai  a Voz, sempre a Voz, a comandar as minhas prioridades e emoções, a voz sempre a sussurrar-me ao ouvido que é tal como os olhos que nos olham nos olhos, o espelho da alma,. E eu a acreditar nas almas, que por vezes são gémeas, só não se encontram para sempre, apenas numa curva do caminho, numa esquina fugaz, num momento escolhido pelo universo, como que num prémio de consolação de um jogo de azar que jogo com o coração, vai-se lá saber porquê, pois que nunca vi o livro da escrituras de  Deus, aquele onde as linhas da nossa mão foram decalcadas e parece está lá o nosso destino. O destino das nossas almas. Os jogos. As uniões. Os encontros e os fins.
Despeço-me hoje ouvindo esta canção perfeita para este momento solene, que me desperta o espírito, a pele e a mente. Parece que estou só e de novo a jogar com as palavras, dançando-as na frente do meu passado, ecoando no meu presente, contrariando-me os sonhos e desafiando-me as memórias, mas é muito mais que isso. 
Com requinte de malvadez, que nunca soube ter, escolhi o lenço branco da pureza com que aceno àquele tempo  e hoje, neste tempo que já virou passado, digo, basta, te mando beijos e abraços e kandandus do tamanho deste sentir! E te digo adeus como se fosses comprar cigarros ao bar da esquina lá do bairro. 
Adeus que quer dizer até breve, até já ou até qualquer dia com um pouco de sorte e algum querer. Adeus num parece, mas não é. Nunca foi. Aquele adeus de falinhas mansas com que se enganam os tolos e se empatam as vidas.
Despeço-me dizendo então, basta. Adeus. Digo-o p'ra dentro de mim, para as quatro paredes. Para os quatro cantos do mundo. Basta para o mapa que me inquieta. Basta de dias que não vivi. De lágrimas que chorei. Por mim e por ti. 

Hoje é o dia certo para mais uma vez escrever fim, neste intervalo de tempo que tanto pode ser eterno como para sempre. Declaro-me em luto. 
Até quando? Enquanto deus cantar. Até Deus quiser. E eu...

massa vegetariana

foto tukayana.blogspot
O meu almoço hoje.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Kalu e Ze Pedro- Era a Serio Eras Tu.wmv

fazer mais como, então?



Deixei-me ficar por casa em dia de feriado que não será mais comemorado com o descanso a que nos habituamos todos estes anos. Mudam-se os tempos mudam-se as vontades. Não me apetece discordar desta decisão, não me apetece falar do estado da nação e das asneiras feitas por uns e por outros no passado e no presente. Estou cansada de os ouvir. Estou cansada de sentir na pele o efeito da crise de um país que afinal não é o meu. Na verdade, nunca foi ainda que o tivesse sido, para todos os efeitos da minha criação. 
Apeteceu-me ficar aqui, isolada de gente física. Apenas o computador, a televisão e a Pitanga. Eu, mais eu e outra vez eu. Confesso que achei a ideia interessante. O dia todo fazendo pouco mais que nada. O dia todo para pôr os dias em ordem. Baralhar e tornar a dar. 
Acontecem coisas na vida que queria perceber. Acontecem-me coisas que queria muito entender. A última semana foi cheia de coisas a acontecerem e não porque eu tivesse feito muito por isso. Pode ter sido de Vénus, que passou perto da terra. Ou não. 
Há portas para fechar. Bater e fechar. Para sempre. Mas para sempre é tanto tempo que me angustia remeter para esse lugar do tempo, sentimentos, emoções, vivências, para assim voltar a nascer. Ou ver brotar de mim outros sentimentos, outras emoções, outras vivências. 
Passo metade da minha vida a fazer perguntas. Outra, a responder a elas. E eis que assim, num estalar de dedos, chega um dia, e não sei perguntar nem sei responder e volto à estaca zero, o que com a minha idade e a minha vida não é de todo bom. Pergunto-me então se preciso reconstruir-me. Se preciso aprender o bê à bá das emoções e das razões e avançar pela vida calmamente. Pergunto-me então porque vivo nesta inquietação de não poder escolher o que é bom para mim. De não me sentir liberta do passado. De não me sentir feliz por ser o que construí. 
Sinto-me numa ponte. Sinto-me muitas vezes na ponte. Dois caminhos. Conhecido ou que adivinho. Já vivido. Escolho o quê? Ficar no presente, no meio da ponte. Se calhar é a única escolha da qual conheço os efeitos. Se calhar mereço estar em cima da ponte...
O almoço de sábado passado, no regresso ao passado e à Vila Alice, é responsável por toda esta inquietação, alguma tristeza e muitas certezas. E duma coisa eu não preciso ter peneiras. Nunca serei indiferente à Vila Alice e ao que ali vivi. 
Ocorre-me uma frase batida - é um problema que tamos com ele mesmo. Fazer mais como, então?

quarta-feira, 6 de junho de 2012

parei na esquina...

Parei na esquina. Gosto das esquinas desde kanuca. 
Naquele tempo, a esquina da escola 83 nos conhecia bem. De olhos fechados. Demais. 
A mim e à minha kamba Milú. Ficávamos a ver escurecer. A rir e a gozar, aiuê, na hora que tudo muda. No poente, sem medo da hora do lobo.
Na nossa terra os jovens não têm medo. De abuso até são atrevidos. E ficam assim para a vida.
Ficávamos a ver a nossa vida correr por entre estórias onde as princesas, nós, na frescura da inocência exibíamos umbigos grandes, bué gigantes. Do tamanho do mapa que estudámos, que diz, é África. O mundo éramos nós. E depois de nós, outra vez nós. No nosso bairro. 
E os sonhos eram p'ra já, no outro dia, quando os namoramentos se desenhassem e abrilhantassem de corações com setas de cupido, o horizonte, que podia ser no outro largo, no outro beco, na outra esquina e nos seduzissem com cantadas daquele tempo, num piscar d'olho, numa canção do bandido, de trazer por casa, que podia ser o Roberto Carlos a cantar, eu te amo, eu te amo, eu te amo... que nos encantava. E o bairro ficava parece virava festa com o amor aos saltos por entre as poças de mais uma chuvada acabada de cair, de molhar, de limpar a poeira vermelha que sempre se fazia notar e que vinha lá dos outros bairros. Se fazia notar, quase tanto como o ridículo dos nossos rostos ruborizados e encantados de paixão e esperança. Cheios de borboletas a esvoaçarem à nossa volta. Aiuê, vaidade! De andar de mão dada com o kanuco mais estiloso da outra rua.
Parei na esquina a olhar as coisas passadas. Gosto de ficar assim, quieta, parada, sem mexer ou baralhar os sentimentos. D'olhos abertos, ou semi-cerrados, a saborear esse cheiro, perfume de frangipani, rosas vermelhas de paixão ainda candengue e inocente, pura que nem ar da roça. Esse cheiro de manga madura dos quintais da rua e de casa. Do bairro. Esse perfume da felicidade que não se esquece mais, mesmo que vividos outros bairros, outras ruas, outras casas, outras terras e outros amores.
Gosto de ficar a sentir o coração a bater no peito, tum tum tum, tum tum tum, parece vai  sair pela boca só de lembrar, parece me vai fazer desmaiar, acordar, ressuscitar. 
Gosto de ficar na paz, a sorrir para o que foi e já não é, podia ser mas não foi, nunca mais é.
Gosto de ficar a me enganar de faz de conta, pode vir a ser se não desanimar e Deus ajudar e o kimbanda não se enganar. 

Não baixar a guarda, lutar, teimar, teimar, teimar, acreditar... 
Olho o vazio que  ficou depois do depois. Fazer o quê com esse espaço que não lhe sei dar uso, transformar ou substituir? Ocupar?!
Olho o que restou do momento, da hora, do dia, do sol e do luar, da estrela cadente e da estrela do mar, que me disse que o amor não se enganou, não morreu, o sonho não se perdeu e o tempo não me venceu. 
Parei na esquina,  onde gosto de ficar...
Dali, olho o que foi e o que pode vir a ser, neste presente que é e não é. E nem a lágrima que rola livre, me intimida, neste privilégio de saber quem fui, quem sou, quem foste e quem és. Neste privilégio de te amar... 

terça-feira, 5 de junho de 2012

eu estive lá

foto tukayna.blogspot

foi sábado, foi bom

foto tukayana.blogspot

encontro

Não digas nada.
Não quebres este silêncio perfeito, d'um amor imperfeito, fascinado pela capacidade d'amar longe e além de segredos, confissões ou desculpas mais que perfeitas.
Que toca há muito o sobrenatural.
Que chega perto do divino e é já uma eternidade. 
Que foi escrito nos céus com a alma radiante de quem nunca é distante, porque sente este amor sem idade. 
Não digas nada. 
Porque sei das palavras  que guardaste, d'encontro em encontro, ao desencontro e à ausência de estarmos, sermos e amarmos.
Sei dos versos que ficaram por escrever. Da voz que nem aprendeu a ler.

Dos poemas que ficaram por cantar e até o que nunca saberás dizer.
Não digas nada. 
Assim, secretamente inocente te mantenho vivo.
Reconstruo-me. Reconstruo-te na memória. Sem mácula, filtro, culpa ou desculpa.

Pincelo a branco cabelos loiros. Desenho rugas nos olhos brilhantes. Acrescento o velho sotaque na voz. 
Entro no jogo de bola nos pés. Passo-ta. Apelo ao sorriso maroto. Sarcasticamente, ou será que ternamente? me sorris. Sorrimos. Simplesmente.  
Já te oiço a gargalhada. Sinto a intimidade que não se perdeu de nós, na distância, no tempo e na idade...ainda.
Ponho-nos na expressão, a saudade. 
Na voz, a ternura. No abraço, o calor. No sentimento, a elevação.
Reconstruo-me. Reconstruo-te. Somos a emoção. 
Não digas nada...    

Bruce Springsteen - Rock in Rio Lisbon 03-06-2012 - Twist & Shout

Os Santo Populares em Alfama




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segunda-feira, 4 de junho de 2012

sábado, 2 de junho de 2012

Depois...

Depois do olhar
E da voz
Depois do abraço

Do beijo e do toque da mão
Depois de tocares a minha emoção

De novo,,,
Deixa-me ficar triste
Deixa-me quieta
A olhar dentro de mim
Dentro de ti
Dentro do amor´
E da solidão
Depois do encontro
Depois do sorriso
Do gesto
E do mundo seres tu
Deixa-me a paz

Deixa-me a esperança
De sonhar como criança
Ainda os dias
As noites e as luas cheias
Ainda o tempo
Ainda o vento e a brisa do mar
Deixa-me triste chorar
Mais um abraço
Um beijo
Um olhar
Um toque na mão
Deixa-me  cantar a nossa canção.

m.c.s.


a senhora Clara não gosta?



- Bons Santos. Xau.
- P'ra ti também. Diverte-te.
Estava eu no Suminho à espera do sumo de melancia e da tosta de frango, ananás e queijo, quando este casal trocou uns miminhos e uns votos de boas festas dos Santos. 
Se fosse em torres novas estranharia. Ahn? Que santos? Parece que estão parvos. 
Em Lisboa toda a gente sabe que os Santos estão aí. Os bairros estão enfeitados, já cheira a sardinha assada e à bifana no pão, à sangria e a manjericos. Bons Santos. Como, Bom Natal. Bom ano ou boa Páscoa. Boas Festas...
Por que raio um sumo e uma tosta demoram tanto tempo? Fico a pensar no que acabou de me acontecer na loja de onde saí. A miúda que me abordou por causa do cartão, que me disse ser portuguesa mas o sotaque a denunciou, diz que foi para o Brasil bebé e ali viveu uns anos, levou um correctivo. Não sei o que me aconteceu mas passei-me com ela. Já não me acontecia isto há muito tempo. Interessei-me pelo cartão. Desde que não pague coisa nenhuma e apenas sirva para fidelizar o cliente, eu adoro. Dez por cento de desconto nas compras sempre que as fizer. Tudo lindinho. Precisava comprar uma peça de vestuário. Tinha-a na mão. E não pensei duas vezes. Foi então quando lhe disse que queria fazer o cartão. Foi então quando ela me disse que não valeria para a compra que fizesse no momento. E foi então quando só faltou pôr-lhe o dedo à frente do nariz. A miúda é bem formada. Aguentou bem e pediu desculpa, mas não fizera por mal. Acabei a fazer o cartão, a ouvir os seus pedidos de desculpas entre as confidências que foram surgindo. Faz faculdade no curso mais parvo que hoje alguém poderia fazer. Palavras dela. História. Para dar aulas.Tem uma irmã enfermeira numa clínica em Massamá e uma irmã em artes. 
- A senhora Clara gosta disto aqui? Depois de me ter perguntado a morada e lha ter dado. E um miúdo que estava no balcão a escrever sabe-se lá o quê se ter rido e ter-me dito: boa zona, conheço bem. - Porquê? É de torres novas? perguntei - Não. Sou abrantino mas vou lá à noite ao fim de semana e não só.
- A senhora Clara não gosta ?
O que é que se responde a uma menina que me tentou passar a perna num assunto que a Zara não lhe agradece e que eu não aceito? O que se responde quando não se sabe muito bem se afinal se gosta de torres novas e o que não se gosta é de mofar de tédio numa cidade  com língua comprida e passo curto?
- A senhora tem facebook? E eu pasmei com a ligeireza com que contorna as situações. Escreveu o seu nome num papel e deu-mo. Me procure. Vou gostar. Vem sempre aqui?
Enfim. O Colombo no seu melhor. E eu adorando andar no centro comercial mais popular de Lisboa. Cheio de angolanos. Conheço pelo sotaque. E pela postura. Pelo andar da carruagem. São óbvios. 

À saída do metro um casal de brasileiros entradotes na idade mas com óptimo aspecto perguntou--me: Senhora, o shopping é para aqui? Sim, sim, respondi. Eu vou para lá se quiserem podem acompanhar-me.
O Colombo à sexta- feira é uma festa. O povo continua a passear-se alegremente. Lembro a minha amiga do peito que em tempos dizia que o Colombo era a nossa segunda casa. Nem tanto. Muito barulhento. A minha cabeça que esta semana não esteve no seu melhor depressa reclamou e vi-me a caminho de casa, um tanto ou quanto aliviada. O taxista? Angolano. 
A boleia que tive de manhã, quer dizer à hora do almoço caiu que nem ginjas e a nossa conversa cai inevitavelmente em Angola. Na muamba que adora. Nunca viu o mapa de Angola mas sente-lhe o sabor. Um dia ainda vou fazer-lhe uma muambada. Já prometi. É o mínimo que posso fazer.
-Clara, quer vir para Lisboa? Vou mais cedo. Também eu vinha mais cedo e foi assim, ouro sobre azul. A viagem, agradável. A companhia também. 
Olho para a noite de ontem que foi muito quente. O aniversário do pequeno Rafael que já fez cinco anos comemorou-se em ambiente familiar, festivo e caloroso. Às 11 horas da noite os termómetros marcavam 26 graus. Quando recebeu a minha prenda disse-me: Não era preciso. O Manão ( mano joão ) já me deu um helicóptero. Depois ouvi a estória da escolinha que nos faz pensar mais do que sorrir. O Rafael é um menino especial. A mãe diz-lhe depois de voltar de são martinho do porto de uns dias bons, ali passados. Rafael tens de ir à escolinha. Não quero ir, mãe. Porquê? Eles já não me conhecem. Muito bom, isto. Delicioso. Como foi bom estar em família de novo.
Olho para hoje e para amanhã. Amanhã é outro dia. Outras gentes. Outras palavras. E estórias. De gente crescida que viveu junta num bairro que nos deu tanto quando fomos crianças e adolescentes. Alguns ainda lá vivem e vão estar amanhã entre nós. Outros vivem espalhados por este mundo de Deus e querem partilhar pela primeira vez a alegria destes reencontros. A minha vida é feita de encontros, reencontros e desencontros. Mesmo. Pode ser um lugar comum mas assim é. Partidas e chegadas. Abraços e beijos. Palavras. Gargalhadas. Lágrimas. E adeus de novo. Até quando?! Nunca o saberei. Vivo longe dos que amo. Vivo longe dos que amei. Vivo perto da saudade.

Vivo desejando, sonhando, sofrendo e esperando. Esta é a minha condição. Igual a de muitos angolanos que partiram da terra na década de 70.
Lembro de novo a miúda brasileira que faz faculdade e que trabalha na Zara e hoje me tentou enganar com a história dos cartões e suas vantagens.
- A senhora Clara não gosta? Como hei-de gostar de viver longe da minha gente, da minha terra, da minha música e do meu sotaque? 
Daqui a poucas horas estarei com gente que roubou maçãs da índia do quintal da vizinha, comeu peixe espada frito em óleo de palma, viu filmes no cinema Império, estudou na Industrial, na Comercial e no Feminino. Que jogou à bilha, ao garrafão, às pedrinhas. Que correu atrás do carro do fumo e fez corridas de bicicletas nos passeios das ruas do bairro. Que lançou papagaios nos nossos céus. Que passeou comigo nas ruas, caminhos, becos e esquinas, da avenida até à Ilha, me cantou canções de embalar e até a canção do bandido.
Como é que hei-de gostar disto?
Hoje Lisboa esteve linda. E calorosa. Como se fosse verão. Já tinha saudades.
Acho que foi o único dia da semana que não me doeu a cabeça. Torres Novas?  Está lá a Pitanga. A caçula e o mano Zé. O Paulo e a Lurdes. Alguns amigos. Torres Novas está lá, no mapa que reconheço.