quinta-feira, 29 de agosto de 2013

vai ter que ter...


até já

O silêncio e a cor negra da noite deram lugar à manhã clara e plena de sons.
Cala fundo em mim o novo dia.
Nada é igual. A diferença está no tempo. 
Ai o tempo sempre entre nós; rumos diferentes, sonhos diferentes, buscas diferentes.
Sereno e apaziguado o interior de mim afasta os maus pensamentos, pesadelos próprios das incertezas e dos medos criados só para me regredirem nos passos e na memória de ti.
Olho a casa. O quarto fechado, logicamente fechado e quieto, continua na sua função. Aguardando, a mais uma vez. Para te receber e servir. Proteger. 
Voltar à vida de sempre é a ordem que se me impõe. 
Amar sem receios, ignorando as angústias da ausência. 
Respirar plenamente apesar do vazio que deixas. 
Um dia destes voltas e eu estarei aqui de sorriso aberto, braços placenta e beijos de mel para te receber mais uma vez.
Moras em mim como o meu coração que bate e a minha mente que guarda.
Dei-te matéria, tatuaste-me a alma que existe para te amar para todo o sempre.
Aqui me tenho no lugar antigo. Neste enorme, infinito, lugar do amor incondicional.
Até já.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Carlos Paião (lista de reprodução)


Porque hoje faz 25 anos que partiu para um intervalo, na eternidade.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

01 CAETANO, GIL & IVETE A NOVIDADE HD 640x360 XVID Wide Screen


Isto é música. São vozes. É sintonia. Cinco estrelas.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Liberdade

foto tukayana.blogspot
Segue o verão
Pé no chão, e na idade
Ensaia a dança 
E o tempo avança
Antecipando a saudade
E o mar se ergue
E a onda clama
E a lua ri
O sol é chama
Que não perdi 
Não desisti...
Segue a estação
Canta a canção
Da despedida
O tempo urge
Na curva surge
O nevoeiro
Sinal de fumo
Fosse o primeiro!
Segue a vontade
De me iludir
Verão, sempre a sorrir
Fica o sabor da liberdade
Que me chegou
Que me brindou
Neste poente
Mais solto e quente
P'ra renascer
P'ra me encontrar e me devolver.

m.c.s.

domingo, 18 de agosto de 2013

reflectindo ainda...

Se a vida é um risco e a gente gosta de viver, vamos traçar muitos riscos e percorrer os caminhos que nos fazem viver.

m.c.s.

reflectindo

Se a paixão faz bem à saúde porque é que há tanta gente doente? Não querem o medicamento ou não sabem dosear a toma? Digo eu que também não estou imune. 

m.c.s

sinais de fumo precisam-se

foto tukayana.blogspot
Ela me aguarda. A espreguiçadeira. A praia, escolha minha. O mar que está gelado e calmo, parece lagoa. Uma imensa lagoa a perder de vista. Onde podia até inventar a kianda. Transformar alforrecas em estrelas do mar e peixe aranha fossilizado em conchinhas e ostras de pérolas, preciosas. Um convite. Uma tentação.
Não sei se vá não sei se fique.
O vento que ontem se fez sentir, invasivo, violento, poderoso, levantou a areia e provocaram ambos, um desconforto físico tão grande que a alma se sentiu beliscada. E hoje, não me parece ir pôr-me a jeito fazendo frente a essa violência. Desafiando-a. 
Tem braços de ferro que não valem a pena. A derrota é certa. E fica um amargo de boca. Uma frustração. Uma dor de alma.
E como tem mais marés que marinheiros , o dia não me está a exigir grandes ensaios. De poemas. E mergulhos tentados em vão. 
Ou simulados.
A pele não pede sol, o corpo muito menos e a mente está meio apanhada por este clima. Preguiçosa. Sem motivos ou estimulações.
Quanto ao espírito tem que relaxar e deixar-se a descansar dos sonhos de verão, dos mergulhos sem sucesso, das palavras que atravessam os mares, que chegam com o vento e não se fixam na minha praia. Das bolas de berlim que parecem remédio para a alma mas são veneno para o corpo. Como certas pessoas.
Como palavras leva-as o vento, olha o que eu hoje quero?! Sopas e descanso. 
É que para além das palavras, as ideias, intenções, sinais e outras insinuações, levam-nas o vento e pode ser que cheguem ao destino, aquele onde o mar é mais azul, a água mais morna, o mergulho mais subtil e elaborado, a vida mais feliz e saudável e a inspiração mais autêntica. Genuinamente verdadeira.
Parece estou a falar do paraíso...não será. Mas se me acenassem com esse lugar sabia sim se ir se ficar. Ia. Sem olhar para trás. Ia até vendada e me atirava de cabeça...
Não há sinais de fumo, por isso hoje, acho, não estou para ninguém.

pintura de praia

foto tukayana.blogspot
Na saída da praia a gente bate sempre com os olhos nesta parede...

TVI # ENTREVISTA # JUDITE DE SOUSA # LORENZO CARVALHO


Que vergonha Judite de Sousa! Só me apetece mandar-te pastar caracóis.

a minha praia

foto tukayana.blogspot
- Olha a dona Clara!
Desci as escadas de madeira que me separam do toldo do Nuno, o dono da concessão da praia onde alugo a espreguiçadeira. 
- Bom dia dona Clara, continuou o Tó. 
O Tó é o empregado. Que trata os clientes da praia pelo nome. Nasceu em Teixeira de Sousa e diz que é a terra dos " turras ". Coitado, vive no passado. 
O Nuno também está lá e ainda o Valentim. O primeiro nasceu no treme-treme, ali perto do prédio dos cigarros Baía ( os meus cigarros ) e do Baleizão. Diz com orgulho que é de Luanda. E sorri sempre que me vê, a mim e à filhota, como lhe chama quando não me vê com ela.
- Então a filhota hoje não veio, dona Clara? E eu a vê-lo de óculos, respondo e fico a pensar, a filhota, não é Nuno? Ele tem à volta de 40 anos. A filhota... 
Tá bem tá, Nuno. Compreendo-te.
O Valentim é um puto. Que trabalha com o Nuno e o Tó. E parece que trabalha muito contrariado. Parece até que chumbou e o pai pô-lo de castigo a arrumar colchões e espreguiçadeiras, a levar uma caipirinha, um hamburguer ou um sumo de laranja a quem lhos solicita. Parece um burro carregado de pancada. É pena. Porque é um puto educado e lindo. De olhos azuis e cabelo loiro. 
Pele quase laranja de tanto sol, aliás os outros dois estão tão negros que parecem sempre roxos. Ao fim da tarde quando estou de saída diz-me com muita educação e até algum profissionalismo, até amanhã dona Clara e muito obrigado.
Cativaram-me. Os três. E eu que fazia resistência a essa praia. Muito povo povão, muita bola para jogarem, muita toalha estendida, muitos chapéus a voarem, muitos gritos e muita música aos berros, muito excesso de coisas que não gosto, e só lá ia por causa da " filhota " que este ano se recusou a ir para o Tamariz onde gosto de estar e me sinto peixe na água.
A minha resistência terminou quando percebi que já não tenho idade nem paciência, claro que uma coisa implica a outra, para levar com areia nos olhos, na boca, na cabeça, apanhar uma criança a berrar a 20 centímetros de mim, ir à água a correr com medo que me levem as tralhas e aderi por iniciativa da " filhota " às espreguiçadeiras. Parece snobismo. Não é. É estatuto de kota que vai para a praia quase sempre sozinha e quer sentir-se o mais confortável e segura possível. 
E não fossem estes três personagens e eu não teria aderido com tanta animação e alegria na descoberta recente.
É que, a pessoa chegar à praia e ser tratada com respeito, educação e entusiasmo pelos meus dois patrícios angolanos e um puto giríssimo, é algo que me deixa tão bem que posso dizer que me mudei de armas e bagagens do Tamariz para esta praia sem qualquer pena ou remorso. Depois, é mais perto do Cais do Sodré e mais barato. Ah e têm uns mexilhões deliciosos. A propósito, o Tó quando a " filhota " não está e passa pela minha espreguiçadeira diz sempre qualquer coisa agradável como por exemplo, hoje não tem companhia para os mexilhões, sendo que nem sempre os comemos.
E tudo começou com o pedido do número deles para que pudesse pedir reserva para o dia seguinte ou outros e o Nuno a achar que eu era sul africana. Vá-se lá saber porquê. 
Porque é que acham que eu sei que são angolanos? As conversas são como as cerejas, sul africana não, sou angolana, ah olhe eu também, disse-me, sou de Luanda, nasci no prédio tal e tal e o Tó acrescentou, eu também sou, de Vila Teixeira de Sousa.
Por isso eu costumo dizer que se dá um pontapé e aparece um angolano. Neste caso dei um dedo de conversa e apareceram dois. 
Só o Valentim, escapou. Mas há-de ter um parente qualquer que, ou nasceu lá, ou foi lá bater com os costados ou há-de ir, por via da crise neste país. 
Seja lá como for, ali estou na minha praia. E gosto.


quinta-feira, 15 de agosto de 2013

o dia do solteiro

Sabia disso, gente singular? 
Eu não. Descobri por acaso.
Mas é interessante o solteiro caber num dia do calendário com a propriedade que o dia lhe confere.
Cá p'ra mim vou fazer uso disso e vou à procura do poema, estender a toalha, receber o sol e banhar-me nas águas salgadas e frias brrrrrrrrrr, da praia mais próxima.
Solteiramente...

palavras caras num país de tanga

Alguém sabe o que quer dizer RESILIÊNCIA?
Pois. 
É que na TVI em análise ao crescimento da economia portuguesa foi dito este palavrão. Pelo analista.
O povo quer saber o significado. Quer que lhe cheguem palavras de todos os dias. 
Para perceber e ficar menos descontente. 
Fui à procura da definição e encontrei por exemplo que A RESILIÊNCIA é um conceito psicológico emprestado da química, definido como a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, stress etc. sem entrar em surto psicológico. 
Afinal RESILIÊNCIA pode querer dizer, por exemplo, para a física, a capacidade de um material voltar ao seu estado normal depois de ter sofrido tensão. Faz portanto sentido, mediante a notícia positiva que abriu os telejornais. 
Mas, senhores, tenham a santa paciência. Quem está desempregado, quem anda a contar os cêntimos, quem quer ver uma luz ao fundo do túnel, quem trabalha de sol a sol, o homem da motorizada, quer palavras entendíveis. Não aquelas que só alguns estudaram, conhecem e usam. Isso faz lembrar a injustiça das classes. Faz pensar que afinal volta ao normal depois de ter sofrido tensão a vidinha dos privilegiados.
Ai, ai! Para quê palavras caras num país que está de tanga, a contar os tostões? 
Pronto, falei e disse. Tirei o chapéu e fui.

cumplicidade

Cumplicidade é uma partilha de intimidade. 
Tão forte como um segredo. 
Tão grande como uma amizade.
Tão dominante como uma paixão.
Tão inquebrável como um amor.
Cumplicidade é uma sintonia quase perfeita. Um conhecimento profundo do outro. 
Uma disponibilidade sem limites. Um humor e tempo certos. 
Um sorriso. Um piscar de olhos. Uma palavra. Um jogo. 
A mesma sensibilidade, a mesma energia. O mesmo patamar.
Cumplicidade poder ser amizade, paixão, amor, tudo junto. Pode ser um dos três. 
Cumplicidade desbloqueia situações. Momentos. Liberta solidões. 
Cumplicidade é um estado de alma gémea.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

et voilá!

Hoje acordei cedíssimo. Não, não tinha insónia. O que não tinha era sono. E resolvi partir para a vida porque de manhã é que se começa o dia, já dizia o avô Carvalho e sô Santos que tinham como principal motivo para cedo erguer, crescer, como honrados trabalhadores. Eram daqueles que nunca usaram a frase preconceituosa de preguiçosos crónicos, de que trabalhar é bom para o preto.
E se acordei, depressa me levantei. Que a cama mói o corpo quando nos acorda neste jeito de sermos madrugadores.
Há nisto a vantagem de se ser reformado, porque nos levantamos e deitamos quando queremos e desejamos. Ser reformado tem mais vantagens que desvantagens se bem que queiram denegrir esta nossa condição. Em todas as frentes disparam ao alvo, que somos nós, constroem frases de circunstância, fazem figas, assumem ares de profunda sabedoria ao mesmo tempo que nos acenam com depressões, rotinas, ociosidades, vícios e manias, como quem diz, estão condenados os que caírem nas malhas dos que nada fazem. 
Parecem abutres. Endeusados. Feiticeiros e kimbandas. Parecem até anjos da guarda, preocupados, ansiosos e inquietos, rezando por nós, para o melhor nos calhar em sorte, como se eles fossem nós, mas atentos ao menor sinal de alarme que é como quem diz, uma preocupação, uma tristeza ou mesmo uma cisma qualquer nossa que sempre aconteceu e acontece e nenhum alguém esteve lá para ajudar, hoje, estão de dedo esticado, eu não disse? 
Podem ter dito, podem dizer, até porque também se diz que os cães ladram e a caravana passa e eu até já tive uma, anos a fio no parque de Peniche e para quê? Para o lazer. Que é o melhor que a vida tem. Mas para isso é preciso trabalho que é o que todos deviam ter. Mas não vou por esses caminhos. Deixo o assunto para quem de direito. Sindicatos e afins.
Há uma coisa que sei. É que de manhã começa o dia. Mesmo que seja a passo de caracol.
E porque ninguém quer p'ra mim o melhor, mais do que eu, só por causa das coisas vou pôr-me a andar daqui para fora, andar uns quilómetros, respirar ar puro e despertar todos os músculos, porque acima de tudo quero cumprir a parte de acordar cedo e cedo erguer, dá saúde. Quanto a crescer, pois, mente sã, corpo são, é uma forma de crescimento. Et voilá!

fotografando

Já te tirei o retrato. Só falta emoldurar-te.

mergulhando na conversa

Isto da pessoa ir para a praia todos os dias tem que se lhe diga. Digo eu, já que não está mais ninguém por aqui para contar como foi.
Ele é metro até ao Cais do Sodré. Ele é comboio até ao destino. É andar até à praia.
E é também, esticar a toalha. Arrumar as imbambas, espreitar o mar. As ondas. Os surfistas. A bandeira. O nadador salvador.
E também ir pé ante pé, na elegância possível e atrevimento que baste, molhar o dito pezinho na poça de água onde a criança chapinha. A ver se a temperatura está boa. A ver se há mar e mar. Que valha a pena.
Ganhar coragem e avançar. Devagar. Entrando e arrepiando. E avançar. Cada vez mais perto dessa água que vai unir-se ao nosso mar. Cada vez mais longe de me afoitar e mergulhar de cabeça.
Penso para com os meus botões. 
Quê deles? Ops! Procuro no biquini novo e não encontro. Modernices. 
Será? Na verdade não tenho memória de acessórios tais em peças destas, até porque faz sentido, afinal a gente não se vai banhar? para quê falar com este aquele e mais com os botões? É para banhar é para banhar. E má nada que isso já exige muita concentração e alguma coragem. As ondas altas derrubam-nos. Os mergulhos dos outros podem perturbar-nos e metermos água. E salgada, que parece que somos bacalhau na salgadeira.
Mas fiquei em modo de pensativa porque por mais voltas que dê à ambição não sou capaz. Lamento. Me chamem cobardolas, mariquinhas pé de salsa, me chamem até atrasadinha das dúzias, anormal e matumba, não quero nem saber e tenho raiva a quem sabe. Também não faço figurinhas tristes e infantis como apertar o nariz com os dedos e descer na vertical mar dentro, de olhos fechados, ou abertos que sei eu?
O mar é minha testemunha, não sou capaz de mergulhar. De cabeça. E me entregar nesse prazer. Será que tem? Pelo jeito que observo, parece é a melhor coisa que fazem na vida. Ficam mais homens num segundo. Quem diz homens, diz mulheres. Elas então, parecem sereias entrando nas águas e trespassando-as. Sereia já não sou, no limite sou ex, já eles parecem tubarão, rei e senhor do mundo aquático. 
Por isso como não me importo de não ser mais sereia, já dei lugar para outras há muito tempo e não gosto de tubarão, sabe-se lá porquê, não gosto e pronto, qual é a crise de não mergulhar? Não é nenhuma. 
Por isso digo que isto de ir para a praia todos os dias tem que se lhe diga. E não gosto do que oiço por aí. Mas vou. Hoje foi mais um dia. De praia. E mesmo que não mergulhe de cabeça, dou umas braçadas ao encontro dos encontros felizes. O que já não é mau. Não sou uma sereia, nem para lá caminho, porém posso nadar que nem peixe, assim tu me ensines. Ou melhor, assim tu mo peças. Incentivo é a palavra de ordem.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

já não se fazem poemas como antigamente

Nesta noite cálida de domingo, ai a minha vida, está bem está, cálida é favor, quente, sim, que está a escaldar e isso não me parece nada bem pois que de escaldões percebo eu e não gosto, já hoje foi mais um, se calhar por isso é que me troco toda e de há uns tempos para cá chamo aos sábados domingos, vai-se lá saber porquê, mas adiante, dizia eu que nesta noite quente de sábado, indo eu pé ante pé, no caminho do lar, outra, pé ante pé, han?! chinelando displicentemente, no caminho de quê? Lar? 
Estou mesmo a querer tapar o sol com a peneira para que passe só por entre os furinhos já que hoje esteve abrasador e isso cansa as vistas e a pele e torra a paciência a um santo, portanto a ver se nos entendemos, ia chinelando no caminho de casa, quando subitamente, mas é que foi mesmo, aqui nada a registar, e vamos em frente que atrás vem gente e pode não ser de confiança, não vá o diabo tecê-las, dizia eu que subitamente chega até mim um aroma intenso que a brisa suave da noite, tipo lufada de ar fresco, me traz. 
Inspiro e tento reconhecê-lo. Hun, tal e coiso, coiso e tal. Alfazema. Bingo! Mais cinco, que nem sempre acontece. Troco alfazema com alecrim e vice-versa. E às vezes também o jasmim é trocado. Mas não. Desta vez não me enganei. É mesmo alfazema. 
Como aquela que vem em saquinhos para a gente oferecer no Natal, de presente aos menos íntimos que esses mandavam-nos dar uma volta, coisas de velhos, o que é que é isso? Estás a ver-me de óculos ou quê? Oh licas, estou mesmo, que já os uso há mais de uma década e não vejo melhoras nem milagres por isso aguenta fofa, sim, que homem que é homem (?) não aceita presente que está na cara é para mulher, rebobino e digo mais uma vez, que sim, fofa, quando estiveres prescrita que é como quem diz, a mijar para as botas, troco o teu perfume preferido da Douglas por um saquinho de alfazema, e levas com ele, ah pois é, que guardado está o bocado para quem o há-de comer e ai comes comes, oh se comes.
Eu juro que tento, já várias vezes, hoje, tentei fazer um poema à noite quente, à brisa suave e fresca de aroma a jasmim, caneco, não é jasmim nem alecrim, é alfazema, mas como consigo eu inspirar-me? Se a alfazema está plantada num jardim (?), que não é o de Belém, nem da Estrela nem o Botânico, mas num reles canteiro das bombas de gasolina antes da ponte que hei-de passar para chegar ao burgo onde descanso o cansaço e os sonhos e também os pesadelos que é como quem diz, onde habito, ah sim, a dita ponte de que tenho falado muito ultimamente, pudera, a gente fala do que conhece, e já agora, esclareço que vou passar a dita, se Deus quiser e há-de querer, que estou farta de ficar a meio de pontes como aqueles indecisos que já todos conhecemos pelo menos uma vez na vida, que fazem pelas pernas abaixo por não escolherem entre dois ou mais, o wc certo.
Era mais fácil sim, muito mais, se o mote para o poema tivesse como poiso certo, local do " crime " sei lá, o castelo de S. Jorge, um beco de Alfama, as escadinhas de São Cristovão, beira-rio, rio Tejo, o parque Eduardo Sétimo, ops! se calhar menos não? Pronto, pronto, um qualquer parque da cidade grande, uma qualquer colina, uma qualquer ruína, mas Odivelas? Só que é o que temos e não posso renegar a localização do canteiro de alfazemas, da brisa fresca e da minha passagem por isto tudo. 
Posso dizer que quando senti o cheirinho conhecido, mais a brisa, porque isto é tudo poesia da verdadeira, já que mexeu com os meus sentidos e me beijaram amigas me dizendo no ouvido que estou viva da silva, quer dizer, dos santos, olhei por mim abaixo e disse para com os meus botões, mas primeiro procurei por eles não os encontrando na túnica transparente e aberta quase até ao umbigo, mas num esforço tramado, porque para falar com botões estou cá eu numa cisma que chega a ser paranóia, touché, achei algures, adiante, dizia eu então, neste conversê viciante, que achei estava perante um poema daqueles à séria para final d'um dia quase perfeito, mas quando procurei pelo caderno e pela esferográfica percebi que não há poesia possível quando uma criatura chega da praia às nove da noite, carregada de sacos, dois deles do supermercado com comida de gata, linhaça, iogurtes, leite de soja e água gelada porque está um calor do caraças e o corpo pede líquidos e água é do melhor, tem uma larica gigante e ainda tem de passar pontes e olhar para os lados, não vá o diabo tecê-las.
Qual poema, qual carapuça.
Olhem, quem quiser que o faça, ao poema. O mote eu dou e não diga que vai daqui.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

fortim do Kikombo

Do tempo da ocupação holandesa em Angola.

kandandus

Da vida quero pouco. 
Bem ou mal já me deu muito.
Deu-me passado. 
Longos e extraordinários ontens. De cor e poesia. 
Crepúsculos e auroras perfumadas e coloridas. Melodias. 
Espíritos iluminados. Lugares de sonho e de harmonia. 
Deu-me também, provas, desafios, tentações e desvios. 
Privações e crescimento.
Conhecimento...
E deu-me liberdade de ser. 
De escolher. Se amar, se me prender. 
Se perdoar ou se pecar. 
E deu-me visão nas guerras de mim e nas alheias. 
E trouxe-me beijos e acordos de paz.
Da vida já quero pouco.
Do hoje, quero abraços. 
Não, quero antes kandandus. Que há quem acredite, eu também, que são mais do que simples braços rodeando corpos, gerando calor. 
São abraços falando kimbundo. Nosso chão, nosso espírito que vem da terra. 
São amor, tocando almas. São oferta e entrega. São gestos pequenos de gente grande, crescendo dentro de nós. Enlaçando-nos. 
São momentos únicos, superiores. Elevando-nos.
São os elementos tomando conta de nós. Renascimento. Energia... 
Do hoje, afinal o que quero é energia. Vigor, calor, presentes, enlaces, amor. Momentos superiores. 
Do hoje, eu só quero renascer...

hoje

Atravesso a ponte. Enquanto o faço, lembro um pesadelo. 
Era um certo dia. Uma vez, de tantas que ali passei. Era uma manhã calma e indiferente à minha falta de vontade de seguir em frente. 
Era a derrota a render-se ao futuro. 
Era a tentação de parar. E calcular como seria a vida sem mim. 
Era um dia fora de mim. Era uma tentativa frustrada de sonhar. Antecipar...
Sinto um arrepio. Esta é a pele que hoje visto. Arrepia-se aos pesadelos. 
Pensamentos, que tento matar na memória que armazena o bom e o mau na sua força maior. O que é para esquecer, não devia ser lembrado. Nem em sonhos. Pesadelos são noites mal vividas, dias insuportáveis, manhãs dolorosas, sonhos mortos, pessoas diabólicas, veneno, mal, mal e mal minando, prendendo, bloqueando sonhos e futuros.
Sinto um arrepio. Deve ser da brisa que no fim da tarde acaricia os corpos cansados, as almas inquietas, a pele curtida do sol, as memórias despertas.
Outros atravessam a ponte. Acenam-me. Não os conheço. Ou são loucos e já pararam algures num ponto qualquer da vida, ou já me 
acenaram noutra qualquer encruzilhada.
Atravesso a ponte. As pontes são demónios, se os pesadelos vencem os sonhos. Passá-las são desafios. 
Antes do sol se pôr, de ver o sonho morrer, a noite a velá-lo, antes dos fantasmas ganharem forma, passei a ponte. Hoje.

Nelo Paim Cori- Cori Feat Paulo Flores e Yola Semedo

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

de véspera

A véspera é um momento precioso. O dia anterior ao que há-de chegar. 
A véspera dá tempo ao tempo para questionar. Pensar sem emoção. Equacionar. 
Dá-se à ansiedade e à preparação.
Dá-se à possibilidade de mudar o destino. Dá-se à decisão. 
A véspera está nas nossas mãos. O dia seguinte, não.
Há uma véspera questionável, nesta minha longa e sofrida vida. 
Não foi pensada. Nem equacionada. Foi, antes, vivida na ansiedade da preparação do dia que estava por acontecer.
Não mudei o destino nem decidi o melhor para mim.
E chegou o dia. E partiu também. 
A vida é um jogo. Vésperas e dias são cartas que a gente baralha, parte e reparte e nem sempre fica com a melhor parte.
Hoje, é véspera d' um dia que joguei alto. Baralhei, parti, dei cartas e perdi.
E não ficou nem um naipe para contar onde começou a batota. Porque não consegui jogar. Porque não ganhei. Onde falhei. Porque assinei a minha sentença, de véspera.
Se fosse hoje, não havia dia nem jogo nem palavra, que me fizesse mudar o destino...

anoitecendo irremediavelmente

A noite cai na cidade grande. O metro desliza para a periferia. Voltar para casa já foi mau. Hoje é, atracar no cais. Chegar ao porto seguro. 
Mais um dia que passou. Não tenho calendário nem faço cruzes nos dias. Não rasgo a folha dos meses nem me importo com as horas. Não faço planos. 
Já bastam os desenganos. As ausências. As esperas. As insónias e as contas de cabeça. E os restos zero.
Já bastam coração e mente em comunhão, enlouquecidos, voando, para um lugar do nada onde só eu lá caibo. Onde só eu moro. Onde me refugio. Solitariamente.
A noite cai e mais um dia passou. 
Atendo uma chamada, enquanto atravesso a ponte. Lá em baixo os automóveis velozes voam para um destino marcado. 
Pontes são tentações, demónios se nelas paramos, penso eu, desviando o olhar e seguindo. Em frente, o lugar que fiz meu, num empréstimo que não sei se pagarei caro.
Subo as escadas. A voz do outro lado da linha, continua a falar. Não vou só. 
Não estou só. Enquanto essa voz existir vale a pena passar pontes, ver a noite cair e atracar no cais.
Abri a porta. Do lado de lá, uma gata impaciente aguarda que dela trate. Espera-me ansiosa. Roça-se nas minhas pernas. Encosta a cabeça aos meus pés, segue-me.
Poiso as compras. Arrumo-as. Bebo um copo de água que tiro da geleira. 
Alimento este ser que comigo coabita. São gestos repetidos. Que hoje observo como se de outra se tratasse. 
A noite caiu enquanto atravessei a ponte. Me dirigia ao porto seguro, lugar em que acredito ninguém me fará mal. Talvez tenha caído, com ela, em mim.
Acendo a luz da sala. Descalço-me. Prendo o cabelo. Ligo o computador. Procuro um vídeo. Uma noite destas, sentindo que precisava voltar às raízes, à música, às palavras e à saudade, ao sonho e à vida, alguém chamado amizade me disse que ouvisse, que ia gostar, que me ia fazer bem. 
Cliquei. E ouvi. O chamamento. E senti-me morada d'um amor imenso. E chorei rios e mares e libertei esta angústia que o dia fez crescer, sabe-se lá porquê.
Hoje a noite tropeçou em mim, neste lugar de saudade e eu caí com ela, em mim.
Há dias assim, que não seguro a noite e caio com ela nesta tristeza de não me amanhecer do outro lado do mar. No fim da ponte. Na casa de todas as casas, no meu chão, meu porto seguro...

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Angola. Por do sol.

o momento

Se o momento acontece, deixá-lo acontecer
Mas se não acontece, deixá-lo fenecer
Antes que o fim inicie a função
De dar luto ao coração 
Há olhares que não se trocam mas se adivinham
Palavras que não chegam e magoam
Praias que se fecham à vontade
E sois que não brilham senão aqui
Há sonhos que não são sonhados
Nos silêncios que gritam desapegos
E camas onde mal amados
Se entregam, cobardes, de medo
Há caminhos proibindo esperanças
Esquecidas sem quaisquer remorsos
Terras e casas desertas
Portas e janelas abertas, fechando-se
Sem surpresas nem lamentos
Nem recuos
Nem sofrimento
Se o momento não acontece
Não está destinado nem foi sorteado
E ninguém o traçou nas linhas da vida
Então mata-o no coração
E deixa que se cumpra a função
Mas se o momento acontece...deixá-lo acontecer.


m.c.s.

o metro

O metro é o transporte mais usado pela maioria da população durante a semana. Pelas minorias, ao fim de semana. 
Eu uso-o de qualquer maneira. Pertenço às maiorias e também às minorias e não estou nem aí para as correrias, encostos, encontrões, cheiros que fedem, caras ensonadas, antipáticas, infelizes, pedintes que fazem profissão e assinam o ponto diariamente, sem abrigo, engravatados, ordinários, larápios, chulos, prostitutas, funcionários públicos, estudantes, executivos, desempregados, reformados, bêbados, turistas. E outros...
Não estou nem aí. Uso e abuso. E gosto de usar e de abusar. O metro é rápido. E mais barato que autocarro, eléctrico e taxi. 
Tem o senão de ser que nem toupeira, mas ainda que claustrofóbica, na verdade nunca me lembro que vou debaixo da terra, o que é bom. A menos que mo lembrem.
E desta vez fui lembrada. E por quem?
Por dois mwangolés que iam sentados nos lugares da frente. Ele, jovem, de ténis, jeans e t-shirt amarela que dizia, Força Angola, ela já kota, talvez mãe dele. Lenço na cabeça, saia parecia pele de cobra, cinzenta, blusa cor de rosa, lenço nos ombros a servir de xaile e sabrinas com brilhantes. Como sei? São muitas viagens de metro. Muita observação. Muita curiosidade. Muito tempo sem nada para fazer à procura de um motivo qualquer que distraia o olhar e o pensamento para não ficar com cara de mete nojo a disfarçar que é natural ir a olhar e a desviar olhares.
Ainda estava na observação deles, que é como quem diz, ainda não me tinha posto bem neles quando começam a conversar. O sotaque os denuncia, ainda que a t-shirt já o tivesse feito antes. Se bem que não há nada que diga que um guineense ou moçambicano não possa usar uma t-shirt que diz Força Angola. O sotaque da banda percebe-se ao longe e não há dúvidas nenhumas quando é um mwangolé que está a falar.
- Porquê afinal a Rosa não quer apanhar metro? É mais fixe, então? ele.
- Deve-lhe assaltar um medo. Ela me disse que apanha o autocarro. Aqui tem o 36. Vai até no Campo Pequeno, depois apanha o outro lá p'rás banda dela. Ela.
- Eu num tenho medo de metro. O autocarro demora bué. Dá muitas voltas. Só se for para olhar a cidade. Gosto mesmo de andar de metro.
Apeteceu-me estender o braço abrir a mão e bater na mão dele numa de, apoiado. Eu também de vez em quando gosto de regressar a casa de autocarro, mesmo que mais demorado, apenas para observar a cidade. E evidentemente quando é tarde, porque pára mais perto de casa.
- Mas aqui se há um próbeléma tamos lixados, disse ela, abanando a cabeça para cima e para abaixo. Ficamos aqui em baixo. E riu.
- Pois é. Mas não ficamos aqui no buraco. Vêem-nos buscar. Eles nos tiram daqui. 
- Nos tiram né? Perguntou ela desconfiada.
- Ya. Nos tiram sim.Temos é que esperar aqui dentro. E ao dizer isto ele sorri nervoso.
E eu nervosa fiquei. Afinal estamos mesmo lixados se tivermos um acidente. Mas tal como ele, penso que eles, sejam lá quem forem, vêm-nos buscar.
Enquanto não, acho que teria um acesso de claustrofobia com pânico à mistura e imagino em que estado ficaria até que me tirassem do buraco que seria um qualquer sítio onde o metro parasse.
Nunca penso nisso enquanto ando no transporte mais usado pelos utentes. E ainda bem.

Daft Punk - Get Lucky (Full Video)


A música deste Verão

domingo, 4 de agosto de 2013

curibotando

Isto duma criatura ser doméstica/reformada, tem muito que se lhe diga. Digo eu, que não quero ofender ninguém. Em vez de ficarmos na descontra, ficamos  mazé um pouco mesquinhos, a pastar caracóis. 
Senão vejam.
Estava a assistir televisão e vi começar o telejornal da TVI, sim da TVI, leram muito bem, os reformados gostam da TVI, e eu não fujo à regra nem quero ser excepção, gostamos mesmo do que eles vendem. Tem altas makas, bué de malaicos com mambos de aiuê, mamãuê, e outros que tais,  mas dizia eu, que, começou o dito telejornal, o tal onde Marcelo Rebelo de Sousa vai mandar uns bitaites todo o santo domingo. E eu que gosto de cocoiar, o que é que vejo? A Judite de Sousa profissional como sempre, bela e radiante, bué de bangona, com uma vista magnífica lá atrás. Então, sem o menor pudor ( ? ) anunciou-nos que o 
telejornal estava a passar-se na praia da Rocha. Ah pois é! Ontem foi a festa da televisão cheia de uns e outros e hoje é o que se vê. Na praia dos Algarves. Aquela lá onde tem bué de rochas. Onde cabe buéréré de people  e mais alguém.  E vips. E kilembas. E dos outros também. Aquela lá onde já tomei uns banhos fixes, no tempo das vacas gordas.  
E por estamos no tempo das vacas magras,  um reformado não é de ferro. Mas não consegue fazer cara tipo nada. Por mais que tente. E pensa, xinamene, a pessoa está aqui a chichilar, vendo a praia das águas mornas por um canudo, fica mesmo por aqui na costa, em carcavelos ou no estoril, mandando emagrecer uns e outros para que possamos estender a nossa toalha, ficando tipo estamos juntos e estes no bem bom, curtindo,  exibem-nos umas vidas que o povão não pode ter, mas queria. 
Pópilas! Desce uma raiva mesquinha que se não controlamos vira inveja. Daquela má.
Mas como cada caranguejo no seu lugar, eles são doutores que se entendam, quem me manda não bookar mais um coxito? Esta hora podia estar com mais kumbu para bancar umas férias fixes. Quem me manda não ter bala? A culpa não é deles.
Que vale é que só me deu para curibotar um pouco e já vai passar. Assim como assim em Setembro, quem sabe, essa praia também me vai kuiar...

serão stressante

De repente, muito de repente, pareceu-me ser sexta-feira à noite. 
Em casa, um serão animado (?). A Pitanga, a televisão e o computador, o ar condicionado, um jogo acontecendo no rinque em frente e os vizinhos às voltas com móveis ( diz que já não são horas mas...) a criança que todas as noites abre as goelas e não se cala durante horas, tudo isto e eu a stressar.
O que é que acalma o meu stress? Dei volta ao miolo . Preguiçosa como sou, não recorro a nada que dê muito trabalho a uma hora destas. Sair de casa agora, já não dá, a não ser que uma alma caridosa me venha buscar, mas as almas caridosas estão fora, umas em Luanda, outras no Algarve de molho, outras no Ribatejo, outras ainda no Alentejo, em Lisboa, e outras mais, enfim, não digo porque ficavam a saber tanto quanto eu e não é suposto, diz que não podemos dizer tudo no facebook que é perigoso. Perigoso é, eu estar stressada e não saber o que fazer.
Arrumar gavetas, era uma ideia. Passar a ferro, outra. E para não ser só trabalho, ler um livro dos muitos que aqui tenho por ler, também era uma boa, dormir, outra.
Mas...o que me apetece mesmo, mesmo, mesmo, adivinhem o que é?
Fica na cozinha. Não é caro. Todas as pessoas da minha idade que viveram em Angola gostam. Deita-se leite num tachinho pequeno. Uma casca de limão ou lima (( prefiro esta última ) um pouco de açúcar. Pode deitar-se também um pau de canela. E por fim...flocos de aveia. Mexe-se devagar e até estes cozerem e prenderem naquela goma gostosa. Desliga-se, deita-se numa tigela, põe-se canela por cima e...zás. Saboreia-se. E vai daí...já foste stress tramado de 5ª feira à noite e vizinhos doidos, crianças histéricas, gatas desconfiadas, televisões com canais da tuge e computador lento para caraças.
E depois dizem que tal e coiso e coiso e tal, que os flocos engordam. Falam assim porque não estão rodeados desta coisa nenhuma em que a Pitanga é a única coisa boa que se me apresenta no momento. Engorda?! E então? Vale o gosto para o desgosto. 
Pelo menos hoje.

hoje foi desse jeito

Ao fim de dois dias de voluntária clausura, resolvi sair, porque elas não matam mas moem e diz que os reformados não devem fechar-se. Que morrem de morte morrida. P'ra mais e apesar das penas que a minha vida tem, não gosto deste penar porque não sou pássaro de gaiola. Mesmo que seja dourada. 
A propósito, acho que devem ir ver o filme pois é muito giro. Saem de lá a falar francês com sotaque de tuga, mas até se torna um charme, p'ra quem gosta.
Mas estava eu dizendo que pus pés ao caminho e fui aqui ao dobrar da esquina que não é senão uma ponte que separa o Olival, de Odivelas e da Póvoa e que saltando a ponte, logo ali de frente do nosso nariz avistamos uma loja de chineses e chinesices e outras modernices que até berram de tanta foleirice, arrepiam de tanto mau gosto e tão duvidosa qualidade, mas fazer o quê? 
Pobre é assim mesmo, não vai para a Comporta, mas dá o dito e três tostões por uma grande loja de chineses. Eu também. Há sempre uma chinesice que outra loja não tem. Tinha feito uma lista de coisitas que queria da dita loja. Velas, afia-lápis, papel de alumínio e aderente, um cesto em verga para os colares que andam por todo o lado e já não há quem os consiga arrumar. Ah, um tapete daqueles que parecem mantas, também. 
Procurei por toda a loja e nada. Devo dizer que entrei ali duas vezes apenas. Vi um chinês e dirigi-me a ele. 
- Dá-me uma informação por favor? é que foi mesmo assim porque quando toca a ser bem educada, sou mesmo.
Nem olhou para mim. Repeti, dá-me uma informação, por favor?
O homem dos olhos em bico, virou a cabeça de repente, arregalou os olhos, desapareceram os bicos, pareciam saltar das órbitas e disse neste tom:
- FALA! alto, quase a gritar-me. A colocar a sua pupila na minha, directamente. Porque eu não respondi de imediato, insistiu, FALA !
- FALO, sim. Diga-me onde estão os tapetes, falei, puxando o queixo para a frente e empinando o nariz. Sem pestanejar. Sem desviar a minha pupila da dele. Sem vacilar.
Ele apontou outro compartimento enorme e desconhecido para mim, É ALI ! 
Obrigada, ainda disse e lá fui eu rezando pais nossos tortos, imaginando aviões com os dedos e meia dúzia de palavras impróprias como lhes chamava eu, quando me ajoelhava no confessionário do padre Luís na igreja de S. Paulo, na missa das seis, de domingo. 
Também não achei os afias e por isso na caixa perguntei ao outro chinês, eles são mais que as mães naquela loja, onde encontrava o dito afia-lápis. Muito calmo e educadamente falou com a chinesa que estava mais perto, apontou e lá foi ela em busca do que eu precisava. Simpáticos estes dois. O homem fez-me a conta a tudo e sorriu. Gente, os chineses sorriem. 
Sorriu-me, recebeu-me o cartão MB , fez a operação, entregou-me o saco e atendeu outro cliente de seguida.
Saí da loja, contente com as minhas compras. Mas pensativa. Porque será que a comunicação com os asiáticos é sempre tão difícil? Não é preconceito. 
Trato-os por chineses porque eles o são. Não lhes conheço o nome. Tenho de os identificar de alguma forma. Mas hoje aquele chinês ia-me tirando do sério. Não por ser chinês mas por me gritar. Anda tudo doido. Qualquer dia os vendedores andam de Gê3 a impingirem-nos os seus produtos. 
Também não admira, pois com a crise que para aí vai, morra quem se negue.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

isto é a minha vida

A minha vida é feita de pequenos intervalos. Densos. Curtos. Desejados.
Chorados e gargalhados. 
De pequenos milagres. Surpresas. Bênçãos. Sinais de Deus. Destinos. Ironias. 
É feita das fases da lua. De caminhos e horizontes. 
De horas contadas e marcadas. Desmarcadas. Inventadas. Apagadas. 
E relógios inevitáveis e certos. Tiranos.
Campainhas despertando-me para o tempo. Acordando-me. Encaminhando-me. Musicando-me. 
A minha vida é feita de ilusões, visões, sonhos e realidades. Expectativas.
De saltos e habilidades. Quedas e escorregadelas. Desvios e outras manhas e artimanhas. 
E faz-se por etapas. Por estações. Por desejos e ambições. Aceitações. 
Na minha vida, há pessoas fazendo escala. Não mais que em trânsito.
Não mais que um dia, uma semana, um tempo breve e limitado.
Não mais que um beijo, um abraço, uma palavra. Um adeus. 
Não mais que um apelo. Uma intenção. 
Parece estranho. Parece mau. Parece uma maldição. Parece mesmo uma predestinação.
Para os pessimistas, uma vida inconstante e pobre. Nómada. À procura do equilíbrio. Reinventando memórias, imaginando estórias de viagens e bagagens.
Sonhando com beijos e abraços. Portos e aeroportos. Faróis. Âncoras soltas. 
Pontes velhas ruindo. Pontes móveis. Tempo curto para o apego e a aceitação. 
Mau porque sabe a pouco. Não criam raízes. Nem em nós. Não dão tempo a que os amemos como mereceriam. Parece, não se deixam amar. 
São como uma brisa, como uma miragem, como um sonho interrompido. Como uma ilusão. 
São um tempo breve onde cabem dois abraços. O da chegada e o da partida. Sem intervalos. Onde cabem silêncios quebrados por sorrisos e angústias. 
Olhares ansiosos e tristes. 
Para os optimistas, uma vida de qualidade. A possibilidade. A concretização. A exaltação.
A realidade cronometrada ao segundo, a oferecer momentos de rara beleza. De união e de verdade. De importância e de entrega. 
De sentimento. De exacerbação. No limite.
Na minha vida há sempre pessoas fazendo escala. Ora chegam, ora partem. Ora estão, ora não estão. Ora parece que foram embora e logo voltam. Ora não chegaram e já estão de partida. Ora prometem e nunca mais chegam. Ora não estou eu. Ora dou um jeito de estar.
Na minha vida há vazios. Muitos vazios, que se preenchem a cada dia. A cada viagem, a cada abraço. E se renovam. Num círculo vicioso. Que me parece bem. Que me renova também a esperança e me quebra repetições. Que me incentiva.
Que me transforma número em coração. Que me grita a evidência da existência. 
Que vale a pena.
Na minha vida há pessoas que estão sempre entre a lágrima e o sorriso.
Na onda que vai e vem.
Entre a noite e o dia. Entre a chuva e o sol. Entre a maciez d'um gesto e o arrepio.
Entre o silêncio e a palavra. 
Há abraços antigos na expectativa. Entre meses. Anos. Entre séculos.
Na minha vida há e haverá sempre pessoas e abraços fazendo escala. Em trânsito...