segunda-feira, 29 de abril de 2013

se eu soubesse



Se eu soubesse onde te encontras, mandaria o sol, banhar-te de luz. Para te guiar nos caminhos tortuosos, estradas do teu destino que um dia, quer queiras quer não queiras se cumprirá. E aquecer-te o coração no intervalo do tempo.
Se eu soubesse quando te encontrarás, mandaria vir a fanfarra tocar canções de encontro, reencontro, presença e alento. Inventando inspiração.
Se eu soubesse o que esperas encontrar que te leve a ti, te oferecia um lugar, simples mas perfumado, aroma floral da primavera e um banco de pedra só para te sentares e te renovares.
E depois...te pediria um sorriso. Simples aceno. Sinal. De chegada, ao ponto de partida. 
A favor do tempo...


constatando


Aquele que decide em harmonia com o que o espírito anseia, nunca sairá a perder.
Digo eu que busco a sabedoria da plenitude e já me harmonizei algumas vezes, tendo o meu espírito saído vencedor.

m.c.s.

constatando


Decepção - O investimento frustrado em alguém que não corresponde às nossas expectativas.
Digo eu, gorada que foi essa pretensão em gente que não valia a pena.

m.c.s.

saudade


Se a saudade me matasse estaria cumprindo mil vidas até morrer feliz só de poder te encontrar na estrada da minha vida, que sonho diariamente percorrer, para encurtar a distância. Para desfazer esta nostalgia do que foi mas não é, do que há-de ser, se for, do que pode nunca ser.
Se a saudade falasse teria uma palavra a dizer e eu seria toda ouvidos. Seria um parágrafo. Uma estrofe. Um ponto de interrogação ou reticências. Seria um poema, o mais belo poema que hei-de inventar só para te oferecer. Um livro. Aquele livro que um dia lerei, lerão numa saudade sem fim, numa grande exclamação...
Se a saudade partisse eu queria partir também para morar nos sonhos teus, no teu olhar, na tua voz, na lágrima rolando no teu rosto tão bonito. No teu naufragar...
Porque se a saudade me abandonasse ia ficar um vazio que não aceito nem queria desfrutar. 
Um nada, bem pior do que não me leres, não me ouvires, não falares. 
Não estares. 
Tenho saudade de ti...

boa tarde, tia


" Boa tarde tia ".
Aqueceu-me o coração. Aquece sempre. Porque é para aquecer. 
Nem sempre tenho o coração confortado. O sol africano nem sempre brilha na minha alma. 
Há demasiado inverno esfriando-me a pele, a mente e a alma nesta europa onde me detenho há tanto ano.
É em Luanda que sou tratada por " tia ". Quer na rua pelos vendedores quer pelos kanucos angolanos sou assim acarinhada num sinal de respeito e de consideração. Que me comove.
Sou tia de sangue de dois rapazes. Sou tia avó dum menino recém-nascido.
E sou tia de muitos meninos, filhos de amigos. Angolanos...
Não sou " tia " de Cascais. Mas sou tia porque em Angola o parentesco é também uma constante entre amigos. 
" Boa tarde tia ". Há quanto tempo não era assim tratada! 
Como me faz falta estar rodeada de sobrinhos de uma África fraterna!
Hoje, neste Abril lembrado, família é família mesmo que longe. Mesmo que não seja de sangue e faz sentido, todo o sentido este, boa tarde tia.

ele há coisas!


- Estão juntas? Se estão, a casa oferece um dos pratos. Não digam que não sou amigo. ( e explicou como funciona )Vai querer café? 
Respondi que não. Continuou depois de receber o cartão e entregar o recibo:
- Obrigada, minha senhora. Por existir. 
Sorri. Continuou:
- Obrigada pelas suas cores. Fiquei rendida. Continuou:
- A sua energia é muito positiva, sabia? Obrigada.
Fiquei em pasmada. Em agradecida e em encantada.
Obrigada disse eu depois de brindar a criatura com o meu melhor sorriso. Desejando que fosse verdade. É o que uma criatura precisa mais na vida, que a sua energia positiva se espalhe. 
Ele há coisas!

( na caixa da restauração do IKEA, 6ª feira )

constatando


O inimigo só o é, porque não lhe permito que seja amigo. 
Está sempre à porta mas não tem passaporte para entrar.
Digo eu, que tenho alguns inimigos de estimação.

m.c.s.

sábado, 27 de abril de 2013

superstição


Olho-te. Sorris p'ra mim. Sorris sempre. Foi por isso que ficaste comigo. Que te quis de imediato num amor à primeira vista que nem sempre acontece. Quer dizer, menos vezes do que o meu espírito romântico o deseja. 
Foi por isso que abri os cordões à bolsa. Desiludiste-me, mas isso são outros quinhentos. 
Tantas desilusões já sofridas criaram uma carapaça que visto de vez em quando, sempre que necessário, para não me desnudar assim às primeiras. Por isso, mais desilusão menos desilusão, fazer o quê? Desiludiste-me porque apenas cumpriste uma parte da tua função. Tornares-me mais vistosa. Bonita, direi mesmo. P'ra quê estar aqui a encanar a perna à rã? Não tinha ficado contigo se os meus olhos não tivessem brilhado, não me pavoneasses e não te tivesse imaginado combinando com o resto, num braço dado de amigos para sempre. E não te tivesse imaginando dando-me importância. Que nem sempre tenho. Olha só quando estou de pijama, cara lavada, chinelos de quarto. Parece que te estou a ver a piscares-me o olho e sarcasticamente dizeres:
- Estás linda, estás! Olha a tua figura. Se saísses assim para a rua ninguém te conhecia. E talvez tenhas razão. Mas sabes que mais? Cagari cagaró. Já não embarco nessa pele que nem sempre é minha. Como diz o outro - 90% da beleza das mulheres sai com água e sabão. Acho duma indelicadeza, duma falta de respeito um homem escrever isto e deixá-lo ficar num lugar onde só quase existem mulheres, as atitudes ficam com quem as toma, mas que o boneco corresponde, corresponde. E quanto mais velha eu sou mais necessidade tenho de me esborratar para parecer bem, quer dizer, melhor, no meu ponto de vista, que nem sempre é o ponto certo e vê bem, longe vai o tempo em que o espelho me devolvia a imagem que eu desejava, mesmo sem ti. Sim porque és recente. E não podes ter a pretensão de achares que não havia vida antes de apareceres e fazeres parte da minha.
Enfim! Até porque me desiludiste. Mas pior, pior, foi que não me protegeste. E até limpaste a tua barra como se nada fosse. Tenho-te desprezado desde aquele dia. Malvado dia...
Bem sei que entretanto a minha imobilidade te foi útil. E o Outono que se instalou. Saíste de cena de mansinho. 
Sorrateiramente como quem não quer a coisa. Não querias, de facto e para falar verdade, eu também não. Não insisto no que me desilude. Fica uma relação comprometida para sempre. Uma paz podre que não me faz bem à cara, à pele, à auto-estima. 
Estou para aqui com este relambório todo e ainda não despeguei o olho de ti. Nem do teu sorriso maroto. Nem do teu piscar de olhos. Acordei para aqui virada e sou meio doida varrida. Já não me escapas, quer-me parecer.
Finalmente posso olhar-te olhos nos olhos sem pestanejar, sim porque corar não me fazes, tinha que vir algo melhor, mais bonito, mais inebriante, mais ...olha, queres saber a verdade? Que me deixasse QO. 
Por falar em QO, lá está, qual foi o motivo do desprezo a que te votei? Diz lá? Han? Han?
E, não disse que nunca mais para ti olhava, nem jurei, num juro sangue de cristo porque jurar é sério e eu se juro vou ter de cumprir e olhando-te agora sei que nunca poderia dizer que desta água não beberei porque tu és irresistível e eu...bem, eu sou uma boba que mesmo servindo-me de ti, porque me sirvo, pois claro, ainda acredito que me fazes bem. Sou doida né? Onde já se viu estares com tudo? Teres essa importância toda...
Continuas aí. Sorrindo-me. E eu...apesar dos pesares e de me teres pesado demais, em tempos que já lá vão, eu perdoo, perdoo sempre é o que vale, estou de espírito aberto e vou esquecer a zanga e o motivo dela. Claro que tu aceitas e regozijas-te com isso, até porque quem ficou doente não foste tu, tu saiste da estória numa boa, nem um arranhão sofreste, já eu...caí das tamancas abaixo e sofri as consequências. Um braço ao peito. Ainda me acompanhaste ao hospital. Ainda sentiste as minhas lágrimas e até cumprimentaste o doutor e a enfermeira. O mano Zé que me transportou e a Ana Paula que me veio fazer companhia toda a tarde enquanto eu me contorcia toda qual boneca articulada ou palhaça e disfarçava a tristeza atrás de um sorriso tristíssimo mas já conformado. 
Ok. Venceste. Vou agarrar em ti, esquecer que me espalhei ao comprido, até porque também acontece quando não estás e não podes gramar com as culpas todas. Vou esquecer que me zanguei contigo e te pûs de lado. Vou quebrar o enguiço e... vou vestir-te, querida blusa por mim abandonada no dia em que parti o ombro.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

o ( des)encanto de Abril


Não sei de rosas nem cravos, 
Nem outras flores do jardim
Não sinto o perfume do tempo 
Na estação em que me perco
Me encontro, me morro 
Ou me adormeço
Não vejo sinais de fumo
Não tenho estradas abertas
Nem rios 
Nem mares
Nem lugares
Nas margens das pontes desertas
Que me tragam a luz da manhã
Que renovem a minha esperança
Não vejo nem na criança
Futuro para este país.
Desenho a flor de Abril
Que guardo, retenho e rego
Na minha cansada memória
É urgente conservar a história
É urgente não apagar
Os destinos traçados na mão
Pelo punho do cidadão 
É urgente acreditar
Que algo vai ter de mudar.

Não sei de rosas nem cravos
Nem outras flores do jardim
Mas quero ver, do chão brotar
Girassois, papoilas, jasmim
Quero poder semear
A semente do futuro em mim...

m.c.s.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

terça-feira, 23 de abril de 2013

amo-te muito


Quem diz que irmão não é só o de sangue tem muita razão. Há irmãos que são do coração. E eu tenho uma irmandade deles. Daqueles do peito. Daqueles que podiam chamar o sô Santos e a dona Celeste de pais. E eles os tratariam como filhos. Levaram nos seus corações alguns deles.
E levaram nos seus corações uma menina, sangue do seus sangue, carne da sua carne, amor dos seus amores.
A minha irmã, que é de sangue e também de coração, num dois em um maravilhoso, um milagre da natureza que os meus pais me deram de presente há quarenta e cinco anos. Faz hoje.
Pois é, caçula! Estás a chegar lá. Ao lugar das pessoas adultas. Só que não cais de madura. Tu és das que, antes quebrar que torcer. 
Tu és uma força que a Natureza não contesta nem discute. 
E que ninguém desvirtua porque és um ser especial. E não conheço ninguém melhor que tu. 
Votos de que a vida ainda te sorria como tu lhe sorris sempre. Que a vida te ofereça o que tu ofereces aos outros. Que a vida faça contas contigo e ainda te dê uns trocados porque está em dívida há muitos anos, quase que há quarenta e cinco. 
Votos de dia feliz, meu amor.
Muitos Parabéns. 
Amo-te muito. ♥

quarta-feira, 17 de abril de 2013

primaverando


A primavera


o rio

O Almonda no seu leito normal, após as chuvas.

a propósito da crise




" Entrámos num bar aberto e apanhámos um grande pifo ". 
Não fui eu que disse. 
Disse João César das Neves, analisando o estado do país e o eventual culpado da crise.

m.c.s.

a Paixão


Andando à volta com os sentimentos e não conseguindo reunir na memória todas as minhas paixões, dou-me conta que, ou foram demais ou a paixão nos tira a capacidade da lembrança do agente provocatório desse avassalador sentimento. E por isso as remete para o esquecimento.
Gosto da paixão. Desperta, belisca, remexe os sentidos. Domina-os.
Remete-nos para lugares de inconsciência e excesso. Do outro mundo...
Para o melhor lugar do mundo. O do prazer. Da auto-estima. Do poder. 
Aquele lugar onde o cheiro, a voz, o toque, estimulam a pele, o coração e a alma. 
Até à taquicardia. Até ao sonho improvável, à demência. À isenção de culpa.
À realização física e emocional.
Gosto da loucura dos sentidos. Da sua ressurreição. 
Mesmo que dure pouco mais do que o coração suporta.
Pouco mais que um voo de borboleta ...
Gosto da paixão, porque apaixonada, rompo a barreira deste mundo e sou uma força da natureza.

m.c.s.

terça-feira, 16 de abril de 2013

era inevitável



Reconheço a cidade, nesta terça-feira, de mercado, de sempre...
O peso das tradições, hábitos, rotinas, dinâmicas de um povo e de uma cidade não se perdem só porque os habitantes vão partindo, vão mudando hábitos e mudando-se.Estou de partida também. Não sei quando, mas estou de partida.
Era inevitável a minha saída. Afinal vivi sempre contrariada. Com um pé aqui e outro num algures qualquer dos meus sonhos.  Nem sempre num sítio conhecido e amado.
Foram anos e anos perguntando-me quando chegaria o dia. À espera de fins de semana. De férias. 
À espera de um milagre...À espera da reforma.
Era inevitável, não o milagre, mas a reforma e por isso chegou. Mais depressa que esperei. Mais depressa que sonhei. Porém, ainda não me mudei. 
Não sei bater com a porta. Não sei fazer uma cruz, não sei cortar na raiz. Não sei não olhar para trás.
Se o faço, algo, um pouco, muito, quase quatro décadas, partem também para sempre de mim.
Não sei viver sem passado.Respiro a cidade numa terça-feira de mercado. Decido embrenhar-me nas dinâmicas antigas, tão antigas que nem o tempo as matou.
Descubro a cidade de hoje, vila de outrora. Igual. Nas cores, nos cheiros e na oferta. Na paisagem. Na fisionomia. 
Podemos esquecer pessoas, mas as ruas empedradas, o rio e as margens, o castelo, as igrejas, o cruzeiro, a avenida dos castanheiros, o rossio, o jardim,  a praça, os jacarandás despertando para a flor lilás não se afastam do nosso imaginário. São espaços integrantes no nosso dia a dia, somos parte integrante da cidade.  
- Olá bom dia! Os meninos estão bons?
- Tudo bem obrigada.
- Há quanto tempo não os vejo? Nem à senhora também.
Um sorriso, um acenar de mão. Beijinhos, beijinhos.
- Olha esta menina! Há quanto tempo! Estás boazinha? 
- Eu estou e tu? 
Beijinhos, beijinhos e ficamos à conversa uns minutos. 
Olho o vai e vem da rua. As suas gentes apressadas, carregadas, suadas. Alegres. Como sempre.
Fui eu que saí. Que estive fora mais de uma década somando tempo para a reforma, que chegou.Era inevitável a minha ida à cidade numa terça-feira de mercado. 
E reconheci pessoas. Mais velhas, enrugadas, estafadas. Pindéricas.  Algumas que me acenaram também. E que provavelmente me acharam mais velha, enrugada, estafada, pindérica ...
- Parti um ombro...
- Eu sei, li no teu blogue. ( sorrisos )
- Ah pois é, na viagem pelas aldeias típicas, dei-te o nome. ( foi a minha companheira de viagem durante dois dias, ali no banco ao lado; conheço-a de sempre ). Parti o ombro e engordei. 
Mas já estou a emagrecer de novo. Quer dizer, a desinchar.
- Estás bem. A tua cara está boa.
Se queres ir beber um cafezinho, vai ter comigo ao bar do hotel. Vou sentar-me lá a ler um pouquinho.  Vim ao mercado porque também gosto de vir e acabei a comprar estes livros ( sorrisos enquanto mostra o saco com três livros ). 
Não fui. Segui adiante, pela avenida e mergulhei de cabeça na feira ( mercado semanal ). Era tarde. Já ninguém vendia. Acho até que já  ninguém queria vender. Esperavam que a hora de almoço soasse para assim prepararem as carrinhas e seguirem os seus caminhos. Noutro lugar, noutra feira, cumprindo a semana e o seu destino de nómadas. 
Entrei no supermercado para algumas compras.
Prossegui pela cidade de regresso a casa. O sol, as cigarras, a hera trepando as paredes, os muros, o rio, as flores do campo crescendo ao acaso, o perfume, os lagartos e lagartixas, as abelhas saltando de flor em flor emprestavam à cidade um encanto que só a pele, os olhos e a sensibilidade de quem já não pertence a este lugar, nunca pertenceu afinal, pode apreciar sem culpa nem tendência.
Era inevitável que chegasse o dia. Em que de rosto descoberto, olhos nos olhos e coração leve abraçasse a cidade que me acolheu e a que nunca chamei minha. 
Não sei ficar zangada. Não sei acumular ódios. Não sei o que é indiferença. Não gosto de sinais proibidos. Não gosto de ruas sem saída. Nem lugares sem volta. Não gosto de cortar pela raiz. 
Hoje e aqui, senti-me em paz. Feliz. 
Estou de partida, mas quero voltar sempre que sentir saudade. E permanecer. E ficar, ficar até me apetecer...

meu almoço




o Amor


Andando à volta com os sentimentos e encontrando em mim, todos os meus amores, percebo-me 
riquíssima.
Porquê? 
Porque amar, para além de ser algo deste e de outro mundo, fica na eternidade. 
E eu amo. 
Como sei? 
Todos os seres que já amei, ficaram no meu coração, para sempre. 

m.c.s.

acreditar


Nas nuvens que o céu criou
Se afasta a tempestade
Que em mim lágrimas chorou
Nas linhas que o tempo traçou
Teço momentos de oiro
Bordados de eternidade 
Na lua nova crescendo 
Renova-se a minha história
E na onda enrolando a areia 
Posso ver-me na memória
E no desejo de amar
Deixa-me perseguir o meu sonho
Deixa-me alcançar o destino
Deixa-me acreditar...

m.c.s.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

No fim do dia, ontem

Grande escaldão!

Vida boa!


ao domingo, no campo

à laia de áfrica, massarocas assadas comidas no campo, na " quinta " do mano Zé

colhendo flores pela objectiva









eu ontem

esta era eu antes de sair de casa e pronta para ir para o campo

só constatando


Gosto tanto, tanto de praia, que se morasse na beira mar, não saía do molho. 
Digo eu, lembrando as praias da minha cidade, verdadeiro caldo. 

m.c.s.

ouvido na televisão


Sabiam que o ser humano produz um litro de ranho por dia?
Não fui eu que disse, ouvi na televisão a um otorrinolaringologista. 
Ah pois é! Olha só os projectos de macacos, que a gente engole...digo eu, rsrsrsrsrs!!

m.c.s.


ainda constatando


Estou mais magra. Quer-se dizer, menos espaçosa.
Desde que sou kunanga, trabalho demais para isso e ninguém me paga. 
Eu que julgava que ser reformada era não fazer nada. Mas é que já era tempo de fazer 
alguma coisinha...por mim. Digo eu...


m.c.s.

...amar...


Amar é gostar de desenhar o sol e pintá-lo das cores que a memória conhece. 
E reinventá-lo nos dias de primavera. 

m.c.s.

boa vida


Minha fortuna, que vou acumulando, vai para o espírito. Que cresce...
Digo eu que desde que estou reformada, até esqueço de jogar no euromilhões. 
Será que estou começando a desistir de uma vida boa para esbanjar em boa vida?

constatando


A cidade que me tem há 37 anos. Torres Novas.
Olhando-a de cima percebo quanto eu ando diariamente à volta desta terra.
É olhando e reconhecendo cada prédio, casa, espaço verde, cada rua e avenida, o viaduto, o castelo, o rio, o antigo quartel, hoje escola de Polícia, as escolas, o hospital, o cemitério, que percebo que conheço esta terra como a palma da minha mão e ninguém pode fazer esse reconhecimento sem gostar.
Na verdade, eu gosto de Torres Novas. 

ser humana

Se a pessoa que mais mal te fez na vida, te deseja boa sorte, o que fazes?
Eu...eu tento perdoar.
Mas é tão difícil...digo eu que sou humana.

é a minha terra!


domingo, 14 de abril de 2013

regressar


Disseram-me assim:
...regresso à banda lá para o fim do mês, para o caso de precisares de alguma coisa para lá, além das recomendações à Kianda...
E eu nem paro para pensar na resposta. Está nos cinco sentidos.
Está nos meus olhos, que ora choram ora riem, ora se admiram e se tornam nostálgicos naquela melancolia de dar pena. Ora se enchem de infinitos; de mares, de sois e de cores. 
De paletas de pintores. De alegria...
Está nas minhas mãos que apontam o horizonte deste mar e fazem pala na tentativa de vislumbrar um sul mais a sul que este sul. Numa rosa dos ventos que me beneficie. 
No aceno sempre pronto num até já e não adeus. No kandandu que lhe dou e que recebo sempre de braços abertos e ansiosos. Está nos poemas que lhe dedico. Na inspiração, musa que é. Na fantasia...
Está nos meus lábios saboreando palavras, o sotaque, os prazeres. Falando para a kianda. Dialogando. Espalhando o seu nome. Cantando, beijando. 
No sabor do feijão, da gajaja, múcua, pitanga, da kanjica, da quitaba e do jindungo. No paladar... 
Está no escutar. O dialeto. A sonoridade dos instrumentos. O calão. As interjeições 
humoradas, em tom juncoso. E as estórias das sereias e do mato. Das hienas e dos jacarés. 
Das gibóias e da mata. As cenas do vizinho do bairro, do político ou do motorista de 
candongueiro. Do comba da semana passada. No fervilhar...
Está no cheiro de terra molhada, de perfume de frangipani e das acácias. Do iodo na beira da praia, da castanha de caju a assar, do bombô e da jinguba. Do mel que a manga tem. Do cacimbo. Na infância e no seu retornar...
O que eu preciso da banda???!!! Tudo.
O ar que me pertence para poder respirar a dois pulmões, de espírito desperto e descansado.
O céu onde sempre toco com a palma da mão quando chego e também com o coração se lhe olho a partir da realidade e não do sonho.
O mar revolto em tempestade, de calema. Ou insistente e repetidamente quieto e de maré vazia. Azul, verde esmeralda do meu encanto de o olhar e sentir. No seu marulhar. 
E o chão onde piso de corpo inteiro, na raiz, na placenta, na posse. Na essência.
O que eu preciso da banda? 
Do povo. Não de bôbo da corte p'ra me fazer rir ou de desgraçadinho que me faz chorar. Não.
Do povo, meu povo, convivendo, sorrindo e chorando. Dançando semba ou kizomba.
Na esquiva das malambas da vida. Trabalhando, passando, simplesmente passando pelos becos dos caminhos, saltando muros, quebrando amarras, soltando fantasmas, acendendo luzes, sonhando desejos e ambições. Gargalhando. De si prórpio. Vivendo...
O que eu preciso da banda?
O resgate da minha existência. Do meu lugar. Da minha paz e do meu ainda sopro de vida. 
O resgate da minha alma, pendurada que ficou naquele imbondeiro da paisagem. Da memória. Da minha teimosia de ser feliz.
O que eu preciso da banda? Regressar...

sábado, 13 de abril de 2013

o beijo


Kiss, beso, kissu, küchen, baiser, tzub, su-ub, pitér, felia, xkyss, potselui, neshiká... 
São beijos em várias, muitas línguas. E falta ainda o beijo, na língua que aprendi. Não, ainda não estou a falar de beijo de língua. Em português, que é a minha língua, aquela com que falo e...beijo. 
Diz que hoje é dia deles. Os beijos. 
Há dia para tudo que até chateia de tanta invenção para tornar os dias mais interessantes. Nem sempre conseguem. 
Mas Dia do Beijo acho que toda a gente gosta. Não do dia, mas do beijo. 
Ah, há um que acho que ninguém quer. O de Judas, a menos que o beijoqueiro se chame isso mesmo, como o tal que traiu Cristo. Ninguém gosta de beijo falso, digo eu...
Já de beijo de mãe, de pai, de avô, ah como é bom! Esse é o beijo do colo, do porto de abrigo. E de filho, então, esse beijo sabe a flores, frutos, amores.
Beijo na hora de dormir e de acordar, também lembra que estamos vivos e que tem dia para além do momento. 
Beijo de amigo é demais, e se acompanhado de abraço torna mais firme o laço, de união.
O de circunstância por vezes me irrita. Nem sempre estou para aí virada e tenho de estender a cara que quase não toca ou toca demais. E são gafanhotos, ventosas se apoderando da minha bochecha e parece que não desgrudam e fico mais que, sem jeito, visceralmente enjoada. Na verdade, para lá de enojada...
Cumprimento de beijo ímpar também me incomoda. Se é tiaaaaa, tá a ver? A rica vai daí e espeta um único beijo para o ar encostando o boião de base no meu rosto e fazendo careta de contrariada; se é francês ou emigrante, vai-se lá saber porquê, repete a dose numa das faces e fico ali aos papéis. Ça va?! Daaaah!
E ainda há os outros que me deixam embaraçada porque me estendem a mão quando eu já vou para o sacrifício, num, vá lá terá de ser mais um beijo no camone.
Mas beijo que eu gosto de receber é aquele soprado na palma da mão. Me parece que tem asas, traz recados, não se pode perder...e o que a gente beija os dedos e manda no outro à laia de despedida carinhosa, seja no amigo, no compadre, no vizinho de sempre ou mesmo no bebé que sorri, no filho que acena se despedindo, ou no namorado, esse beijo, sinal de ternura e compreensão, esse ai como eu curto! 
Mas quantos beijo se dão e ao que saberão?
Beijos arrependidos. Beijos esperados. 
Beijos silenciosos ou repenicados, secos ou molhados. Num segundo ou numa eternidade. 
Beijos cheirando a álcool ou a perfume. A cigarro. A desejo. 
Beijos na despedida ou na chegada. 
No jardim, no cinema, no vão de escada, elevador, avião ou hospital. 
Beijos na escola, no banco de pedra. Beijos escritos, gravados, ao telefone, carta, e-mail ou mensagem. Beijos recomendados. Agradecidos, ansiados. Perdidos. 
Um comboio de beijos, um milhão ou um rôr deles, beijokas, beijinhos, beijão. 
Beijos do tamanho do mundo e da saudade. Beijos que se medem com a distância e outros para toda a eternidade. Beijos que ficaram por dar e receber e fazendo parte da nossa imaginação. 
Mas nem só destes beijos vive o homem.
Também daqueles que marcam apenas o momento ou até não. Há os que ficam para sempre. Por exemplo, o primeiro beijo, da vida, daquela pessoa, do dia. Ou o último, se a pessoa partiu, ou se valeu a pena, se os astros se conjugaram, se os acordes soaram, se o mundo parou...
E os da hora da conquista ou do engate. 
Na hora do engano ou dos pedidos. Da chantagem. Do pedido de perdão. Na hora do lobo.
Na hora do sexo. E aí não tem limite nem tamanho, nem hora. Pára o relógio, o calendário, a crise, o mundo. Sai beijo para todo o gosto e paladar. 
Há também o beijo que a gente dá se nos comovem, dançamos e os corpos se tocam, se passeamos na beira do mar ou estamos tirando fotografias. Se selamos compromisso, aliança...
Me lembra beijo de homem na hora da igreja, véu do rosto tirado, beijo na testa. Tradição que vai-se a ver, pode, estou a dizer pode, casar com traição. Mais tarde, quando ninguém lembra mais do beijo, do figurão...
Se alguém te der beijo na testa e não for mãe, pai, filho, irmão, desconfia sempre, pode ser um grande intrujão.
Há beijo na nuca, na mão, no nariz, no ombro e no umbigo. Há beijo quente. Escaldando. E aquele que parece defunto. Há beijo chorado que dá arrepio e beijo gargalhado. Há até beijo roubado. Quem não roubou?
Quem não foi apanhado beijando na esquina, no beco do bairro ou no banco do carro?
Quem não acordou num beijo sonhado e não se entristeceu? 
Quem não beijou? Apenas. Sinal de afecto, memória e prazer, partilha, loucura, desejo, ternura...
Hoje é dia de beijo, alguém o marcou. Tem milhares de beijos e sentimentos criando o gesto que sela sentires.
Se gosto de beijos? Bué. Demais. Devezes, como se diz na terra que beijo, na saudade e que me beija, de mãe. 
Se gosto de beijos? Meu beijo verdade, família, romance, tem sabor a mel. E a rosas, vermelhas. Tem tamanho sem tamanho e a cor do amor...

nos dias que são meus


Tem dias que são de tempestade, tem dias que são de acalmia. 
Tem dias que me revelo má pessoa, tem dias que quero crescer na responsabilidade de ser 
adulta. Melhor...
Tem dias que não sei quem sou. Tem dias que sou apenas eu, ser, mais ou menos pensante, 
mais ou menos feliz, mais ou menos sofrido, mais ou menos vivo.
Todos os dias sei que preciso dos outros. 
Todos os dias sei que pouco ou nada sei. 
Todos os dias faço exames de consciência. 
Todos os dias me perco e me acho. 
Todos os dias sei que posso ser pior...
Todos os dias sei que posso ser melhor.
Afinal, hoje posso afirmar que mais que ambicionar para além do possível em mim, quero ser 
simplesmente pessoa. Com capacidade para errar, cair e levantar, sentir e amar.
Para me encontrar.
Hoje ando à procura das palavras certas para me definir. 

eu


Acordei de bem comigo. 
Nem sempre isso acontece. Provavelmente, quando me deito com uma preocupação, zangada ou triste.
Deitei-me ontem com a certeza do dever cumprido. Com a certeza de que se no mundo tivermos um amigo do peito, um que seja, que nos apoia, ajuda e vai para a guerra connosco, faz o descanso do guerreiro ao nosso lado e no dia seguinte está lá para nos dar os bons dias, o mundo no seu pior enfrenta-se com coragem e no seu melhor, é um mundo mais honesto, divertido e fácil de ser encarado.
Acordei de bem comigo. Repousei até mais horas do que o habitual. E sem pressas fiz-me à manhã.
Quem me espera? Ninguém. Ou melhor, eu. Eu espero por mim. Espero de mim...
Espero um dia tranquilo. De sol. Ameno e alegre. 
Sou capaz. A calma que sinto, o sol que me brilha e a certeza de ter amigos bastam e combatem a tempestade que poderá ameaçar-me. 
Sempre aparecem nuvens saturadas. Carregadas. Cinzentas, querendo desabar sobre a nossa cabeça.
Espero passear-me pelas ruas da manhã em busca de inspiração para florescer nas horas que o dia tem e espalhar generosamente o seu pólen pelas estradas das vidas que me acompanham e que se fazem presentes quando preciso, quando não preciso, só porque sim, porque me respeitam e gostam de mim. 
Acordei de bem comigo. Porque todos os dias faço as contas. Ajusto-as. Com a outra parte de mim. De contas feitas, o mundo inspira-se, inspira-me o tempo a viver. 
Acordei e olhei o espelho. Devolveu-me a imagem de sempre. Viva.
Sorri e olhando nos olhos de mim percebi que se eu não gostar de mim, ninguém gostará. 
Olhei de novo e me declarei. Não de papel selado, carimbo, selo branco, chancela. Ou lacre. 
Apenas na confirmação que o espírito sabe. 
Na certeza que mesmo não sendo papel legal, declaração oral, olhos nos olhos basta, para fazer fé e ser real. E lhe ser dado cumprimento. Num, até que a morte nos separe, corpo do espírito.
Me declarei para a alma transparente, de mim. Porque amor a gente tem de regar diariamente para conservar. Porque amor a gente cuida com carinho, dedicação e verdade. 
- Quem é, quem é que te ama mais do que eu? 
E dos lábios sorridentes, na alma rejubilante, resposta surgiu naturalmente: Eu!
Por isso, acordei de bem comigo. 

o Sol



Há dias de sol. 
Não precisei chamar por ele. Surgiu, sorrindo poderosamente. 
Reinando. Brilhando no céu. E também nos pequenos céus, que, as almas em busca de crescimento e de paz, tocam com as pontas dos dedos.
Viver é sentir o sol entrando pela janela, natural, simples e amigo. Agarrá-lo.
Hoje esteve presente e me fez lembrar, kanuca feliz, sentada no muro da casa, pés chapinhando no tanque de peixinhos vermelhos, perfume espalhado no jardim, das rosas brancas e chá, que o avô cuidava com desvelo e olhar de amor. E papagaio encarnado e amarelo, feito de canas cruzadas e cauda de pano de riscado, às cores, puxado no fio, voando, voando tão alto, nos sonhos de candengue, meu irmão de sangue, fazendo a nossa tarde ser maior. 
Amar é gostar de desenhar o sol e pintá-lo das cores que a memória conhece. 
E reinventá-lo nas tardes de primavera. 
É tão simplesmente fechar os olhos e sentir o beijo longo, sabor a carinho que vem poisar na pele ansiosa de calor. 
Há dias de sol! Em mim...


sexta-feira, 12 de abril de 2013

onde estás?



Que foi feito da vontade, de escreveres numa dor d' alma, tratados de amor e saudade?
Na exaltação dos momentos. Nas memórias do passado... 
Poemas proseados, de uma beleza singular? 
Da verdade que emociona? Cala fundo, arrepia...
Por onde andas? 
Em que caminhos te encontras? Te perdes? 
Em que becos e esquinas da vida? 
Que pontes te recusas a passar e em que sombras te refugias?
Onde está o teu horizonte? 
E o mar e o pôr de sol? 
E o planalto e o deserto, que desconsigo te ver por lá?
Onde está o desabafo que não lhe escuto o marulhar lá na praia do teu sul?
E a pedra onde te sentas procurando a palavra, que casa com a tua saudade e com a minha emoção?
Nem as rosas...nem as rosas perfumando dias de chuva e frio... 
Nem o tempo, que desperta os sentidos.
Nem apelos, pedidos, anseios...
Nem sorrisos.
Como que escutando a voz da alma, apenasmente silêncio.
Por onde andas que não te encontro, nas páginas por aprender?
Nas fontes onde vou beber, inspiração?!
Que é feito de ti, simplicidade, talento e coração?


m.c.s.


segunda-feira, 8 de abril de 2013

saltei o muro


Disseram-me assim:
- Estás bem não estás? Pareces mais nova...
Sorrio perante frases que acredito que não são apenas construídas sob o alicerce duma reforma que me deu já uma semana de vida livre e por isso desabafos, palavras feitas e prontas para serem utilizadas só porque sim. 
Acredito que vejam no meu rosto, na minha atitude, uma luz nova, um relaxar de rugas de expressão carregada pelos dias e dias de pressão, pelas noites e noites mal dormidas ou dormidas a correr na pressa de acordar e voltar ao lugar comum de tantos anos. Trinta e quatro. 
Acredito que tenha deixado de ser um robô e isso seja notório. 
Acredito no meu sorriso e na minha serenidade. No meu vigor que ocupou o lugar do costumeiro cansaço.
Acredito até nas pessoas que se me dirigiram ansiosas de recuperarem para elas aquilo que encontraram no meu semblante. 
Não tenho como não acreditar pois que o rosto, dizem, é o espelho da alma e esta há muito tempo não se sentia tão leve.
Foi agradável voltar ao lugar onde já não pertenço e olhar de fora o espaço e as pessoas na rotina que foi minha também e não sentir o peso do dia. 
Nem resignação ou indiferença. Tão pouco animosidade.
Saltei o muro. 
Já pertenço a outro espaço. E todos sabemos disso.
Tudo está bem quando acaba bem. 
O caminho? Paciência e inteligência emocional. 

diário de uma reformada - 3


O sábado acompanhado de um raio de sol entra-me pela nesga da janela mal fechada e insiste em despertar-me. Teimosamente me viro para o outro lado num braço de ferro com o tempo que hoje se vai fazer exigente e eu sei disso. Doi-me o braço e o ombro e procuro posição para me defender da dor. Isso lembra-me queda, trabalho, Ribatejo. Fractura e imobilidade. Muito de vez em quando sinto esta sensação de desconforto a raiar a dor, percebendo assim que a idade não ajuda à saúde e passado que foi, meio ano, ainda ando às voltas com uma quase incapacidade que me deixou mais sensível, lúcida e passiva. 
Porque nestas constatações, o que não tem remédio, remediado está, salto da cama. Em silêncio, pois está cá uma menina a dormir por uns dias, pessoa amiga duma das crias e precisa de descansar mais que eu. 
Enfrento com alguma coragem este sábado, que vai ser trabalhoso. Do caraças, direi mesmo.
Se vi um sorrisinho irónico por aí, esqueçam-no pois que tenho a dizer que ainda não me sentei descansadamente a ver as horas passar, desde que passei para a classe dos aposentados. Eu desconfiava que iria ser assim. Eu queria que fosse assim. Ontem foi assim. Hoje vai ser assim...porque preciso e quero que assim seja.
Olho o espelho e quase não me vejo. Não porque tenha emagrecido, lá chegarei, pois este também é um propósito meu que já tem pernas para andar; ocorrem-me os 7 kms diários e mais umas mudanças na minha alimentação que ajudarão ao desafio a que me proponho, mas olhando o espelho não me vejo claramente vista porque tenho os olhos inchados e pegando. 
Ontem, quando saí de Torres Novas sentia-me febril e sonolenta. Andei uns kms à chuva e talvez esteja agora a pagar por isso. 
Não gosto de me sentir doente. Assusto-me. Percebo o limite da minha existência. Percebo-me solitária e só. Percebo-me dependente. Mas e de quem? Os que poderiam gravitar à minha volta têm vida. E essa não se compadece do que se passa com terceiros, ainda que eu seja, mãe, irmã, cunhada, tia ou amiga. Não me assusta estar só. Pode parecer treta, mas pelo contrário, agrada-me. O que me apavora é a possível incapacidade. Ninguém tem de levar com ela. Ninguém pode levar com ela...
Mas, o dia de ontem está passado. A noite também, apesar de ter saído da cozinha às duas da manhã onde estive entre massas, recheios, pão ralado e rolo da massa. Onde estive cumprindo um compromisso assumido e ao qual não poderia falhar. Para onde volto logo que saia daqui onde vim para relaxar um pouco.
Quando me sinto cansada e mais vulnerável à doença lembro-me da minha mãe. Deve acontecer com todos. Será? Será que às minhas crias acontece o mesmo ou isto é só coisa de filha que perdeu fisicamente a pessoa mais importante da sua vida? Não o sei. Sei que num acto irreflectido, olhando o espelho que me devolve uns olhos inchados, com as mãos em concha e cheias de água fria, atirando esta para o rosto, me senti a própria dona Celeste lavando a cara. Ela fazia-o sempre do mesmo jeito. Tinha uma pele belíssima que iluminava a sua beleza. A minha mãe era linda...
Olho o dia através da janela da sala. Aqui junto a Lisboa. O monte a separa deste lugar. Enquanto oiço os cortes feitos, as apreciações dos jornalistas aos resultados do Tribunal Constitucional, enquanto vejo os homens do processo Casa Pia regressando aos calaboiços para cumprimento de penas, penso que já é tarde. Para mim que tenho ainda uma maratona para cumprir, na cozinha. Sim, hoje não estou para apreciações a nível do país, da política, ou do social. Das justiças ou da falta delas.
Esperam-me umas horas de trabalho. Espera-me uma festa logo mais à noite onde não sou propriamente a dona da dita nem a que vai divertir-se na dita, mas antes a que vai trabalhar.
Quem diz que aposentada fica com tempo a mais e não sabe o que fazer com ele? Na maior preguiça e arrependendo-se de ter deixado a secretária e o computador de tantos anos?
Eu não. E quero ver se nunca o direi. 
Era isto que esperava para os meus dias. Continuar olhando o relógio. Calculando o tempo que me separa dos meus compromissos e stressando com isto e aquilo. 
Motivos para me sentir viva, produzindo. 
Afinal já que não me sai o euromilhões para produzir sorrisos à toa, ao menos que o sorriso de me sentir feliz , o mantenha na alma, que ri desde que me sinto livre para escolher o que quero para a minha vida. 
Bom sábado para todos, aposentados ou não.

sete de Abril - parabéns



Há namorados e namorados. 
Há aqueles esquecidos. E ignorados. Varridos. 
Pouco ou nada falados. 
Há também aqueles que a gente quer esquecer. Em vão.
E há aqueles que a gente não faz esforço para apagar porque a chama que existiu iluminou a nossa existência por muito tempo.
São os que são lembrados. Fazem-se presentes e nos fazem parar nas esquinas da vida, olhando para trás, reabrindo uma janelinha da vida que já passou e sorrirmos na saudade d'um tempo, d'um momento, d' um sorriso, d' um beijo, de mil abraços, ou d' um sentimento que foi quase, amor para sempre, quase, paixão para sempre, quase, namorado para sempre.
E a solução é recordar. E gosta. 
Na minha vida há pessoas para sempre. Mesmo ausentes. 
Só eu sei ( e mais meia dúzia ) porque hoje coloco aqui este post.
E ainda dou os parabéns àquele que será sempre o " eterno namorado "
Parabéns G.F.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

logo se vê...


Sento-me no sonho de viajar nas asas de um albatroz.  
Sento-me porque não há forma de o fazer de outro jeito. Senão esperar sentada que o sonho se faça presente. Bênção de Deus...
Fecho os olhos e vejo-te. Ali num beco sem saída da minha vontade de imaginar-te pronto também para o sonho. Para o voo. Sem saída, só porque é giro para o sonho e não porque te veja algemado, ou te acorrente sadicamente ao sonho num lugar de memória por onde não possas escapar. 
Mesmo no sonho de voar-te e sonhar-te, te deixo livre e até te dou o privilégio da escolha. Pode ser uma andorinha do mar, pode ser uma gaivota, sabiá ou siripipi. Pode ser um albatroz...
Há um aviso que paira no ar. Que é limpo porque o sol se fez aparecer, brilhando na sua luz e atirando para as sombras dos sonhos que viram pesadelos, a tempestade e as energias mais negativas que nos atrasam a vida e nos castram os sonhos. E nos fazem desencontro.
Ah, o aviso, que paira no ar ...tens razão. Disperso-me e deixo pela metade, propósitos, páginas em branco, lugares que se tornam vazios. Indecifráveis. Não é por mal. É só uma incapacidade muito minha. Embora não seja declarada incapaz, tenho a minha dose, que é que queres?
Só de sonhar-te, sentada e recebendo a luz do astro rei, já me sinto perfeitamente a alucinar, a pairar, na lua, cheia de luz...
O aviso? Tem a ver com o albatroz e aquela velha saga. Sonho antigo. Pássaro exemplar. O tal que acasala uma vez na vida porque é fiel, leal, porque é um pássaro de corpo inteiro e asas gigantes, como os sonhos. Um pássaro para a gente lembrar. Conquistar. 
Com garantia. Forever!
Na verdade é que qualquer banco de pedra, qualquer pedra pequenina que seja, qualquer chãozinho, na beira do meu caminho, sorri para a minha apetência para o sonho de te sentir aí. E por isso é que eu insisto. Persistência nunca fez mal a ninguém. Se queres chama-lhe teimosia. Paranóia. Loucura. Vontade de apanhar. É o que tu quiseres. Estou por tudo. Há uma coisa que eu consigo perceber. Enquanto te sonhar és aquilo que eu quiser. Quando acordar, logo se vê...

The Script "Hall of Fame" - KOKOWÄÄH 2

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Diário de uma reformada - 2


Acordar às 8,30 horas diz-me que estou já a relaxar. Como se fosse sábado.
Dona Pitanga deve estar intrigada com a súbita presença pela casa e na sua vida.
Ganhou um colo mais demorado e quentinho aproveitando os momentos em que estou a tomar o pequeno almoço.
Ah vida boa de quem pode sentar-se para fazer as refeições demoradamente, enquanto olha a televisão e escuta as últimas das cheias que desvastaram o Ribatejo. O distrito de Santarém, mais precisamente. Aqui a poucos kms de mim. 
Imaginem que até o Almonda fez das suas, alagando terras lá para os lados da Zibreira, freguesia da minha amiga Idalina que passou por estas bandas há pouco, a caminho duma Europa mais para norte. Mas também o Zêzere e o Tejo deram largas à sua corrente e vai daí alagaram terras como Constância, Tancos, Barquinha, Golegã, enfim, está tudo a verter águas. As ruas passaram a ser navegáveis e as populações, algumas, isoladas. Bem sei que estas gentes estão habituadas a isto e encaram as inundações como coisa natural e até como espetáculo. Vem a televisão, filma, vêm os bombeiros e levam-nos às compras, andam de barco e ainda dão entrevistas. Uma movida ribatejana que acontece de quando em quando e à força 
de tanto se repetir, permitiu que as populações se precavessem. 
Sabiam que há gente aqui da cidade, e de outras perto, como Tomar, Entroncamento, Abrantes, que sai de casa de propósito para ir ver as cheias? Estou a falar, mas se tivesse com quem ( estão todos a trabalhar, que ironia! as minhas pessoas são mais novas que eu e não pertencem ao regime especial, digo eu ) pois, dizia, que se tivesse com quem, também palmilhava estas terras mais próximas, aquelas que fotografei há 3 semanas e que são ribeirinhas, para ver o efeito das águas, da barragem de Castelo de Bode, enfim, para perceber o que a Natureza é capaz de fazer se o quiser e estiver para aí virada. 
Virada estou eu para mais um dia de kunanguice. Não tenho culpa de estar a chover. Tão pouco de levar isto como se de férias se tratasse. E muito menos de desfrutar desta calma. 
Os passarinhos cantando, um quase silêncio somente interrompido pelos gritos dos miúdos da escola. É a minha sina viver junto de escolas; um dia ainda hei-de perceber o porquê de ser destino; por algum motivo o é, porque sou pessoa de não acreditar em coincidências. 
Habituadas que estamos a falar ao telemóvel quase nos esquecemos do fixo, quem o tem evidentemente e eu tenho-o. Nem sei bem porque o mantenho mas se calhar é uma herança de gente a dar para o conservador, sou-o em algumas coisas. E quando toca, uma criatura fica a olhar espantada para ele e a pensar: Quem será? É gente com certeza, pois não são muitos os que o têm e não consta da lista telefónica, mas ainda assim já tive chamadas anónimas duma doida, por sinal angolana, ( por isso, gente, também as há doidas varridas ), que me telefonava esquizofrenicamente e também me acordava às quatro da manhã para me ouvir. Nunca saberei porquê. 
Tinha sido minha colega do colégio e encontrou-me num site que se chamava sanzalangola e quis ver-me ao fim de quarenta e tal anos, mais precisamente, desde os meus nove anos de idade, idade com que saí do colégio para o liceu. Depois de ter recuperado alguma memória da dita cuja colega, anuí e encontramos-nos. E esta estúpida aqui, que tem a mania de confiar, desconfiando, facilitou. E vai daí, dei-lhe os números de telefone, mails, etc, etc. Pistas, várias pistas para ser lixada, que é mesmo o termo. E fui. Mas já lá vai.
Hoje pela manhã o meu fixo tocou várias vezes. Sabem que estou reformada. E em casa. E ligam. E eu gosto que me liguem. Não deixo aqui o meu número porque corro o risco de não receber nenhuma chamada vossa e poderei (?) eventualmente ficar infeliz. E infeliz é o que não me sinto nem estou a fim, neste momento, gozando os meus dias numa boa. Por enquanto sem pressas nem trabalhos. Apenas, deixando-me levar.
Qualquer pratinho de sopa é fantástico para almoço, quaisquer ovos mexidos, uma fatia de queijo, uma salada, acompanhada de chá verde ou de uma limonada com gengibre ralado e folhas de hortelã, qualquer alimento que escolho a meu bel-prazer é um manjar dos deuses. 
Qual marmita qual carapuça!
Quem disse que dentro de casa o mundo não é interessante? Nem sequer temos mundo? Vocês o disseram? Não sei. Eu. Eu disse-o algumas vezes, que estar em casa era um sufoco. Uma prisão. Uma castração. 
Retiro o que disse. É bom estar em casa. Sair para visitar amigos, andar os quilómetros que me apetecer, ontem foram pelo menos dez quilómetros, antes de ontem até subi ao castelo e percorri as suas muralhas, espiando a cidade e o rio almonda que vai enfurecido a caminho das cachoeiras e da foz. Sair para fazer compras, ir ao cinema, jantar com a minha gente e regressar a casa. 
Que sensação boa é voltar para o meu aconchego sem pressa de dormir, sem pressa de acordar, sem pressa de viver tudo num ápice como se não houvesse amanhã.
Disse-me uma amiga do peito, ( hoje já falei com duas que são daquelas para sempre ), que o importante é viver um dia de cada vez. 
Estou a aprender a fazer isso e a sair-me mesmo, mesmo, bem.
O caminho certo? Acho que finalmente achei. E já não é segredo. Lucidez e tranquilidade. 
Não é a reforma que nos dá isso, mas que ajuda, ajuda...