segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Doce Despedida

" Toda a despedida é dor...
tão doce todavia,
que eu te daria boa noite
até que amanhecesse o dia ".

William Shakespeare

domingo, 29 de novembro de 2009

Muxima Uamiê - Hélvio

As fotograias do vídeo não são minhas, mas tomei a liberdade de as deixar aqui porque gostei muito. Esta música é lindíssima e já me conquistou.

" PORQUE EU VOU, AI , EU VOU PARA PERTO DE QUEM EU SOU...."

Motor de Busca I

" Motor de Busca " é uma peça actual.
Real e dolorosa.
É Verdade. Honestidade.
Como o criador e executante.
Parabéns.

Viajantes

Nascemos livres. Depois, deixamo-nos aprisionar. E gostamos. E agradecemos. E encontramos o equilíbrio no sedentarismo dessa vida acorrentada.
Alguns, nunca se deixam prender. Têm uma alma selvagem, uma força que a Natureza lhes oferece, lhes impõe.
Estes, os privilegiados, são nómadas. São eternos viajantes.
E quando encontram espíritos livres, viajantes, e fazem juntos viagens, conquistam o mundo.
O Mundo dos seres livres é mais belo e sensível. Exigente. Verdadeiro.
Infinito.
Os Viajantes são felizes.
Só precisam de boas viagens.
Boa Viagem, Viajante...

" Folha de Sala "

No corredor. A caminho da rua.
Então?
Gostei.Gostei muito.
Então guarde a " folha de sala ".Um dia, ainda vai sentir orgulho.
Já é um orgulho.
Pois, ainda vai ouvir falar muito dele.
Neste momento, a terceira pessoa olha para trás e diz rindo ironicamente:
Duvido. Mais do que ouve? Mais do que tu falas? É impossível.
É o orgulho,a falar, ainda que ninguém mais fale.
É o amor...

sábado, 28 de novembro de 2009

Fim de semana

Gola alta,calças, botas até ao joelho, casaco comprido, cachecol até aos pés, luvas de pele e chapéu, o ideal para resistir à chuva e ao frio na Covilhã, na Serra da Estrela.
Um fim de semana muito frio a contrastar com os afectos. Com a amizade e com o amor.
Um fim de semana completo.
Momentos de muita alegria e emoção.
A despedida.Portugal a dizer-me que também é belo e amigo.
A dizer-me que gosta de mim.
Portugal e eu no nosso melhor.

Motor de Busca

Hoje pelas 21.30 horas na Moagem, Fundão
MOTOR DE BUSCA
Criação e execução de David Marques

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Receber

Hoje acordei PODEROSA!
E com muito respeito o anuncio.
O Poder conferido pelo amor que vocês me dão.
Pelo colo que recebo.
Pela confiança que depositam em mim.O crédito...
Pela presença.Pelas palavras que me escrevem.
Pelas palavras que me dizem olhando-me nos olhos e sem reticências.
Acordei PODEROSA porque hoje sou mais mãe, que outros dias, que outras mães.Sou muitas mães...
Hoje sou um ventre enorme prenhe de amor por tudo o que me cerca.
Estou assim, deste jeito...o mês de Novembro tem muita culpa disso, o Outono também.
E a minha viagem.
E o meu irmão que me manda músicas de Angola e a minha irmã a telefonar mais do que sempre.
E os comentários no blog.E os que sei que lêm mas não comentam.E os que comentam na vida, nos dias.
E os mails.
E os dias que estão diferentes. E cheiram a ternura e sabem a prazer.
E o estômago que doi de ansiedade.
E a minha amiga, do Dubai, que comunica às 6 horas da manhã.
E a outra, que espera por nós no Fundão para que eu abrace o motivo da minha alegria hoje.
E os colegas que se congratulam com as minhas férias e se tornam mais tolerantes.
E o meu sonho, com música que me emociona. Com palavras que me encantam. E a ilusão...a doce ilusão de quem quer sentir-se poderosa nem que por um segundo, nem que por um movimento, um gesto, um beijo, um abraço, daqueles que o sonho dá ...
Hoje acordei PODEROSA!
E eu amo-vos tanto...
E vocês são o melhor que há no mundo...

O teu dia

Não querias sair do quentinho.
Estavas enorme e fazias-me gigante.Davas pontapés constantemente e eu ficava tão feliz com a cócega na barriga que tu por dentro, fazias...
Escolhi-te o nome e desejava muito conhecer-te o corpo. A alma era um pouco da minha, mais pequenina, mais jovem, mas conhecia-a.
O soro que me colocaram provocou o teu nascimento.
Tive pela primeira vez as dores de parto que as pessoas tanto falam. Contigo foi mesmo a doer.
Que fora um crime o meu parto, disse-me um médico, muito conceituado da Alfredo da Costa, anos mais tarde. Uma violência, dado o teu peso.Deveria ter sido cesariana...
Quando ia para a sala de partos vi a Paula.Ela foi ter connosco. Ela sempre presente...
Eram 18,50 horas quando nasceste.
Apenas tive coragem de perguntar: Ele tem tudo?
A doutora Helena riu-se e disse vitoriosa: Nunca fiz nascer um bebé tão grande.
Meu filho, tu já ao nasceres eras GRANDE e de peso.Cinquenta e três centímetros e quatro quilos e novecentos é obra. Deixara de fumar e por isso engordei e fiz engordar.
A doutora exibiu-te a mim. Tinhas umas costas tão bonitas...Uns ombros enormes, um sinal no pescoço que descobri de imediato e choravas com voz forte, fechando os olhos com força.A tua pele era clara e apesar de inchado, eras mais bonito que eu ambicionara.Vesti-te o fato que a tua irmã vestira quando nasceu. Quis que fosse assim e não me arrependi.
Levaram-te para te mostrarem pelo hospital inteiro. Ela ia vencedora, exibindo o troféu. Quando me pûs bem em ti, percebi que apesar de chorares muito, tinhas uma expressão bonita e não parecias um recém nascido.Ia ser fácil cuidar de ti.
E foi.
E foste sempre um menino de oiro.E deste motivos fortes para te admirarmos.E hoje tenho um profundo respeito por ti. E tenho saudades das nossas conversas, agora que não estás.E tudo e tudo...e és o meu filho e amo-te muito, de paixão.
E ainda bem que nasceste...

Parabéns para Ti

Parabéns meu querido!
Que idade bonita que tens...
Com honestidade e inteligência.
Com sensibilidade e humildade.
Com saúde e beleza.
Com arte...
Que assim continues e que por cada dia dos anos que vais viver, muitos, muitos, possas ser todos estes adjectivos e possas brindar sempre, porque te apetece, dá prazer ou simplesmente porque sim ou porque não...
Nunca falhei um aniversário teu. HÁ 24 anos que neste dia estamos sempre celebrando.
Quis o destino que este ano por obra de um Deus que nos protege sempre,conseguissemos estar, brindar e cumprir o que sempre tive para mim, que é a partilha, a família, os laços e o amor que nos une.
Obrigada meu amor por teres nascido há 24 anos e teres permitido que eu estivesse presente todo este tempo, nos bons e maus momentos.
Tu és o meu presente mais precioso.
Tu és o tesouro maior que a vida me deu.
Logo, logo estou contigo.
Tem um bom dia.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Os Cheiros

A minha terra cheira
A terra molhada
De noite de trovoada
E a lua cheia e dourada
Debruçando-se lá na praia
As ruas da minha terra cheiram
A acácias e buganvílias
Ao doce das laranjas
A roupa das lavadeiras
A gajajas e pitangas
À sombra das mulembeiras
O mar da minha terra cheira
Ao sal nosso alimento
Ao peixe da quitandeira
A noite de tempestade
Inundando a cidade
A lazer e brincadeira
O sol da minha terra cheira
A vermelho do poente
A um tempo vagaroso
A sentidos p'ra sentir
A sangue novo e quente
A tardes de calor
A beijos de amor
O povo da minha terra cheira
A festa e a carnaval
A dias de semana
De trabalho e correria
A dança e a sinfonia
Os cheiros da minha terra
Ficaram dentro de mim
E cheiro a mato e a cidade
A canto e a melodia
A cacimbo e nostalgia
Os cheiros da minha terra
Não cabem na minha saudade...

Manhã diferente

De manhã, as ruas da cidade são mantos, tapetes de folhas amarelas e secas, por um Outono anunciado há tanto.Como seca está a fonte onde outrora os burros vinham matar uma sede, de quilómetros, arrastando as carroças cheias, para o mercado de cada terça-feira da semana.
Amanhece fria e cinzenta, a cidade.Um frio a chicotear os corpos e o ar cheirando a neve.
Se nevar será dia de festa neste lugar e o branco cobrirá os campos e os telhados.
Foi assim, à uns anos atrás.
Pairando por cima do rio, um nevoeiro denso e branco.Os chorões nas margens tocam a água ao de leve.
Na avenida, os garotos apressam-se para a escola, ensonados e barulhentos.
O sapateiro abre a oficina e prepara-se para mais um dia. O vendedor de castanhas atiçou o lume e abre para a venda, logo pela manhã.
Porque olho a manhã e não a revejo na cidade de tantos outonos?
Que encanto encontro hoje, neste lugar que não sinto meu?
Porque me enterneço?
Amarelas as folhas das árvores, branca a manhã e eu vou partir para manhãs mais coloridas, tardes vermelhas e noites de luz.

Yes, Ganhei!

Yessssss!...GANHEI!...
Se a minha amiga Milú estivesse ao pé de mim, diria - Maria Clara, Ganhaste!
Só não ganha quem não arrisca e eu já não sei viver sem arriscar.
Um número da rede Óptimus, como o meu.
Não reconheci mas desconfiei, que eu ando muito, muito desconfiada.
D.Clara, é a Xana.
Oh Xana da minha alma, como estava à espera deste telefonema, criatura de Deus.
Boa tarde. Tá boa? Já estava aflita, Xana.
Porquê? Mas olhe que não há motivo. Já cá tenho tudo o que é seu, em ordem.
Yessssss!...Que bom, minha querida...
A Xana deve pensar que sou doida, bem, assim um pouco passada da cabeça, pelas reacções que tive quando estive com ela na Agência, desde o episódio do gel nas mãos, que estava ali à mão de semear e a asneira involuntária, com todas as letras, porque as pobres mãos arderam demais, às perguntas sobre o tema que me levou ali, às conversas com ela e com a colega sobre outros assuntos que não interessam mesmo nada para aqui, enfim... Gostei da Xana e as próximas viagens que faça, irei ali à Agência Atlântida, perto de Sete Rios, na Rua Columbano Bordalo Pinheiro, e serão eles que me tratarão das minhas viagens.E já tenho uma viagem a Paris e outra a Berlim para tratar até ao verão...
Mas agora tenho que gozar a Viagem... A grande viagem de sete horas até Luanda, que o visto já cá canta.Já posso fazer a mala.E colocar as roupas fresquinhas de verão, o biquini de praia, as chinelas,as sandálias e o perfume.
Tinha que ser hoje, no dia da minha mãe. Eu no fundo sabia que isso ia acontecer.
Apesar de desconfiada, acredito sempre na Divina Providência.E não me engano...

Beijo maior

Acordei de mansinho. Não abri os olhos.
Não me mexi.
Quis o momento, eterno.
Senti-te os dedos tateando-me o rosto.
E os lábios, no beijo maior de todos, na minha face.
Gosto tanto de ti...cada afago, mais. Cada lembrança mais.
És a minha certeza de Amor. O maior do mundo, minha mãe.

Aniversário

Hoje a minha mãe faria setenta e quatro anos...
Há vinte e quatro anos e estando eu com uma barriga descomunal e com o tempo de gestação cumprido e a passar de prazo, a obstreta, Helena Lage, uma angolana do sul de Angola e minha vizinha à época, que me acompanhara a gravidez, mandou-me baixar à maternidade do hospital.Eu não queria. Não queria que o meu bebé nascesse no dia de aniversário da avó.Para além de tudo o que isso implicaria, o meu menino tinha o direito de ter um dia só dele.
Estava por tudo, porque me queria livrar daquele barrigão que me tornara um mostrengo inchado e disforme, mas nascer naquele dia, não...
Porém não tive como tirar a idéia à doutora que preparara tudo para me pôr a soro e me provocar o parto.E fui à hora marcada.E como ela dissera, passara no banco apenas para formalizar a minha entrada e circulação.Quando cheguei à ala da maternidade, percebi que não teria a minha criança naquele dia, porque não ficaria ali muito mais que um segundo.A enfermeira parteira, chefe da maternidade iria encarregar-se de me pôr a mexer do hospital para fora. Porque era odiosa e perseguia todas as doentes da doutora. Porque eu entrara ali sem um pingo de subserviência e ela já me conhecia de outros carnavais e iria vingar-se porque me apanhara numa situação mais delicada e subalterna.Porque detestava a doutora, pois queria reinar num lugar onde em tempos fora rainha e ao chegar Helena Lage acabara-se-lhe o reinado.Porque não tivera filhos.E porque era imcompetente e desumana.
Ralhou, ralhou por me encontrar dentro do serviço de obstétricia sem o papel do banco para o internamento. Não me quis ouvir e a mim não me apetecia ser ofendida por detestável criatura, como não me apetecia parir, que isso custa o diabo, e parir no dia de aniversário da minha mãe, muito menos. Dei meia volta e muito senhora da minha barriga, rumei a casa. Ninguém conseguiu convencer-me que teria que voltar ao hospital e ao soro, para ter dores, e a criança, com aquela megera por perto. Que estava domada, que estava tudo esclarecido, mas eu não voltei lá.
No dia seguinte, pelas nove horas dei entrada no hospital, calma e serenamente para ter o meu bébé.
A mãe fez anos em paz, num dia que era só dela.
Hoje fico feliz por se ter cruzado no meu caminho a megera da enfermeira.
Hoje a minha mãe faria setenta e quatro anos.
O meu bebé que entretanto se fez num homem bonito, inteligente, sensível e honesto, amanhã completará vinte e quatro anos.

O jantar da semana

Uma vez por semana vou jantar com a minha irmã caçula.
Quando ela sai cedo do seu emprego. As duas apenas.
Vamos sempre ao mesmo restaurante.
Gostamos do síto, da comida, e das pessoas. O empregado é filho da Lourdes, da Avenida Brasil. Conheci-o bebé. Vi-o crescer. Hoje já é pai.E é uma pessoa de bem deste burgo onde vivemos.E a sua família é estimada. Deixaram de ser " retornados ", mas ele, que nem nasceu em África tem a alcunha de " preto " e não o é. É misto, mestiço, mulato, mas não é negro.O que também não interessa nada.
Para mim é o Alfredo, ou melhor, o filho da Lourdes, de Luanda, da Avenida Brasil, sobrinha da minha costureira, das batas, do liceu, e costureira de toda a roupa, da minha mãe.
O filho da Lourdes, o Alfredo, o empregado do restaurante, sempre que chegamos, cumprimenta-nos com dois beijos, pergunta pelo meu cunhado, quer saber notícias, pergunta-me pelos meninos e leva-nos a uma mesa que gostemos. Porque é importante o lugar que ocupamos numa sala de refeições. E como bom profissional ajuda na escolha, sugere, age como amigo.Mas também, como verdadeiro dono do espaço e da cozinha.
Arroz de tomate e pataniscas de bacalhau ainda há? Perguntei.
Para si, há.
Não é uma delícia, ser atendida deste jeito? Claro que para mim e para mais um batalhão de formandos da Escola Prática de Polícia, mas é uma delícia, na mesma, porque a gente finge que acredita que é cliente especial.
A minha caçula nao tinha apetite. Está constipada. Anda muito cansada. Por isso fui desafiá-la para que fôssemos desanuviar, antes de irmos para casa.Escolheu massada de tamboril. O filho da Lourdes aprovou. Nem se fala mais nisso, que as pataniscas são fritos que fazem mal, e a massada é mais saudável. Vai ver que gosta.
E estivemos ali conversando que é o que gostamos mais quando estamos juntas, só as duas. Pôr a conversa em dia. Sobre o que nos alegra e entristece, o que queremos e esperamos, o que sentimos. Rimos muito, sempre ou quase sempre.Rimos da vida e das partidas que ela nos tem pregado, de nós, dos outros...rimos para a vida e para os outros.Ousamos falar de coisas, que aposto, ninguém mais fala. Internar-nos-iam perante tanta loucura. Mas nós sabemos que temos que dosear o dia com essa loucura.
Como ela diz- Está tudo bem e ainda vai ficar melhor. Um dia de cada vez, e ainda assim é tão grande que não podemos jogar-lhe para cima todos os outros. Um de cada vez custa menos, leva-se melhor...
E quando o jantar termina, relàxamos, ficamos prontas para mais um dia.Ela vai para casa, para a dela e eu para a minha, mas despedimo-nos mais felizes e com vontade de voltarmos ali na semana seguinte.
Para a semana estou de férias e estarei longe daqui.O Alfredo desejou-me boa viagem. Vai contar à mãe que vou para Luanda. Deu-nos dois beijos e desta vez foi mais longe, e fez uma festa no meu ombro.De despedida.
Traga lá qualquer coisa.Trago, mas o quê? Quiabos, disse ele. Mas quiabos há cá, o meu irmão tem-nos na horta, lá da quintarola.
Enterneci-me com o Alfredo e a sua realidade. É um europeu a quem chamam Preto.E eu que sou branca, senti-me a branca mais negra que conheço e hei-de trazer-lhe kitaba e paracuca e doces de coco e de jinguba.E à minha caçula também.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Visto no passaporte

Passou uma semana. Desde que os papéis entraram no consulado.
Ainda não recebemos nenhum telefonema, avisando-me a mim que já está aposto o carimbo no passaporte, aquele abençoado carimbo que eu quero muito contemplar como se fosse uma foto linda de um qualquer momento único, e a ela, à minha cria, dizendo que pode lá ir à agência, buscar a minha tralha toda.
Assaltam-me suspeitas. E se não me concederem o visto? E se não estava tudo em ordem? E se eles não acordaram bem dispostinhos ? E se a srª consul está de férias ?
E se...aka, estou muito inquieta. Para lá de inquieta. Como se diz na minha terra, com bué de miufa...
É que já paguei o bilhete e não foi tão pouco quanto isso, e o visto, que não saiu, e o trabalho da agência, e estou tesa, novamente como se diz na minha terra," kitari malé ", para, se quer, pensar na hipótese de outro destino. O que me espera mesmo, é chez moi.No quentinho do sofá, frustradíssima, vendo a chuva cair, bebendo chá para afastar as mágoas, que serão muitas e começando mais cedo a tal da dieta.
Estou a brincar, mas...Jesus, Maria, nem quero sequer pensar no que seria...
Enquanto isso, vou rezando aos meus santinhos, que graça a Deus são alguns, muitos, e juntinhos, moverão céus e terra, para que a srª consul seja iluminada e de uma assentada só, ordene o bendito visto.
Nem que a vaca tussa, nem que chovam canivetes, nem que eu tenha que fazer uma promessa, vou voltar a Luanda...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Don't Panic - Coldplay



Don't Panic foi a música que me acompanhou no processo do regresso a Luanda, o ano passado.Jamais foi ouvida depois, que não sentisse a emoção da minha viagem, ali naquele avião sulafricano a caminho da felicidade. Don't panic, repetia eu para que tudo corresse bem, e correu.
Ao som desta música, comecei a tocar o céu com a ponta dos dedos.

Ser Grilo

Lá para o início do ano, serei um grilo.
Nunca me ocorreu desejar ser um animal.Gosto de bichos, mas ser como eles, isso não.
Gosto de ser gente, mesmo quando tenho que ser uma lesma, um camaleão ou um rato.
Isto de querer Ser, tem a ver com o Ter. E Ser outra que não eu, implica Ter do bom e do mau. Com o mau que a vida me presenteia, tenho que me aguentar à bronca, que remédio, com o mal dos outros, costuma dizer-se, que podemos nós bem. Mas neste particular, não é bem assim. Ser o Presidente da República por exemplo. Que luxo não é? Pois, mas ser homem, para mim já era mau; gosto de ser mulher, ser algarvio,com aquele sotaque estranho, pior ainda, e ser velho e à porta ( ? ) de ser gágá, nem quero pensar.Ser a Manuela Moura Guedes, muito bom, ganha bem, uma vida óptima, férias em grupo,para os destinos inacessíveis aos comuns mortais, coisa boa, mas...aquela bocarra, enorme e cheia de botox, aquelas maçãs do rosto parecendo rabinho de bébé, aquele tamanhinho reduzido, aquela pose ridícula e as tiradas de envergonhar um país inteiro, direi mais, de chamar os homens da camisa de forças...pois, também não.
Pronto, é por essas e por outras que me deixo ser quem sou e dentro do género, tenho dias.
Mas ser um animal, até que teria uma certa graça.
A graça das nervosas gazelas,a lembrar África, das alegres borboletas a lembrar flores, do porte e elegância dos cavalos a lembrar a festa, as caçadas, ou o Gerês , da graciosidade das girafas, a lembrar a savana, e aprendi há pouco, e gosto, da liberdade dos albatrozes, a lembrar...bem, o mar, será? Sei pouco de albatrozes, mas tenho especial simpatia por estes pássaros independentes, solitários e...um nada egoístas.
Hipoteticamente, responderia se me perguntassem, que poderia ser qualquer destes animais, porque gosto deles. Depois, há também as carochinhas, que me remetem para a história do João Ratão, muito pouco romântica, porque ela, uma interesseirona, que só com a moeda eles lá iam, apesar de se encantar com o João, e ele com muita sede ao pote, ou por outra, fome, e acabando no fundo do caldeirão da feijoada. Por essas e por outras é que serei um grilo.
Mas, continuando, também gosto das Joaninhas, às bolinhas, pequeninas, ternurentas, voando, voando que o pai foi para Lisboa e elas indo ao encontro dele...Lindo!
Há animais que eu admiro, invejo, respeito. Logo, poderia ser um deles. O Leão, o rei da Selva. Ah como é bom reinar, nem que seja na nossa casa, nem que seja quando estamos sozinhos, sem o risco duma Pitanga nos pôr em cheque...
Mas animal que eu admiro, é o hipopótamo. Não sei se é agora, que as crianças gostam tanto da " Popota ".Mas que gosto de hipopótamos, gosto. Só que não corro o risco de ambicionar para mim a sua vidinha.Ele é dentro de água, ele é fora dela. Ele é comer tudo o que é verde, ecológico, ele é uma vida regalada...faltava-me um pouco mais de adrenalina para me sentir uma verdadeira hipopótama,a Popota dos tempos de hoje.
Decidididamente, não quero ser um bicho. Não saberia sequer escolher.
Mas a partir de Janeiro, passando todas as festas a que tenho direito, não tenho escolha e serei um grilo.
Toda vestida de preto, para parecer mais magra. O preto fica-me bem, portanto, não é por aí...é mais porque se não quero ser um texugo, uma lontra ou uma baleia ( se não me acautelo e não fecho a boca )terei que ser um grilo.
E ver-me-ão comer apenas folhas de alface.

A ( In )Segurança Social

Às vezes o Homem do Saco, pode ser a Segurança Social.
Provavelmente o dito, apareceu-me assim como D.Sebastião, em manhã de nevoeiro, porque ando às voltas com umas injustiças, umas imcompetências e umas fugas da realidade, do tamanho do mundo, que engloba instituições e ministérios que deveriam ter uma função social de acordo com o nome. E porque é para isso que lhes pagam. Para cumprirem a função para que foram nomeados. Juraram isso.
Diz a minha amiga Manuela,( uma das minhas âncoras ) que é uma Insegurança Social atroz,e diz bem. Se a S. Social criasse âncoras aos menos afortunados, aos mais desprotegidos, aos mais sós, não haveria,se calhar, Homens do Saco, que tiram as criancinhas, às famílias, crianças essas que a única culpa ( ? ) que têm é a de nascerem, muitas vezes de mães com o mesmo infortúnio que elas, e a quem a S.Social, na pessoa de profissionais, formados para o efeito,outrora, nao deitou a mão, a fim de evitar situações ciclícas.
Este Ministério que se diz de Solidariedade, de solidário terá pouco porque afirma, pela voz dos seus profissionais, que se deve deixar que os " pobres desgraçados " " batam no fundo " para que depois se lá vá agarrá-los pelos fundilhos.Mas nesse entretanto, arrancam-se crianças aos pais, sobretudo crianças saudáveis, acabadas de nascer, com perfil para gente rica que conduz Jaguares. E com orgulho o afirmam, perante gente que a única prioridade que tem, como gente de bem, que sabe o que quer dizer compaixão, é criar condições para que estas crianças cresçam normalmente, como os nossos filhos cresceram. Com altos e baixos, mas normalmente.
Dá vontade de perguntar a estes profissionais se cada filho que pariram,teve direito a um Jaguar.
Mas não se pode confrontar estas pessoas. Elas têm-nos na mão ( pensam elas ).
Gostava de perceber porque é que os colegas destes profissionais, outros profissionais com o mesmo grau de imcompetência, não averiguam da segurança destes filhos de Deus. Que não tendo jaguares, hão-de ser muito infelizes e a solução é chamar o Homem do Saco e atirá-los para o fundo da sarapilheira.
Era bem feito.

Pitanga IX

Juro que sou normal, e que a minha vida segue na normalidade. Por vezes há uns desvios, mas normais também.
Esta manhã, como sempre o despertador tocou às 6,45 horas.A Pitanga saltou para cima de mim.Pôe-se ao nível do peito, com as patas quase na minha cara, esperando miminhos. Que eu dou, ainda meio a dormir. Falo com ela e parece que me ouve e percebe o que lhe digo.
Depois do meu banho, percebi que esperava por mim no tapete. Meti-me com ela e ela muito calma.Estranhei.
Vesti calças jeans estreitas para dentro das botas vermelhas sem salto, botinha de fugir à polícia, ou seja, correr atrás do autocarro, mas pronto, camisola de gola alta, bem grande, daquelas golas que eu gosto e que servem para, além de tornarem as pessoas mais bonitas, taparem as desgraças, ou seja, arranhadelas de gatos, e portanto impedirem " bocas " de gente maliciosa, que nunca teve nem terá arranhadelas, de gatos ou outras. Por último, agarrei num colete preto de lã quase até aos pés, para vestir por cima disto tudo. Eis senão quando, percebi que tinha brinde. Agarrada ao colete vinha a D.Pitanguinha, feliz e contente, com ar de travessa, gozando com a minha cara.Ralhei que me desunhei e ganhei uma malha enorme puxada pelas unhas maiores ainda da querida gatinha que de querida, por vezes tem muito pouco.Pelo menos sentido de oportunidade, não tem, pois provocou mudança de planos na minha manhã. Fui à procura de uma agulha de puxar malhas, ao baú das lãs, de um tempo em que era prendada e fazia cachecóis e camisolas, de uma forma compulsiva.
Não ajustei contas com a minha gatinha má porque estava a ficar tarde e porque, se seguisse o conselho de quem conhece os gatos, deveria castigá-la e não lhe dar a latinha que ela tanto gosta, de um paté de salmão que deve ser saboroso e até já me deu vontade de provar e ela não me deixaria sair de casa.Porque todos os dias faço a mesma manobra. Antes de sair, abro a lata e como ela gosta mais do seu conteúdo do que de mim, embora olhe para trás a ver-me sair, continua a comer gulosamente.E eu saio a salvo.
Cheguei ao terminal da Rodoviária às 8,20 horas e o meu motorista já lá não estava mais aquelas vinte e tal criaturas, que todos os dias me fazem companhia.Nem a bota vermelha, manhosa, me facilitou.
Amaldiçoei a Pitanga e a minha vida. Lá teria que incomodar o meu irmão.
E fi-lo. Como sempre, ele atendeu o meu apelo. Enquanto esperava por ele, uma senhora velhota, aproximou-se de mim e disse: Oh MENINA, o TUT para o Hospital onde é que se apanha?
Ilucidei a senhora, a rica, cega e bondosa senhora.Apeteceu-me agarrá-la ao colo, rodopiar com ela, como se estivesse num salão de festas e à moda das aldeias, dançar, dançar alegremente.
Agradeci à Pitanga, mentalmente, o meu atraso.
A MENINA,ganhou o dia. Esta velhota, vinda do nada e o meu irmão, foram anjos que me pegaram ao colo, logo pela manhã.
Pensando bem, devo estar muito bem com Deus e com os céus.
Vou fazer por merecer esse apreço, pelo menos hoje...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Homem do Saco

Nasci na Avenida Brasil. Antiga Rua do Saber Andar. Onde o asfalto chegou tarde, já eu era gente, pequenina, mas gente.
Uma avenida enorme, comprida, a perder de vista, no meu olhar pequenino, como pequena, era a minha idade.Cheia de mistérios, sobretudo lá para o lado dos Eucaliptos, indo para a Terra Nova.
Dali podia aparecer tudo, incluindo " o Homem do Saco ".
Eu fui uma criança difícil. Feliz, mas muito rabina.
Dava que fazer, sobretudo à minha mãe, que sabiamente, tentava manipular.
Desobediente, respondona, birrenta e mimada ( de costas quentes do avô e do tio ) ninguém me travava a não ser o " medo " das ameaças do meu pai, que passava à prática algumas vezes.
A única forma da mãe me controlar, era a ameaça, com o Homem do Saco, ou o Velho do Saco.
Funcionava porque eu tinha verdadeiro pavor dessa figura que não conhecia, nunca vira, mas que advinhava, ser, sinistra. Pois, se metia os meninos maus no saco e os levava das suas casas, famílias e amigos...
As minhas vizinhas e amigas, mais velhas que eu, julgo terem sido cúmplices da minha mãe. Diziam-me que já lá vinha o dito cujo, ao fundo da avenida, dos eucaliptos para cá e eu apavorava-me com a idéia da perda do bem tão precioso que eram as minhas pessoas e da possibilidade de ficar nas mãos de tão demoníaca criatura.
Mas nunca o vi.
Porém imaginava-o. Um homem atarracado, com uma corcunda enorme, vestido como um pedinte, com remendos,um cajado aos ombros e na ponta do cajado um enorme saco de sarapilheira. Pesado, volumoso, cheio de outros meninos mal comportados.
Esta idéia de Homem, Velho do Saco, perseguiu-me durante anos.
Quando passei ao papel da minha mãe, controlei-me sempre, mas nem sempre o consegui. Mas esta figura não a construí para os meus filhos porque me traumatizou durante muito tempo e assombrou os meus sonhos.
Hoje, vi o Homem do Saco...
Ninguém me ameaçou. Não precisava ser castigada.
Mas vi-o. O meu homem do saco, da minha infância.
Um velho corcunda, com um cajado aos ombros e não um, mas dois sacos, pendurados.
Caberiam neles vários meninos. Eu não. Cresci...
Lembrei-me da minha mãe e sorri. Por segundos fui criança e acreditei de novo...
Afinal, as mães não mentem. Eles andam aí...
À espera do deslize...
Será que esta aparição súbita e extemporânea é um sinal?
Não. Eu porto-me sempre bem, e quando me porto mal, ainda assim, porto-me bem.
Vim aqui contar, porque dizem que devemos falar do que nos inquieta para afastar os fantasmas.
Não vá o diabo tecê-las...

Há dias assim

Há dias que o nosso acordar tem graça.
Há dias que amanhecem brincalhões, leves e despreocupados. Crianças.
O sol brilha-nos nos olhos e a luz somos nós.
As flores da tangerineira lembram-nos do cheiro e do sabor das coisas simples.
Do rádio acaricia-nos numa balada antiga e bonita, o Sérgio Godinho, dizendo que ... hoje é o primeiro dia do resto das nossas vidas...
Há dias que acordamos felizes e ele,o dia, na manhã que começa, olha-nos benevolente.
Para nos agradar.
Para mais tarde recordar...

Parabéns Celinha

Parabéns minha querida!
Que tenhas muito anos de vida.
E que a saúde não te abandone.
Nem os sonhos, nem a esperança em dias melhores.
Que o sucesso seja sempre o caminho para que te sintas mais realizada.
E a realização, a meta.
Aproveita o dia, faz a festa e junta as pessoas.
Faz o brinde, trinca a vela e pede um desejo.
Acredita...
Sê feliz, porque bem o mereces.
Um bilião de beijos.
Logo mais falo contigo...

domingo, 22 de novembro de 2009

Domingo à noite

Chegou cansada.E dorida. E aborrecida.
Que foi? Nada.
E porquê que tens essa cara?
É a cara que Deus me deu.
Resposta óbvia como óbvio o teu mau humor.
Fez silêncio.Às vezes é preferível que grite, chore, pragueje.
Não gosto nada, mesmo nada quando se põe com estes caprichos, de não falar, de não confiar.
Porque será que cada sete dias te vejo neste estado?
Porque será? Não sabes? Julgava-te mais perspicaz...
Palpita-me que quer arranjar um bode expiatório.
Eu estou mais a jeito que ninguém.
Não me acostumo. Disse.
A quê?
Ao domingo à noite.
Outra vez isso?
Isso é só, a angústia do domingo à noite, que me acompanha desde sempre.
Por isso mesmo já devias ter ultrapassado.
Vês? Porque é que eu não queria falar?
Porque é que tens sempre que opinar?
Não preciso de recriminações. Já basta o que basta.
Então basta! Pára de seres Kalimero.
Ninguém te vê assim, senão eu.E eu não tenho pena de ti.
E se o tempo parasse e fosse sempre domingo à noite?
A tua existência seria muito triste.
Não. Não se pode pôr as coisas dessa forma.
E tu, podes a cada domingo vestir a pele da coitadinha e eu a assitir de camarote...
Está bem, está bem, se me fizeres um chá, preparares-me o banho e me trouxeres o pijama quentinho, amarelo às flores, vou ficar melhor.Finjo que o domingo à noite é o melhor momento da semana para descansar.
Ela não gosta que lhe puxem as orelhas. Desde miúda, que, se lhe levantam a voz, falam com dureza ou lhe falam das suas fragilidades, lhe treme o lábio e faz beicinho para chorar.
Como se fosse vidro, parece que de um momento para o outro pode ficar em pedaços.
Atendi os seus pedidos. Até porque, se ela melhorar eu vou ficar melhor também.
Às vezes, ela só precisa de um abanão.
Acredito que hoje possa dormir bem, apesar de ser domingo à noite.
Sempre que deita para fora as suas angústias,ou me culpa delas, melhora.Afinal, tudo está bem, quando acaba bem.
Agora o importante é que relaxe.
Que se prepare para mais uma semana...e que semana!

Preguiça

Há pessoas que odeiam ser chamadas de preguiçosas.
Eu também não gosto nada.
A palavra Preguiça, arrasta preguiçosamente com outras palavras ainda piores que esta. Desleixo e apatia. Inércia. Umas de braço dado com outras, dão um ser menor.
Quem gosta de ser um ser menor?
Quando era miúda, todas as lições do Livro de Leitura iam dar ao mesmo. Às lições de Moral. Como se os pais não fossem competentes de o fazer, transportavam para os educadores esse dever.
Ainda hoje estou marcada por cada lição desses livros. Sem ter muito a ver com lições de Moral, recordo a propósito do meu nome o que ainda hoje oiço. Clarinha e as pombas, Clarinha tem 6 anos...e durante anos e anos dei milho aos pombos, sem sequer ter um pombal. Mas lembro-me também de outra lição sobre S.Tomás de Aquino. Esta a páginas tantas dizia - Tomás, Tomás, lá vai um boi a voar. Hoje, se alguém se chama Tomás e está perto de mim, mentalmente eu gozo a idéia de um Tomás meio ingénuo que acredita que os bois voam. E aí penso que até eu já tenho dito - Que já vi tudo o que havia para ver. Só me falta ver um porco voar...
Mas lição que eu nuca mais esqueci foi a da Formiga e da Cigarra. Coisa linda, imaginar dois bichinhos pequeninos, daquele jeito, um trabalhando que nem um louco e outro cantando histericamente. E eu pequenina mas com uma imaginação tão prodigiosa que inventava irmãos que não tinha, histórias de um Portugal que nem conhecia, etc, etc,tudo para enganar as minhas vizinhas do lado, aquelas com quem passara a brincar todos os dias depois das petas que lhes pregara quando fui viver para perto delas e me assaltaram com perguntas, coscuvilhices a bem dizer...e eu pequenina já tombava mais para um bicho que para outro. Já tinha opinião. Já sabia escolher. A minha escolha se a anunciasse, naquele tempo, faria com que ficasse de castigo muito provavelmente.Escandalizaria pais, professores e afins. Revelaria, digo eu, um carácter muito idêntico ao bicho da minha simpatia.
Mas como eu podia deixar de escolher a querida e alegre cantadeira ?
Então há lá coisa melhor que cantar feliz e contente e acreditar que o mais importante é o momento e não o amanhã?!...Não é isso que nos dizem todos os mails que nos mandam querendo apaziguar a nossa alma ? Vive o presente, o amanhã está distante. É incerto,podes não chegar lá, blablablá ...
Qual formiga qual carapuça. Pois são muito bonitinhas, muito trabalhadeiras, trabalham no Verão para armazenarem para o Inverno.E o que vivem as pobres das bichinhas?
Eu era miúda e já votava na cigarra. Muito mais simpática, muito mais vistosa, muito mais interessante.Não o dizia a ninguém.Catigar-me-iam. Era assim uma coisa como ser comunista. Não pode ser.Deixa-te de ideías. Isso revela o teu carácter. Queres ser como elas? Uma inconsciente? Uma irresponsável? E eu fechava a matraca, mas no fundo, no fundo, sentia uma profunda admiração pela cigarra e de mim para mim cultivava isso, num segredo meu e dela.
Cresci junto de muitas formigas e de algumas cigarras. Fui umas e outras. Os livros da escola primária ensinavam-nos muita coisa. Certas e erradas. Filtrando, percebo que todos têm razão. Desde que não prejudiquem terceiros. Cada um que seja o que lhe der mais jeito.
Hoje, domingo, depois do almoço,apetece-me ser uma linda e inconsequente cigarra, olhar a minha mala de viagem e dizer-lhe - Faz-te mala! Olhar a loiça por lavar e dizer- Salta para a máquina,espreitar a roupa para estender e dizer - Estende-te roupa, que eu, bem eu vou cantar alegremente.
Iniciar os cânticos de Natal, que já estamos a ser bombardeados com essa quadra, que eu francamente nem dei muito por isso,primeiro porque só agora começou o frio e motivos natalícios no calor, isso é em África, desculpem lá, e porque outros valores mais altos se alevantam.
Sei porque tenho pensado na Formiga e na Cigarra. É que dentro em breve, muito breve, vou cantar para outra rua e serei uma alegre cigarra, como a das histórias do livro de Leitura da nossa infância.Para Formiga,já basta no longo Inverno que me aguarda, quando eu voltar da farra...

Um mau momento

Percebi na sua voz que algo estava a passar-se de mau.
Tinha que ser muito mau, para me dizer que já tinha chorado muito.
Ao dizê-lo, voltara a fazê-lo.
Assustei-me. Nunca a vira chorar.
É uma pessoa muito forte.
Move montanhas, transpõe obstáculos, enfrenta tudo sem medo, com optimismo e tem um coração do tamanho do mundo, este mundo que tenta mudar.
Tem mau feitio, muita teimosia,é inteligente e racional.
Protege as suas pessoas como ninguém.
Por causa disso, hoje ligou-me muito zangada com o mundo. Com uma classe profissional,muito imcompetente, muito desumana, muito culpada.Existem para que se faça justiça, para que os desprotegidos melhorem e para que alguns vivam acima da indigência.Para criarem condições a outros.
A minha amiga, hoje, sentiu-se muito impotente, muito triste e amargurada, porque é racional, mas tem uma consciência afectiva profunda, que lhe diz constantemente que tem que mudar o mundo para que este seja melhor e para que os seus filhos, os filhos dos seus amigos possam viver num mundo justo, bonito e honesto, com perspectivas iguais, onde as pessoas sejam valorizadas pelo que são e não pelo que têm. Onde não seja preciso chorar porque se pratica o bem e se é impedido por profissionais que vendem a alma ao diabo.
Tenho para mim que foi mais uma explosão de ansiedade e de cansaço que a fez chorar, porque ela anda ansiosa e cansada.
Um mau momento. Se falar com ela agora, provavelmente já estará capaz de as fuzilar ao invés de se fuzilar, como hoje de manhã estava.
Tenho para mim, que vai mobilizar todas as suas pessoas e as pessoas das suas pessoas e vencerá esta luta. E ainda que se estripe toda, não permitirá que estripem as pessoas que quer proteger.
Eu tenho uma profunda admiração por ela e estou ao seu lado para o que der e vier.
Venceremos, minha querida...

Às vezes o Amor III

Às vezes o Amor é ouvir a música da tua última peça, repetidamente.
E sonhar já com o teu dia. E sentir-me a pessoa mais feliz do mundo porque tu estás de volta para a semana e comemoraremos esse dia, tão importante para ti como para mim.
E depois, ver-te no espaço onde mais gostas de estar. Seres aquilo que te foi destinado. E por fim, ver-te partir de novo...

Às vezes o Amor II

Às vezes o amor é fazer Paella para duas.
Mas farei, porque tu desejas e é domingo.
E somos duas e tomamos conta uma da outra.

Mote para Adormecer

Esta noite que passou, adormeci, ao som da trilha sonora de " Viver a Vida ".
" Surround me with your love " já me prendeu. É a musica do Marcos e da Helena, protagonistas da telenovela de Manuel Carlos, as únicas telenovelas que vou vendo, porque o acho, a ele, genial.
Apesar disso, tenho visto muito pouco, ou não estou em casa ou não acerto com a hora.
Deitei-me tarde mas ainda arranjei um tempinho para ler um pouco, porque tenho imensos livros em lista de espera, à espera que eu me resolva a iniciar o processo de desfolhar, parar, marcar com o marcador, transportá-los nas viagens e ir lendo aos bochechos. Eu acho que os meus livros gostam deste tratamento. Aprenderam a ser como eu, uma viajante do espaço e do tempo, a intervalos.
Mas ontem à noite, desfolhei pouco. Coloquei os fones para ouvir música. As que mais gosto,escolhidas por mim, e não só.Mas que passam à censura e uma vez passadas, tornam-se músicas preferidas. O caso desta.
Pois então, tinha o cenário montado. Eu pronta para dormir, o candeeiro sugerindo bons sonhos e eu insistindo na música e no livro.
E venci eu. Li algumas folhas e ainda ouvi o Surround me with your love, inteirinho. Mais, não sei.Porque fui...
Acordei a meio da noite, de óculos na cara, livro para o lado e fones nos ouvidos. A música era outra. O " Poema do Semba " do Paulo Flores. Não fora, estar podre de sono e até cantarolava este semba bem alegre e que me traz tão boas recordações.
Confundi as camas, as casas, as terras, e fui com a mão à procura da Pitanga.
Era o sentimento de culpa " a bater ".
Percebi finalmente onde estava, e ri-me de mim. Que de vez em quando Deus dá-me essa capacidade.E dá-me sono também. E adormeci de novo.

sábado, 21 de novembro de 2009

Julie e Julia

Julie e Julia.O filme que ontem fui ver.
O filme que andava à espera que passasse no cinema.
Jantei bonitinho, saudável.Sopa de brócolos com queijo parmesão, couscous de caril com maçã, frango e amêndoas. Chá verde com frutos vermelhos. Aqui para nós que ninguém nos ouve...paneleirices.Mas que eu gosto também. E não faz tanto mal como a francesinha, as batatas fritas e a coca-cola.
Jantei ali, no meio da confusão de um grupo de miúdos, eles e elas , de uma qualquer escola francesa ou alemã. Barulhentos, engraçados, todos iguais. Eles com os cortes de cabelo estranho, giro, com a pala a bater nos olhos para que possam sacudi-la e ganharem tiques nervosos que darão mais tarde umas visitas ao psicoterapêutico. Elas de aparelho nos dentes, cabelos compridos, jeans, tenis, e giras também. Uniformizados portanto. Aliás, no fundo, eles e nós, somos uniformizados, porque seguimos os conceitos, as modas, as regras.
No fim do jantar, chegou a sessão de cinema. Com ela a asneira. Eu nem queria. Mas as pipocas da minha parceira de cinema, parecem sempre pular de alegria por me verem.É curioso, porque nem sou muito amiga de pipocas, milho disfarçado de nuvem branca, doce ou salgado, ou os dois...Gosto de andar nas nuvens, sim, em pipocas, nem por isso.Mas nestas circunstâncias, é fatal...
Julie e Julia era o filme que ia ver. Gosto muito da Meryl Streep. Desde o tempo em que protagonizou África Minha. Fiquei apaixonada pela personagem. Quando esse filme chegou ao fim, eu sentia-me a própria protagonista e chorava desalmadamente, sobretudo porque o filme acaba com um texto que diz que ...Nunca mais voltou a África!...
Era tudo o que eu não queria, era tudo o que eu temia, para mim.
A actriz é bonita e excelente, digo eu e algumas críticas.
Mas...terei que alugar Julie e Julia, agora, quando chegar o Natal e tiver uns dias de descanso, em casa, lá na que chamam província.
Não que queira ver pela segunda vez.
Ontem, ao fim de uma meia hora de filme, deu-se um apagão total e dormi a bom dormir. Acordei com uma cotovelada meio violenta da minha parceira que também já tem apagado e que detesta ver-me dormir, no cinema.
Percebo que é muito frustrante. E constrangedor. Vamos que a pessoa desata a sonhar alto...e em mim não seria anormal, porque sei que não tenho um sono muito pacífico.
Mas pronto. Aquela coisa confortável de um sofá quentinho, às escuras, rodeada de gente, logo muito aconchegada e depois de um dia de trabalho, sem intervalo, de uma viagem de 100 quilómetros, uma refeição saudável...filmes há muitos e hoje mais do que nunca, a possibilidade de voltarmos a eles quando quisermos.
A Meryl Streep estava excelente, mas não o suficiente para me convencer a vencer o sono. Eu até que ficara bem desperta, animada mesmo, com o filme próximo. Que ainda não estreou. Animei-me com o elenco divertido e...bem, vão ver se quiserem saber.
Gostaram da Anatomia de Grey ? Pois então?...Bués!Daqueles que são descartáveis, de plástico, que já não há e que aparecem na Anatomia de Grey e neste filme que vai passar nas salas de cinema e até tem um nome muito sugestivo - DIA DOS NAMORADOS.
Eu vou ver assim que estrear. E prometo que não adormeço.

Amiga, como é que estás?

O telemóvel tocou.
Eu estava sentada numa sala qualquer, neste caso, a 12, dos cinemas do Corte Inglês.
Preparada para assistir a um filme que esperava há algum tempo. Não desligara o telemóvel, ainda.
Vi o nome e apressei-me a atender.
Amiga, como é que estás?, disse-me.
A voz bonita, amiga, com um leve sotaque natural de pessoa de África, à mistura com um espanholês propositado, que nós quando juntas, somos bem divertidas.
Que saudades! Desde o Verão que não nos vemos. Que nos falamos ao telefone, mais duas ou três vezes apenas. Só por mail, comunicamos.
Porque ela se mudou de malas e bagagens para Madrid e deixou de ser a minha vizinha antiga, e a vizinha nova dos fins de semana, aqui ao lado, em Lisboa. Porque amiga, irmã, continuamos a ferro e fogo.
Para além de ser mãe galinha, é Mãe sempre, e as mães têm de ajudar, proteger, os seus filhos. A filha caçula mudou-se para ir estudar. Fazer Medicina. Já que neste país parece-me que mais do que bons médicos, o importante é serem pessoas sem vida, para além do estudo, porque as médias são tão dementes,tão irracionais, que no futuro teremos médicos loucos e desumanos, perfeitos robôs e não médicos que se humanizam e conhecem, por terem vivido, a realidade dos simples mortais.
A minha amiga queria saber de mim. Viajara de Madrid para Lisboa, de comboio, 10 horas. Estava extenuada. A culpa da viagem fora da Luna, uma cadelinha, linda e simpática e que me presenteia de pelos brancos, sobretudo quando visto de preto.A Luna é pesada e não pode viajar de avião.As condicionantes que os fiéis amigos do homem provocam neste.Eles a mandarem, sempre...
Mas e porque de amizade se trata, volto à minha amiga de há 50 anos.
Pois é!A intimidade própria de tanto tempo e tanta cumplicidade está sempre presente.
O que vais fazer amanhã? Estás sozinha? Os teus assuntos estão resolvidos? Vim a uma consulta, eles são uns c......, fizeram-me vir de longe e não avisaram que alteraram a consulta...Está tudo bem, os meninos também, o D.... está em França, os meus assuntos já estão quase resolvidos, vou para Luanda dia 1, amanhã temos de estar juntas...tenho saudades tuas.Pois é amiga, temos que estar juntas, vou dormir até tarde e depois telefono-te...
As nossas conversas. Que não são apenas isto. Os pormenores ficam connosco.A forma despreocupada, com a asneirola e as interjeições próprias de quem se conhece de sempre e é de África.O Amor que a Amizade cultiva. O tal amor, já o meu amigo Edgar diz, que nunca morre...
Podemos estar sem nos vermos desde o Verão, por motivo ou sem ele, neste caso, o motivo é o da distância, que não vou a Madrid por dá cá aquela palha. Aliás, só fui a Madrid duas vezes, a última há dois anos, por quatro dias. Mas quando estamos juntas é como se nunca nos tivéssemos afastado.
Logo mais vamos ver-nos. Moramos perto uma da outra. Vamos fazer uma festa, como faziamos com os baptizados da bonecas. Que ela era a costureira das fatiotas, e a minha madrinha e mãe dela, a cozinheira do arroz doce ( a propósito, anda a prometer o feijão de óleo de palma mas nunca mais lá fui reivindicá -lo )...
Já não somos crianças, porém sentimos as coisas com a mesma simplicidade, a mesma alegria e a mesma força de ontem e aposto tudo, a minha vida, em como, logo quando estivermos juntas, não haverá falta de coisa alguma, porque somos amigas e temos saudades. E estaremos à rédea solta para irmos por aí adiante...e o sotaque instalar-se-à naturalmente porque faz ricochete.E o calão também. E o kimbundo... amendoim passará a jinguba, malagueta a gindungo, morde a kuata, não há a malé, bolas a aka ou euê, baixinho a cambuta, mais novo a caçula, pequeno almoço a matabicho, criança a candengue, velho a kota e tantas outras. Um vocabulário próprio, para nós muito rico e próximo, que nos une mais e nos torna eternas cúmplices.
Há ainda códigos próprios, comuns, inesquecíveis, que transportamos desde a infância, desde o tempo em que saltava o muro para ir brincar para a casa dela, dias a fio sem querer saber do amanhã.Como chamarmos besugos aos parolos, Nené ao irmão dela, Gildinho, como chamarem Santiago ao meu pai, Paris de França ao meu tio Fernando ( que estivera em França )ou Zé Carramé ao meu irmão, etc, etc...
Logo mais, estaremos juntas, neste sábado dos meus encantos de sempre. O dia da comemoração, o dia das recordações. O sábado que me faz sempre sentir-me feliz e VIVA...
Salvé a Amizade também ao Sábado!

Amar só para Amar

O meu amor
É só meu
E se acaso o teu
O meu amor encontra
Então o amor se o sentirmos
Será meu e teu...
Nunca muito, nunca nada
Nunca cobra, nunca espera
Amar só para amar
Nas asas da esperança voar
E na força do tempo, correr
Ao encontro das palavras
Ao toque leve das mãos
No arrepio da pele
No chamamento da alma
No desejo, qual desejo
De amar essa paixão
Num impulso, sem motivo,
Como nunca até então
Amar porque sim
Amar assim, porque não?!...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Saudade vai embora

A saudade vai embora.
Diz que me vai libertar.
Como um intervalo...
Quero olhar a saudade
Despedir-se lentamente
Sem dor ou mágoa.
Quero antes, perceber-lhe a alegria de partir
E envolver-me nesse sentimento, agradecida.
Quero estar só.
Agarrar o momento da sua partida, da minha chegada
Quero ser muitos, todos os que partirem comigo...
Todos os que conhecem o lugar onde tudo corre docemente
E o tempo conquista a vida devagar.
A saudade vai embora e eu também.
Um intervalo no espaço sem fim da minha saudade.

Pitanga VIII

Nao sei o que fazer às unhas, garras, melhor dizendo, da bendita Pitanguinha.
Não vai ao veterinário antes de eu viajar para Luanda. Por isso, desespero com unhas tão afiadas e sinistras. Bem sei que ela só quer brincar, mas estou toda arranhada. Até na cara tenho um arranhão e no pescoço também. Porque ela trepa por mim acima e não há quem a pare.E arranha, arranha sem piedade nemhuma,ingratamente, a quem lhe dá de comer, faz festinhas, conversa com ela e lhe chama, minha querida, ou nos momentos mais ternos,vai mais longe e a trata por, meu amor...
Começam as conversinhas do mete nojo, do nhãnhãnhã das pessoas, que perguntam porque estou arranhada, quem foi.
Uma gata não?!
E a odiosa piadola - Ou Gato?!
E eu que não dou satisfações e esta gentalha que mas pede,fico a odiar a Pitanga e as suas unhas...
Perguntei a uma amiga que percebe de tudo e de gatos também.Riu-se na minha cara. Achou que podia ir à manicure,limá-las, pintar-lhas com um verniz vermelho, etc, etc...
Desconfio que, eu e ela, já somos alvo de chacota...e não gosto.
O que se faz a garras afiadas de uma gata bebé?
Digam-me por favor. Please...

Sonhadora

Tenho observado os seus olhos.
Ficaram mais castanhos, maiores e mais brilhantes.
Como se uma lágrima estivesse ali pronta para saltar.
Dei com ela olhando para longe, sorridente, despegada do mundo onde vive.
Quem sabe, olhando outros mundos mais simples, mais coloridos.
O brilhozinho nos olhos e o sorriso irónico de quem sente o prazer solitário.De quem
acredita ter o mundo colorido e simples, nas mãos.
Porque olhas para além ? Ainda estás, ou já partiste?
Estou a viajar apenas, no caminho que abriram para mim.
E que fazes, na viagem? Sorris pateticamente? A tua viagem só te dás sorrisos?
Sorrir é uma benção.
Sorrio saltando à corda na cerca da minha escola.Jogando ao toca e foge.
E sorrio andando descalça no chão barrento da minha estrada antiga, onde o asfalto ainda não chegou.
Que te deu para quereres voltar atrás? E toda sorrisos...
Não é voltar atrás.
É saltar o tempo.Saltar o muro da minha amargura e desalento.Saltar os anos que não sorri. Nem sonhei nem olhei para além.
E basta-te?
Não sei. Depois se verá. Sei que quero andar na chuva morna que lava a poeira.Olhar o arco íris, sentir o cheiro da terra molhada, vermelha.
E ver o rasto das lesmas no jardim das rosas, que o avô tratou com carinho.As rosas cor de chá, viçosas e molhadas do orvalho, da noite.
Ai as rosas...as vermelhas, do vaso ao pé do tanque dos peixinhos, vermelhos, gigantes.
E os morcegos numa festa noturna, de mangas, das mangueiras do quintal.
Vou sentar-me junto ao portão, no muro, a contar as estrelas.E quero descobrir os segredos do Universo.Agora sei que os há.Para decifrar. E interferem no meu signo, ou no meu destino, que sei eu?!...
Já oiço o som dos grilos, frenéticos, impacientes.
Oh, viajar assim, olhando além e sorrindo basta-me sim. Não preciso de iniciar a viagem para perceber.
Qual a diferença? Não precisavas viajar.Podes daqui observar, sentir ...
A diferença está em mim.
A viagem é o pretexto. O meu sorriso não.O meu sorriso ilumina-se se iniciar a viagem.E vejo tudo o que me cegou.E cego-me de alegria.E oiço hinos prenhes de paz e amor.
Está em transe. Vou deixá-la abraçar a cálida idéia da viagem que fará. Ela, a eterna viajante que Deus predestinou, merece olhar mais além e saltar o Tempo.

Baptismo

Este post vai direitinho para ti, amiga.
Ontem tentei mandar-te um mail através do gmail, já que és uma das que não recebe os meus mails pelo hotmail, mas não consegui.
Hei-de conseguir hoje, com calma, percebendo...
Mas de qualquer forma e porque é muito importante que me comeces a tratar da minha nacionalidade angolana, antes mesmo de eu chegar, começando pela certidão de baptismo, poderás solicitá-la em S.Paulo, como sabes.Fui baptizada a 29 de Janeiro de 1956 e o nº de registo foi o nº 89. Bastará dares o nº de registo, pois o ano passado a Suzerte obteve o livro azul e uma certidão apenas com o meu nome, nome dos pais e data de nascimento. Obrigada minha querida. Como sempre, és um anjo, como tenho alguns, que me protegem, ajudam e nunca me abandonam. Sou mesmo uma pessoa sortuda.

Visita à Teresinha

Já vi a Teresinha.E a mãe dela.E estão as duas, muito bem.
A pequenina, é mesmo pequenina. E linda, linda, com a covinha no queixo que vai dar-lhe um encanto diferente pela vida fora.
Quase sempre de olhos fechados, dormia, sem se importar com esta meia dúzia de pessoas que ali foram só para babarem a olhar para ela.
Parabéns mãe da Teresinha, parabéns para ti, meu amor pequenino.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Creme de mãos

Há cremes e cremes. O creme que uso com maior agrado, é o das mãos.
As mãos são imprescindíveis. As mãos são uma mais valia nas relações próximas.
Têm uma linguagem bonita, própria e são indicadores da personalidade de cada um.
Gosto de pessoas que gesticulam, que se servem das mãos como forma de expressão, de movimento.A mão que manda um beijo, que acena em despedida, fala mais do que palavras.
A temperatura das mãos também é importante.O toque da mão no cumprimento pode valer uma aproximação, ou um afastamento.
Decididamente, prefiro mãos a rostos.
Há mãos que não esqueço.
As mãos da minha mãe...de uma subtileza no gesto, de um calor que protegia, de uma beleza de rainha.Tenho um apreço especial por mãos e também pelas minhas.Cuido delas com carinho, para que envelheçam com elegância.
Esta coisa das mãos vem-me de uma época de quase menina,quando privava com algumas pessoas que gostavam de divertir-se nas tertúlias, ouvindo fado e conversando muito, sobre política, sobre a sociedade e as relações interpessoais.
De vez em quando aparecia um advogado muito conhecido desta praça, inteligente, perspicaz e sedutor.Como bom sedutor, flirtava com qualquer mulher deste grupo de pessoas, do qual eu fazia parte.Um dia, já um pouco bebido apostou com todos como não advinhariam qual a parte de mim mais bonita, segundo o seu conceito de beleza. Achei ridículo e muito, muito machista este comportamento. Senti-me assim como se fosse gado.
Como ninguém quis apostar e muito bem, ele resolveu fazer render a fruta e foi dizendo: Gostam mais dos olhos? Ou dos lábios? Do cabelo? Pois eu não. O que esta mulher tem mais bonito em si, são as mãos.Ela tem umas mãos que falam...
Fiquei estupefacta. Os demais pediram-me que mostrasse essas mãos faladoras. Não fui nisso. Mais parecia fazer parte desse tempo em que infligiam às mulheres castigos horríveis e as tratavam como escravas fazendo-as abrirem a boca vezes sem conta, para mostrarem os dentes.
Reparei nas minhas mãos.
Ele provavelmente quis mostrar-me que eu tinha muito que aprender.E deu-me uma lição.
Eu batia as pestanas, sorria e atirava com o cabelo para trás, e julgava-me dona do mundo.
Esqueci-me das pessoas desse tempo, mas nunca mais me esqueci das minhas mãos.
Hoje, quando conheço alguém, dou comigo a olhar as suas mãos, porque tenho para mim, que a par com os olhos, elas são o espelho da alma.

A mosca

Já apanhou uma mosca no seu computador?Eu já.
Onde trabalho e este ano especialmente, há muitas moscas.
Moles, nojentas. Poisam em nós, metem-se pelo nosso cabelo dentro, poisam no computador.
Se se quiser vingar, agarre no rato, e vai ver como os ratos ( animais igualmente asquerosos ) servem para endoidecer moscas, poisadas no écran dos computadores e faça círculos à volta da mosca. Ela fica endoidecida.
Não sei se ela vê, mas que o rato a pôe louca lá isso pôe.
Ficamos vingados.

Psiquiatras

Com esta idade que tenho, já vivi alguma coisa e para viver mais e melhor, por duas vezes nesta vida, procurei o psiquiatra. Sempre a conselho de terceiros. Em voz baixa,que o psiquiatra é para malucos e eu não sou maluca, mas para lá caminhava se não o tivesse conhecido...seria? Por duas vezes na vida e com um intervalo de vinte anos.
O primeiro, um homem maduro, fechado e com ar de tudo menos de psiquiatra. Não sei se têm que ter ar mas devem parecer que têm. Ao fim de algumas sessões, que eu aproveitava com alguma astúcia, pois as idas ao médico a Lisboa, eram pretexto para isso mesmo. Ir a Lisboa e passar lá o fim de semana, o senhor ousou dizer que o problema estava na infância. Apeteceu-me mandá-lo dar uma volta ao Bilhar Grande.Não o fiz, porém não fiz melhor. Olhei-o meio atravessada e de uma acentada só disse-lhe que não fosse por ali.Com a infância não. Era intocável. Fora a criança mais feliz de que tenho memória. Que não bolisse com esse tempo...partiu para a adolescência na esperança de ter mais sorte. Um dia, descobri sozinha que a sensação de morte eminente, suores frios, coração a fazer taquicadia e um medo irracional, não era uma doença do coração, mas ataques de pânico. Eu andava no psiquiatra e foi numa revista cor de rosa que percebi, pelo depoimento de alguém, que aqueles sintomas encaixavam nos meus como uma luva. Quando voltei, pressenti que seria a última vez. Fiz como sempre.respondi á primeira pergunta e depois fui por ali. Estava calor, era sábado de verão, e tinha sido o almoço à pouco. Percebi que o senhor doutor estava com sono. Dali ao sono quase profundo foi um ai. Deixei-o dormir. Ali estava o pretexto para nunca mais voltar. Calei-me então, e o senhor acordou.Envergonhado, pedindo desculpas, dizendo que tivera insónias. Só não me disse que eu era uma doente entediante e que lhe fazia sono.Quis marcar a consulta seguinte. Menti, dizendo que nesse fim de semana estaria de serviço no meu emprego.Já o tinha feito algumas vezes, pois as minhas finanças não chegavam para tanta consulta
Não voltei à consulta, às sessões no maple.Acabava ali a minha história com o psquiatra, mas ficava com a certeza de que um psiquiatra, é como qualquer outra pessoa, até se deixa enganar.
O segundo psquiatra que visitei, não foi há muito tempo. Alguns, poucos anos, atrás.
Insistiram comigo que fosse e eu também concordei que precisava de ajuda.
Desta feita, era um homem jovem, cerca de quarenta anos, não sei se teria tantos.
Com um nome bonito. A condizer. Rudolfo. Nome de pessoa que chega longe. Nome de pessoa com espírito de liderança...com um computador à frente.Tratando-me por Clara, sem o dona atrás. Prefiro assim, é mais proximo.
Quis saber coisas, que escreveu no computador e a partir daí sempre lendo no computador, parecia conhecer-me de sempre. E receitava medicamentos, amiguitos atrás de amiguitos.Para não estar em sofrimento, para dormir, para não vir a depressão...enfim para tudo e para nada. Porque tomei-os na primeira receita. Depois, fui a psiquiatra de mim própria e percebendo do que padecia, ia buscar, não nos comprimidos, mas numa força, que os amigos me davam e num crédito também, a força para melhorar.
Disse-me que estava muito melhor, ao fim de 3 consultas. Que se calhar iamos fazer o " desmame " da medicação. Claro, disse eu.
Só que o desmame não se faz a quem está limpa.E logo ali percebi, que pela segunda vez, enganava o psiquiatra.
Fiz o desmame sim senhora, com toda a lata ia diminuindo a toma dos mesmos, achava ele, até finalmente me dar alta e mandar-me para casa porque já conseguia tomar as rédeas da minha vida sem " amiguitos ".
Resumindo e concluindo, os dois psiquiatras que me passaram pelas mãos foram enganados e não deram por isso. Ou será que deram?

Pitanga VII

Não resisto a um gel desinfetante.
Ele está ali, a rir-se para nós, fresquinho e cheiroso.
Está ali nas paredes, em cima de secretárias, por toda a parte.
Quando o vejo, não resisto, qual cleptomaníaca, apodero-me dele e uso e abuso, mesmo sem autorização.Nem a peço.
Enquanto ajudava a D.Xana na sua função do preenchimento dos meus papéis para serem entregues no Consulado Angolano, reparei num frasco grande com o precioso líquido gelatinoso.
Quando dei por isso, já estava a pressionar o bendito. E esfreguei, de seguida, as mãos de contente. Mas esse contentamento durou um segundo.Porque no segundo seguinte amaldiçoei a Pitanga.
Parecia ter gindungo, pimenta, nas mãos, tal o ardor que sentia.
O gel desinfetante, aquele álcool todo, a penetrar nas minhas arranhadelas, provocadas pela D.Pitanga...que sofrimento! Dei-me com a triste realidade. As minhas mãos estão em chagas porque a Pitanga acha que não há nada melhor para morder e arranhar.
Só coloquei gel nas mãos, mas se servisse para os tornozelos, pés e pernas, então dava guinchos, miava, uivava, eu sei lá que sons faria, porque a Pitanga está convencida que eu sou o seu brinquedo.Com tanta bola de presente, só comigo é que quer brincar, meter o dente e a unha...
Que faço eu com esta criatura selvagem, que me tira do sério?
Tenho que me aguentar à bronca, bem sei!

Teresinha

A Teresinha já nasceu!
Chegou-me a notícia. A alegre notícia de que a Maria Teresa nasceu há pouco no Hospital de Abrantes.
Disseram-me que é linda. Que tem cabelo preto, pele clara e uma covinha no queixo. Que é gordinha.
Que fofinha...ah, e tem uns dedos enormes. Serão umas mãos grandes para abraçarem o mundo.E a mãe está bem e ela também.
E eu amanhã vou vê-la. Vou ver a menina Escorpião, do mês de Novembro.Do mês mais importante do ano. Aquele em que eu também dei à luz, por duas vezes.Em que nasceu o meu irmão e a minha mãe.
Parabéns, mãe da Teresinha.
Bem vinda a nós e ao Mundo minha querida menina.
Que Deus te proteja sempre e faça de ti um ser humano feliz.
Eu pela minha parte vou fazer de tudo para ajudar nisso.

As gaivotas

Ali, no Parque das Nações, junto do rio e perto da noite, as gaivotas ensaiam passos de uma dança antiga, de um tango qualquer. Muitas são as pessoas que se passeiam e que formam casais. Ou famílias, com criancinhas e tudo. Dia de semana, fim de tarde de Outono e início do lazer. É preciso comer. Mastigar.Entretar o estômago e o tempo.
Eu estou sentada na esplanada, bebendo água e escrevendo os meus escritos de sempre ou de nunca.Para entreter o tempo e a mente. À minha frente está uma mulher simples, mais velha que eu, comendo sozinha. Batatas fritas.
As gaivotas bailarinas, aproximam-se. Primeiro tímidas, depois tomadas de uma surpreendente audácia, chegam junto da mesa. Cobiçam-lhe as batatas fritas.Olham-na de frente.A mulher estende a mão e como quem dá milho a pombos, oferece as batatas.
Observo incrédula. As gaivotas que habitam ali junto ao Tejo, afinal, gostam de batatas fritas. E come-nas satisfeitas. A mulher levanta-se e devagarinho afasta-se.
As gaivotas aproximam-se de mim. Inquieto-me. Não tenho batatas fritas. Só tenho letras, palavras. Não arredam pé, ou melhor, pata.Ficam ali a olhar-me como se quisessem tornar-se mais cultas com as minhas palavras.
Pensei, que um dia destes, ainda verei as gaivotas chegarem com peixe fresquinho para a troca.
Que pensariam as pessoas se as vissem a querer partilhar a sua refeição com os humanos e quem sabe receberem de volta batatas fritas? Ou lendo, depois de engolirem as minhas palavras?...Quem sabe, ensinando pessoas a ler, a comunicar ...

A PDI

Fui ali ao El Corte Inglês.Tirar fotografias.
À la minuta.
Confiei na qualidade,neste espaço, onde tudo é de primeira apanha.
Recusei meter-me numa máquina, fazer um sorrisinho idiota, corar de vergonha pela figura triste e parecer uma cadastrada, depois, daquelas que têm ficha na Polícia Judiciária.
Muito bem mandada, sentei-me no banquinho.
Puxe mais o queixo para baixo, disse ela. O que ela queria era ver-me de queixo caído.
E um sorriso? Não é preciso, não se preocupe, desvalorizei.
Segundos depois a jovem simpática e bonita exibia as fotos.Que escolhesse.
Não gosta de nenhuma? Não, respondi, mas a culpa não é sua.
Na verdade, achei que podia muito bem ser culpa dela, ou da máquina, ou de duas horas de sono apenas, ou...
Quero que a senhora fique bem servida. Bem servida estava eu, bem demais com a realidade.Eu era aquilo que estava a ver? Se era aquilo, então estava mais velha do que disso tinha consciência.E mais feia e mais tudo o que era mau.
Vamos repetir? Mas agora vai fazer um sorriso está bem? O sorriso melhora muito.
MELHORA? O que ela queria dizer com aquilo ? Então eu já estou na fase de ter de sorrir para melhorar?
Está bem, concordei. Pior não ficaria concerteza.
Então vá lá, vai sorrir... Apeteceu-me fazer-lhe uma careta, deitar-lhe a língua de fora, revirar os olhos ou pôr o dedo no nariz, mas sorri amarelamente.
Mostrou-mas orgulhosa, vitoriosa.
Vê ? Bastou sorrir para melhorar. Ai, e ela a dar-he, insistia...
Depois disto, fiquei a saber como terei de fazer para parecer melhor.
Colocarei o meu melhor sorriso e não mais o desmancho.Assim como que de um botox se tratasse.
Serei de plástico, sei lá, mas parecerei mais bonita e mais nova.
A culpa disto é da PDI de que tanto falam os que já passaram os cinquenta.

Vou a casa

Já não durmo.
Tenho o coração aos pinotes.E as costelas parecem estalar.
E os suspiros num crescendo e numa profundidade, que os vou buscar ao mais íntimo do meu coração.
Comecei a olhar para tudo como expectadora. Sabem como isso é? O meu olhar já não se detém em nada, com interesse. Com propriedade. Exactamente, é a crise da posse. Já estou a abandonar a posse.
Nada tenho aqui, é o pensamento.Nada é meu. Nada perderei.
Já não me sinto parte integrante da paisagem, do espaço, das conversas com os colegas e amigos, da televisão, da política...já comecei a encolher os ombros e a passar tudo o que é preciso fazer, para depois de...
Conheço este processo de desligamento. Aconteceu o ano passado, sem que fosse propositado, sem que sequer me detivesse a pensar que seria melhor assim. Provavelmente isto acontece para que nos sintamos inteiros, prontos para receber a benção que é Voltar a casa.
Já sonho com as mangas que amadurecem nesta época do ano, com o calor e as chuvas.
Com o céu estrelado e com a " minha " estrela cadente. Tenho para mim que me será dada a possibilidade, o presente, de ali formular o meu desejo maior.E como acredito em mim e na estrela cadente, será realizado.
Já só consigo ter a imagem da minha mãe de África, aquela mulher de 74 anos, negra, caboverdiana,linda e doce, amiga, uma mãe, que me esperou 33 anos e que estará de braços abertos para chorar comigo de alegria e comoção.
Já só consigo sentir o sol quente dos sábados à tarde,tocar-me o passado e beijar-me o rosto velho dos anos que passam, como se fosse aquela criança e adolescente de então.
Já só me vejo a banhar-me nas águas cálidas das praias, sentindo o prazer que se retira disso.
Já só consigo ver-me na minha terra.
Falando com sotaque e com calão.Rindo despudoradamente da ironia e da simpliciadade que a terra dá.
Já só consigo ver-me numa felicidade gloriosa e eterna, tocando o Céu com as palmas das mãos.
Falta pouco, quase nada, para que me sente no lugar que a mim corresponde, no avião, e iniciar essa viagem. A viagem que quero maior. Aquela em que solitariamente percebo que a felicidade está em nós e isso faz de nós pessoas tão melhores e tão abençoadas por um Deus em que acredito,respeito e que nunca me mente nem abandona.
A viagem que permite que eu vá ao encontro de mim. Do que em mim há de melhor, de mais sagrado, de Divino.
Já não consigo senão pensar, que vou voltar para casa.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Cinzas

Às vezes, ela vem ter comigo.
Apetece-lhe pensar alto e quer-me aqui, como ouvinte.
Pede-me que não pergunte, que não interrompa.
Eu aceito. É justo.
Mas antes, quero saber do que quer dissertar.
Não, sou só eu a confirmar.
O quê?
Dos amores que tive.
E então?
Porque partiram, porque deixei...
Morri, por isso partiram.
Matei-os depois.Os homens que amei, matei-os...
Ao mesmo tempo.
Conforme os construí, assim os destruí.
Estou muito mais inteira, depois disso.
Deles, só tenho as suas cinzas.
Guardei-as em gavetas.
Asseguro-me de que não me fazem mal.
Guardei-as por fidelidade a mim própria.
Acenei com a cabeça, que sim, que tem razão.
Os homens que ela amou, já não existem, porque ela morreu, mas matou-os depois.
E hoje está em paz.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Estrela cadente

Eu queria assistir a uma chuva de estrelas.
De estrelas cadentes.
Participar nessa festa de luz riscando os céus.
E poder fazer milhares de pedidos.
Eu tenho milhares de pedidos para fazer.
Esta noite está fria e chuvosa.
Os relâmpagos iluminam os céus e não há notícia de chuva de estrelas, só para me agradarem.
Vou olhar para cima e esperar pela minha estrela cadente.
Quando ela surgir, farei o pedido.
Sempre que vejo uma estela cadente, Acredito.
Nos céus e em mim ...

Pitanga VI

Ah, amanhã tenho que ir a Lisboa.Logo de manhã. Tratar de assuntos importantes. Que não podem esperar.
Noutra altura, há um mês atrás, iria hoje. De véspera. Apanhava o expresso das 18,30 horas e a esta hora já estava na minha casa, onde me sinto bem, dormiria e amanhã estaria mais perto dos meus assuntos.
Quem foi que impediu que eu fosse de véspera? Quem foi? Quem foi? Obviamente...que foi, a FERA.

Pitanga V

A minha Pitanga está a crescer.Estou a olhar para ela e percebo a diferença que faz desde que entrou pela primeira vez e única, que nunca mais saiu, apesar das tentativas diárias, nesta casa que também já é a sua.
O pêlo está maior, mais brilhante e está mais gordinha.Esta é a parte boa.
Só que gata que é gata, não tem apenas parte boa, dizem os entendidos.
E a minha menina não fugiu à regra. Eu bem que gosto da excepção...dava-me um certo jeito, sobretudo porque não via desaparecer uns fones, os candeeiros cairem ao chão, as chinelas serem levadas pela casa fora, como bolas de berlinde, o relógio de pulso ser arrastado da mesinha de cabeceira para o chão, e o mesmo ao telemóvel e ao comando da televisão.
Sem falar nesta manhã,quando estava pronta para o duche diário da manhã,que encontrei a fofinha bem no meio da banheira, olhando para mim com o seu olhão azul celeste, como se quisesse tomar banho, pôr gel e champô e ficar cheirosa e limpinha. Claro que saiu de seguida que gato escaldado, de água fria tem medo. Não se escaldou mas pode acontecer, por isso aplica-se na mesma o ditado.
A ferver ando eu, com o que ela apronta. Longe vai o tempo da meiguice, em que era queridinha, meiguinha e outras coisas em inha, como sossegadinha. Agora está louca, correndo sem parar, dando saltos, como se fosse uma atleta em dia de provas.
A Pitanga pode vir a ser uma gatinha maravilhosa, mas que não está fácil, não está, e não fora eu ter fixação por gostar de tudo o que mexe que está perto de mim, na minha casa, neste caso, e não sei se não a metia num envelope e não ia devolvida à precedência, que é como quem diz, ali para os lados do Bom Amor, para que a madrinha aprendesse que antes de mudarmos o mundo, o mundo tem que nos mudar, para que tenhamos coragem para enfrentar as taras e manias de uma gata linda com um génio dos diabos.Perdoa Pitanga, pelo desabafo, mas tens dado comigo em doida.O que vale é que vais de férias não tarda nada e quem te vai aturar é bem mais hitleriana que eu.Só que não venhas mais estragada de mimos...

Para Ti, um dia feliz

Parabéns meu irmão.Parabéns pelo teu meio século de vida.
Desejo-te tudo de bom, como desejo para mim.
Tem um bom dia, celebra-o porque te pertence.
Disseste-me que te sentes hoje mais adulto...
Eu já te sinto adulto há tantos anos...
Quando tiveste que te chegar à frente, para seres pai, marido, irmão a tempo inteiro.
Agora, que tens as tuas únicas irmãs no teu pé por tudo e por nada...
Por mim, quero dizer-te que me custa sempre pedir-te ajuda.
Porque nunca dizes que não, ainda que te transtorne a vida.
Sinto sempre que não devia.Que sou uma chata.
Hoje que já somos ambos adultos ( ? )quero pedir-te que me perdoes aquele episódio que ficou lá atrás no tempo e naquele lugar distante da nossa infância.
Tu sabes qual é. Ficou-te na memória e eu tive que levar com isso a vida toda.
Se precisares de ir a França, eu vou contigo e verbalizo por ti os verbos Avoir e Être. É a única forma de sentir que sou perdoada.
Irmão, aquilo foi há tanto tempo, mas parece que foi hoje. Ali na mesa da sala, ao serão. E eu, e tu...perdoas não perdoas? Eu sabia que nunca seria uma boa professora, por isso curei-me a tempo.
Um abraço muito grande, onde não caiba o amor que te tenho mas que seja uma pequena amostra desse sentimento que para além de amor, contém um respeito profundo pela pessoa que és.
Adoro-te.

domingo, 15 de novembro de 2009

Lembrar-te na canção

Hoje é domingo.
Choveu o dia todo numa chuva miudinha, molha tolos.
Enervante e cínica.
Chamo o taxi. O 80, dizem-me. Espero à porta que chegue.
Está quase no fim, o fim de semana.
Por vezes enganam-se e param em frente à igreja, ou antes, e tenho que ir ao seu encontro. Este não. Parou quase em cima da passadeira.Para que eu não me molhasse.
Presumo.
No interior estava um ambiente agradável. A música soava baixinho.
Leve-me para o terminal dos expressos, em Sete Rios, por favor.
Ao subirmos a Calçada de Carriche, a música mudou. E ouvi com agrado a voz cálida de timbre sedoso da Lena D'Água.
Lembrei-me de ti, de imediato.Eu estou sempre a lembrar-me de ti. Se oiço a Lena D'Água, lembro-me ainda mais de ti.
Falámos há pouco. Da tua chegada nos anos, no trabalho a apresentar. Da tua viagem no Natal, da passagem de Ano.
Mas se oiço a Lena D´Água, lembro-me que gostas de a ouvir, desde pequeno. Que gostaste de a conhecer, ainda que no Big Brother. Que tens os CDs.E eu lembro-me que tenho os LPs guardados. E que tos vou dar de presente. Estão melhor nas tuas mãos que nas minhas.
E tenho saudades, e a culpa é da Lena D'Água e deste domingo chuvoso e da distância...

A canção

Ela tem nas mãos, segurando com carinho, a letra da canção.
A música. E a voz.
Ele depositou-lha nas mãos, com muita delicadeza, como se fosse um recém nascido.
Não recomendou especiais cuidados. Ela sabe que vai ficar ainda por muito tempo, assim, com as mãos uma de encontro a outra, sentindo a vibração. Com as notas musicais na pele.
Irá à procura da imagem.
Acreditará que está a cantar-lhe ao ouvido.
Sentirá o cheiro do perfume dele, o seu perfume.
E convidá-lo-à para cantarem juntos a canção.

Luanda, meu amor

Luanda, onde o ar é mais leve
O sol mais forte
O afecto mais quente
A paixão acontece
E o Amor não esquece...

Desejo III

Gotas de chuva miúda
Molham-me a vontade de chorar
O meu cansaço...do Mundo
Deixam-se ficar
Na raiva rubra e disforme
Que persiste
Que fere e agride
E me rouba o sono
E o lugar...da harmonia
Queria ser um lago imenso
De águas mornas e límpidas
Contemplar-me
Despir-me das coisas pequenas
Que me tiram a razão
E ouvir o som da alma
Espreguiçando
O prazer da Vida...

Excerto de Poema

...Olho para além do Além
A desejar
Desenhos cruzando os céus
Amor pintado às cores
E os teus sonhos
Que torno meus
E perco-me de mim
E encontro-te
Nas letras que não escreveste
Em tudo o que não me deste

Divagando

Caminho devagar,
Atropelo o pensamento
Na esperança de encontrar
A estrada nova do Tempo
E oiço ao meu redor
Que é preciso apagar
Todos os sinais da dor
P'ra poder Recomeçar...

Os vizinhos

Não vivo isolada no campo.
Vivo numa cidade, de província, vá, mas cidade.
E bonita.Tem Biblioteca, Palácio de desportos, Cine-teatro, centro comercial,auto estradas, para nos pormos a cavar dali para fora...
E tem castelo. E tem um rio. Bonito, com chorões na sua margem, com quedas de água e tudo.
E que foi palco de muitos concursos de pesca noutros tempos.
Tempos em que os vizinhos eram família.
Não conheço os meus vizinhos. Não lhes sei o nome sequer. Não me pedem salsa,um ovo ou um pouco de sal.
Mas até la tenho um colega de trabalho, de outros tempos, o único de quem sei o nome.
Nunca estou. Nunca precisaram de mim.A administradora do prédio é simpática.
Mora no andar abaixo.Passei muitas noites acordada porque os seus filhos choravam toda a noite.
Nas reuniões de condomínio tentam que eu seja responsabilizada por actos que não cometi.Tentam, " bater no ceguinho ".Tentam, mas não conseguem e arrepiam caminho.
Participo nas reuniões há pouco tempo. A única culpa que tenho é a da ausência. Não me zango com eles. Não sabem nada. Nem me conhecem." Não sou saco de porrada " de ninguém.
Mas estes são os que vivem no mesmo prédio que eu. Há os outros, aqueles que estão ali de frente, à janela, debaixo das persianas, vendo as luzes, esperando que automóveis parem em frente aos prédios, seguindo o percurso dos vizinhos até abrirem a porta, acenderem a luz e dirigirem-e aos seus andares.
Não acreditam? Vão passar uma semana à minha casa e verão como tenho razão e não estou a sofrer de mania de perseguição paranóica ou depressiva.
Eu ando entretida, desde sempre. Encolho os ombros e faço asneiras com os dedos para gente que não olha para dentro de si e não se observa, não copia comportamentos e não quer ser melhor, pelo exemplo.A minha distracção dura o tempo que tenho de Portugal. Porque se assim não fosse, caía na malha da mediocridade. É muito fácil.
Alguns dos meus vizinhos nem fazem por mal ( ? ). Querem ajudar. Querem proteger.
Senão vejamos.
Raramente chego à noite, que não chegue acompanhada. Há 3 ou 4 pessoas que me vão deixar em casa. Eles já as conhecem.São amigas e família, também.
Se acaso me detenho, uns minutos ( às vezes, muitas vezes, fico num namoro que dura horas, sobretudo com uma amiga do peito )ora, quando assim é, há luzes que se acendem, janelas que se abrem e cabeças que espreitam. Não sei o que se passa com o mulherio da minha rua que à hora que chego, dá-lhe para o cumprimento das obrigações. Fazem máquinas de roupa e estendem-na num orgulho desmedido de domésticas cumpridoras dos seus deveres.Também pode ser pela tarifa da noite.Para pouparem...
A mim é que não me poupam.E insolentes chamam a atenção." Alô, estamos aqui"...parecem dizer, correndo os cordéis da roupa naquele ruído metálico, num gesto zangado. Já me ocorreu tirar-lhes uma fotos, para mais tarde, recordarem, e oferecê-las no Natal próximo. Um gesto simpático, seria o meu... a perpetuar as tão apreciadas funções de uma mulher à beira de um ataque de nervos.
Tenho uma amiga, que as cumprimenta a cada noite com um sinal de luzes. Damos gargalhadas como putos travessos e sentimo-nos vingadas.
Recolhem à solidão das suas famílias. Batem os estores com violência, apagam as luzes e eu não consigo sentir nada, por gente, que na pressa de querer tomar conta da minha vida, não sabem como se encontrar.

sábado, 14 de novembro de 2009

O Churrasco

Muito perto da casa onde estou ao fim de semana, da minha casa portanto, ali ao dobrar da esquina, existe uma marisqueira.
Estamos há seis anos nesta casa e apenas no verão lá fomos comer.
Santos da casa não fazem milagres e por isso para comer fora, fora mesmo. Ali pareceria uma extensão da sala, quem sabe uma varanda.
Fomos porque gostamos de caracóis e de caracoletas. E eles penduram-nas mesmo à frente dos nossos olhos, em sacos de rede.E há seis anos que, estes, salvo seja, os caracóis se riem para nós quando passamos, como que a dizerem-nos que esperam pela nossa visita.
E gostàmos do que comemos. E servem a cerveja em copos gelados e as entradas com todo o requinte, e um patê de lagosta óptimo, e muita simpatia, e uma conta a fazer pandã com tudo e tudo. Mas demos lembranças, prometemos voltar e voltaremos concerteza. Quando não nos apetecer sair de casa, quando não quisermos dar um passo maior que a perna e chover e fôr só para comer e não para desanuviar.
Hoje, quando lá passei, a caminho de Lisboa, nem queria acreditar.
No passeio empedrado, estava, um assador enorme. E no assador, um porco. Um porco num despudor que afectou a minha visão e o meu olfacto.
Jesus, Maria, como é que a poucos quilómetros de Lisboa, numa rua como esta, junto a uma farmácia, uma loja de roupa, num passeio que serve para os pedestres utilizarem, estava um porco a assar ?!...
Deduzi que fosse haver festa. Festa da grossa. Têm uma sala enorme para essas festanças, de casamentos, de baptizados e outras, mas um porco, no meio da rua...é um pouco demais.O aquário dos crustáceos já bastava. Todo o santo dia ali a tropeçar nos distraídos que passam e até no meu carrinho das compras quando vou ao outro lado da ponte, às compras de fim de semana...Não me conformo. De repente parecia-me que estava numa qualquer santa terrinha atrasada e provinciana.
Dou comigo a pensar que não têm um terraço onde possam assar e confraternizar, mas ainda assim, insistem. Dou comigo a pensar que quem não tem ovos não pode fazer omeletas.
E ainda falam dos africanos, que nas cidades,criam galinhas e porcos nas banheiras das casas de banho...

Meias de Vidro

O Outono começou e com ele a humidade do tempo, o frio e a chuva.
Há quem se vista de forma invernosa, porque simplesmente estamos em Novembro.
Colants grossas, opacas, por baixo das saias.
Eu ainda não me despedi dos sapatos de fim de verão.
É frequente o olhar de reprovação, para os meus pés.Porque as pessoas impôem-nos comportamentos. Neste caso, modas de estação de ano.
Ainda não calcei meias. Porque não tenho frio, porque a chuva não incomoda os meus pés. Porque odeio meias. Odeio porque me apertam, estrangulam, e porque não calço umazinha que não seja para ir para o lixo, assim, logo da primeira vez.
Depois há meias e meias. Há de vidro, de licra, de mousse, de fantasia, aquelas que as fazem parecer, perfeitas zebras, prontas para correrem na savana, ou mesmo tigres fora do habitat. Há ainda aquela espécie de meia, mini-meias que é uma coisa abominável. Meias abaixo do joelho, a apertar os gémeos, a impedir a circulação e a tirar a condição feminina a qualquer mulher até das que parecem camionistas. E as meias que não deviam existir no armário de qualquer fémea. As peúgas. Que se usam com as botas. A botinha tapa e a meia protege do frio. Coisa boa, tão fofinha e tão quentinha. Mas tão feinhas e ridículas que elas ficam quando as despem, quando se despem.
Por essas e por outras, porque tenho sempre calor, porque nunca tenho os pés frios, eu sou mais de meias de vidro. Transparentes ou pretas, mas meias de vidro.
Ainda não inaugurei a temporada, numa resistência que está quase, quase no fim porque percebo que não há outro caminho a seguir. Mas vou fazer um intervalo de 15 dias do frio e nesse intervalo, nem meias de vidro usarei. Andarei de chinelas, sandálias, descalça, como eu gosto mais de andar.
Só me ocorre uma frase da primeira telenovela que Portugal assitiu. " Sapato não, sô Nacib, sapato não ". Eu diria mais - Meia não, meia não.

Definição II

E se o amor te tocar
Agarra o sentimento e vive-o.
Ama com a simplicidade dos puros
Com a audácia dos atrevidos
A Alegria do loucos
A curiosidade das crianças
A inteligência dos sábios
A grandeza dos ingénuos
A paixão dos sonhadores
A beleza dos inocentes.

Sonho

Fecha os olhos, deixa-te levar
Azul do céu, ou verde mar
Que importa o tempo e o lugar...
Se sopra o vento...
Estás a sonhar
O cheiro doce do campo em flor
É como se fosse de uma só cor
A cor singela da Liberdade
Na mente...a tela
Tudo é verdade
E é mentira asas sentir?
Poder voar, saber sorrir?
Sonha criança, dá o tal salto
Sonhando, a esperança
Fala mais alto.

Letra feita para o musical " Alice no País das Maravilhas " peça recriada pelos filhotes e apresentada na cidade onde nasceram e noutras.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Nascimento

Notícia boa de ontem. A Teresinha vai nascer dia dezoito.
Quarta-feira, a " nossa " Teresinha já cá está. E eu vou conhecê-la.
A Teresinha vai ser uma Benção. Já é.

Definição

O Amor somos nós.
É o reflexo do amor por nós mesmos.
Da Luz na parede.
É um perfume que existe nos nossos sentidos.
Um rosto que criamos na mente.
Uma voz para ouvirmos com o coração.
Se o amor te tocar assim, és um ser afortunado, porque és Amor.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Olá, está boa?

Olá, está boa?
Cumprimentou-me um homem jovem, simpático e bem disposto.
Estava bem de frente de mim, com umas folhas na mão.
Julguei tratar-se de mais um utente. Que acordou simpático, ou apenas educado.
Não se lembra de mim?
Fiz um esforço. Olhei-o de novo.
Quero um documento igual ao que cá vim tratar há uns meses atrás.Para actividade profissional, no estrangeiro.
Fez-se luz. Viera acompanhado de outro mais novo ainda, quase um menino.Quando sairam, deixaram-me um cartão com números de telefone e uma morada da Vila Alice.
Que telefonasse, quando voltasse a ir.Que não se iam esquecer de mim. Que gostavam que fosse comer uma funjada ali à Vila Alice...
Apenas os vira dessa vez.
O documento que solicitam faz sempre com que eu entabule conversa com eles. Saiem quase sempre amigos do peito.
Vão para Angola trabalhar...cheios de ilusões. Quando voltam cá, dizem-me, porque se lembram de mim, que estão muito contentes. E até deixam cartões, como este, hoje.
Falou de Luanda.
Ainda cheira muito àquela terra. Chegou à pouco. Percebe-se pela forma como fala.Ainda trás o calor daquele espaço.
Voltou a convidar-me para uma funjada. No espaço próprio. Onde sabe melhor. Onde é genuína.
Não sei se levo o cartão. Se passo à sua porta. Se passar, sei que páro.
Transmitiu-me um pensamento que é meu, desde que regressei de Luanda, o ano passado.
" Sinto-me mais seguro em Luanda que aqui, que em Lisboa ".

Castanho

Hoje, estou de castanho, vestida. Nada de extraordinário, dirão.
Claro, só que eu não sou fã desta cor.Sou mais de outros tons terra, como cor de tijolo, laranja e até amarelo. Bem sei que é uma piroseira mas eu gosto mais.
Claro que tenho peças castanhas. E sapatos, malas, lenços, echárpes, batons, anéis, pulseiras, colares. Pensando bem, afinal ainda tenho muita coisa castanha e é mal empregado não usar.Por isso uso.Mas não gosto especialmente de castanho.
Por isso me pergunto, porque é que me vesti de castanho em momentos e situações que se tornaram especiais e marcantes. Escolher uma cor para viver momentos que ficam para sempre, será coincidência? Eu sei disto, pelas fotografias que estão aí para confirmar bem como as minhas memórias. É uma cor que aparentemente não me diz grande coisa...
Hoje estou castanha e não é do verão.Também não foi intencional. Será que o meu subconsciente apela a uma qualquer situação de excepção ? Ou tenho que acreditar que também há coincidências?...Pensando melhor, o dia vai a meio e está tudo bem. Só que continue assim já não é mau.Há dias que embora de castanho, podem passar, assim, despercebidos que já são dias ganhos.

Uma estrela no céu

" Os que passam por nós, não vão sós.Deixam-nos um pouco de si e levam um pouco de nós ".
Acredita nisto.Tu tens essa capacidade.De creres na Vida depois da vida.Verás que poderás olhar para cima e pensares no lugar comum, mas que te apaziguará. Hoje o céu brilha mais porque essa estrela já cintila ao pé das outras.
Gosto muito de ti.
Um abraço maior do que o UNIVERSO.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Mudanças

Via-a chegar, alegre e com um brilhozinho no olhar.
Que será que ela tem? O que viu?
Não é de se encantar assim, por dá cá aquela palha.
Vou mais, para um dia proveitoso.Não choveu.
O chapéu de chuva foi escusado.
Mas não lho pesou, que vem bem disposta.
O que se passa?
Nada de especial. Quero aproveitar a luz do dia para olhar a última vez para a sala.
A última vez? Para onde vais?
EU não. A sala...a sala vai partir.
Endoidou. Que estará ela a querer dizer?
Ela não é de meias palavras. Diz sempre tudo o que quer dizer.
Que discurso é este?
E logo comigo que sou a sua melhor amiga...como se fosse, a sua sombra.
Sentou-se e esticou as pernas. Atirou com uma almofada ao chão e colocou nela os pés cansados.Olhou em volta e esticou o dedo polegar.Apontou na direcção das cortinas.
Vamos começar pelas cortinas. Quero-as tiradas rapidamente. Já não as suporto. Roubam-me a luz que preciso para ler ao fim da tarde.
Depois, mudamos o quadro para a parede vermelha. Fica melhor. A combinar com a carpete.E a vela.
Ah, temos que limpar o pó dos livros. Quero-os a brilharem, na estante.Como se fossem comprados hoje.Hei-de voltar a ler um por um, quando for Inverno.Enrolada numa manta de lã. Aquela que me ofereceram no Natal passado.
Estou cansada do aquário, e dos peixes sempre em círculos enjoativos.Vou dá-los ao menino do 5º esquerdo.Ele pediu-mos a semana passada, quando cá veio.
Quanto ao gira-discos, fica. Hei-de pô-lo a tocar. Afinal, já se vendem vinis de novo. Ofereci de presente a um amigo.
E a colecção de pistolas ? Perguntei, disparando.
Não as quero. Vão para dentro duma caixa.Para a despensa.Já chega de guerra no mundo. As armas que agora usaremos, serão outras.
Estava a gostar desta conversa.
Ela estava diferente.Hoje o dia correra-lhe bem.
Atrevi-me a dizer-lhe que não mexesse no candeeiro. Era um presente de aniversário.
Anuiu. Ela estava tão bem disposta, que concordava comigo.
A sala parecia outra. Ela tinha razão. É preciso mudar, se mudarmos.
Então, ela levantou-se e disse - Se calhar, não seria má idéia fazer o mesmo no quarto. Pintar as paredes, mudar a mobília, os candeeiros e os tapetes.
Disse-lhe que fosse devagar. Cada coisa no seu tempo.
O importante é que hoje tu estás outra.Parecida comigo. Vais olhar o teu quarto de forma diferente. Lá mais para a Primavera faz a mudança. Não tenhas pressa. Tu não voltas atrás. Já percebi. Tu estás em mudanças.
Olhou-me, sorriu e atirou-me um beijo soprando na palma da mão.
Gosto tanto de a ver assim...

Gripe A

Entrou, pelo atendimento ao público, que é como quem diz, pela secretaria adentro, uma mulher jovem, com ar descuidado, desgrenhado e infeliz.
Exibia um papel, talvez um requerimento, pensei eu, para que desse entrada.
Olhou para mim e sem olhar os quadros acima do balcão, indicativos das diversas secções, perguntou se era comigo. Mesmo os arrumadinhos, penteadinhos e outras coisas acabadas em inhos, fazem a mesma pergunta se for caso disso.Por tal, já estou habituada a dar informações desnecessárias e que não são da minha função.
Sim, eu recebia os requerimentos, recebia o dela se mo quisesse entregar, se fosse para a minha secção.
Levantei-me e fui ao balcão. Mais personificado que isto não há. É o que se arranja.
Disse-me apressada e deserta por se libertar do papel, que a filha não pudera comparecer porque tinha gripe A. Assim, como se estivesse a fumar um cigarro, ou a mascar pastilha elástica, " xuinga " como os putos dizem, em África.
Eu já tinha agarrado no requerimento. E como se estivesse a cantar uma canção, ver um filme ou a comer pipocas, poisei-o na minha secretária.
Porém, não pude evitar de pensar que de repente, do nada, uma secretaria inteira, poderia que ter que fechar para quarentena, por causa de um simples papel.

Gel desinfetante

Estava eu em Luanda, o ano passado, e recebi o convite para ir passear para fora da cidade, até ao Caxito.
Adorei a idéia. Ia reviver os tempos bons de vinte anos passados ali naquela terra maravilhosa e muito mais maravilhosa quanto mais tempo estivera ausente.
Mas sobre a minha terra e os meus sentimento por ela, falarei noutro post. Agora o que quero dizer é que passeei muito nesse domingo de cacimbo. Vi a paisagem que cheira a mato, a sanzalas, a mulembas, cajueiros, palmeiras, coqueiros.Vi as cubatas. Vi imbondeiros magestosos ao longo da estrada. Vi o povo. Vi África.
Fomos para além do Caxito, até à Barra do Dande, ali onde o rio vai desaguar no mar.
Os meus amigos estavam a fazer cerimónias comigo.
Maria Clara, vais querer comer aqui? Isto é tão...no meio do mato, no meio do nada?
Aqui é que quero comer se vocês quiserem. À beira do rio, dos barcos, das crianças e sentindo o cheiro da alegria, da saúde.
E por falar em saúde é que estou a escrever.
Escolhemos uma esplanada, coisa simples, muito simples mesmo, mas um " luxo ". Um espaço amplo, coberto por tecto de folhas de palmeiras.Arejado e com chão de terra. As mesas e cadeiras, sofisticadíssimas ( ? ), de plástico, brancas,de campismo, de esplanada, de quintal ou de terraço, das casa normais.
Não falatavam sequer, galinhas do mato, à séria, passeando-se por entre as mesas.
O que nós queriamos mesmo, era comer cacussos ( peixe do rio ) com feijão de óleo de palma, batata doce e mandioca, cosidas, a acompanhar.
Precisei lavar as mãos, que para além de eu ser limpinha, África tem muito pó. A minha amiga disse que não era preciso. Interroguei-a, surpreendida.
Então, tirou da carteira um frasquinho muito singelo, com um gel fresquíssimo e ofereceu-me para que desinfetasse as mãos.
Não conhecia o gel desinfetante. Ela explicou-me que usa com muita frequência, devido à profissão que tem e porque viaja muito.
Ali, no cu de Judas, como poderiam pensar os europeus, que é, Angola, eu tive pela primeira vez, contacto, com o gel desinfetante, que passado um ano, se banalisou na Europa por causa da gripe A.
E África é terceiro mundo...

Patético

Um papagaio veio contar-me que o C.S.M. manifestou o entendimento de que a vacina de prevenção da gripe A, deveria ficar acessível a todos os senhores juízes.
Claro que nem todos os senhores juízes pretendem vacinar-se.
Será que se os senhores juízes levarem a vacina, a justiça não adoece?

Havemos de Voltar

Às casas, às nossas lavras
Às praias, aos nossos campos
Havemos de voltar

Às nossas terras
Vermelhas do café
Brancas do algodão
Verdes dos milharais
Havemos de voltar

Às nossas minas de diamantes
Ouro, cobre, de petróleo
Havemos de voltar

Aos nossos rios, nossos lagos
Às montanhas, às florestas
Havemos de voltar

À frescura da mulemba
Às nossas tradições
Aos ritmos e às fogueiras
Havemos de voltar

À marimba e ao quissange
Ao nosso carnaval
Havemos de voltar

À bela pátria angolana
Nossa terra, nossa mãe
Havemos de voltar

Havemos de voltar
À Angola libertada
Angola Independente

( Agostinho Neto )

Para Sempre Lembranças

Um raio de sol
Na ilha distante
Ilumina o farol
Parece um diamante
Nessa terra pacata
De feitiço e tradição
Carrinhos de lata
Marcam o chão
Papagaios no céu
A colorir a cidade
Um sonho que é teu
Já sem idade
Acácia florida
Mancha a terra batida
De vermelho cor de sangue
Eis o problema
A guerra ainda é tema
Na linda capital
Na grande avenida
Alguém pode morrer
Mas há um desejo profundo
O maior que há no mundo
Um novo dia
Uma nova terra
O fim da guerra

Lembranças
Que te ficam na memória
Que contam metade da tua história
Lembranças...
Passadas num recanto tropical
Numa terra sem igual
Ai Luanda...


Escrevi-a para o festival de pequenos cantores. Venceu a letra, a música e a interpretação.
Boa, meu filho!

A mensagem

Há momentos em que acreditamos que somos seres especiais.
Porque existem seres assim, que nos tocam, e nos fazem acreditar.
Se me fosse dado escolher o teor de uma mensagem a receber hoje, eu queria receber as palavras, o gesto e o sentimento da mensagem que recebi.
Vocês, todos, já moram no meu coração no tempo da amizade que os une à minha cria.
Obrigada querida. Respeito-a muito, gosto muito de saber que existe alguém com uma família linda como a sua.Vocês merecem.
Beijinhos SMS.

11 de Novembro

11 de novembro de 1975...
O dia em que Angola se tornou independente.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ele há dias...

Há dias que não se pode sair de casa.
Bem me parecia que hoje era um desses.Devia ter ficado a curtir a minha gripe, que ainda não está identificada no abecedário, mas que me prostou todo o dia de ontem e continua, a malvada.
Se estivesse instalada no aconchego do lar, a chá de gengibre e mel, xarope de cenoura, lenços de papel e bennurons, se calhar teria ganho mais com o assunto.
O assunto foi uma arrelia que era escusada, mas não sei o que se passa, que andamos um pouco esquecidas e as consequências não se fazem esperar. Será da idade?
Assim que me sentei no autocarro, daquele motorista que às vezes parece quer estrangular-me, quando chego atrasada, e ele fechou a porta e já iniciou a marcha e é obrigado (?) a parar para a sua excelência entrar, pois, como ia dizendo, tentei encontrar o telemóvel. Concluí que não o tinha comigo, depois de tirar a carteira dos documentos,dos cartões, dos passes, euromilhões ainda não conferidos e algum dinheirito, bem como os óculos de sol, que por acaso são graduados. Claro que deviam ter voltado para o local de origem, só que ficaram no banco, muito aconchegaditos. Quando saí, percebi que levava o saco mais leve, que a minha carteira dos documentos, pesa que se farta, apesar dos pesares ( falta de dinheiro, não me estou a queixar, até acho divertido andarmos sempre a encolher e a esticar para termos o suficiente, uma verdadeira animação ). Da febre passei ao gelo.E agora? Nem telemóvel, nem documentos. E os cartões? O grande problema era, os cartões.Mas não entrei em histeria. Agora já não. A outra, aquela de há alguns anos atrás, desatava numa choradeira cobarde e inútil e não resolvia coisa nenhuma.
Hoje, fiz o que soube e pude. E passados 20 minutos, já tinham localizado o motorista e este achara a minha tralha.Um pouco de mim, hoje, quis aventura e foi passear-se até Leiria. E há-de regressar e às 18 horas já estarei na posse da maior parte da minha vida. Os meus documentos e afins.
Amanhã terei que agradecer muito ao Sr. Motorista e fá-lo-ei, do coração.
Afinal, também há dias de sorte...