segunda-feira, 21 de abril de 2014

eu estava lá

 foto tukayana.blogspot
É lindo não é benfiquistas? 63 mil e 800 e tal adeptos de cachecol esticado, erguido bem alto cantando o hino do Benfica.
Que coisa máaaaaaa linda! Adorei.

S.L. Benfica - EstamosJuntos

quarta-feira, 16 de abril de 2014

rio Keve - Angola


saboreando cerejas...

Não quero guerras. Não quero as guerras do mundo nem lutas diárias de trazer por casa. As forças já se vão perdendo e a garra esmurecendo. Desafios, esses prefiro-os para as coisas simples e bonitas, esperanças de vida melhor. O futuro tão próximo saboreando cerejas...
Há muito depus as armas e me abandonei ao prazer da serenidade de dias fáceis, que me vem da paz conquistada noutras batalhas, em algures.
Merecer a tranquilidade é tudo fazer para alterar as leis do fantasma que nos habita tantas vezes e por tanto tempo!
Tolerando e esquecendo. Chutando a bola para a frente. Levando, como dizem os irmãos brasileiros.
Díficil? Doloroso? Inglório? Tipo chuva chovendo no molhado? Talvez. Depende do ponto de vista e dos degraus que queremos subir. Mas independentemente de tudo eu acho que vale a pena, porque nada é melhor que a serenidade que nos chega com a paz.
E concordo com um ditado antigo que se passeia pela casa da justiça, que diz que vale mais um mau acordo que uma boa sentença.
Não quero guerras. Mas de quando em vez a tristeza espicaça o eu mais frágil e incomoda-o. Toca-o, meu eu sensível e carente. Apesar da paz santa em que me envolvo desde que cresci, alma em sofrimento.
E cutucando a estrutura mais forte, couraça que defende os espíritos terrenos em evolução, provoca algum dano.
Deparo-me com esta tentativa insinuante e provocadora e lembro-me de guerras antigas, pegando o touro pelos cornos e partindo com tudo para a luta, sem sequer olhar para trás, abertas que eram as hostilidades.
Não quero guerras, mas também não quero a tristeza que me visita uma vez por outra. Por isso tento de todas as formas afastá-la, nem que seja fintando-a. Chutando para canto, numa revienga das antigas.
A minha intenção diária, difícil e ainda por ganhar, é inventar um jeito de segurar a paz sem ser beliscada pela tristeza. Proeza essa que quero em podium um dia, por isso é que ainda não me sinto uma vencedora. Mas perdedora também não. Nem pensar. Apesar da tristeza ser uma boa adversária, daquelas das antigas. Um caso sério, digo eu...
Mas eu venço-a, macacos me mordam se não a venço.
Não pela força, mas pelo jeito.

daqui vejo áfrica

Não é Luanda. Nem lá...
Não é no bairro. Nem no portão dos vizinhos de trás da casa. Ou no muro do Colégio. Dentro d' um cesto, tapado com um pano de franjas, vermelho e branco de xadrez.. Ou papel pardo.
Não é na Baixa, junto da Mutamba. Ali mesmo em frente do Espelho da Moda. Ou atravessando a Rua da Missão como quem vai sabe-se lá para onde. Onde lhe leva a vontade de vender e levar para casa sustento.
Correndo pela cidade fora, a zungueira dos tempos modernos; corsários, xinelos, blusa sem costas, óculos de sol, telemóvel numa mão, a outra segurando a bacia colorida. Ou a quinda.
Não me chamam de mãe, mãezinha, tia ou madrinha. Nem me dão um a mais, para " a esquebra ".
Mas tal como todos os que são apregoados na nguimbi, fugidos dos fiscais, num pernas para te quero que Deus há-de ajudar, igual aos vendendores ambulantes sem licença vendendo gravatas e lenços nas ruas da baixa pombalina, tal como esses, sofridos, são os doces de coco e de jinguba do meu, nosso imaginário, do tempo dos tambarinos e das maçãs da índia roubados da árvore, também num pernas para que te quero que o quintal tem cão.
E porque são como esses, as mãos que os fazem são mãos de S. Paulo, agora Sambizanga. São as mãos da tia Helena. Uma mulher com morada aqui neste lugar mas que vai a S. Paulo a cada dois meses. Uma mulher da minha terra. Que se veste de panos e quimono. Sorri alegremente sem favor nem cinismo. E que me chama, se não a vejo, quando entro na sua casa.
Sentada numa mesa de canto,
-psssssss, Clara!
Faço-lhe uma festa. Desde o Natal que não voltei ali. Precisamente o memso tempo que me separa do Ribatejo.
Perguntei pela Mizé. Está lá em cima, respondeu-me. Lá em cima é em casa, no andar que fica por cima do restaurante. Ao balcão estão dois empregados e o marido, com a neta. Os olhos postos na televisão. A verem o Benfica jogar. Ela também.
- São do Benfica?
Somos.
Pediu que chegasse a ela, a quinda com os doces. Escolheu-os.
- Se vieres amanhã já tem mais de coco. Amanhã é que vou fazer.
Olha, no outro dia esteve aqui uma senhora parecida contigo. Mora ali em baixo, na outra rua. Veio cá no dia que o Carlão tocou, olhei p'ra ela, mas é a Clara? Se ficarem juntas vão dizer que são irmãs.
Sorri-lhe. Sei quem é. Sim, parece que somos mesmo parecidas. E angolanas as duas. E estivemos para ir juntas ouvir o Carlão, não fosse o compromisso já marcado que me impediu assim de ir.
Embrulhou os doces em papel de prata. Ficámos ali a desenferrujar a língua. Ela de boné, com o símbolo da bandeira angolana. Um cachecol do partido do governo embrulhando-lhe as costas. De vez em quando desviava os olhos para a televisão, ansiosa que o seu clube, o nosso clube, marcasse um golo.
Não é em Luanda. Mas apenas à distância de não mais de três minutos, o Marçal, o bairro onde cresceu, representado aqui, praticamente à mesma distância de outros tempos. Por ela.
Com ironia, ocorre-me dizer o que já alguém disse e escreveu -
Da minha janela vejo África. E não é que é mesmo verdade?

terça-feira, 15 de abril de 2014

serra da Leba - Lubango















a minha terra é linda...




nas malambas

Nas malambas dessa minha estória vivida e contada,
vou tropeçando, caindo, levantando,
perdendo acento e exclamando aqui e acolá,
teimando, superando
A ver o que a conversa dá.
Tem dias cinzentos, tardes de sol e noites de luar,
Tem canto da kianda
Rugido de leão
Tem até camaleão mudando de cor
E feitiço de kimbanda
Tem ciúme, amor e desamor
Saudade...
Nas malambas dessa minha vida
Tem tanta gente me vendo, outra tanta que não quer ver,
E quem desconsegue me ver
Tem tanta gente espreitando
Fugindo e desistindo
Tem também gente suspeita e insuspeita
E tem quem me aperta a mão, curva a cabeça
Beija e abraça
Conquista e promete
Rouba até o meu coração...
Nas malambas dessa minha vida d' alguma inspiração
Não vou nem me queixar
Olho o rio passando veloz sem desistir de correr para o mar
E de palavra em palavra
De razão em intenção eu me prometo,
Um dia também eu lá vou chegar!

m.c.s.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

As gentes do planalto - Lubango


antigamente era tudo diferente

Passaram as horas. O dia segurou-se entre nuvens carregadas e borrifos duma chuva miudinha a confirmar o boletim meteorológico. O tempo não tem culpa da minha preguiça de sair ao encontro de gente, coisas para fazer, p' ra distrair a mente e alimentar o espírito.
Para aqui me deixei ficar olhando o monte onde se passeiam cavalos brancos, parece são livres, pastando do verde da erva crescida à custa das bátegas que cairam no inverno que até parecia que tinham aberto todas as torneiras do céu, numa borla a que já não estamos habituados. À fartazana é o termo certo.
Antigamente o tempo passava mais devagar. Uma manhã demorava tanto a chegar ao almoço que a barriga ficava a dar horas e a boca a crescer-lhe água só de pensar. E as tardes? Essas provocavam sono, a gente inventava sonhos, enganava o relógio e quando chegava a hora de escurecer já estava farta de esperar a noite, o jantar, a conversa, o café, o abraço, a gargalhada, o telefonema. O amor e o descanso.
Antigamente era tudo diferente...
Passaram as horas. E no fim do dia, vesti-me de vontade, fui ao quarto buscar as calças de ganga rotas,
- essas calças são tão feias...já não és uma adolescente.
Disse-me, como um tiro disparado, mesmo a matar, a ver se me morria de vergonha e as arrumava num canto qualquer, mas não. Eu oiço tudo, lá isso é verdade, com a maior cara de pau do mundo e intervalos, mas só faço o que me apetece e por isso aqui estão elas, vestidinhas. Vesti também um camiseiro, adequado à minha idade ou o que isso for. Calcei os mocassins bejes que têm mais de quinhentos anos e que sobreviveram a verdadeiras guerras e batalhas de trazer por casa. Na verdade, sobreviveram à custa de tudo guardar no sótão, até macaquinhos. E conservá-los anos a fio.
Vestida, calçada, penteada e perfumada, rimel nas pestanas, o risco preto nos olhos,
- porque fazes esse risco por baixo dos olhos? Dá-te um ar mais pesado. Ficas melhor sem ele, mais nova.
Disse-me outro dia e eu apenas lhe sorri, encolhendo os ombros.
- Sou nova por acaso? Deixa-me com o meu velho risco que já é tarde para o tirar.
De forma que a ficar, faltou colocar o baton, que foi a última coisa que fiz antes de pegar na carteira e sair escada abaixo.
Tenho para lá duma mão cheia de batons, glosses e outros que tais; todas as cores e mais um par de botas e acabo sempre a pintar os lábios com os mesmos. Olho-me ao espelho e já não vou para nova. A cor da moda é linda, mas envelhece-me. Ninguém me disse mas eu sei.
Antigamente era tudo diferente...
Saio para a rua. O bafo quente d' um anoitecer encoberto só não me surpreende porque ouvi falar no tempo à apresentadora do programa da tarde.
Esta mania de plantarem laranjeiras nos passeios das ruas, nas terras portuguesas...
Já Alcanena as tinha, mas lá, não cheiravam a este aroma doce, a lembrar todos os antigamentes em que fui feliz. Já aqui o perfume da flor espalha-se e chega a mim como bálsamo para a solidão a que me votei neste dia, metade chuva, metade verão antecipado.
Entro no supermercado. E saio a olhar a conta. Sinto-me violentada. E não tenho forma de dar a volta a isto. Só se esquecesse a comida da gata, os detergentes, a fruta, o leite e mais umas coisitas que fazem parte dos bens de primeira necessidade.
Já é noite na rua. Olho o monte. Parece maior e mais habitado. Em frente, a ponte que liga uma terra a outra. Em baixo o IC. Centenas de carros, para lá e para cá. Milhares de luzinhas. E a A8, a caminho de Leiria. E por falar nisso, pergunto-me, quanto tempo ainda precisarei para atravessar a ponte tal e qual como subia ou descia o viaduto lá no Ribatejo, sem qualquer inquietação, tensão ou medo?
Há lugares que chamamos nossos. E há aqueles que mesmo não sendo nossos os conquistámos, ainda que não nos tenham conquistado a nós, completamente. E o viaduto está num lugar assim.
Quantos anos precisarei para chamar minha a esta ponte, minha, a esta terra entre a ponte e o monte, a duzentos metros das horas de ponta, a dez minutos da cidade grande? Quanto tempo precisarei para me cruzar com desconhecidos insuspeitos, não olhar de lado as sombras, não apressar o passo ao ruído súbito, ou não atravessar a ponte depois das nove?
Enquanto olho os lilases que ainda não se alilasarm, ocorrem-me os castanheiros junto ao rio, os jacarandás da avenida nova e as tileiras do quartel. E decido que um dia destes tenho de me pôr a caminho, faça chuva ou faça sol, porque já sinto saudades da serra, do castelo, do rio, da lezíria e dos afectos.
Enquanto não, vou percebendo a energia desta terra que escolhi para recomeçar. Um dia, a ponte não será um obstáculo nem uma necessidade. Apenas um meio para me ultrapassar. E ultrapassar o antigamente...

quarta-feira, 9 de abril de 2014

ei-lo

                                                              foto tukayana.blogspot

O mar já cheira a mar. A casa. A lar...
O sol já queima a pele, bronzeia, parece mel.
A onda se acalmou, a criançada se aventurou e até a gaivota se humanizou.
O dia é uma viagem parando em várias estações.

Marés cheias de promessas.
Desafio a mergulhar coragem.
Canções de ir e voltar. De embalar ilusões.
E apaziguar corações.
O farol lança o anzol, pescadores de entretem.
Bate a onda no rochedo, já sem drama nem qualquer medo.
O mar já cheira a mar. A romance. A enredo.
O mar revela já, os seus segredos.

m.c.s.

uma nova era









Barcos e tripulação italiana, começaram a fazer a rota Porto Luanda/Ancoradouro da Samba, Porto Luanda/ Cacuaco.

aeroporto do Namibe - Angola


aeroporto do Lubango - Angola


à procura de ti

foto tukayana.blogspot
O dia estava quieto. As férias silenciaram o lugar. De novo a lembrança da páscoa. Da sexta-feira santa.
Sempre que se amarela o tempo, se aquietam as tardes e o vento não bule nem sequer uma folha da ameixoeira da rua, vêm-me à ideia as sexta-feiras santas, quietas e em espera. Metade véspera, metade intriga.
Dá-se um nó no meu estômago, à lembrança. No estômago, não para ser diferente, mas porque nunca o sinto na garganta.
Na verdade, sinto uma paz santa que se liberta e espalha, quando desato o nó e vou...
E fui pelo dia à procura da sexta-feira santa, das férias, das crianças, das amêndoas. Do mar, do poema. De mim. E de ti.
Inevitavelmente, procurei-te. No voo da gaivota. Na música que o búzio me cantou. No tocador de violino que arrecadou moedas e arrancou aplausos na esplanada da praia. Na onda que branqueou a areia dourada. No barco à vela ao sabor da brisa. No mergulho dos miúdos. Até no horizonte que mais do que ver, o adivinho.
Mas não o encontrei. Ao poema. E por isso também não me encontrei. Nem a ti.
Amanhã? Não se sabe.
Se o dia brilhar ao sol e o sol me contar onde estás, quem sabe a minha sorte, a tua sorte, mudará...

( des )inspiração


Um dia qualquer, num daqueles dias improváveis, surpreendentes, em que a manhã se acinzentará, a tarde se envergonhará e a noite será mais negra do que breu, enfim, um dia para esquecer e não sobrar nem uma hora resgatada, para contar como foi e porque foi, eu sei que deixarei de me renovar. E perderei a inspiração.
Arrumarei as botas e descalça ficarei para continuar esta caminhada agreste, cheia de pedras no caminho.
Não colherei os frutos, porque não verei a semente. E a palavra deixará de florir, perdida a intenção.
Não mais te verei na curva da estrada e perder-te-ei. E também à motivação.
Sem objectivo, uma rosa, será não mais que uma flor como tantas outras. E nem branca a lembrar-me a mãe de todas as mães, a minha, nem amarela a lembrar-me memórias, estórias, passado, presente, nem vermelha a lembrar a paixão que se passeia por aqui, ainda, a tornarão uma flor especial, recorrente, imperial.
O perfume que me adoça e aviva o tempo, escolha minha, prazer meu, não mais será que um cheiro enjoativo e banal.
A criança não será senão o adulto em crescimento, cruel e manipulador. Crescendo-lhe a língua e o desejo de a não dobrar. E não o melhor que a gente tem e que há na vida. O futuro. A promessa de saltar o muro...
Uma lareira, um queimador de papéis e espalha-cinzas, que encardirão paredes e atearão fogo às chaminés. A cama, um mal necessário, descansa-ossos e servidor de necessidades e outras habilidades..
As ondas do mar derrubarão o paredão, demoníacas, um dragão...
E a lua, se não aparecer no firmamento, um transtorno para viajar noite fora, um desalento.
Quanto ao poema, esse, será feito de letras juntas, caderno de linhas, pontos finais, sem parágrafos e interrogação, muitos erros e desprovido de endereço e coração. Mais um escrito frustado, censurado, arremassado, para esquecer e rasgar.
Um dia destes, quem sabe se em data marcada, destino antecipado, não sei, talvez num daqueles dias inesperados, trágicos, tristes e sofridos, temidos e odiados, kármicos, deixarei de inovar e perderei a inspiração. Para sonhar.
Quando?! Será com certeza no derradeiro dia em que deixar de amar.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

um dia seremos iguais

Há um não sei quê de infinito, no silêncio que me separa de ti.
Sagrado e inatingível.
Celestial...
Em delírio, penso, talvez sejas um anjo de asas brancas, envolto de luz.
Alumiando-me o destino.
Desafiando-me o desejo de me elevar. E subir ao monte mais alto da terra, para tocar o céu e renascer. E assim permanecer.
A contemplar o mundo e o voo do albatroz.
A planície florida de jasmins. Flores de frangipani, doces e singelas, brancas e amarelas, a contrastar com o verde forte e perfumado das casuarinas.
E no tempo das acácias, um tapete vermelho me estenderás, só para me sentir urbana. Mortal. Vaidosa. Uma rosa.
Há um não sei quê de misterioso e belo, irreal, nessa ausência, escondida presença de mim. E da vida.
Um medo, um pecado, ou desamor. Uma renúncia, ou um castigo dos deuses.
Um dia, tenho a certeza, desces à terra e eu subo degraus.
Iguais seremos.
E num abraço maior do que o mundo, muito maior do que o universo e que todas as eternidades, subiremos juntos aos céus.
E verei cumprida a minha sina.

m.c.s.

a palavra

É a palavra que me guia
E na palavra me amparo
Estrela, bastão,

Chama, caminho

É a palavra que viaja no vôo dos pássaros
Dá voz às ausências
Soletra desejos
E manda-te beijos

É a palavra que escolhe
Espalha e perfuma
E abraça-me a inspiração
Para te amar

É a palavra que me incita a sonhar...

m.c.s.