quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Tentativa - Caxito
















a escola

Ali a seguir ao prédio à esquerda, há uma escola. Onde eu fiz o exame da 4ª classe. Avenida dos Combatentes e musseque Marçal, em  1965.

só mesmo na banda


os longos da garina esvoaçando



flashes

Nas arcadas do Banco de Angola, na marginal de Luanda.

levando consigo a mala da mãe, menina esperta


Sonhos. Não mais do que isso...

Logo pela manhã, uma amiga telefonou-me, dizendo que tinha sonhado com um ex- namorado que não via há muito tempo e estava esquecido, no passado, há mais tempo ainda.
Perturbada ( pudera! ) tinha um certo receio de levar o sonho a sério e transformar-se num daqueles caldinhos, que de quentes, queimam sem querer.
- O que é que isso quererá dizer? perguntou-me um pouco aflita.
- E eu sei? respondi-lhe quase sem pensar. 
E encanei a perna à rã. Pois, não é, coiso e tal, tal e coiso, não ligues a isso, às vezes acontece, mas não tem importância, basta um pensamento, o nome escrito num sítio qualquer, marimba-te para isso, é só um sonho. Blá blá blá...
Mas o certo é que fiquei a pensar nisso.
Não é por nada, mas é que uma vez, uma noite, já lá vão muitos anos, décadas, direi, sonhei que uma criatura, ( à época, um príncipe de olhos claros, loiro e 1,75 m de altura, de humor brilhante, desportista e com a escola toda ) que me tinha entrado na vida, era eu ainda uma menina e saído, menina era, passados que tinham sido, uns bons anos, já eu era mulher feita, quase madura, mas não a cair de podre, me aparecera no emprego para me ver. Assim, como que por artes do diabo ou do universo, sei lá eu. Outro país, outras vidas, outras situações, outras pessoas...memórias parecidas. 
E, na manhã seguinte, como se fosse natural, inevitável, como se estivesse escrito, como se fosse um ajuste de contas, ou mesmo sem razão alguma, numa coisa do arco da velha, como é que hei-de dizer que não tenha dito já, numa coisa do além, que ainda hoje não sei explicar, lá estava, caindo-me na sopa, tal como no sonho. Mais velho quase duas décadas como o sonho me tinha dado mostrar. Aquilo a que se pode chamar, o homem de sonho, ou melhor, o homem que me chega do sonho.
A probabilidade do tal sonho se realizar era praticamente nula, mas por artes de magia ou outra coisa qualquer, vai-se lá saber o quê, serão energias? transmissão de pensamentos e de sonhos? destino? tornou-se verdade e vivi, meio incrédula, o meu sonho da noite, ali, no meu local de trabalho, tal qual acontecera de noite, enquanto sonhava. 
Porque existiu esse tal namorado de quem gostei muito, tanto que passados 18 anos me caiu na sopa, do nada, ou do tudo, que a vida nos proporciona, é que fiquei sem saber o que responder à minha amiga.
Mas agora que penso melhor nisso, à parte concluir que sou uma grande sonhadora, tão sonhadora que o sonho me pregou uma surpresa, uma partida, uma grandessíssima ironia, à parte tudo isto, há uma coisa que ela ( a minha assustada amiga ) pode fazer. Sopa. Para a queda ser mais fácil. 
Se por acaso lhe agrada que ele possa aparecer e fazer do seu sonho, realidade, para a cozinha já. E preparar a colher de pau. 
Ex são ex e não há nada a fazer. É uma viagem perdida. Um sonho que devia ter sido vivido no tempo certo. Um sonho enganador.
Podem sair do passado e atravessar o nosso presente, virem ver a quantas a gente anda, se estamos velhos, comprometidos, lá está, caírem-nos na sopa, mas depressa metem o rabo entre as pernas, se percebem que se meteriam numa grande açorda, para não falar numa indigesta caldeirada. De peixe pungo.
Sonhos. Não mais do que isso...

alma gémea

" Os encontros mais importantes já foram combinados pelas almas antes mesmo que os corpos se vejam..." não fui eu que disse. Foi o poeta.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Hoje


Acordo com o sol entrando no meu quarto. 
E uma gata lambendo-me a cara. 
Acordo descansada e bem disposta. Desperta... 
Acordo neste lugar. Outono frio, mas solarengo. 
Neste primeiro Outono passado aqui pertinho da cidade grande, prazer e desejo meu de tantos anos, acabado finalmente por os cumprir. 
Acordo sem cordões umbilicais ligando-me a outras terras. Mais mãe que outros dias do ano.
Lembrando o que me une e prende às minhas crias. 
À minha cria caçula...hoje.
Há um elo imaginável na minha memória de mãe, que nunca o quererei cortado.
A cada ano neste dia, há uma avalanche de sentimentos e emoções.
Há um filme passando na minha memória afectiva. Materializando-se. 
Um bebé nascendo, fruto do amor e do desejo de ser mãe de novo. 
Crescendo aos meus olhos e na vida. E chegando aqui. Ao dia de hoje. Ao que é hoje.
Há um abraço que envolve hoje vinte e oito anos e me faz sorrir de alegria e de paz.
Acordo hoje grávida uma vez mais. De Amor. Porque é o que eu sei fazer melhor.
Amar as minhas crias como se fosse o próprio amor. Perfeitamente imperfeito.
Amar a minha cria caçula desde que senti a cócega no meu ventre, materializado assim o sentimento, desde a primeira falta no ciclo que me fazia mulher fértil.
Amar...porque não há melhor amor do que o amor que dedico a quem pari.
Acordei hoje feliz porque há vinte e oito anos o meu filho nasceu, numa cidade do Ribatejo, acordando para a vida e fui eu que lhe abri as portas desse acordar.
Viva ele! Hoje. E por longos e felizes anos. Com realizações, sucessos, saúde e igual a ele próprio, sempre.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Mãe

Ai se eu soubesse, minha mãe, 
Que tão cedo desta vida, partirias
Quanto mais amor te daria...
Quantas vezes mais te abraçaria 
E de beijos o teu rosto e as tuas mãos eu cobriria...
Quantas vezes mais te diria que te amava 
E quantas outras não teimaria 
Quantas mais te pediria perdão...
Porque tu... eras sempre a razão...
Hoje és memória
És sangue que me corre nas veias 
E dentro do meu coração
És a minha história
O meu guião...
E este dia seria todo teu 
É teu e meu, 
Minha mãe que tão cedo partiste desta vida...
Por isso preciso dizer que de novo te escolheria
Saudosa mãe querida
Linda, sorridente, doce 
E melhor mãe do mundo, que foste!
Ai se eu soubesse, minha mãe
Que tão cedo desta vida, partirias...
Quanto mais amor te daria...

Tenho tanta saudades tuas, cada dia mais, cada ano mais...

m.c.s. ( à memória da minha mãe que hoje faria 78 anos )

As mulembas






A brincadeira mais antiga do mundo. Tão antiga como a mulemba.
Baloiçar nas raízes aéreas da mulembeira faz parte do meu imaginário de criança. Apenas com três, quatro anos.
Na avenida brasil, na  casa das mulembas como todos assim diziam e por que era conhecida, as minhas brincadeiras de candengue giravam à volta das mulembas do meu quintal, entre baloiços com a Sebastiana e apanhando os figos que caíam no chão, às escondidas do sô Santos, da mãe e do avô. 

os menino da minha terra

No reino de Caxito

os meninos e a bola



Algures em terras de Caxito. A bola hoje já não é de meia. 

irmã mais velha


no catecismo


a ponte do Panguila


na estrada para Caxito


A caminho de Caxito


sábado, 23 de novembro de 2013

Cacussos do rio Keve ( foto de São Gonçalves )

Cacussos para fazer o mufete de sábado. Pescados no rio Keve, perto de Porto Amboim.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

dona Pitanga outonando-se


o custo de uma viagem

Já me tinha dado conta em Torres Novas, que as mulheres da minha idade não andam a pé, pelas ruas da cidade. Não vão às compras, nem comer fora, tão pouco encontrar-se com amigos e saírem à noite. Fazem-no em carro próprio. Ou transporte de companheiro, namorado, de amigos. Ou do que for.
Disso me dei conta quando acordei d' um período menos bom e dei comigo nas ruas da cidade sozinha fazendo ou tentando fazer tudo o que fazia antes, quando tinha transporte à porta. E desse tudo, alguma coisa foi ficando para trás por impossibilidade motora, já se vê.
- Onde anda o mulherio? perguntava-me no início. Intrigada pus-me a pensar. Isto ao fim de um ou dois anos mais. 
Depois, aconteceu-me o mesmo no Olival Basto. E até em Lisboa, ao fim de semana. Foi então que mais lúcida, me caiu a ficha.
O mulherio tem razão. Não temos idade para andar aos caídos. Debitando quilómetros como se fossemos atletas de competição. 
As mulheres da minha idade já comeram o pão que o diabo amassou. Algumas sobreviveram a guerras; ultrapassaram-nas. 
Já fizeram funerais dos pais e até de filhos e irmãos. Já viram ir a enterrar maridos, amigos, colegas, pessoas da sua vida. 
Já se enterraram e ressuscitaram todas as vezes que foi preciso ou não foram capazes de o evitar.
As mulheres da minha idade trabalharam muito ao longo da vida. Umas à secretária. Outras de outro jeito. 
No lar, cuidando de crias, da casa, das roupas, do jardim, do cão, do gato, do rato da índia, do coelho anão e até do periquito e dos peixes de aquário.
Aos domingos e feriados. De madrugada e ao fim de cada noite e quando todos já estão no sono profundo. No sétimo céu.
As mulheres da minha idade saíram em família, carro cheio, lanches, guardanapos e lenços de papel, garrafas de água e cassetes. Eles a conduzirem. 
Um dia conseguiram poupar para um carrinho. Tiraram a carta e sentiram a liberdade de fazer compras sozinhas. Irem à missa, visitar a tia, ao cinema e arriscaram a cidade mais próxima. 
E viveram felizes para sempre...
Já me tinha dado conta que as mulheres da minha idade não andam a pé, pelas ruas da cidade. É do estatuto. Que adquiriram.
Eu ando. Sozinha. A cidade e eu. A calçada e eu. Os fins de semana e eu. O entardecer e eu. O metro, autocarro, comboio...e eu.
O que não tem remédio, remediado está.
E por falar nisto tudo, um dia destes, ou melhor, uma noite destas, ainda cedo, se bem que já tivesse escurecido na cidade, dirigi-me para o metro. A pé. De saltos altos e um casaco que dava nas vistas, não por ser folclórico mas porque era um pouco melhorzinho. A maquilhagem também produzida. 
Eu, no alto dos meus 1,80 com o acrescento que os saltos me deram. 
Até aqui tudo normal, porque também tenho direito. Ia para a estreia da peça que o meu filho criou, coreografou e executou e isso por si só merecia o meu cuidado. Decidi não apanhar um taxi porque as escolhas são o meu dia-a-dia e iria voltar para casa nesse confortável meio de transporte. Porque era cedo, o metro cumpriria a sua função na perfeição. Na Baixa-Chiado sairia para me encontrar com a outra cria e duas amigas, jantaríamos e a pé nos encaminharíamos para o local do evento. Três mulheres novas e eu...
O que eu não previ foi que na rua, no viaduto, à entrada do metro e em plena viagem de metro pejada de gente nova que ia para a noite lisboeta, que acontece sobretudo a partir da quinta-feira, nos bairros típicos como Bairro Alto, Alfama, Santos e nos últimos tempos, Cais do Sodré, gente da nova e da velha, gente com idade para ter juízo, me olhasse com os mais variados olhares de estranheza. Motivados pelo meu aspecto exterior com certeza. E também pela minha idade. Achei que achavam que não batia a bota com a perdigota. E isso fez-me pensar. Vá maria clara, agora pensa...
Onde anda o mulherio? Da minha idade? voltei à vaca fria. 
E a resposta, obtive-a, nos olhares em mim postos, numa noite de caminhos pelo meu pé. E não, cómoda e merecidamente como pendura de um carro de família ou ao volante de um automóvel pago com o fruto de muitos anos de trabalho. Na segurança que esta idade me devia dar. 
Já me tinha dado conta, sim, que a estrada que é caminho para o meu recomeço, a minha persistência, a minha esperança e é pisada pelos meus pés, calcada pelo meu cansaço, pela minha teimosia, vai deserta. 
Caminho sozinha, marchando a passo certo e seguro, mas porque as mulheres da minha idade usufruem do que a vida lhes deu, ou conquistaram e não lhes foi tirado.
A minha vénia para elas. 
A minha palavra para as outras. Quando quiserem sair à noite, a pé, de metro, autocarro, comboio, façam-no. Não desistam de viver. Um dia isto muda. E já ninguém repara. Ou haverá condições para as viagens de taxi, de ida e volta. 

morros de salalé



Igrejas da região de Malange