domingo, 22 de novembro de 2009

Domingo à noite

Chegou cansada.E dorida. E aborrecida.
Que foi? Nada.
E porquê que tens essa cara?
É a cara que Deus me deu.
Resposta óbvia como óbvio o teu mau humor.
Fez silêncio.Às vezes é preferível que grite, chore, pragueje.
Não gosto nada, mesmo nada quando se põe com estes caprichos, de não falar, de não confiar.
Porque será que cada sete dias te vejo neste estado?
Porque será? Não sabes? Julgava-te mais perspicaz...
Palpita-me que quer arranjar um bode expiatório.
Eu estou mais a jeito que ninguém.
Não me acostumo. Disse.
A quê?
Ao domingo à noite.
Outra vez isso?
Isso é só, a angústia do domingo à noite, que me acompanha desde sempre.
Por isso mesmo já devias ter ultrapassado.
Vês? Porque é que eu não queria falar?
Porque é que tens sempre que opinar?
Não preciso de recriminações. Já basta o que basta.
Então basta! Pára de seres Kalimero.
Ninguém te vê assim, senão eu.E eu não tenho pena de ti.
E se o tempo parasse e fosse sempre domingo à noite?
A tua existência seria muito triste.
Não. Não se pode pôr as coisas dessa forma.
E tu, podes a cada domingo vestir a pele da coitadinha e eu a assitir de camarote...
Está bem, está bem, se me fizeres um chá, preparares-me o banho e me trouxeres o pijama quentinho, amarelo às flores, vou ficar melhor.Finjo que o domingo à noite é o melhor momento da semana para descansar.
Ela não gosta que lhe puxem as orelhas. Desde miúda, que, se lhe levantam a voz, falam com dureza ou lhe falam das suas fragilidades, lhe treme o lábio e faz beicinho para chorar.
Como se fosse vidro, parece que de um momento para o outro pode ficar em pedaços.
Atendi os seus pedidos. Até porque, se ela melhorar eu vou ficar melhor também.
Às vezes, ela só precisa de um abanão.
Acredito que hoje possa dormir bem, apesar de ser domingo à noite.
Sempre que deita para fora as suas angústias,ou me culpa delas, melhora.Afinal, tudo está bem, quando acaba bem.
Agora o importante é que relaxe.
Que se prepare para mais uma semana...e que semana!

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