sexta-feira, 30 de setembro de 2011

sede de fim de semana




lar doce lar

foto tukayana.blogspot

Tive uma semana de cão.
Sarnento e vadio. Do tipo, cão com pulgas...
Rosnando-me e mordendo-me num masoquismo para o qual já não estou muito vocacionada.
Mas eis que a semana chega ao fim.
Com ela, desejo que desapareçam as dores de cabeça e outras que me acompanharam ao longo dos dias da semana.
Uma coisa eu sei. Vou fazer algo que me dá muito prazer, nestes dias.
Não se ponham com idéias. Nem tudo o que faço venho aqui entregar de bandeja. Mas a propósito disso, ficou quente, quente. A escaldar, direi.
Vou ligar os bicos do fogão, o forno, mexer em tachos e panelas, formas e tabuleiros. Ligar a máquina de lavar loiça. Dar vida à minha cozinha. E à minha sala. E ficamos por aqui porque não vou apresentar o resto da casa. Perdia a piada e o prazer.
E estará tudo preparado para um fim de semana três em um.
Em terras do Ribatejo.
Quem diria que isso me daria tanto prazer?!!!
Este fim de semana não haverá viagens. Nem farão falta.
Respirar é a palavra d'ordem e eu obedeço.

Princezito - Pilonkan

no comments


Boa!

Ia eu a dobrar a esquina, quando o autocarro passa na rua principal. Pára em frente à mortuária. As miúdas que apanham o TUT não me viram. Teriam avisado o sr. margarido.
Irrito-me com a idéia de pôr culpas noutros. Acho imoral. Quase sempre a culpa é nossa. Sair mais cedo de casa é uma hipótese, outra dar corda aos atacadores. Outra ainda não me distrair com o meu ex-vizinho que anda obsecado com a educação (?) e interrompe a minha marcha, saindo-me ao caminho de repente com um aviso, quase uma ameaça.
Aqui é que ela impeça, como dizem nesta região. É que eu não queria atribuir culpados para perder o autocarro numa paragem que me dá muito jeitinho e não me cansa tanto. Mas esta criatura que eu conheço há mais de 100 anos, cismou comigo e não posso sequer ir apressada, ou fingir que não a vejo. Ele marcou encontro comigo diariamente e não me avisou. E deve andar pouco compensado nos remédios que cada vez custam mais e sendo crónico andará certamente a empreender nisso e eu é que as pago.
- Então???? Bom dia vizinha. Está boa ou não quer dizer?
- Olá bom dia, digo eu enfurecida e com uma louca e injusta vontade de o mandar para o ....... não digo porque nunca mando ninguém para essa coisa horrível de se dizer, mas que ultimamente, na ala de trás do autocarro é o prato da manhã. Quer dizer, nem sabem dizer mais nada, desde vai para o c......, a, és mesmo um...... ou, ó meu c......, e ainda, olha-me este c......!, isto nos dois quilómetros, que distam da estação à escola. Mas este Então??? deixou-me a ferver. Querem lá ver esta criatura que nunca foi vizinha, que só me conhece por viver num bairro perto duma casa onde eu vivi em tempos e também do tribunal de t.n.! Então??? Era pastor, diria eu se fosse miúda. Então??? tive de andar mais 1 quilómetro para apanhar o autocarro a horas de me pôr a milhas de ex-vizinhos e outros, tudo porque me saiu ao caminho e interrompi o balanço que levava para apanhar o meu transporte a tempo de poupar as solas dos sapatos.
Ando mal disposta. Até fisicamente. A minha paciência anda no nível zero. Quando entrei no autocarro, o motorista de bilhete na mão, disse: Hoje atrasou-se, ou quê?
Jesus Maria! Ou quê, senhor margarido? Quê né? Foi o que me ocorreu dizer. Mas mais uma vez ninguém tem culpa de nada e eles não sabem o que dizem nem a quem o dizem. O respeito já não é o que era e nem as medem. Tal como os da ala do fundo, os putos que hoje surpreendentemente me deixaram espantada se é que eu ainda me espanto. É que levavam música alto e ouviam-na no mais completo dos silêncios. Hoje não havia c......., para ninguém. E o mais surpreendente nem foi isso, foi a escolha musical. Primeiro Mafalda Veiga, depois Jorge Palma e por fim Sérgio Godinho no último álbum.
Quando a gente pensa que já viu e ouviu de tudo, percebe que esta malta pode não saber o que diz mas sabe o que ouve.
Boa!!!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

curiosidades VI

foto tukayana.blogspot Podia ter sido na Estremadura. Nas Beiras, no Alentejo ou nas Ilhas. Podia ter sido no Algarve, no Minho ou até no Ribatejo. Mas não.
Que foi em Portugal, foi. Ali quase em Espanha, a uma dúzia de quilómetros, mas ainda em terras lusas.
Está-se mesmo a ver que foi... em Trás-os-Montes, pois então!
Só por causa disso não fui à cab(e)leireira. Não fosse ela subtrair-me mais cabelo que o necessário...

Let's Do It (Let's Fall In Love) by Ella Fitzgerald

Ainda o filme Midnight in Paris. Ainda a música. Ainda eu a achar que é um bom filme de Woody Allen.

divagações III




Desce a noite lentamente no dia absurdamente quente e hostil.
Queria estalar os dedos e num número de mágico transformar a noite que aí vem, num inesquecível entardecer de mim.
E não ter de lamentar o dia que finda nem a noite que nasce.
Se de noite todos os gatos são pardos, dispo então a minha pele e deixo-a à porta de casa. Na maçaneta que serve para o saco do pão, que pela manhã o padeiro ali vai pendurar.
Nem acendo as luzes, nem entro. Penduro-me na luminosidade dos candeeeiros de rua, a fim de ler nas estrelas que cintilam, lá longe, no firmamento, o que vai ser de mim, carne e sangue, liberta que estou desta pele rugosa e gasta, soma de muitos momentos. Noites e dias.
Esqueci os óculos e não consigo enxergar. Deixo p'ra lá...
Caminho nua de sinais e de ansiedades. De passados e de futuros.
Não sei qual o meu destino. Caminho ao acaso, sem guias nem mapas. Sem instinto. De sobrevivência...
Hoje se puder, quero ser igual a uma alma em crescimento que vive o presente. Sem vício de entardeceres de outros sois e outros mares. Sem avisos ou conselhos. Sem pancadinhas nas costas ou clichês.
Sem sonhos bordados a diamantes transformando pedras talhadas em assentos onde me sento às vezes, não têm conta quantas, para descansar e alucinar, colocados no caminho, para o efeito. E que quase nunca surtem efeito.
E se o travesseiro é bom conselheiro e a noite também, quero que ela não acabe já. Ela que se faça velha. Sem lembranças. Sem laços. Sem pontos cardeais. Faróis. Portos de abrigo. Assim como o povo diz, sem norte nem sul. Desmiolada...
Hoje quero ser uma solitária. Sonâmbula. Sem memória, na noite sem fim.
Sem nada...
Apenas noite. Apenas escura. Silenciosa. Pura...

terça-feira, 27 de setembro de 2011

divagações II



Deitei-me contigo, no pensamento. Só no pensamento...
Não preciso de pensar para saber que nunca me deitei contigo. Nem adormeci, nem acordei a ouvir-te respirar.
Não sei como e se respiras.
Sei que me deitei contigo, no pensamento. Nesse pensamento preso, que tu libertaste nas palavras que escreveste em linhas duma vida curta que não vivemos juntos. A culpa foi das palavras que recebi num Setembro que já é passado no calendário, mas que te fizeste anunciado por tempo interminável. Digo eu...
Começaste com um abraço do tamanho do mundo e acabaste com outro, do tamanho do universo.
E eu fiquei de braços abertos, caídos e vazios. Entre o mundo e o universo. Entre o ontem e o anteontem.
E ontem... Já viste como a vida é? Deitei-me contigo. No pensamento. E os pensamentos são mais livres que as asas de um albatroz nos mares do sul.
Vou deitar-me tantas noites contigo nesse pensamento livre, que um dia, uma noite, tal como o albatroz que vai a terra uma vez no ano à procura dos afectos, chegarás quiçá
nas asas livres de um pára-quedas, ressuscitando as palavras que ficaram por acontecer no abraço maior do que o universo que de ti recebi. E ouviremos de novo " Cinderela " como na primeira vez.
Como na primeira vez que em pensamento, dormi contigo.

Muito bom, mesmo!

Muito bom, mesmo.
Partilhei, como se diria no facebook, que é o mesmo que, roubar a idéia de outro.
Portanto, roubei do blog da SMS, mas sei que ela não se importa.

ele há coincidências!

foto tukayana.blogspot

Ao domingo de manhã, o metro assume uma postura completamente diferente da semana e das noites de fim de semana.
Os passageiros, de todas as idades, cor, género e nacionalidades não o lotam mas dão uma riqueza imensa à viagem. Isto para quem para além de viajar, observa e questiona. Não há dúvida que quem usa o metro ao fim de semana não usa ou não tem transporte próprio, ( o porquê é claro como a água ), não são da cidade e da periferia. Ou são turistas.
Estes emprestam a este meio de transporte uma alegria e coloridos que apenas emudecem quando os cegos atravessam as carruagens, fazendo o peditório habitual e que já não surpreende o habitué das topeiras rápidas da cidade de Lisboa, mas cala de constrangimento. Quem sabe, de culpa...
Num assumir o que o Estado devia prevenir e resolver.
Neste outono disfarçado de verão dos trópicos, os turistas gozam os dias quentes desta cidade fantástica e é vê-los, empunhando máquinas, câmaras, mochilas. E há também os outros. Como eu. E d'outros. Chineses, moldavos, brasileiros, ucranianos, romenos, africanos, paquistaneses, indianos.
Uma menina indiana, sentou-se à minha frente. Quer dizer, eu acho que são indianos todos os que têm olhos pretos, pele de chocolate, cabelos lisos, negros, sinais na testa, vestes de tecidos finíssimos e padrões que me parece virem da Índia, seja ela qual. Peço desculpa pela ignorância, mas todos os que têm estas características, mais coisa menos coisa, são indianos, cheiram mais ou menos a tabu, óleos adocicados e especiarias e fazem-me lembrar caril de gambas e filmes musicais com o protagonista chorando d' amores por ela e fazendo-lhe declarações d'amor do alto duma montanha e ela, a donzela, respondendo no topo de outra.
A menina indiana olhou-me sem sorrir e eu olhei-a. Nos olhos. Uma da outra. Os delas mais escuros que os meus e mais enigmáticos. Tirou-me a fotografia. Olhou cada pormenor de mim desde os fones à carteira, mãos, roupa e até para o pé esquerdo que marcava o compasso musical. Olhou simplesmente. Reconheço esse passar revista pelo outro. Porque o outro existe e está ali à nossa frente. Olhei-a a dizer-lhe, tá-se bem. Vou de viagem mas não angustiada. É um domingo diferente. Vou nas calmas. Hoje é dia de tocar à campainha e a porta abrir ao toque em forma de código que há muitos anos quatro criaturas instituiram como - O toque. Hoje, ( apeteceu-me dizer à menina indiana que estava ali à minha frente ), é um domingo que eu gosto e o tarrafal tem o nome de encontro com os afectos, numa paz santa.
Mas ela mantinha-se calada e linda na sua postura correcta, de costas direitas, vestes longas, piercing no nariz, cabelos negros e longos, olhos belíssimos e atitude tranquila, olhando-me.
Ao lado uns italianos falavam pelos cotovelos e mais adiante três raparigas caboverdianas exageravam nos decibeis, num crioulo da ilha de santiago.
Na estação de S. Sebastião ( a do Corte Inglês ) a menina indiana agarrou na mala, olhou-me de novo, levantou-se e saiu.
Depressa chegou a Praça de Espanha, estação onde uns benfiquistas, enfarpelados de vermelho e branco para um jogo, num sábado destes, fizeram a piadola de que estavam a chegar à estação de Atocha, o que fez os básicos rirem a bandeiras despregadas e a mim pensar que há com cada adepto, que valha-me deus nosso senhor, carneirinhos...
A minha estação era Jardim Zoológico e nela saí numa falta de pressa de ter ainda uma hora e não estar virada para o Colombo que é só umas estações mais adiante. Não sei o que se passa comigo que estou como aquelas pessoas que odeiam centros comerciais. Não vou. Na verdade fui com a Ana há umas semanas ao Dolce Vita mas porque me foi buscar a casa. E também fui ao Torres Shopping ( o de Torres ) porque me convidaram, e acabei a comprar velas de cheiro numa super loja para artigos para a casa que nem sequer conhecia.
Bilhete comprado, fui almoçar ao Jardim Zoológico. E quando acabava de o fazer, vejo a menina indiana que saira duas estações antes, na companhia de um indiano jovem também, sorrindo ambos para um gelado. Ia jurar que os olhos dela sorriram para os meus quando por mim passou. Eu sorri-lhe. Não sei se percebeu. Não era importante. Durante alguns minutos foi a minha companhia num metro que nem sempre é amistoso ao domingo. Por conta desses dias menores, apeteceu-me congelar o sorriso p'ra domingos de solidão.
Ele há coincidências!
Curiosamente, gosto de indianos. Não como se gosta de crianças e de cães. Nada disso. Se tivesse outra vida para viver depois desta, gostaria de ter outra pele. Ser indiana é uma pele que gostaria de vestir. Tenho atracção e paixão pela Índia, desde menina.
Curiosamente, quando a minha primeira cria nasceu, o pessoal do hospital achava que era filha de indiano ( não é ). Ainda hoje parece ter vindo desse lado do globo.
Ele há mesmo coincidências!

com os ditos

Tomates!
Quando inventaram a expressão " É preciso ter tomates..." referiam-se concerteza às mulheres.
Eram elas que cuidavam deles, nas hortas. Os regavam, os colhiam e os cozinhavam. E todos os comiam.
Depois, todos sabemos que os tintins dos homens não têm o tamanho dos tomates. Nem a coragem.
Sim porque ter tomates, quer dizer ter horta, ou tê-los comprado, mas também, ter coragem, muita coragem, sobretudo para levarem por diante os ensinamentos dos pais, dos educadores e não se deixarem abater, vergar ou arrastar por caminhos dúbios e pouco transparentes.
Conheço uma mulher com os ditos, que neste momento está a travar uma dura luta. E não desiste.
Ensinaram-na a ser honesta e a colocar a transparência e a dignidade acima de tudo. Abençoada mulher.
Ela sabe que me refiro a ela.
Força mulher sem medo...e com tomates!

música indie, alguém sabe o que isto é?

Caí de quatro. Completamente.
Apaixonei-me perdidamente por música indie.
Ai não sabem o que isso é?
Eu também não sabia. Há muita coisa que não sei. E na música, gosto do que me parece bonito, acalma, alegra, recorda, estimula, arrebita, me faz rir e chorar. E nunca mais terminava, com tudo o que música me provoca. Também gosto só porque sim.
Afinal, o que eu gosto é de música. E até gosto de dar música e que ma dêem.
Neste caso quem me dá música são os Metronomy e The Look, que já aqui postei é a minha preferida.
Perguntei a alguém a quem pergunto muita coisa que não sei e que tem menos 30 anos que eu, o que era afinal música indie. E chegou a explicação, rapidamente. Alternativa, independente, movimento musical nascido nos Estados Unidos.
Perguntei, porque a pessoa em questão vira postada a música aqui no blog e dissera a propósito, que era muito bonita e que gostava. E no sábado na fila do cinema, outra criatura com menos 28 anos que eu, após lha ter mostrado como a minha música de eleição, me disse rindo: Ahn, que giro! Gostas de música indie...- Música quê? perguntei. - Indie, respondeu-me. E mais não disse por ter chegado a nossa vez na fila,para os bilhetes.
E então cheguei a uma brilhante conclusão. Parece que toda a gente com menos 28 anos que eu, sabe o que é música indie.
Eu não sei se gosto de facto. O que sei é que me apaixonei pelos Metronomy. E por, The Look.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

filmes



Três filmes numa semana é muito filme para uma criatura que foi apanhada pela crise, num país em crise. Mas aconteceu. Um na 4ª feira e dois, sábado. Estes, seguidinhos. Apenas o jantar a fazer um intervalo. Nas salas onde gosto mais de ver filmes. No espaço onde gosto mais de fazer compras de supermercado. No lugar onde os pobres se sentem culpados de o serem. E os ricos
exibem as marcas sem decoro. Sábado estava demais. A diferença social era tão escandalosamente notória que até eu olhei bem para mim a ver se estava à altura. Bem sei que o meu metro e setenta e três já não é o que era, mas não há volta a dar. Esse espaço diverte-me, pelo contraste. E outras coisas que acontecem ali, como avós de 80 anos a ousarem pôr os olhos em miúdas de 20 e tal como se fossem umas ventosas pegajosas e babosas, rsrsrsrsrs, mas vamos ao que importa, os filmes foram vistos. Não me detive muito a pensar se gostei muito ou não. Gostei. E para a dose que foi, nem sequer adormeci. Por isso o saldo foi positivo. Nos tempos que correm é uma benção.

proseando



O silêncio não tem cheiro.
E só tem uma cor. A branca.
O silêncio chama-se paz.
O som é lápis de cor perfumado desenhando o sol, a lua, a água.
O relâmpago.
O arco-íris.
O som chama-se vida.
Quero ter a paz branca no desenho dos elementos.
E no silêncio tranquilo poder ouvir a vida respirando garrida e perfumada.
E abraçá-la silenciosamente.

domingo, 25 de setembro de 2011

divagações I

Amanhã acordo cedo. Com o despertador. Como todas as manhãs.
Descalça e aos apalpões ( falta de óculos ) encaminho-me para a sala de banho. Abro a torneira. Nem um pingo d'água. Vieram cortá-la. Por falta de pagamento. Nem um pingo d'água. Nem um pingo de remorso...
Espanto o sono num balde d'água fria que guardei, para o efeito. Por causa dos avisos repetidos que me chegaram, pela televisão, jornais, rádio. Por todo o lado. Ah, e também dos serviços municipalizados.
De cara lavada, dirijo-me à cozinha. As idéias caem-me na fraqueza e desorganizam-se. O saco do pão ainda tem tostas do tempo das vacas gordas, quando aos domingos os pitéus começavam no paté de lagosta ( para as tostas ) e depois as gambas ao alho, o arroz de tamboril, o doce de abóbora e pinhões com requeijão de Seia, o Paris-Brest com chantily caseiro e a acompanhar os vinhos alentejanos, o champanhe francês, o uísque de Malta e o Porto D. Antónia para as senhoras. Para as senhoras...para mim. Que outras senhoras? Estávamos no tempo das vacas gordas.
Lembrei-me que havia um papo-seco. Estará duro, ( que nem cornos, que também já houve, benza-os deus ) mas nada que uma faca elétrica não resolva. Há cá uma em casa, desse tempo, que o cortará em fatias crocantes. Uma prenda do falecido, no dia da mulher. Eu sempre achei que o falecido tinha gostos de cortar à faca mas nunca pensei que os levasse ao extremo.
Doce de abóbora é que já não há. Os pinhões estão pela hora da morte e não fui às pinhas, que uma senhora não se arrasta moribunda, pelos campos onde as pinheiras mansas proliferam.
Mas há mel. Um pote que guardei de um tempo em que me davam beijos que traziam e sabiam a mel. Guardei-os. Aos favos. Não sei se fiz bem. É que o mel cristalizou e tenho que consultar a internet para perceber o processo pelo qual os cristais passarão, para que amaciem. Isto se não cortarem a luz entretanto. Ao domingo não há piquetes. Os homens têm de descansar. É um alívio saber isso. Pensando bem, amanhã terei de procurar a última factura. Não sei quando o carteiro a trouxe. Não estava cá. E não me ralei com a data. Depois se veria. Amanhã. Amanhã será o dia. De estômago vazio não sei pensar. Nem ver os papéis que atirei para a pasta e depois meti na caixa dos papéis inúteis, quando fora de prazo.
Amanhã tenho de comer uma fatia de papo-seco crocante, barrado de mel cristalizado senão perco as forças p'ra ler a mensagem da operadora lembrando que será o último dia para o cumprimento da assinatura do telefone.
Amanhã olharei as tostas esperando o mel, antevendo o momento do prazer sublime. Pena é que a semana passada cortaram o gás. E amanhã a água. Porque beberia um copo gigante de água morna, em jejum. Para me manter elegante, neste tempo das vacas magras, salvo seja.
Há outra coisa para fazer amanhã. Comprarei um boletim do euromilhões, com 2 euros. À sociedade com a vizinha, que um dia destes me bateu à porta a pedir-me uma chávena de arroz para cozinhar aos miúdos. Diz que nos últimos dias apenas têm comido na escola. Em casa, apenas pão com dentes e duro como o meu.
Era o meu último pacote de arroz. Sobrara do tempo do arroz de marisco e do falecido. Disse-lhe, à vizinha claro, porque não falo com mortos, que levasse a almoçadeira de volta. Era grande demais. Ofereci-lhe uma de chá. Leva menos arroz. Estava deserta por me desfazer da dita, oferta duma tia velha, do falecido! Feia como tudo, a chávena e a tia. E depois, eu não bebo chá em chávenas de chá. Sou mais de canecas. Tenho uma que me saiu numa promoção de cereais. Até tem um caranguejo vermelho desenhado e a palavra câncer escrita por cima. O meu signo. Foi uma coincidência, mas ia jurar que queria dizer alguma coisa. O destino a fazer das suas.
Amanhã, depois dos problemas passados, hei-de procurar umas folhas daquele chá que havia lá no quintal e tomei muito em pequenina. E anuncio já, antecipando-me, que promoverei um chá das cinco e convidarei as pessoas que conheço, só as simpáticas e que nunca beberam chá.
Amanhã, assim que o despertador tocar, espantar o sono no balde d'água fria, descristalizar o mel das tostas e organizar as idéias, procurar o chá, faço a mala. Com uma muda de roupa. Um casaco de pele nova. E uns sapatos resistentes para os pontapés às pedras e confortáveis para que não me firam a pele, a carne, o sangue, a alma, faço a mala e começo a viagem.
Amanhã! Amanhã verei a esperança penhorada pelo tribunal. Far-me-ão fiel depositária de um inevitável passivo.
Hoje não é senão a véspera de amanhã, por isso deixem-me ter esperança e sonhar até adormecer.

ainda



Ainda verão
Ainda calor
Ainda os cheiros
Roupas perfumadas
Sardinhas assadas
Almas afogueadas

Ainda o rubor
Rostos sorrindo
Preces pedindo
Beijos de amor

Ainda o mar
E as manhãs
Ainda os sois
Namorando o luar
Ainda romances
E noites escaldantes
Ainda os pensamentos
Caminhando lentos
Ao encontro do dia

Ainda domingo
Sentindo a maresia
Ainda esperança
Ainda a alegria.

m.c.s.

sábado, 24 de setembro de 2011

divagações



Disseste que ficavas para jantar.
Abri o frigorífico. Nada.
Senti um murro no estômago. E a garganta seca.
Deixaste-me com um problema entre mãos. E o vazio frio do frigorífico.
Não quero sair para jantar. Se saimos nunca mais pomos tudo em pratos limpos.
Temos alguns ossos duros de roer...e o estômago colado às costas.
Vou à porta do frigorífico. Não serve só para os recados, nem para receitas de dietas, nem para fotografias do tempo em que não comia porque não ficavas para jantar.
Eureka! Achei o número. Não vamos morrer de fome. Há uma pizza esperando por nós. Pode caber numa cova de dente mas vale mais viver com fome do que morrer enfartado.
Afinal, o meu grande sonho de ser cozinheira foi absorvido pela fome de ganhar dinheiro certinho e a horas. Na função pública. E ontem, valia mais um pássaro na mão que dois a voar.
Uma pizza de frango e ananás quentinha sabe sempre bem.
És tu que pagas. Não tens dinheiro? Pagas com o cartão.

Sérgio Godinho | O Acesso Bloqueado ( Novo Álbum Mútuo Consentimento)


HORÓSCOPO DE 24/09/2011

Prezada Clara Marques,
este é o seu horóscopo do dia este fim-de-semana:
Câncer,
Você terá de buscar força diante das dificuldades desta fase e tentar pôr em destaque o lado melhor, ajudando a não depender dos outros. Mercúrio estimulará a sua fantasia e palavreado tornando-o fascinante no falar e sexy pelas suas atitudes.

( Não sei se chore, não sei se ria )

logo mais à noite estarei feliz

Entreguei o bilhete ao motorista, que cheirava a tabaco que tresandava e exibia os óculos de sol na testa, como todos os motoristas o fazem. Pressenti uma viagem longa. Tão longa que só de nela pensar me dava voltas o estômago. Ou seria o fígado? Viajar a partir de Alcanena não tem nada de bom. Nem auto-estrada, nem paisagem, nem interesse. E sempre é bom prevenir com uns sacos plásticos por causa das curvas. À 6ª feira o trânsito é nervoso. E o verão ainda se faz presente neste autocarro, mas apenas para incomodar com o seu calor, misturado com os cheiros exalados e que provocam uma dor de cabeça no prolongamento da existente.
Entro no Cartaxo. Já cá não passava há uns tempos. Lembrei-me da Eugénia, a mulher que me levou uns trocados dados sem pensar muito no assunto, apenas porque prefiro ser enganada a ser injusta. Disse que trabalhava numa média superfície, não me lembro qual. Jamais iria regatear as moedas que lhe dei de mão aberta e beijada. Passando pela rua principal, pude ver a churrasqueira dos retornados, que afinal é Ribatejana e não Ribatejano. A memória é o que é e quando não é estimulada troca letras quando não troca identidades e sentimentos...
Lá está também a pastelaria toda x.p.t.ó, com o belo pão de todas as sementes e mais alguma, daquele que faz bem ao intestino e ao coração, dizem, e se o povo diz repetindo quem sabe, o povo tem razão, aliás, o povo tem sempre razão, mesmo quando gosta mais de panrico, se formos a ver, lá terá as suas razões, sempre há a falta de dentes, ou vento na algibeira.
Gosto do Cartaxo. Não tenho motivos para não gostar. E está em obras. Um parque subterrâneo junto aos bombeiros e ao tribunal e a estrada alargada, vão tornar o espaço claramente mais transitável, útil e arrumado. A cidade cresceu na minha ausência e não evito uma saudadezita dos almoços de sábado, quando a caminho de Lisboa, ou não, parava para a habitual moambada. As saudades tomam-nos conta da vida se deixarmos que entrem, por isso xó, xó melga, desinfecta a zona que o meu cérebro tem de estar limpo de memórias que me causem algum desconforto e me perturbem a existência, que tem andado bastante nervosa, ansiosa e expectante.
A auto-estrada surge depois do Carregado, o que é um alívio. Posso descansar as idéias sem enjoar e ouvir calmamente música no MP4. Tenho um problema. Dormirei eu de boca aberta? E farei algum som perturbador que incomode quem vai perto de mim? Afinal, nem perco o norte; passo pelas brasas do lânguido sono de vigília que dá um entorpecimento gostoso e nos tira daquele espaço desconfortável, comum a gente dos diversos cheiros e linguajares.
Acordo quando passamos por cima do túnel do Grilo. A memória apanha-me de novo e tenta trair-me. Tenho pouca capacidade para suportar mais traições. Hoje estou pior que nunca, frágil. O motivo que me leva a Lisboa é o melhor. Mas não o isolei. E os pensamentos surgem, ferozes.
Lisboa está infernal. A estação em Sete Rios, em fúria. A impaciência reina aqui. A pressa e a ansiedade do fim de semana, também. Bem sei que não costumo chegar a esta hora. São 5 e pouco. Ainda se lancha no quiosque, junto ao metro. Pedi uma empada de galinha ao simpático indiano que ali está sempre, com um sorriso estampado no rosto moreno, e fui a comê-la pelo caminho fora até ao metro. Tive sorte. Chegou quando descia as escadas a correr. Consegui entrar, empurrando uns quantos que já lá estavam dentro. Eu e os que entraram comigo. Fiquei agarrada pela palma da mão esquerda ao tecto do metro. Nem uma nesguinha de espaço mais. No Marquês mudei de linha. Mas não houve melhoras. A linha amarela estava em crise, ouvi dizer. Voltei a ficar como sardinha enlatada, comprimida e achatada. O varão permitiu que um matulão fosse com os dedos praticamente em cima dos meus. A minha cintura foi invadida por um cotovelo não sei de quem e a minha mama direita repousou sem apelo nem agravo no ombro duma criatura minorca, homem. O meu nariz cheirou a catinga de uma axila e a mão direita, disfarçadamente, serviu de máscara. À minha frente, tinha uma mulher com ar de tia de Odivelas, olhando tudo por cima da burra e a mim também. No Campo Grande o matulão saiu do varão e também um rapaz engravatado com ar de executivo que de vez em quando olhava p'ra mim com aquele ar de encolher ombros e dizer: Deixa lá minha, isto passa já e não doi muito. Meteste-te em apertos? E eu? Estamos no mesmo bote, kota, só nos resta navegar.
No Lumiar saiu mais uma mão cheia deles. O tão esperado momento de ficar sozinha no varão, chegara. Juro que tive maus pensamentos. Ri-me com a ousadia. Acho que nem sendo uma top-model teria o atrevimento de fazer a dança do varão. Isso levou-me àquela criatura, striper, que joga na casa dos segredos e tem umas mamocas do tamanho de balões cheios de água. Afinal, nem é preciso ser top-model. Se calhar basta saber dançar, conforme a música...
A tia de Odivelas continua a olhar-me e faz mira para os meus pés. E como isto não tem estado a correr nada bem e porque se a gente está cansada nervosa e insegura pensa que até temos culpa da nossa existência, olhei os pés não fosse ter algum problema. Sandálias pretas, unhas pintadas de laranja e mais nada. Que criaturinha embirrante e estranha esta! Valeu ter saído na Quinta das Conchas, pois que os meus dedos suplicavam por gestos um tanto obscenos e afinal, eu sou uma senhora e não posso desmanchar o boneco. Chegada ao Senhor Roubado, uma criatura falava com o cartão e com as portas que não abriam, à sua passagem. " mas este cartão está parvo ou quê? xxxxxxxtsssssssss, abre, porra. E a " porra " apitava e não abria. Mudou de cancela e conseguiu. E eu também.
Na rua, olhei o largo, as estradas que vão para Odivelas. O sol radioso, ilumina tudo. Até a mim, que em férias não valorizo este chegar a casa. Em férias, não tenho pressa de chegar, tenho muitos dias para viver. Espero que o semáforo mude. O trânsito está de doidos. Até no sentido de Lisboa. Uma mulher pára ao meu lado. Atende o telemóvel: Diz, filhota. Ahn...ahn... Ah pois. Não me admirava nada que a porra da máquina já trouxesse uma merda solta. Tens de ir reclamar. O pior é que o filho da puta do fim de semana só vai
atrapalhar.
E eu penso: o f.d.p. do fim de semana vai atrapalhar? Que p... de vida esta! Não há quem esteja contente! A minha noite de 6ª feira está ganha e não há nem merda nem porra nenhuma que mude isso.
Estou na minha rua. A Marta vê-me ( a Marta é uma das senhoras que gere o supermercado ) e sorridente diz-me: D. Clara, boa tarde. Está boa? - Há 6 anos que lhe digo que tire o dona e em vez disso de vez em quando chama-me d. olívia. Depois encabulada, prossegue: porque raio lhe chamo Olívia? Não tem cara de olívia. Respondo ao cumprimento e vem-me ao pensamento uma resposta que me causa náuseas - Boa estava eu há 30 anos. Mas a Marta não merece. Nem eu.
Subo as escadas. Dou à chave. Entro. E recebo um abraço do tamanho do Mundo. E dou esse abraço como se não houvesse amanhã. Não sou eu que digo que aprendi a viver um dia de cada vez, num lugar comum, tão óbvio que até chateia, mas que nem por isso é comum assim?
Entrei finalmente no fim de semana. Agora, é relaxar e esperar serenamente a hora de me encaminhar para o Centro Cultural da Malaposta, aqui pertinho de casa que até vou a pé e empoleirada nuns saltos gigantes.
O mundo deixa de ter importância. Há motivos fortes que me fazem manter neste palco que é a vida. Há um motivo superior que me tem sentada, de olhos postos no palco do teatro. E de coração inundado duma suprema alegria e um orgulho singular.

Negue, Cesaria Evora

A caboverdiana do mundo, Cesária Évora.

Cesaria Evora - Lua Nha Testemunha

Cesária Évora, a diva, deixa os palcos e termina a carreira aos 70 anos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

tempos futuros

Perguntas-me o que deves fazer para sobreviveres ao frio e à solidão.
E eu respondo-te sem saber se te vai perturbar a resposta.
Ou enfurecer. Ou entristecer.
Eu...eu sei que o frio enrijece e a solidão emudece.
Queres mesmo que te diga? Se fosse a ti, com o frio fazia um poema.
E com a solidão uma canção.
Comprava uns botins.
Ah, e um sobretudo quentinho.
E já agora um guarda-chuva. Não fosse o diabo tecê-las.
Comprava também um boné, de preferência já com a mão esticada.
E ia para a porta do teatro.
Haviam de me ver. De me ouvir.
Matava os monólogos. Paria diálogos.
Sustentava coros. Brincava aos jograis.
Não me calava. Nunca. Nem em sonhos.
Falava com as sombras que toldam os pensamentos e escurecem as paredes do teatro. Não lhes gritava para não se assustarem. Mas repetiria, repetiria, repetiria, até me responderem, em eco.
E entrava em cena assim que as luzes se apagassem...

chegou o outono



quinta-feira, 22 de setembro de 2011

despedida



Sente a minh' alma
O fim do verão
Chora a tristeza
Do meu coração
Seca-me o olhar
Que olha o vazio
Cheio de pena
Deste findar
Deseja o cacimbo
Do além mar
Respirar fundo
No seu marulhar
Ouvir a sereia
Enrolada na areia
Cantar na praia
E na onda morena
Brindar serena
De beijos, maresia
Sol diamante
Crepúsculo
Brilhante
Dançar a nostalgia
Neste fim de verão
Marcar novo encontro
Abraçar o Outono
Entrar na estação...

m.c.s.

Everybody Hurts - REM Live

...bem,todo o mundo se machuca, às vezes todo o mundo chora e todo o mundo se machuca às vezes, mas todo o mundo se machuca às vezes, então aguente firme, aguente firme, aguente firme, todo o mundo se machuca, você não está sozinho...

hoje aconteceu

1980/2011 - Três décadas depois, os R.E.M. chegam ao fim.

a saber



fotos tukayana.blogspot

há noites e noites

Mais do que de alguns lugares ( não todos ), gosto das viagens. Da vida que me dão.
Ontem, convidaram-me para o cinema. E para jantar. Fora de portas. E eu aceitei. Com agrado. E fiz bem.
Entrei num lugar onde o som era Coldplay. Green Eyes. Meeeeeedo!!! Pensarão alguns. Querem lá ver agora que ela ( eu ) ouve a canção e está feita uma perfeita adolescente, pensando nuns olhos verdes quaisquer que a olharam sabe-se lá quando, onde e porquê? Negativo. Frio, muito frio. Não é por nada mas nem mesmo na adolescência caí de quatro por uns olhos verdes. Ou caí? Não me lembro. Nunca tive queda para tal. Não quer dizer que não tropece. E quem tropeça também cai, sempre ouvi dizer ao povinho. Diabo seja cego, surdo, mudo, careca e tudo que já chega de escorregadelas. É que nos últimos tempos tenho andado muito equilibradinha nos saltos altos que vou calçando. Nem um pezinho em falso, para o susto...
Mas vamos lá ao tema. Coldplay tem o poder de me dar asas e fazer voar a bordo de um qualquer avião a caminho de casa, que é como quem diz, do ninho. Sabiam não é verdade? Já me referi a isso até à exaustão ( vossa ). Embora também eu ande na fase do cansaço, mesmo de mim, sabendo que de ninguém é a culpa. Se há culpados, sou eu um, porque o mundo, esse continua igual, sempre num rame-rame de chove e não molha, eu é que não. Conclusão inquietante a que cheguei.
Bem, mas nunca mais desenvolvo este tema que nada tem de importante e que no entanto muda tudo para mim. É que apesar de estar de companhia para o cinema e para jantar, bastou-me ouvir Coldplay em green eyes e zás, aí fui eu nas asas de um albatroz, e aqui há culpa de alguém que me ensinou a gostar de albatrozes, bom, mas dizia que a música ( que eu ouvi tanto a caminho da minha terra em 2008 ) foi o mote, é sempre o mote para eu cavar daqui p'ra fora em busca de ninho. Gosto muito de viajar, mas gosto demais do tempo que me leva ao encontro da minha felicidade. É único. Nada se lhe compara. E a noite que prometia e cumpriu a função de ser agradável foi mais uma de tantas que já vivi. E aqui estou eu apeada até que outra música, me dê o mote...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Tulipa Ruiz - Aqui

Coisas de D. Pitanga

foto tukayana.blogspotParece que está a seguir o blog não é? E às tantas!!!
Não é difícil. Por umas tiram-se outras e a d. Pitanga é uma sabidona que já me tirou o retrato há muito tempo.

a fruta da época

foto tukayana.blogspot


Já cá faltavam! Como eu gosto de diospiros...
Faltam alguns que já me souberam pela vida. Trouxeram-mos. Dados de bandeja e sem esperarem agradecimentos. Sabem que gosto e trazem-mos. Sem grande alarido. Na hora. Aqui estão os diospiros do costume. Assim, com esta simplicidade.
Obrigada. São óptimos. Quero mais...

curiosidades V

Sabiam que há gente que entra numa repartição pública para solicitar um documento legal e quase se escandaliza por não ser a custo zero?
Eu não sou preconceituosa mas ó senhora professora aonde é que há borlas nos tempos que correm? Não devia saber disso? A vida custa a todos.
Gente, já não há nada dado. Não se convencem disso? Então vão passar um mau bocado nos próximos tempos...

o silêncio dos cobardes

Alguma vez, pelo menos uma, meteram medo a um susto?
E a certeza de que alguém preferia antes perder dinheiro a bater com os olhos em vocês?
Não? Vá lá, não sejam mentirosos. Nunca mesmo? Então são pessoas em vias de extinção e toda a gente gosta de vos encontrar e conservar. Ou estiveram e estão rodeados de gente de primeira. E são gente que já não existe. Parabéns.
Pois como já perceberam, eu tenho umas pessoas que andam por entre os pingos da chuva para não se cruzarem comigo. Só pode. Mas de vez em quando lá calha o fatal destino a pô-los à minha frente. Rsrsrsrsrsrsrsrs! Dirão eles, com voz trémula e sumida, para o coraçãozinho pequenino, apertadinho e acelerado, para a cabeça do tamanho de um melão e para a alma igual a uma cabeça de alfinete.
E então é assim: num lugar que não vem agora ao caso, alguém está ao telemóvel. Seguro, bem disposto. Gesticulando relaxadamente. E eu subo a rua. E vejo a criatura. E continuo a caminhar encurtando a distância que nos separa. Quando estou a uns 10 metros a dita vira-se e bate com os olhos na minha figura. E reconhece-me. E leva um susto. A bem dizer, sempre que me vê, a criaturinha leva um susto. Já devia estar habituada. Eu já. Com a sua atrapalhação. Tenho de mudar de rua. Curvo à direita. É o meu percurso de sempre. Parece que lhe oiço o suspiro de alívio. E como sempre, sinto pena desta pessoinha. Deve ser tão mau o que sente, embrulhada que está numa cobardia de se fazer de morta há uns anos! Ser verme deve ser o pior que há no mundo. Digo eu que me consigo pôr no lugar do outro.
E por falar no mundo, dei comigo o resto do caminho até casa a pensar que não há ninguém, mas ninguém mesmo, zero, neste mundo de Deus, que me faça virar a cara, baixar os olhos, mudar de passeio, de rua, só para não ter de o enfrentar.
Arrogância? Pensem o que quiserem. Até porque alguns não me conhecem. É justo. Mas eu sei que é assim, sem qualquer arrogância. E não é porque sou provocatória ou desejo muito confrontos. É antes porque se calhar enfrento tudo e todos por achar que temos de ser deste jeito. Afinal sou gente ou um insecto? E devo dizer que não era assim. Era medrosa e frágil. Foram pessoas como esta que hoje tinha preferido perder dinheiro a encontrar-me, que me fizeram mudar. Há males que vêm por bem. E no final das contas, esta pessoinha que se remete ao silêncio dos cobardes há tanto tempo, tal como a sua corja, nem vale muito a pena.
E serve para que eu conheça melhor os meus limites.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

WE TRUST "Time (Better Not Stop)"

futurologia

foto retirada do googleConversa puxa conversa e as conversas diz que são como as cerejas e como estas já lá vão e estamos no tempo das vacas magras, e apenas os caroços ficaram, Setembro é o mês dos diospiros e a seguir vêm as romãs, ocorre-me que este é o mês das mudanças. Do início de coisas e de factos. E ocorre-me também que há quem defenda que o Natal devia ser em Setembro, fim do verão e não no princípio do inverno, o que é no mínimo estranho pois que natal quer dizer nascimento.
Mas África está na moda, a ver, melhor, ouvir, pela música que passa nas discotecas e que os europeus dançam como se viessem directamente da tribo nos confins duma sanzala perdida nas montanhas. Mas no fundo, o Natal com calor era fixe. Muito calor e festa a suar a testa... eu, bem eu, não sei se acharia piada, até porque sei vinte anos de natais com calor. Aliás, não sei se acharei piada ao natal deste ano. Senão vejamos: Ganho calores só de pensar no magro subsídio que por aí vem.
Cá p'ra mim, vamos esquecer o bacalhau da Noruega. E passar a chicharro. O perú passará a frango d'aviário. E o arroz doce, a trinca, doce. Os embrulhos de papel dourado e fita vermelha com um fio de seda e a surpresa rica e bela, dentro, a botinhas de lã para dormir, feitas em casa e embrulhadas a papel de embrulho pardo. A lareira acesa dará lugar à braseira da camilha. Os jogos de computador a batalha naval, ao stop e ao burro. As velas perfumadas a cotos brancos e antigos guardados na despensa para o caso da luz faltar e a televisão apagar-se-à para não corrermos o risco de mais um " Sozinho em casa " e assim mataremos dois coelhos duma cajadada só. Para pouparmos claro. Quanto a roupa nova, vamos esquecer. Uma camisola preta, pois o preto nunca nos compromete. Acrescentaremos um acessório baratinho feito à mão em crochet preso por um alfinete de dama e esse toque novo mudará tudo. As botas do ano passado mudarão de côr. E dar-nos-ão a ilusão que são outras e novas.
O cabelo não verá tinta castanha com reflexos dourados, e as brancas aparecerão num conformismo gritante de que o natural é que é bonito.
Chegada a meia-noite, o mais sensato é irmos à missa do galo ( não da cócó de pescoço pelado, que ali, ainda é galo e tenho fé que será por longo tempo ). E rezarmos. Rezarmos muito para que Deus ilumine os homens. Pode ser a candeeiro a petróleo. Para poupar. Eles, os ditos, precisam de luz, sobretudo os responsáveis pela escuridão triste deste Natal. É que orar ainda não paga imposto. E os sítios de culto ainda não têm pórticos
.
O sonho de natal, a sonhar em Setembro, pode ser um sonho lindo, mas parece-me que o podem transformar num pesadelo. Será que acordaremos dele? Eis a questão. Como a do Natal ser em Dezembro e não em Setembro.

surpresa

foto tukayana.blogspotO que é isto ?
Um presente, logo pela manhã.
Bolo de cabeça e um frasquinho de licor. Esta é a lembrança oferecida por noivos aos seus convidados, amigos e conhecidos.
Não. Não fui a nenhum casamento. Já não vou a casamentos talvez há 6 anos. O último foi ao do Paulo, meu primo, que desafiando as maldições de dias marcados para sempre, casou num 11 de Setembro. O Paulo não é lá dessas coisas e tem corrido tudo muito bem com ele e com o seu casamento, como na vida.
Mas voltando ao embrulho que me puseram nas mãos, assim que entrei no autocarro do sr. margarido, pois é, há quem despreze autocarros, que nos tempos que já correram ( não hoje ) era coisa de pobre, deus que me livre e guarde, onde já se viu? Eeeeeeeeu? Euuuuuuuzinha (0)? Jamais, por quem me tomam?
Mas é este meio de transporte que circula por todos os caminhos de portugal e a mim transporta-me mesmo para todo o lado quer em trabalho quer em lazer e aí é que a porca torce o rabo, não p'ra mim, claro, porque há quem tenha mais do que um automóvel e não sai do lugarzinho que marcou como seu.
Mas lá estou eu, parece que tenho alguma pedra no sapato, mas não, isto é só a divagar e a lembrar-me de conversas tidas em fim de semana a propósito de línguas visperinas e de vidas que por aí se vivem pouco. Para vidas poucochinhas, gente poucochinha...
Poucochinho não foi o embrulho que o José Júlio levou para o autocarro. Parecia o pai natal, em setembro. Também me coube um embrulhinho com este mimo. Achei querido lembrar-se das pessoas que conhece e com quem partilha o autocarro há anos. Disse que fora um dia muito importante, casar uma filha. Fiquei a pensar nisso. É curioso como o que é anos a fio, deixa de ser de um momento para o outro e o que faz sentido deixa de fazer. Não consigo pensar que se um ou os meus dois filhos quisessem casar eu transformasse o dia do casamento no dia mais marcante e importante da minha e suas vidas. Porquê? Isto daria pano para mangas. Ou não, dada a simplicidade e a tentativa de descomplicar o que afinal nem é difícil.
Para o José Júlio e para todos os zés da vida como ele, casar uma filha pode ser de facto o dia dos dias e não é proibido. Por mim, aceitei de bom grado o miminho deste pai baboso da sua cria, do seu genro, da festa maravilhosa bem como dos compadres, que no dia seguinte mataram 3 bezerros e foi o verdadeiro festim na quinta que têm lá para as bandas do Entroncamento.
O José Júlio hoje era um homem feliz, tanto quanto o dia que chega das suas viagens fantásticas, pelo mundo. E as conta com pormenores de me deixar com um torcicolo de tanto me manter estática ouvindo-o.
Lá está. Um homem que durante o ano viaja de autocarro, ( já tem ido para Lisboa ao sábado com a mulher no mesmo expresso que eu ) e depois escolhe um destino turístico de sonho e contos de fadas. D'onde menos se espera...é que os homens não se medem aos palmos e subestimá-los é que é ser-se poucochinho.
Ainda não comi do bolo de cabeça, aliás não sou muito fã, por motivo nenhum especial mas porque não sou, apenas. É um bolo típico desta região, como o são, os económicos em trás-os-montes. O licor, ficará guardado como tantos outros.
O gesto, esse, gostei muito. Afinal, a viagem no autocarro das 8,20, Torres Novas/Alcanena, para além de nos levar para os nossos empregos aproxima pessoas e isso pode ser coisa de pobre mas também é coisa de gente. Gente de bem.
Que a filha do José Júlio seja feliz nesta nova fase da sua vida, é o que eu desejo. Aliás, o que eu desejo a toda a gente é que a felicidade bata à porta e que a deixem entrar e a conservem. Não é fácil. Mas a vida não são só facilidades.

obrigada!

Há na minha vida pessoas, que mesmo na ausência estão presentes. Obrigada pessoa que esvoaça em vôos rasantes e poisa de quando em quando para me mimar.
O meu beijo de sol, repleto de gratidão.

domingo, 18 de setembro de 2011

televisão

A Teresa está imparável. Ao fim de uma hora de programa é como sempre, a Maior. Gosto desta mulher. É um prato cheio não há dúvida nenhuma.


Ganda Teresa!

desabafando ao domingo à noite

Aqui está a minha mão. Muito melhor. Doendo menos. Cicatrizando.
Apenas no dedo, há ali na falanginha um golpe manhoso, a latejar. Hoje mostrei a mão a alguém que de imediato fechou os olhos num " ai que horror que estou a ficar mal disposta ".
O que me incomoda mesmo à séria é que sou canhota e não sei trabalhar com a mão direita. Até para aplicar creme de dia no rosto faz diferença. Lavar os dentes, descascar fruta, pentear-me, fechar a mão, etc, etc, etc...
O que vale é que há-de sarar. Jesus, Xinamene, há quanto tempo não usava esta palavra!
O que vale também é que o fim de semana está passado e segundo uma amiga que me diz que devia ser um túmulo e não falar nunca da minha vida, é que não acredita em bruxas mas que as há, há, no que eu não acredito é que a minha Pitanguinha tenha feito um pacto com o diabo só para me prejudicar. Por isso, tudo mais ou menos com dantes...no quartel de abrantes. No meu quartel, perdão, no meu kimbo nada está como dantes pois que apesar de estarmos em Setembro e não em Abril, ai Abril que os cravos já murcharam, pelo menos no jardim da Madeira, bem mas como diria a teresa guilherme, isso agora não interessa nada, como dizia, no meu kimbo houve uma autêntica revolução e com ajuda, os cacos velhos foram para o lixo, arrastaram-se móveis, mudou-se a disposição dos mesmos, e mais, muito mais.
A minha alegre casinha está mais bonita e pareceu um verdadeiro lar, este fim de semana. Luzes acesas, velas, insensos, música, louça suja, frigorífico cheio, janelas abertas, estores para cima, roupa na corda, livros folheados, companhia.
E pronto, agora vou ali e volto já para ver a casa dos segredos que começou hoje e eu não sou hipócrita. Acho piada a estes reality shows sobretudo quando é a Teresa Guilherme a apresentar e gosto dos cromos que sempre concorrem. Depois não tenho grande pachorra para os seguir mas isso é outra história.
Então vá. Já gastei o meu latim e agora vou ligar para a TVI. Ah pois, eu vejo esta estação televisiva. E a 3, e a 2 e a RTP. Enfim, sou normal e saudável. E em noites de domingo que não cheguei a partir, é bom saber as crias chegadas bem a Lisboa, depois de ter passado o dia com elas e com a caçula. E mais não digo, porque me lembrei da minha amiga que me quer de boca fechada.
Oops!!! Já cá não está quem falou!

A cidade de Chaves


























fotos tukayana.blogspot

Filme almoço Portugal Angola-Angola Portugal.wmv

Este foi o almoço domingo passado, no Mulemba X'Angola, ( onde eu fui ) e também em Angola, no mesmo dia. O grupo pertence ao Angola em Portugal, Portugal em Angola.
Estou aí algures. Vejam lá se adivinham. Dou uma pequena ajuda. Fiquei em frente ao poeta José Jacinto e ao Lito Martim. Não conhecem? Apetece-me dizer: Temos pena...mas não. Não teem de conhecer. Ainda se pertencessem ao grupo do facebook, Angola em Portugal, Portugal em Angola...

É domingo na cidade!

foto tukayana.blogspot
Toca o sino lá na igreja
Chega a mim seu despertar
O vento sopra lá fora
Temendo não me acordar...

É domingo na cidade!
Tenho o sol dentro de mim
Renasce a flor no meu jardim...

Hoje...
Pode a chuva ser temporal
E a neve descer as montanhas
O dia entardecer
E o verão fenecer
Que o mundo dança de cor
Que a vida sorri de amor
Nos acordes que adivinho
Do Algarve ao Minho
Do Brasil a Timor
Ou no mapa do meu país
E não saio deste lugar
Que escolhi porque quis
Porque vá p'ra onde fôr
Navegue por terra ou por mar
Não direi adeus à paz
Nem esquecerei o calor
Que o fim de semana me deu
Num afago e num abraço
Num sentimento tão seu
Num desejo sempre meu...

Hoje
Podem mundo inventar
Oferecer-me o luar
Lágrimas de emoções
Perfumes e canções
Suspender as guerras
E unir todas as nações
Que nada se alterará
Hoje sou do universo
A inspiração em verso
Um poema p'ra nascer
Hoje nada ao mundo peço
Hoje só quero viver.

É domingo na cidade!
Tenho o sol dentro de mim
Renasce a flor no meu jardim...

m.c.s.

sábado, 17 de setembro de 2011

d.pitanga de unhas afiadas

foto tukayana.blogspot Esta mão é minha. Estes ferimentos são meus. As dores são minhas. Tudo meu. Até sou dona da gata que me fez isto.
Que horror! Era o que mais faltava, vai lá vai que até a barraca abana, um bicho fazer-me isto, punha-o logo como dono, nunca mais fazia mais nenhuma...estão todos a dizer, ou quase todos, que eu sei. A Elena, a M.M., a H.F., a Elizabeth, a Celeste, não, que essas eu sei que não, mas os restantes acredito que não perdoassem um feito destes.
Mas aí é que ela impeça. É que estou zangada com ela, mas vou fazer o quê? Deitar fora? Claro que nunca.
Depois, ela é uma felina. E anda assustada. E eu abri a janela do meu quarto de par em par. E fechei a porta. E voltei a abri-la. E ela entrou louca da vida. E eu com medo que me caisse janela abaixo, agarrei-a. E ela permitiu.
Como sou uma querida (?) peguei nela ao colo e aproximei-me da janela para que ela visse a rua. E foi aí que isto aconteceu. Cravou-me as unhas na mão esquerda, tentando escapar do meu colo, assustada que ficou com a janela aberta. E, aqui que ninguém nos ouve, não foi só isto. Há mais. Muito mais. Duas unhadas no braço esquerdo e duas arranhadelas enormes mas mais ligeiras na minha barriga ( por isso não fotografei, né? ). O meu sangue espalhou-se pelo quarto, pelo corredor e casa de banho. Uma tragédia. E ela assustada com os meus gritos nem tugiu nem mugiu. Meteu-se debaixo da minha cama e tem sido assim. Cada vez que se aproxima, mostro-lhe o que me fez e ralho, mas...o que é que eu quero?! A Pitanga não é senão uma gata. Ingrata. Mas isso, é o que há mais para aí e não são gatas, nem nada que se pareça. E causam mais dano que umas arranhadelas de gata que se tratam com simples betadine.
Isto não me está a correr nada bem. Mas eu sou persistente e desistir é dar parte de fraca. Por falar nisso, isto caiu-me na fraqueza, pois ainda não tinha tomado o pequeno almoço e até me senti mal, com a cabeça à roda e suores, eu que não sei o que isso é apesar de estar na fase de Teresa Guilherme ( pudera, temos a mesma idade e há coisas a que não podemos escapar ) .
Há um p(i)queno problema. Não tenho vacina contra o tétano. Eu sei. Eu sei que devia ter. Mas não tenho. Se fosse noutra altura começava já a abrir e fechar a boca a ver se os maxilares prendem e testando os meus músculos a ver se as pernas ficam presas. Por causa de um espinho de rosa já eu me convenci que apanhara o tétano e foi o diabo a d. Celeste convencer-me de que estava tudo bem. Enfim sou uma ex hipocondríaca. E ainda bem, pois que senão andava sempre com o credo na boca e estas manias não matam mas moem e eu já tenho o que me moa, não preciso de mais nada. Ainda assim a d. Pitanga achou que era pouco e arranjou-me esta chatice. Tão grande tão grande que sendo eu canhota já perceberam que estou quase deficiente e incapacitada. Mas como boa portuguesa que sou ainda que pela metade, digo que podia ser pior. Ora bem!

Tocando em Frente - Maria Bethânia.

hoje é sábado

foto tukayana.blogspotAcordo na manhã.

De par em par,
Abro a janela.
Entra o perfume espalhado no ar.

Olho o verão na despedida singela.
Partida anunciada, nos livros do saber.
Ainda um dia solarengo, para viver.
Ainda muito para escrever...

Coração em repouso, de mansinho bate
A alma sorri.
Com engenho e arte
E eu flori.

Hoje é sábado
...

m.c.s.

Danae-Meu Mar

Com votos de um bom fim de semana a todos.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

notícia

Sai todas as semanas. Chega-me às mãos à 6ª. feira. Gosto de o folhear. Conheço as casas que ali deixam publicidade. E as pessoas. Conheço quem escreve. Conheço alguns políticos. E da página do desporto, alguns atletas e os pais dos mesmos. Sou tia de alguém que se movimenta nessa área. E que tem ( mais que um ) sido notícia ao longo dos anos. Com lugares de relevo. Não é para me gabar, longe, muito longe disso, até porque tem o valor que tem, ( pouco ), mas o meu nome também já saiu neste jornal por motivos muito agradáveis. Várias vezes. E não andei a recortar as notícias e fotografias, para guardar e mais tarde recordar. Nos últimos anos pus-me de costas para quase tudo o que diz respeito à terra. Faltou-me chão. E esqueci que é aqui que vivo e esta é a minha realidade. Foi por aí...
Hoje parei nas notícias sobre as actividades no teatro da cidade. E sem esperar bati com os olhos numa notícia que me deixou a insuflar.
Sabem quando respiro a dois pulmões? Estou nessa fase. E daqui a nada vou estar em êxtase. Naqueles dias em que chego a casa e olhando por cima do ombro digo para com os meus botões: maria clara, toca essa campainha se faz favor.-
Toco? Porquê? - Deixa-te de tretas, sabes porquê. Vá, vá - Sei? Olha que não. - Sabes sim, sua vaidosona. Está lá gente que te vai abrir a porta.- Oops! É verdade. Não é a Pitanga, não. É um dos pulmões que me vai abrir a porta.
Mas afinal o que é que a notícia da última página tem a ver com os meus pulmões? Tem tem, ó se tem, só tem.
Dentro de algum tempo, aqui nesta cidade, na casa que tratei por tu durante alguns anos, vou assistir ao que mais gosto de assistir. O meu pulmão respirando numa alegria singular, num prazer imenso e incomparável e os meus olhos irão ver... o quê?! A luz dos meus olhos...

a minha professora

É com um respeito sem tamanho e uma alegria de ir às lágrimas que vos apresento a menina Piedade.
Sabem há quantos anos conheço esta senhora? Há cinquenta e um anos.
Foi no tempo das gajajas e dos baleizões de gelo, açúcar e corante. Do velho do saco e do maximbombo do miungo para o Cazenga. Do simão toco. Das rádionovelas. Dos papagaios coloridos. Dos espadalhões cor de café com leite. Da Joana Maluca. Da avenida de terra batida.
Foi no tempo dos maboques quentes, fermentando nas barrigas, das mangas escorrendo o seu sumo pelos braços fora até ao cotovelos e dos pirolitos em papel às cores, colando-se nos dentes.
Foi no tempo de saltar à corda, ao eixo, jogar ao garrafão, ao berlinde com esferas cinzentas, dos carros de rolamentos, do jogo da minha mãe dá licença, quantos passos, e da triste viuvinha que anda na roda a chorar, anda a ver se encontra noivo para com ela casar e fui ao jardim da celeste giroflé, giroflá, flé, flá, que linda falua que lá vem, lá vem é uma falua que vem de Belém, passará passará...
Foi no tempo da ardózia e do a, e, i, o, u...
E a menina Piedade é a minha professora da 1ª classe. Que me ensinou as letras que formaram ditongos. Palavras.
A minha professora...Sem tirar nem pôr. Tal qual é hoje.
O facebook tem destas coisas. Permite quase tudo. E permitiu-me saber que está viva. Que vive em Luanda. E que está de boa saúde. Através do filho Francisco ( o Chiquinho ) que era um menino de tenra idade, quando, passados muitos anos desse tempo da velha infância fui convidada pela D. Zita e D. Dina ( irmãs, e uma delas madrinha da caçula ) para dar aulas no Colégio e assim trabalhar lado a lado com a menina Piedade, minha antiga professora da primeira cabunga e depois da primeira a sério. É que entrei com 5 anos e o que sabia fazer melhor era chorar baba e ranho por estar na escola a aprender, sujeita a regras, ralhetes e miúdos ranhosos. Acho que aprendi a contar até 10 e apenas o a, e, i, o, u. Era como na pré-primária de hoje; brincadeira, cantigas ( caranguejo não é peixe, caranguejo peixe é, caranguejo só é
peixe quando entra na maré ), e desenhos. Estudo não me parece que fosse muito ou à séria.
O padre Luís, um padre novo, de olhos verdes, muito bonito, que até parecia um santo, contava-nos histórias; a do pinóquio foi ele que ma contou e dava-nos santinhos, ensinando-nos o catecismo com as orações principais. O padre Luís muito mais tarde baptizou a caçula, e na Igreja de S. Paulo era o meu confessor. Gostava dele porque não me dava sermões nem grandes penitências. Gostava da sua voz, com sotaque italiano, digo eu, sei lá, gostava dele porque foi o primeiro padre que conheci e foi um privilégio conhecê-lo candengue ali no colégio Nossa Senhora de Fátima, no tempo em que a menina Piedade era professora. A minha professora.
Foi um privilégio enorme ter esta senhora como professora.

Imaginam como fiquei quando vi esta fotografia? Pois é, o meu coração parecia manteiga a derreter, os olhos pareciam chuva chuviscando pingos grossos e a memória foi buscar tantas coisas vividas naquele colégio ao longo da vida! Ali passei muitos anos, por ser vizinha, por ser como família. Hoje já partiram algumas das pessoas que mais admirei. A madrinha da caçula, D. Zita foi uma delas. Que também foi minha professora da 3ª classe. Que sempre me chamou Clarinha...quem me chama clarinha tem a minha amizade p'ra sempre.
Esta fotografia trouxe-me vida vivida, sentimentos esquecidos, cheiros, cores, sensações. Ali existiu um mundo colorido e grande que eu comecei a descobrir e devo-o em parte às minhas professoras. À menina Piedade.
Não vejo a hora de voltar a Luanda e dar um kandandu do tamanho do Universo a esta mulher fantástica que existiu na minha vida e a marcou para sempre.
Bem haja quem criou o facebook. Perigoso? Homessa!!!

figas, cruzes, canhoto...

foto tukayana.blogspot

A sexta-feira já se instalou. E com ela o fim de semana. Em Angola é o dia dos homens. Depois do almoço já pouco se trabalha. E a noite é para a gandaia. Safardanas!
Se me alegro com a liberdade (?) que aí vem, embora efémera ? Não o sei. Nem estou para aí virada, queimando os fusíveis a pensar muito no caso.
Nos útimos dias, não tenho tido passado, nem futuro. E o presente passa que é uma pressa.
Não sei se estou bem se estou mal. Não me apetece pensar, observar ou desejar.
Decidir é preciso. E tenho-o conseguido. Nada melhor que a rentrée para alterar o que nos parece mal, ou penoso, ou supérfluo. Acabar com macaquinhos no sotão, cortar males pela raiz, aceitar e perdoar pessoas que foram importantes percebendo que não vale a pena alimentar alguns ódios de estimação, fintar a solidão, recuperar hábitos, procurar o equilíbrio neste tão desiquilibrado modo de viver que eu e mais para lá de uma meia dúzia teem.
Estes dias de descanso, ( provavelmente serão ) e de família também, mais do que arejamento de ideías, gastar de dinheiro, viagens para frente e para trás, vão fazer-me bem.
Decidi ficar pelo Ribatejo. Em algures...
E vou ter uma converseta de pé de orelha com esta região. Já que tenho que a gramar então que seja com prazer. Não é difícil. Afinal, eu até sou fácil e simples e não me fica bem dizê-lo por parecer uma pindérica sem ambição, mas...contento-me com pouco. Verdade. Qualquer passeiozito até ao Tejo, cheiro a estevas lá para os lados de Castelo de Bode, passagem de barquito de madeira para o castelo de Almourol, ou mesmo os Olhos d'Água onde fica a nascente do Alviela, Tancos ou Vila Nova da Barquinha, a Serra d'Aire, o Jardim das Rosas, a Praça 5 de Outubro, qualquer coisa que me dê prazer e me tranquilize, me faça rir, sonhar ou me inspire, desde que de consciência tranquila e com a certeza de que não tenho de que me arrependa, é bom, para passar o fim de semana.
E as pessoas. As pessoas são importantes. E essas estarão a ferro e fogo. E a Pitanga. Vou gostar de a ter aqui e ela vai adorar ter-me por perto para lhe dar comida e água fresquíssimas. E algum colo.
Há fins de semana que teem tudo para dar certo porque são uma escolha simples e feliz. Vou fazer figas. Cruzes, canhoto! Chapéu de côco...