quinta-feira, 30 de setembro de 2010

as moscas

Duas moscas brincaram uma com a outra, comigo e com o sistema, informático, durante toda a santa manhã, para meu desespero. Eu que de santa não tenho nada, fiquei possuída. De um sentimento de nojo.
Não consegui matá-las, mas não lhes desejo muita saúde.
Fizeram-me lembrar aqueles dois senhores manhosos, ontem, com conversinhas de mete nojo, no pequeno ecran.
Já hoje fiz as contas e por mais voltas que dê, vou ser lesada. Quer queira, quer não, vou ser menos rica, uns cem euros, mensalmente.
Sim porque não vou ficar mais pobre, não. Somos ricos os que ganhamos os tais mais de 1.500 euros ilíquidos, na soma do ordenado base com todos os subsídios que o ordenado acrescenta na teoria, claro.
Eu devia ter voz activa e propôr aos distraídos dos senhores que ontem nos trouxeram o presente envenenado que acabassem com uns subsídios que para aí se dão, numa classe que pretende ser intocável e acima de qualquer suspeita. Uns subsídios, aos meus olhos, imorais.
Poupavam muito dinheirinho e ninguém morria por isso. E não sei, mas se calhar ficávamos todos mais iguais. E menos pobres. Sei lá...

confusa

Acordar com os pés de fora, é acordar destapada.
É acordar fora da graça de Deus.
É para além de tudo, não ter medo de pecar...

apenas olhar

Hoje não me apetece sentar. Nem sonhar. Nem ver o que há-de vir através do além desse olhar de vistas cansadas. Num sonho cor de rosa pateticamente sonhador.
Vou agarrar no sonho que ficou pendente na vontade e vou fazê-lo sentar-se. E olhar mas como se fosse eu. Atravessando o tempo num sol de rachar que deus nos acuda e livre. E procurar até chegar, o sol da meia noite. Ver-se para sul na estrada de Santiago. Espreitando luas que transbordam de luz púrpura e se penduram nas arestas das estrelas, quais dengosas bailarinas.
E vou ficar assim. Na sua sombra. Como se fosse na outra face da lua. Apreciando. Num jogo de toca e fica e foge. Só para experimentar se o meu sonho se sabe orientar.
Porque isso de eu lhe colocar asas de pássaro livre mas estar sempre lhe passando a mão pelo pêlo, como mãe protectora, que nem lapa, assim nunca que vai ser um sonho crescido. Fica sonho medricas. Que a nuvem goza. Que o vento rasteira e a chuva persegue. Que a neve queima e a noite assusta.
Eu não quero um sonho assim medroso. Que chama pela mãe na primeira dificuldade. Eu quero meu sonho valente. E robusto, como imbondeiro. Atravessando savanas, planaltos. Desertos. Ultrapassando calemas, lutando com o trovão e enfrentando o fogo das queimadas tropicais.
Hoje não quero sentar. Nem sonhar. Só olhar.
Vou sentar o meu sonho. Se for preciso, lanço-lhe a âncora no mar mais próximo, aquele do dobrar da esquina e lhe dou um porto que o torne mais protegido. O seu chão, assim num assentar praça militante.

Se for preciso, esqueço democracias, direitos humanos e vai ser à força num, se não vais a bem vais a mal. Se for preciso o meu sonho vai ser telecomandado. Para aprender a voar.
Mas hoje quero que o meu sonho se sente. E livre para crescer, acredite. E se veja já a subir no céu do sul e a tocar-lhe, grande, imenso, com a alma dos inocentes.
Tem dias assim que é preciso pôr à prova os sonhos que a gente sonha.

mais que sempre...

Recebera um telefonema. " Mana, já estou pronta " e fui ter com ela. Para o nosso jantar habitual das 4ªs feiras que pode ser, almoço de domingo, ou jantar de qualquer outro dia.
Hoje despachara-se cedo. Não precisaria de ir a correr, e sujeita a cair, apesar disso ainda tropecei nos saltos, que esta calçada é traiçoeira para a noite e para as pressas, que não tinha, mas no hábito de andar como se fosse a fugir da polícia, ou de fantasmas, ou ainda, de mim, troco os pés e fico à beira de mais uma aparotosa queda.
Subindo a rua, ao mesmo tempo que eu a descia, viu-o ao longe. E pensei que ia ficar encabulado por me ver. Desconfortável. E seria de novo um velho monólogo, a conversa a ter. Porque ele iria ficar calado e sem reagir às minhas palavras.
Enganei-me.
Sorriu-me e parou. E quis saber como estava. Como estavam as crias.
E ainda não passara tempo suficiente para conclusões e já me estava a dizer que eu estava melhor. E bonita. E cheia de Luz. Vindo dele quer dizer isto mesmo. Bonita significa bonita e Luz significa Brilhante, iluminada. Vindo dele tudo é espiritual.
O olhar é penetrante e vê para além do que contempla. O toque da mão no meu braço é carinhoso e a amizade, o respeito e o carinho moram ali. E eu sei. É sempre assim quando nos encontramos. À excepção daquela vez em que ele ficou assustado, em pânico comigo e não foi capaz de reagir. Às notícias que recebera e à ausência de mim, perdida por becos sem saída e sentimentos pequenos.
Hoje falamos disso. Hoje conversamos. Sacrifiquei meia hora do jantar para ter essa conversa. Sentir de novo o carinho que este meu amigo pôe em cada gesto que faz, em cada palavra que diz, em cada olhar.

Gostei muito de o encontrar e sei que gostou muito de me ver. Deu-me um cartão. Reformou-se da sua profissão de desenhador e foi fazer um curso em Reflexologia. Em quê? perguntei. Como sempre, precipitadamente. Com calma e descodificando, chegaria lá. Ele sempre foi assim muito espiritual, muito virado para estas coisas. Muito diferente.
Tem espírito e escrita de poeta. E músico e também pintor. E agora reflexologista...
Gostei de o ver e de o ouvir dizer que sou outra. Porque sou. Mas só para quem valha a pena.
Hoje as contas com este amigo foram ajustadas. Andei cerca de ano e meio para o fazer e o dia chegou. Fiquei em paz. Sei que não volta a evitar-me nem a fugir a sete pés da minha sombra, porque agora eu sou Luz.
Obrigada L.M.
Tocou de novo o telefone." Mana então? "
-Daqui a cinco minutos estou aí. Disse.
Voei mas cheguei no tempo certo para jantarmos, rirmos, conversarmos e darmos a volta ao quarteirão das nossas vidas. Como sempre. Mais que sempre...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

sais de fruto? precisa-se

Estou a ver o senhor primeiro ministro na televisão, bem como o senhor ministro das Finanças.
Que dupla!
Porque será que me sinto violentada?

Tiago Bettencourt & Mantha - Outono

as mulheres

Aproximou-se do balcão, um casal. Na casa dos oitenta. Ela à frente dele. Decidida, perguntou se era ali que se " arranjava " o registo criminal.
Olhei-os. Morenos do sol que curte a pele e a alma nos campos das sementeiras, que já lá vão.
- Um registo criminal para a carta de caçador - disse ela. Olhei-o. Algo me estava a escapar.
- O bilhete de identidade? ( pediu a Mena )
-Dá cá o B.I. ( disse-lhe ela com voz autoritária ).
O documento não aparecia e subitamente ela desfia o seu rosário de contas por fazer. Com ele.
- Então vai caçar? ( a Mena simpaticamente; ele ainda não articulara uma palavra )
-Há-de caçar muito, há-de - diz ela com ar de desdêm. Vá, procura o bilhete de identidade. Ele esquece-se de onde o pôe, olhando para mim, que parara de trabalhar e olhava os dois. Só não se esquece de caçar. E continua - Quer tudo feito e tudo tratado, só que ele não trata, quer criadas... - Veio passear, deixe lá. Diz a Mena.
-Ah!Ah!, suspirou ela enfadada.
Finalmente apareceu o B.I. e chegou a hora do pagamento. E de novo chegou a ladainha pela voz daquela mulher enrugada, de cerca de 80 anos.
-Dá o dinheiro trocado para pagares à senhora. Pôes-te a olhar para mim? Dá cá uma notinha pequenina. Não dá um tostão para nada, mas para isto gasta o que fôr preciso...
Ele continuava calado. Algo me dizia que não era mudo. Fazia-se. E de surdo também. Num moita-carrasco de afligir e surpreender.
- Anda com muito dinheiro, a senhora já viu isto?
- Aqui é que ele anda bem. Respondeu finalmente.
Esta criatura de 81 anos, trazia consigo duzentos euros num dinheirinho vivo que assusta qualquer um que se ponha a pensar no assunto. E apenas reagiu à posse do seu dinheiro.
Ela, a mulher, de armas, contou que fora buscar os papéis para ir para o hospital Santa Maria.
Tratou sempre a Mena por " boa senhora ", despedindo-se com um bom dia a todos.
Já quase não me surpreendo com o que acontece à minha volta. Acho curioso o que aconteceu aqui.
Fiquei a pensar que as mulheres, fossem qual fossem as épocas, foram as " tais" mulheres de armas. Mas eles é que foram sempre os caçadores.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

a descoberta

A noite passada dormi menos de quatro horas, mas não me importei.
Andando no facebook, pelo liceu guiomar de lencastre, descobri uma antiga colega de liceu e de turma. E foi muito grata essa descoberta.
Era uma menina delicada, que corava muito, e muito desengonçada do alto da sua adolescência.
Dela lembro mais as idas para as aulas de Canto Coral e as aulas de ginástica no ginásio.
Lembrei sempre o seu nome porque à época não era normal carregar-se um nome assim:
Ury. Ela é a Ury Borges e descobri-a agora. E fiquei muito contente. Passaram mais de 40 anos desde que fomos colegas de turma.

+ com - às vezes dá MAIS

- Então, gostas de lá estar?
Resposta:
Aquilo não é bom. Mas ao mesmo tempo, é tão bom...

Luanda, sob o olhar de um português na casa dos trinta anos, que não tem passado algum em África e que há cerca de dois anos resolveu tentar a sua sorte em Luanda, indo redescobrir as terras de Diogo Cão, dos seus livros de aprendizagem da escola.
Eu que não sou capaz de ficar calada, perante este desabafo, que diga-se de passagem, acho delicioso e me fez dizer: - É isso aí, exactamente isso - acho de mim para mim que o Zé Diogo, que já bebeu água do Bengo, está completamente enfeitiçado pelas terras dos muangolês e pelos encantos que ela oferece e o trânsito, a gasosa, a falta de água, luz é coisa pouca perante o que recebe. Quase que aposto que o Zé Diogo vai deixar passar o tempo e como ali ele passa devagar, virá de férias como o fez agora, no Natal e pouco mais, e Luanda será a sua casa por muito tempo.

reencontro

Reencontro

Chamei a Tarde
Chamei as cores
O rio e as correntes
Os arco-íris e os sóis
Os perfumes
A brisa da Primavera
As papoilas e malmequeres
Chamei a Paisagem...
Chamei a Noite
O brilho das estrelas
A luz da lua cheia
Os céus
A harmonia dos elementos
Chamei o Tempo...
Aquele das acácias rubras
Das pitangas e palmeiras
Da alegria das cigarras
Do batuque nos musseques
Dos pregões das quitandeiras
Do canto das sereias
Chamei a Arte...
Chamei o Espaço
O Lugar...
Chamei a Terra
Chamei o Universo
A Eternidade... a colorir o Momento
E o Mundo fomos nós
E nós fomos da cor do Amor.

( por m.c.s.)

A cria

Ao longo de sete anos habituei-me a ligar a televisão e sempre numa surpresa divertida, vê-la.
Breves segundos. Porque o fotógrafo, o cameramen a apanhara. Em conferências de imprensa, num evento qualquer, debates disto e daquilo, sobretudo quando ainda estava no D.N.
Vi-a anos a fio nas crónicas semanais dos jornais da cidade onde nascera e crescera. Dando voz na rádio dessa cidade, ouvi-a muitos domingos pela manhã, num tempo que lhe atravessou a adolescência.
Vi-a aquando do Euro. No estádio de Alvalade, como voluntária nos media, tendo a seu cargo cerca de 50 voluntários. Vi-a na televisão nesses jogos do Euro. E no jogo de encerramento no Estádio da Luz. Desfilando lá em baixo por Portugal. Vi-a numa revista envergando a farda das voluntárias aos estádios, e numa passagem de modelos a esse propósito. Foi capa de revista nessa altura, tudo a propósito do Euro e da particularidade de ser voluntária. Vi-a tambem na revista Time Out.
Nunca me habituei nem a ouvir chamarem-na doutora, nem a que fosse figura pública ( que não é, a bem dizer ).
E também nunca pensei vê-la numa revista cor de rosa.
Mas eu ainda hei-de ver porcos voarem e nada me surpreende já.
Apetece-me é dizer, que nunca digas, desta água não beberei.
E isto tudo para dizer que há uma revista pelo menos, que tem as fotografias do casamento do ano. O enlace da Ana com o Ricardo, que não apareceria nas revistas se não fosse ela, dona do blog A Pipoca Mais Doce e autora do livro com o mesmo nome. E porque à mistura, são jornalistas.
Por isto tudo, ela, que foi madrinha de casamento da amiga Pipoca, apareceu numa foto com as restantes seis madrinhas e obviamente a noiva. Muito lindas, todas. E elegantes.
Mas ela é a mais...linda. Excluo a noiva porque essa estava maravilhosa e era a noiva, não é? Nem me ficava bem não dizer que estava perfeita.
Foi um regalo vê-la. E uma vaidade que eu sei lá. E comprei a revista. E vou gurdá-la bem guardadinha.
Nunca serei um ser indiferente e acima das coisas pequenas, quando se tratar dela ou dele.
O que é que querem? Sou um comum mortal com as vaidadezinhas próprias de quem ama.
Estás bem linda, meu amor, e quem disser o contrário, mente ou tem dor de cotovelo.

uma questão de português

Há assim como que a pide, censurando-me, e eu deixo. Não me importo. Às vezes gosto.
Não sou masoquista, não. Nem os meus pides são sádicos. É uma forma de estarem na vida. Na minha vida.
E aprendo.
-Tens que ter cuidado. Julgas que não, mas dás cada erro...
-Eu? Quais?
- Por exemplo, acentuas sem ser necessário ou correcto. Pôes acentos circunflexos por dá cá aquela palha.
Pois é. Eu já desconfiara. Dou comigo e com os acentos circunflexos num pim pam pum inseguro de advinho.
Eu não gosto de me " limpar " incriminando outros. Mas a verdade é que leio muito boa gente, com obrigação de ser barra nestas coisas do português e das escritas e afinal, concluo que não têm o menor cuidado e induzem-me em erro. Na verdade, eu leio-os e penso sempre que eu é que errei e o que estou a ler é que está correcto. Assim lá vou cobrindo de chapéus e anasalando o que já é um som nasal por natureza.
Vou querer sempre por perto esta censura de gente que tem a grande obrigação de saber mais do que eu e avisar-me quando piso o risco.

excesso

Um dia alguém disse e eu esqueci, que era bom mas estava era mal aproveitado.
Hoje, sem ser do nada, mas vai-se lá saber porquê, lembrei-me disso...

domingo, 26 de setembro de 2010

do além ou um pouco menos

A sério. Eu tenho uma sina do caraças. A minha princesinha é um lobo com pele de cordeiro. De olho azul celeste, como o nome da minha mãe, pêlo branco e lustroso, solicitando festas e colo, passando a cabeça pelos meus pés, como se o mundo fosse apenas eu e ela, vindo a mim quando a chamo de bebé, e a bebé vem de mansinho...
E se eu vos disser que apanhei um susto tão grande, mas tão grande que nem sei como suportei o momento...
Numa casa excessivamente grande para as duas, silenciosa, após um fim de semana habitada apenas por ela , de repente oiço o autoclismo descarregando água...
O que vocês sentiriam? O que pensariam? O que fariam?
Parecia coisa do além ou um pouco menos. Alguém dentro da minha casa.
Não sou muito valente. Nem enfrento bandidos. Já lidei com ladrões, vigaristas, pedófilos, assassinos, mas eles lá e eu cá. Na mesma sala mas devidamente protegida. Pelo menos os identificados foi e é assim.
Agora, na minha casa, um autoclismo ser puxado e não ter entrado ninguém quando eu entrei, isto fez-me ficar com pele de galinha e uma taquicárdia quase incontrolável que vou-vos contar.
Se estivesse acompanhada, era certo e sabido que quem tinha que ir enfrentar a situação era a companhia, mas...cheguei-me à frente porque se esperasse dava-me uma coisa má.
D.Pitanga saía assustada da casa de banho. Apeteceu-me estrangulá-la. Mas fiquei tão aliviadinha, que pronto, rendi-me e só de pensar que tenho uma gata que vai à casa de banho e puxa o autoclismo. ..
Limpinha a minha gatinha...

ao serão

Os Ídolos são o máximo. E são a minha diversão, nesta fase do programa.
Cromos por cromos prefiro estes que não conheço de lado nenhum.
E não me sinto na obrigação de os coleccionar. Nem me sinto tão envergonhada. Por este povo, meu Deus! Por estes filhos de mães e de pais que lixam a molécula aos jurados e há lá pelo menos dois que bem merecem. Eu aplaudo quase sempre. Mas que de facto não se enxergam, lá isso não.
Tenho que dar o braço a torcer. Aos domingos à noite, refastelada no sofá ou não, vendo este programa que gosto tanto, esta casa demasiado grande para uma gata pingada e outra, a própria da gata Pitanga, é uma diversão. Até ela, que tem umas pitanguices, sobretudo ao domingo quando regresso a casa ( ciúmes e carências ) se diverte e reage às minhas gargalhadas enquanto fico " assistindo " televisão no canal3.
Já ouvi hoje frases como: a tua voz parece uma corneta. A sua voz não me parece má mas é um bocado irritante. Parece um secador de cabelo que não se desliga. Vais de vela. És festivaleira. Talvez fosses bom para cantar num velório. Não comeste nada que te tivesse feito mal, não?
Ah, e eu que não sou jurada, dou nota máxima à Cláudia e ao Manzarra que são dois meninos giríssimos, e com piada que gosto sempre de ver. Também gosto do Laurent e da Roberta Medina que são justíssimos e uns queridos no trato com estas criaturas que ali vão debitar músicas, assassinando-as como se estivessem rezando.
São as noites da SIC ao domingo.

lamento

De espera em espera, de sonho em sonho, vou sentando aqui e ali, onde houver um assento que me receba num " dá-me um abraço "como canta a canção. Instalando-me comodamente.
Queria dizer que dou esse kandandu sempre. Mas é mentira.
Há a livre escolha. O calor mais forte e doce. Ou um estar para ali virada. Ou não.
O aconchego que nem sempre chega, para me embalar nos abraços de ninar, me desmotiva, nesse exercício indisciplinado de ver por entre as nuvens de flocos de neve e voar por entre as asas de cera derretida.
Queria dizer que sonho sempre. Mas não seria verdade.
Há dias e dias. Bancos e bancos. Inspirações e agitações.
Há sons. Cheiros. Palavras e premonições.
Créditos.Há rostos.
Há espaços sagrados que dou de barato.
Há a vontade de sonhar. Mas nem sempre a vontade vence os domingos.
Me motiva, sem motivo.
Hoje é domingo. O sonho espera por mim. O banco também. Num braço dado, de vontades iguais.
E eu? Que quero? Que espero? Que dou? Que recebo?
Ainda se me dissesses que me fazes companhia, neste bonito banco de jardim do eden...e me trouxesses eternos sábados dum calendário mandado suspender...
É domingo e nada se alterou. Isso diz tudo, no silêncio que ecoas calado dentro de mim.

outono

OUTONO

Há uma morna melancolia
Sobre o tempo de mudança
Vejo uma pequena criança
Em mim...
No frio de uma saudade
sem fim...
Sinto o cheiro da cidade
Solto as memórias
Olho para lá das histórias
das lendas de encantar.
Busco a felicidade retida
na letra de uma canção
nas estrelas, no chão
no sal do mar de então...
É a hora prometida
Do repouso e da ternura
Como simples e pura
Queria eu a minha vida
E na doce melancolia
Deste fim de Verão
Dou-me à paz esquecida
Aqueço o meu coração

(por m.c.s.)

TETA LANDO - Mambo me Lutanga

festa angolana


Uma farra das antigas. Música ao vivo, anos 60/70 internacional, sobretudo francesa,( mon Dieu de la France que me fez lembrar os anos 70/80 ) e semba ( da nossa terra uauê, uauê, que me fez uma lágrima no canto do olho ). Organizada por angolanos, para angolanos e afins.
O repasto, bem, já não é para a nossa idade, mas fazer o quê?
De noite todos os gatos são pardos.
Salgadinhos de entrada. Feijão de óleo de palma, batata doce e mandioca cozidas.
Caril de gambas. Cachupa. Moamba de galinha.
Doces e frutas ( um exagero, juro-vos ). Eu é que sei como estou agora. A chá. Quis festa, suou-me a testa.
Bem, mas vamos ao que interessa. O ambiente era magnífico. As pessoas simpáticas. A organizadora, a Laíta, coadjuvada pelo marido e filha, uns amores.
Fui convidada. Aceitei. E adorei.
No fim de cada mês, último sábado no " os Miguéis " em Frielas, as noites angolanas revivem-se e reanimam-se numa alegria e vitalidade muito africana.
Quando voltar a ser convidada, eu vou.

benfiquismo

Não há dois sem três.
Somos mesmo bons!...
Má Nada...

sábado, 25 de setembro de 2010

Hollywood,Mon Amour-Flashdance...What A Feeling (Feat. Yael Naim) (With ...

Não te encontro

Não te encontro

Perco-me de mim
E encontro-me
Nas letras que me dedicas
Soletro-as
Na esperança de se ajustarem
Perpetuarem num espaço que não preencho.
É breve e raro esse momento
Um intervalo a suster o meu tempo.
É tudo tão fugaz...
E o que me dás, também
Já não sei quem sou
Nesta ânsia de saber quem és
Advinho a intenção na palavra e no gesto
Louco e frágil o meu coração
Que acredita...
Olho para além do além
A desejar desenhos, cruzando os céus
Amor pintado às cores
E os teus sonhos que torno meus
E perco-me de mim
E encontro-te
Nas letras que não escreveste
Em tudo o que não me deste.

( por m.c.s. )

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Nadir, a atleta

Cheguei à caixa do hipermercado com algumas compras. Coisa pouca por causa do peso a carregar. Uvas, fiambre de perú, queijo, salmão fumado, pão, leite, iougurtes gregos, croissants de chocolate e romãs.
À minha frente, uma tiazorra, de cabelos aloirados e madeixas,( próprio de morenas, que não percebo para que querem elas ser loiras, mas também não tenho de perceber . Cá para mim, são a fingir, de plástico, mas isso é lá com elas ). A tia loirona estava companhada de uma rica filha, miniatura da mãe, mas uma promessa de que seria como sua mãe, num futuro próximo. Caso para dizer tal mãe, tal filha. E estavam enfadadas. Com a menina da caixa e com a cliente, atendida por esta. Por esperarem. Eu não. Estava com todo o tempo do mundo. Já jantara e em baixo como ando, sem pachorra para dar ao chinelo pelas lojas, ou ir ao cinema, apenas queria pagar e de seguida ir para casa, mas num tempo relaxado. Nada de sangrias desatadas que a minha energia está pelas ruas da amargura.
A menina da caixa mantinha o sorriso e a energia. Positiva.
Tia e rica filha finalmente foram atendidas. E não reclamaram, como o fizeram de boca pequena na fila, onde esperaram.
A menina continuava sorrindo pacientemente. Sem ser de plástico. Sorria com os olhos negros e brilhantes.
Chegou a minha vez.
O boa noite papagueado, de sempre, diferente no tom de voz e no olhar. E no sorriso extra.
Foi passando cada artigo até chegar às romãs.
-Não pesou as romãs. Não posso passá-las.
- Aaaaaah! Esqueci-me. E agora? Quero mesmo levá-las.
- Quer lá ir pesá-las?
Mas antes que eu respondesse, continuou:
- Eu peço a um colega que o faça. Não se preocupe.
Olhei-a bem como olhos de olhar e ver tudo claramente visto.
Um porte altivo, olhos bonitos, nariz de judia, lábios finos e pele muito escura, quase negra.
Um rapariga muito interessante. Com uma voz lindíssima, e uma dicção perfeita.
Que estaria a fazer no Continente uma rapariga que parecia perfeita para dar a voz numa qualquer Rádio ou Televisão?
De palavra fácil e sorriso aberto fomos falando até que viessem buscar o artigo para a sua pesagem.
Nadir é o seu nome. Faz desporto. Atletismo. Vai fazer a travessia da ponte Vasco da Gama. A meia maratona de Portugal que terá lugar domingo, 26 de Setembro.
Trabalha no hipermercado só aos fins de semana e acha que também por isso, às 11 da noite ainda mantem tanta energia. Gosta do que faz e tenta chegar ao emprego muito bem disposta ( disse ela ). Está efectiva.
Desconhecia que efectivavam funcionários que apenas trabalham 3 dias por semana. 18 horas. Cada pessoa escolhe as horas que quer fazer e o vínculo não depende disso.
Para além de ser atleta e trabalhar no Continente ainda trabalha num Call Center. Rádio Comercial. Tinha que bater a bota com a perdigota.
A Nadir é portuguesa. Os pais são guineenses. As suas raízes passam por Cabo Verde, S. Tomé, Guiné Conacri e Açores. Esta mistura deu uma menina lindíssima, de uma beleza rara, de tez acastanhada como os são tomenses e feições muito europeias. Dona de uma voz belíssima e de uma simpatia e educação irrepreensíveis.
A Nadir complementa todo este encanto físico com uma atitude muito profissional. E com uma simpatia genuína. A comunicadora nata.
Despedi-me dela dando-lhe os parabéns. Não é fácil encontrar profissionais tão completos nas caixas dos hipermercados. Seres tão iluminados.
Hoje eu precisava de alguém assim para me salvar o dia.
Chegou-me a Nadir e fez-me acreditar que há sempre alguém que nos olha nos olhos e nos vê. E merece ser vista.
Vou torcer por ela na Meia Maratona de Portugal.

outonamente

Hoje sou Outono.
As horas parecem brincar com a minha paciência.
O sol se escondeu de mim, escurecendo o meu dia.
E tenho frio numa falta de agasalho que sinto sempre.
Cai dos olhos da minha tristeza, uma chuva negra de pena e dor.
Uma semana mais.

Uma semana menos...
Hoje sou Outono.
Se a vida fosse um filme, era agora que o parava num intervalo prolongado.
Para hibernar.
Até que a chuva se tornasse clara e cristalina.
O relógio não marcasse horas.
O sol me iluminasse as noites e o calor me aquecesse num agasalho de alma, nos dias que tenho para viver.
Num para todo o sempre...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Fazer sentido

Fazer Sentido

Quero acreditar-te hoje e aqui
Por mim, por ti...
E se soprar por um instante
A brisa de uma lembrança
E o momento me transformar em criança
Quero brincar nos lugares esquecidos
Da antiga infância
E cantar
Uma canção que me embale
O sonho que nos faz gente
Quero olhar-te
Contemplar-te...devagar
Reter-te...
E atravessar-te o passado
Sem sair do presente
Beijar-te a alma de perto
E tocar a tua pele
Com palavras de verdade
Deste querer acreditado
Que venceu a nossa idade
E no pôr do sol deste dia
Nas rugas da sua partida
Perceber quem somos nós
Dar um sentido à vida.

( por m.c.s. )

as diferenças

Não foram precisos mais do que dez minutos. Apenas dez minutos e criaturas ainda em fase de aprendizagem, disseram-se frases insultando-se e a outros, numa atitude de me deixarem com os cabelos em pé, de cólera.
Como se não fosse com elas e na forma de insulto, ouvi ao longo de apenas dez minutos de viagem frases como:
Dá cá isso seu paneleiro; Aquela preta da turma da Irina; Estás cego ou quê?; Cala-te loira burra; O kota hoje acordou com os pés de fora; O gajo é coxo...
Aposto que a continuarmos todos em viagem e ainda ouvia falar dos comunistas, dos testemunhas de Jeová, dos ciganos e com um pouquinho de sorte algum se lembraria de ter ouvido ao pai falar dos retornados.
Eu sou de apetites. E esquisita. E tenho dias. E hoje não estou no melhor dos meus dias.
Não estando para amar pensei que podia ser implicância minha. Mas não. O que se passa é que estou com ouvidos de tísica e tolerância zero.
E apeteceu-me distribuir bofetões. Não por eles. Não.
Numa coisa mais justa. De igual para igual que não somos iguais apesar de sermos da mesma geração.
Com os paizinhos e educadores destas criaturinhas. Onde é que andam? Que não ensinaram a esta nova geração algo fundamental. O respeito pela diferença.
E com o rei na barriga, distribuem insultos por tudo o que mexe e não é como eles. Afinal, somos couves?
Que pais estes...
Que geração a minha...
Que país este!
Decididamente hoje não estou para aqui virada.
Até porque ontem adormeci com a pior notícia que se pode dar a alguém e coloquei-me no papel desses alguéns, infelismente muito chegados a mim. E hoje acordei com as entranhas às voltas, a cama, o quarto, tudo a rodopiar. E ainda estou desse jeito.
Talvez por isso, porque hoje o ar pesa mais e custa a respirar e há quem não respire, é que a minha tolerância é zero.
E por isso me pergunte que anda esta gente a fazer, se não fazem um esforço para evoluirem e serem felizes. E ser feliz não é isto. Este ódio no coração.
Tanta gente que parte, que queria tanto viver, ensinar e receber os ensinamentos que a vida nos vai dando, ser feliz...

a nova, velha estação

A tarde já vai a tombar na noite. A primeira deste Outono. Na cidade. Do Almonda.
A parecer cacimbo. Só falta a chuva clara numa tarde de estréia. Para ser perfeito. Este novo tempo...

os meus diospiros

Aqui está uma fruta que eu adoro. E este ano ainda não lhe tinha posto a vista em cima, nem o dente...
Nos hipermercados vendem-nos todo o ano. Mas desenganem-se se acreditam que a fruta é toda igual. Mas é que não é mesmo.
Estes, ajudei eu a apanhar. Directamente da árvore. Do quintal da D. Laurinda.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Outono pintado de fresco

Eu - Que gaita, hoje começa o Outono.
Amiga - É bom!
Eu - É bom é!...
Amiga - Como é que a gente chega à Primavera, se não passar o Outono?
Eu - Ahahahahah! Já fui fintada. Mas também está bem...
Ao telefone com uma amiga de sempre, que sempre sai para a rua, olhando os caminhos sombrios com a mesma expectativa que olha os espaços verdes, da esperança e da alegria.
Uma amiga que escolhe sempre o copo meio cheio, para contrabalançar com o meu copo muitas vezes, meio vazio.
Graças a Deus, que existe o equilíbrio das coisas.
É o Outono pintado de fresco!...

No mínimo simpático

Hoje recebi um e-mail no mínimo, simpático.
Mas também, de profissional. De profissional leal e preocupado.
Escrevi acerca da minha saga com a Meo, aqui, e há pouco tempo.
Precisamente, saga Meo, o nome do post.
Hoje recebi um mail, de um funcionário da PT, dizendo que chegara ao blog e lera o post, saga Meo. Até aqui tudo normal.
Mas o que diz a seguir é que me fez rir a bom rir. Não que estivesse a troçar do senhor, longe de mim que já lá vai a idade em que tudo servia de troça numa superioridade (?) besta de me colocar num patamar acima dos comuns mortais e gozar o pagode. Sendo que eu e o pagode éramos a mesma coisa. Luanda, África é bem " culpada " desta conduta, pois ali gozamos até de nós próprios, e as situações, assim, ridularizadas tornam-se mais leves e desvalorizadas. Mas pronto, nem tenho a idade da inocência, nem estou em África, nem tenho as minhas amigas do continente amado por perto.
Então porque me ri? Porque acho sempre que o blog é tão caseirinho que ninguém o descobre. Santa parvoíce. Pois se escrevi, saga MEO, obviamente que MEO aparece associada ao meu blog.
E acho sempre também que o que escrevo tem pouca importância e não motiva pessoas que não sejam as minhas, ou as outras, as invejosas ( anónimas ) a escreverem, comentando.
No caso, não foi no blog, o que também percebo, mas foi ainda mais personalizado. Directamente para o e-mail. E não era conversa para inglês ver. Era oferecendo os préstimos.
Que bonito Sr. P.A.. Gostei que quisesse defender a sua dama, ajudando-me. Lealdade a quem nos paga, acima de tudo.
Ri-me, não de si, mas do que eu poderia ter escrito. Já não sabia bem se tinha sido, assim, meio inconveniente ( o que não é difícil ) ou se não teria batido muito no ceguinho.
Como boa angolana que sou, a seguir às gargalhadas saiu um Euêeeee! Mas isto é só uma interjeição nossa ( angolana ) a que não vale a pena ligar.
Obrigada pela atenção. Vou responder-lhe, sim, porque para além de ter essa obrigação, ainda não tenho o problema resolvido. Até já fiz o pedido para mudar a televisão para MEO satélite e afinal o senhor técnico ainda não me contactou para proceder às devidas alterações dentro da minha casa.
A saga continua, mas agora tenho alguém simpático e bom profissional, porque os há, que me vai ajudar. Benza-o Deus!

verdade, verdadinha

Hoje recebi um e-mail com um pensamento bonito que me fez vir aqui e publicá-lo. Quem mo mandou gosta de mim e sabe que eu preciso de receber palavras...bonitas e bem intencionadas de vez em quando, quer-se dizer, sempre.
Até porque na nova estação tudo parece estar para terminar, ou a vida é apenas feita de nadas que se viveram na estação anterior e por isso pouco. Muito pouco para quem tem a ambição de Viver e Amar...

Eis o pensamento :

" Viver...é chegar onde tudo começa...
Amar...é ir onde nada termina... "

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Weezer - Island In The Sun (Spike Jonze Version)

Para além da música, apreciem este vídeo deliciosamente ternurento. Queria ser eterna só para tocar pequenos céus com as pontas dos dedos assim...deste jeito.

sinto-te a falta

SINTO-TE A FALTA

SINTO-TE A FALTA
No que causou o breve instante
Estranho, Raro que o vazio não apagou,
De mim em ti perdida no tempo
Que passa e não passa pela tua ausência,
No que restou da tua presença

SINTO-TE A FALTA
No que me ficou do teu olhar...
No brilho travesso de quem vive a brincar
E no sorriso rasgado que nada promete
E convida a sonhar

SINTO-TE A FALTA
Na cor que recordo, minha terra quente
Tua tez morena, brisa pálida e amena do sol do poente,
No cheiro africano, do timbre sedoso
De ano após ano falando fogoso daquele lugar

SINTO-TE A FALTA
Na prosa... alegre e nervosa que já partilhámos
Idéias, passados, futuros
Que ambos buscámos
No beijo denso duma partida
Do silêncio intenso gritando por vida
SINTO-TE A FALTA
Na falta de sempre duma vida inteira
Desde a vez primeira até ao Presente.

( por m.c.s. )

Boyzone - Better

Recomeçar

Chegaste no cair da noite
Na hora do aconchego
E trouxeste os anos verdes de então
Das manhãs frias de cacimbo
Das tardias madrugadas
Chegaste com o poente
Com o mistério do sol vermelho
Com a lua cheia
Da cor do outro lado do tempo
Onde o mar é mais quente
E a vida corre devagar

Quisera
Em vez de parar o segundo
Respirar cada minuto
E no vazio escuro do futuro
Ser tudo de novo
Preencher cada lugar
Encontrar os dias e as noites
Que não soubemos sonhar
E voltar a amar...

( por m.c.s )

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

o perfume (im)perfeito

Sentei-me. Mesmo em frente à porta. Lembrei-me da Mimi. E do acidente. Acho que me vou lembrar para sempre, depois do relato que lhe ouvi.
Ainda não estava bem acomodada, quando atrás de mim, uma miúda da escola secundária Artur Gonçalves, disse:
Eh meu, este cheiro! Faz-me alergia. E a comprová-lo, dois espirros seguidinhos.
E depois: Ai o c......, senhor motorista, ande lá com esta m.....
Eu já fui desconfiada. Depois curei-me. Mas algo me disse que era o meu perfume a fazer bordoeja na menina da escola secundária.
Estou careca de saber que já provoquei alergia, com perfume ou sem ele, como se esfregasse repelente na pele, num pernas para que te quero, que não te quero, vou-me embora antes que se faça tarde, mas uma miúda desejar pôr-se a milhas por causa do meu perfume, só esta idéia a dizer-me que podia ser verdade, me arreliou e entristeceu.
O mete nojo da miúda enervou-me tanto que me forcei a pensar se não seria um aviso.
O meu perfume tem classe. É distinto e não sou única a usá-lo. Roubei o gosto de uma amiga e preveni-a. Vou usar este perfume, para mudar do meu para outro. É uma amiga de bom gosto e com classe e além do mais vemo-nos pouco, por isso menos grave este copiar perfume de amiga de infância, que usava marlene ou chanel avulso que comprávamos na drogaria do " Rabeca " alcunha posta por nós ao filho do dono da drograria, na Senado da Câmara, quando éramos pitas e já queriamos cheirar que nem crescidas. Porque em casa apenas havia Lavanda e Bien- être, e já gozávamos.
À tempos quis mudar, para algo que me deslumbrasse, que tivesse sido escolhido por mim e fosse como que, só para mim, numa exclusividade que toda a mulher gosta.
Entrei na Douglas. Entro, permaneço e até outro dia, sempre na Douglas porque é uma perfumaria simpática, mais barata ( não sei como fazem isso ) fazem uns embrulhos giríssimos e dão coisas. Amostras. E até já me presentearam com um baton de bolsa. Que mais quero? A Douglas, claro.
Entrei. Uma menina bonita e simpática perguntou-me que aromas já usara. Disse do Poême e do Narciso Rodriguez, que foram os últimos, exceptuando quando alguém oferece, como a Pipoca ou a caçula.
Resposta dela: Acabou com o Poême, fez muito bem. Não se arrependa.
Oh e eu não sei? Não, mas é que nunca mais uso Poême.
Quanto ao Narciso Rodriguez, esse, posso dizer-lhe que é diferente. Se lhe lembra coisas más é pena, porque é um perfume especial.
Oh e eu não continuo a saber? Nunca se sabe se um dia o usarei de novo. Pode ser que me dê uma branca, tipo apagão total e eu queira sentir de novo o aroma de um perfume especial.
Sobre o Midnigt, continuou ela, nunca diria que o escolheria. Não é a sua cara. É bom, mas lembra o frio, gelo, sabe o que quero dizer?
Ri-me. Pode ser que ela tenha razão. Não foi a minha praia, não. Talvez não seja a minha cara, mas que dificuldade em deixar de o sentir...nem mesmo os espirros da miúda do autocarro me convenceram, ainda. Foi uma época, que se prolonga em mim, inexplicavelmente.
Naquele dia, a menina da perfumaria apostava num perfume entre estes dois. Um cheiro fantástico, que não conhecia. Encheu um frasquinho de amostra e deu-mo. - Quando terminar o seu compre este, vai ver que vai gostar. Tem tudo a ver consigo.
E não é que eu acho que tem?
O que me impediu de o comprar?
O que me impediu de o usar?
Dificuldade em abandonar o outro. O dos espirros.
Porque pensei que era traição?
A menina não me disse como se chamava este que me assentava que nem luva.
E parece que é coisa dos céus ou dos infernos, coisa encomendada, porque cada vez que vou à Douglas, procuro a conselheira, e não só não a encontro como qualquer outra desconhece este cheiro.
Será que foi um sonho? Um sonho cheiroso?
Se foi não quero acordar. Porque esse cheiro que os sentidos têm a par com as emoções ainda conservo em mim e acho que vale a pena.
Hei-de mudar de perfume. Hei-de deixar de provocar espirros, melhor dizendo, alergias, num adeus ó vai-te embora. Até ao meu regresso. Vai esperando sentada ou então vai ser se estou na esquina.
Macacos me mordam se não hei-de mudar...

trevas

Vivo no Mundo.
Não habito aldeias nem vilas. Não sou citadina nem campónia.
Vôo nas asas das aves reais.
Subo aos céus, ignorando insectos e fintando aves de rapina. Diariamente...
Ao domingo à noite, habito as trevas.
Não tenho morada.
Esqueço o endereço e não moro sequer em mim.

domingo, 19 de setembro de 2010

Fomos Grandes!

BENFICA 2 - SPORTING 0
má nada!

confessando-me

Às vezes esqueço-me de mim.
Quando me lembro demais dos outros, esqueço-me de mim.
Às vezes preciso de me encontrar...
Às vezes fecho a porta, dou à chave e olho para dentro. Por dentro, para fora.
Hesito.
Desço escadas. Desço sempre escadas. Com a sensação que não vou completa.
Que há algo que ficou para trás.
Pode ser telemóvel, os brincos, o perfume, os óculos, o baton, o cartão de livre trânsito...pode ser paciência, tolerância, optimismo, ou vontade de cumprir o dia...
Às vezes esqueço-me de mim, mas não me faço falta porque tenho outros.
Estou desatenta de mim até que acontece algo que me faz dizer: maria clara, encontra o equilíbrio necessário para continuares. Não percebo isto até que chegam a mim os sinais que me dizem que se me esqueço de mim, esqueço o melhor dos outros e o pior também.
Se tenho de enfrentar dias difíceis e baixo os braços, e desanimo, pergunto-me sempre porque me deixei fechada, bati a porta e parti incompleta.
Preciso de mim inteira quando entro pela vida da minha irmã e lhe vejo o cansaço, o olhar triste, a resignação. E olho o meu cunhado que me olha com uma ternura, quase imoral ( porque eu tinha de estar sempre e não estou ).
Esqueço-me de mim, fechada para lá do que as pessoas podem ver. E faz-me falta Aceitar. Pactuar com eles, fingir que não é difícil, rir livremente, espalhando sorrisos cristalinos, como ri a Paula numa triste e doce demência, que me fere a alma.
Queria estar inteira e entrar nessa esquisofrenia e não serem dois, sermos muitos, Acreditando.
Ontem, saí de casa e não tranquei aporta. Esqueci-me e deixei espaços próprios para que a saudade do meu pai fosse uma lembrança do tamanho duma dor que não passa. Passaram tantos anos, mais um, e eu não esqueço que ele foi o melhor pai do mundo. Desejei ser pequenina e estar deitada ao seu lado, no quarto, e suplicar-lhe mais uma vez, a última vez, fazendo beicinho, que me contasse a história do cabritinho. Que tinha muitos filhinhos, que lhe saiam da barriga, que abotoava com botões. Uma história que percebi mais tarde que estava errada. Durante anos não soube que havia género. O meu pai chamava cabritinho à mãe, porque tornava mais bela e fácil a sua narrativa aos meus olhos e imaginação de criança.
Ontem não consegui tomar conta de ninguém. Nem da minha filha que precisava tanto mitigar as mágoas de se ver amiga duma menina de vinte e sete anos que está a braços com um AVC, internada há uns dias. Só ouvi, só fui dizendo que sim com a cabeça, não com o coração, como ela precisava.
Ontem não consegui sequer tomar conta de mim, porque me esqueci de mim, lá dentro, quando fechei a porta em Lisboa.
À noite, como todos os domingos, uma amiga ligou-me. Disse como sempre - Onde está, Coração?
É assim que me trata sempre que fala comigo ao telefone, ou quando chega junto de mim ou se despede. E eu sinto-me um Coração enorme, como aquele que a gente fazia na escola, com o nome dentro e uma seta na direcção de outro coração. Ela afaga-me a alma sempre que chego de Lisboa. Conquista-me todos os domingos um pouco mais e eu sou Gratidão a jorrar de todos os poros.
Que estava à minha espera, que tinha restos para jantarmos. Que o Rafael não queria dormir sem que " a tia clara " chegasse. O beijo e o abraço deste menino que ela adoptou e a quem eu dei o primeiro banho na sua casa e a primeira papa, e os restos que comemos todos os domingos e porque só eu como desses restos ali com eles, fazem da nossa intimidade algo muito fraternal e seguro. O ombro, a mão, a presença, a certeza...
Fui de encontro a esses afectos por estar esgotada de tanto me esquecer de mim. Precisava que ela me dissesse que eu não posso desistir, que eu sou forte, que eu consigo tudo se quiser. Precisava que me dissesse que ela nunca se esquece de mim e que mesmo que eu me esqueça, ela nunca se esquece de me lembrar que eu também tenho esse direito. De falhar, de ser igual a toda a gente...
Ontem, salvou-me a noite, a minha amiga e o meu filho. Este que me ligou perguntando se eu já tinha chegado a Torres Novas, porque não lhe tinha dito nada. Estava tomando conta de mim como faz todos os domingos, longe mas muito perto.
Às vezes esqueço-me de mim...
Quando me lembro demais dos outros, esqueço-me de mim...
Às vezes preciso de me encontrar...

Este texto foi escrito, não no blog porque ainda não existia, e teve endereço, o ano passado dois dias depois de fazer anos que o meu pai partira. Um ano depois, o meu filho voltou a Lisboa, a amiga da minha filha melhorou, a minha amiga não me telefona ao domingo à noite porque a vida dela mudou, porém em nada foi alterada a nossa amizade, o Rafael cresceu, e eu a cada domingo como o domingo que me provocou esta escrita, me sinto a fechar a porta, descer escadas, e a partir com a sensação que não vou completa...as minhas dúvidas, as minhas culpas, as minhas rotinas, os meus sentimentos mantêm-se iguais e passou quase um ano.
Hoje é domingo, mais um domingo que parto incompleta...

" Kurikuté " - Sara Chaves

Sabiam que vai haver metro em Luanda? Metro de superfície. A Linha será - Cacuaco/ Benfica.

dar

Hoje é uma data importante para mim.
Mas é segredo. Apesar de não me dar bem com segredos, este guardo-o a sete chaves e nem que me torturem eu o revelo. Coisas minhas. Uma questão de escolha.
Há-os que não vale a pena guardar. Nem fazem mossa. E a gente solta-os. Deixa-os livres. Que eu não gosto de correntes. Grossas. Estrangulantes. Comprometedoras e vinculativas.
Mas há-os, eles os segredos, que são mágicos, por não serem divulgáveis. Por não serem exigentes nem trazerem pedidos de confidencialidade.
E este eu quero-o assim, livre e mágico. Quase irreal. Assim como que, virtual.
Mas nem seria eu se não levantasse uma ponta do véu, para dizer que este segredo assenta em acordes musicais.
Oiço a melodia suave que me domina a emoção. E tenho de o comparar à canção.
" Aubrey ", é o som repetido, cantado, mil vezes trauteado, que me faz pensar que vale a pena guardar um segredo numa gaveta do meu coração. Como perfume. Como ilusão. Ou gratidão.
Há sentimentos nossos que nunca devem ser revelados.
Há dias assim. Histórias que começam assim:
Dia 19 de Setembro de um ano qualquer...
Que têm como: Ponto parágrafo, mudar de linha... um abraço maior do que o Universo.
;-))

sábado, 18 de setembro de 2010

Chofer de Praça by Luiz Visconde

a ervilha

" Que mais irá acontecer?!Só me falta chegar a Oriente, entrar no taxi e ser o taxista que me levou para o Olival dois dias seguidos. À terceira é de vez. Mas desta, troco-lhe as voltas porque não vou para o Olival. "

Estava eu ainda em viagem, Riachos/Oriente, quando escrevi o que acima inicia este escrito e foi o fim do post que descreve a minha viagem.Mas não. Não dei de caras com o motorista bisado a semana que passou. Cheguei e fui jantar ao Vasco da Gama. Ao Vitaminas, coisa rápida e ligeira. Em seguida fui comprar uns chocolates, bombons, etc, para levar a uma amiga doentinha, que está em recuperação lenta, mas a passo certo.

Depois fui apanhar um taxi.O taxista perguntou-me por onde queria ir, para Odivelas.Disse que tomasse o caminho para o senhor Roubado que a seguir estava por minha conta. Perguntou-me pelo nome do bairro. Esqueço-me sempre. Lembro-me sim que em 75, quando comprou a sua casa ali, íamos à noite, com uma lanterna rua acima por entre prédios em construção. A ruaainda não tinha candeeiros e nem nome tinha. Era a rua projectada a...E disse ao sr. taxista que o bairro tem mais de 35 anos. Construido quando os retornados chegaram de África. A partir daí a conversa fluiu. Quando dei por isso estava a dizer-me que era de Angola. E eu a ele. De Luanda. Mais novo que eu, uns 10 anos, disse-me que talvez conhecesse os primos. Da escola comercial. Não por isso, que eu estudei no Feminino, disse-lhe. Mas sou da avenida Brasil, Vila Alice e tal e coiso...como é que se chamam os seus primos? Numa de ser quase impossível. Como é que eu ia conhecer os primos da criatura? Luanda não é uma ervilha (?).Respondeu - H.P, C.P. e E.P.Oh!Oh!Oh! O E.P. é meu amigo do peito. Casado com uma kamba de infância. Ele estava estupefacto. Eu menos, mas muito hilariante. A mim, acontece-me de tudo. Até encontrar um primo dos meus amigos como irmãos, nestas circunstâncias. Mal dando por isso, já estava a dar-lhe palmadinhas no ombro e a falar da família toda que eu bem conheço.Quando cheguei ao meu destino, telefonei à minha kamba.Advinha quem foi o taxista que me trouxe? Primo do E....Primo? Taxista? Não sei.Chama-se Celso, vê se pode. Amiga, só a mim...O Celso, taxista? kiákiákiákiákiá...ela a rir que não parava e eu idem.Maria Clara, ganhaste!Foi uma diversão. Cinco mulheres a rir e o Celso que parecia azambuado com tudo isto. Graças a este episódio improvável,o Celso viu a minha amiga, a minha amiga do acidente de Marrocos, que eu ia visitar, a minha amiga irmã das outras duas, que está cá de férias, e outra amiga, a Linda que está sempre onde estão as outras. Parece uma coisa banal, primos encontrarem-se. Mas estamos a falar de angolanos. Só por isto, já é uma festa e depois, as famílias estão separadas. Uns em Angola, outros em Portugal e há quem esteja em Londres, em Paris, Brasil e outras paragens. Quando as pessoas se revêm é uma alegria.Afinal foi também para mim, um final de viagem, feliz.O mundo é mesmo uma ervilha e elas que acham piada a esta designação, repetem-na com convicção. Se eu cumprisse à risca o que as crias me dizem a propósito das conversas com os taxistas ( que eu dou e eles recomendam que não dê) não teria conhecido o primo do meu amigo, ele não se teria encontrado com esta família linda, nem teria visitado a minha amiga acidentada e em convalescença. A vida é um risco que nos traz coisas más e boas. Não viveremos as boas, se não arriscarmos.
Quando acabei o post da minha viagem, não imaginava que o improvável, pode acontecer, nem atentei nisso. Embora eu saiba pelas experiências que já tive, que sim, e é por essas e por outras que eu acho que um dia vou ser brindada com o euromilhões, um dia vou para Angola de vez, um dia ainda vou dar de frente com pessoas e situações " perdidas " que hoje me parecem improváveis ou mesmo impossíveis.
Desconfiando sempre, não há quem confie mais do que eu, asseguro-vos.

nova estação

Olho o caminho que os meus olhos vêm. Por cima do ombro.
O verão já lá vai. Não há razão para olhar para trás. Quero escrever fim com o punho firme. A caneta permanente. Sem saudosismo nem hesitação, ou sentimento duvidoso.
Agora há que esperar o tempo das chuvas, do vento e do frio, geada e neve. De vez em quando, o sol brilhará envergonhado, primeiro. Depois permanecerá num canto resguardado. Protegido. Para os dias piores. Aqueles em que vivo as saudades mais do que os sonhos. Aqueles em que os amanhãs já aconteceram e ontem foi há tanto tempo, que parece foi fruto de imaginação enferma.
Como sempre, vou olhar para a frente, não esqueçer o tempo que acabou e confiar nos astros.
No meu sol que me iluminará nesta estação outonal e inquietante.

a nata da nata

É a 2ª vez, esta semana, que vejo a Grande Reportagem, da SIC, sobre Discos Pedidos. Numa rádio de Mirandela. Trás-os-Montes.
Que grande reportagem! Que delícia de trabalho!
Eu conheço jornalistas. Eu conheço trabalhos de jornalistas.
Eu conheço os meandros das rádios locias. Muito de perto. Muito de dentro.
Eu conheço Trás-os-Montes. A terra, as vivências. Os sotaques. As suas gentes. Os seus anseios e dificuldades. As suas solidões. Os seus sentires.
E sei-me sensibilidade. E sei da riqueza das almas puras. Que me deixam " à beirinha " das lágrimas.
Este trabalho da SIC deixou-me numa santa paz.
Cheia de orgulho das minhas origens paternas.
Os jornalistas nem sempre são benvindos ou compreendidos.
Fazem trabalhos fantásticos. Este é um deles.
A SIC e a equipa que fez esta Grande Reportagem, está de parabéns.
A jornalista: Sofia Arrêde. Sob coordenação de Cândida Pinto.
Aconselho a que vejam.

casamento de amiga

A jornalista Ana Garcia Martins casa hoje.
Provavelmente hoje realizam-se muitos casamentos. Cerimónia. Festa, roupas bonitas, beijos e abraços, família e amigos. Fotógrafos. Pétalas de rosa e arroz. Votos de felicidade e de união para sempre.
Nada de anormal.
Mas esta não é uma Ana qualquer. Não é uma jornalista qualquer. Para mim.
Esta é amiga e colega da minha filha. Tanto que esta última vai ser uma das sete madrinhas de casamento.
E também uma menina de quem eu gosto e a quem eu estou muito grata.
Alimenta a minha vaidade e cuidados pessoais, surpreendendo-me com presentes. Perfumes, sacos, cremes disto e daquilo, batons, rímeis, eu sei lá, um sem número de produtos que lhe chegam às mãos e que ela manda para " a mamãe " como diz.
Mas a Ana é também " A Pipoca ". E é só a menina mais invejada de Portugal, um concurso feito pela SIC que lhe deu o título. E a ela pertence o blog que está entre os seis mais lidos. A Pipoca mais Doce.
E por isso hoje vai ser notícia.
A Pipoca Mais Doce casa hoje. Com o Ricardo. Que é jornalista também e uma boa pessoa.
A minha cria vai ser madrinha e aposto que este casamento vai ter muita, muita gente linda.
Quero apostar também na felicidade dos noivos.
Quero que seja um dia muito feliz.
Quero que eles sejam muito felizes.
Parabéns querida Ana e Ricardo.
Um abraço maior do que o Universo.
Façam de tudo para serem muito, muito felizes.

comemoração de casamento

Hoje, 18 de Setembro, faz 45 anos que se realizou este casamnto. Os meus tios, Augusto e Fernanda, uniram-se pelo matrimónio, numa união para sempre. Aqui estou eu e o mano Zé em pose.
Parabéns tios. Pelo amor que vos fez unirem-se e os manteve até hoje.
Parabéns também, porque para além da vossa vida comum tiveram dois filhos especiais. O Paulo e o João.
Tenham um bom dia de aniversário. Abraços e beijos, meus amores.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

tangente

De repente vi-me a telefonar para que me levassem à estação dos comboios. Por causa de um telefonema. Chegarei mais cedo a Lisboa. Vou ver pessoas. Amigas.
Foi à tangente com o comboio. Mas mais à tangente que eu, foi um homem que aguardava o comboio no sentido errado. Perguntou-me. Disse-lhe que para o Entroncamento era na outra linha. O meu comboio vinha lá e na outra linha vinha outro. Antes de resolver atravessar fez menção a um ramo de flores atado a um poste, mesmo aos nossos pés.
- Foram dois velhotes, irmãos, que morreram aqui. Foram colhidos - disse-lhe.
Mal acabo de falar e já ele está na linha para passar para o outro lado. Vi o comboio perto. Gritei-lhe. Ele não parava nem voltava para trás. Gritei de novo.
-Oh homem, você morre, saia daí...
Virou-se para mim. Hesitou. E voltou para trás. O comboio apitou e passou fazendo deslocação do ar. Era o Alfa.
Tinha conseguido passar - disse-me com um ar inexpressivo.
Não lhe respondi. Estava gelada e com vontade de vomitar.
O meu comboio chegou e apressei-me a entrar nele sem sequer olhar para trás.
Quando me sentei, vi-o. Na mesma posição.
Sentei-me e tirei a carteira.
Chegou o cobrador. Sorridente. É sexta-feira.
Ainda estava a fazer taquicardia.
Tirei 10€ e ele perguntou-me para onde ia.
Oriente, respondi.
Entrou na cidade de Riachos?
Fiz uma careta parecida com um sorriso.
Já tenho visto cidades mais pequenas - continuou ele.
Eu não. Mas vilas muito piores há aos montes. ( Riachos era aldeia, a maior de Portugal e passou a vila já há alguns anos )- respondi de, conversa fiada.
Entregou-me o bilhete.
- Deixe cá ver então o que é que eu quero mais da senhora...
Apressei-me a dizer-lhe: Nada. Que eu saiba.
Deu uma gargalhada. Já sei. Cinco cêntimos. Mas se tivesse 2,05€ era maravilhoso.
-Não seja por isso. E dei-lhos.
Ao longo da viagem, percebi que este profissional, para além das funções, gosta de inter agir com os utentes. E senta-se na carruagem ao pé de nós, fala com uns e outros e mete-se com os putos. Parece-me bem.
Que mais irá acontecer?!
Só me falta chegar a Oriente, entrar no taxi e ser o taxista que me levou para o Olival dois dias seguidos. À terceira é de vez. Mas desta, troco-lhe as voltas porque não vou para o Olival.

mito?!

Ao balcão, uma mulher morena de rosto marcado, e com um ar simpático. Sorriu, cumprimentou e disse que queria dois registos criminais. A Mena, preparou-se para a atender. Perguntou a finalidade. Visto em passaporte para um, emprego no estrangeiro, para outro. Ambos para entregar no Consulado. Disse-o sorrindo e olhando para mim. Acrescentando - para Angola.
Sabia que a conhecia de algum lado. É aquele tipo de pessoa que a gente não esquece.
- Eu conheço-a mas não sei de onde, disse-lhe.
Daqui. Tirou-me o registo criminal , e estivemos a conversar sobre Luanda. Nasceu lá não foi?
Fiquei com a idéia que foi há muito tempo que ela estivera ali.. Antes de ter voltado a Luanda em 2008.
Disse-lhe que ia voltar. Para sempre? perguntou.
Como se fosse simples. Como se fosse óbvio. Como se fosse o meu destino. Como se lhe tivesse dito que é o meu sonho maior.
Disse-me que veio em Junho. Volta para outra empresa. Desta feita, para Benguela.
Que gosta de África. Que gosta dos angolanos. Da terra. Do clima.
Que África tem um mistério qualquer que nos prende. E que nos deixa ir ficando...
Gostei de vê-la. E de ouvi-la. É uma mulher com cerca de 30 anos. Portuguesa. Desta leva. O que a fez ir para Angola foi o emprego e o espírito aventureiro. Só.
E foi conquistada. E está rendida.
Há pouco tempo atrás alguém me dizia que essa coisa do feitiço por Angola, que os angolanos, os portugueses que lá viveram e vivem, os tropas que estiveram na guerra colonial, todos apregoam, essa magia e esse encanto, era um mito.
Não concordo, evidentemente. É antes uma coisa grandiosa.
Angola já se entranhou nesta mulher do registo criminal e ela não tinha laços nenhuns a África.
Mito? Não. Chão, terra, cheiro, sentidos. Entranhas. Alma.
Um lugar divino, onde Deus habita.

Eu ia...

" Eu ia..." " Eu acho que não..."
Disse ele. O treinador maravilha.
Comentando o part-time neste pedaço de jardim relvado, à beira mar plantado.

integração

Espirrei. Um daqueles espirros que eu dou, que me mandam para o hospital com uma crise na coluna.
Atendia um utente a propósito de um R.C..Ucraniano.
Ouvi de imediato, sem ainda me ter recomposto do chinfrim que fiz.
- Santinha!

preconceito

Ouvi:
- Então, oh Vitória, o teu neto está a gostar da escola?
- Está. Nao estranhou. Perguntei-lhe assim:
- Então Daniel gostas da tua professora e ele respondeu:
Oh avó, ela é gorda, MAS eu gosto dela.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

a saga MEO

Por vezes penso que se em vez de ser o cão que me morde a mim, sou eu que mordo o cão. Porque a isso me fazem chegar. E pensar. E ficar baralhada. E não saber já se o mal é do cu ou das calças.
Nos últimos dias eu e a PT a PT e eu, eu e os técnicos eles e eu, foi uma " movida ". Aliás há um que se chama Leocádio que já me calhou em sorte, azar o dele, por várias vezes. Tem um sotaquezito qualquer que o identificou logo à segunda.
Depois de falharem três dias seguidos, FOI HOJE.
D. maria costa, fala-lhe da PT. Por causa da avaria. d. maria costa, poderá atender-me então?
( Arrrrrrrrrre para o d. maria costa, que fiz o homem alterar para clara santos ).
E eu, que sim, mas só a partir das 7 horas.
Chegou às 7,20horas. E começou mal. Colou a campainha ao tocar no rés de chão e parecia o dia do juízo final cá em casa. A Pitanga assustadíssima via inimigos por todo o lado e corria louca pela casa fora.
Fi-lo descer ao rés de chão para soltar o botão. Voltou. Educadamente, apertou-me a mão.
Vamos então saber o que é que se passa - disse-me.
Expliquei. Explicou. Que já tinha estado a partir do exterior a reparar a avaria. Mas então não é do ruter? perguntei eu. Não, disse ele. E mais meia dúzia de explicações. Falou com outro técnico que estava na central. Falou-me de armários e de cabos. Não percebo nada dos termos técnicos. Nem quero perceber. Só quero mesmo é o telefone, a televisão e a internet.
Esteve de volta do assunto cerca de 1 hora. A Pitanga que é uma desavergonhada deitou-se bem aos pés dele, de barriga para o ar, como fazem os cães, para receber festas. O homem não quis nem saber, claro. Pouco satisfeita com a indiferença, tentou trepar-lhe pelas pernas acima. E vi-me pela primeira vez na vida no papel que tenho assistido tanto outros fazerem e que às vezes me dava uma gana, de responder torto. " Ela não faz mal. Só quer festas. " e ele, coitado esticou o braço abriu a mão e fez-lhe uma festa na cabeça que a minha Pitanga até se consolou toda. Oferecida esta gata.
Claro que a tirei dali, porque a minha casa não é a casa da Joana, por isso quando não há decoro, vai recambiada num, ala moço, que se faz tarde.
O senhor técnico, quis ir ao quarto, verificar se a cama estava feita, mentira, estou a brincar, perceber porque no quarto a televisão não funcionava. Afinal, coisa simples. Bastava desligar a box e voltar a ligá-la. Ontem suspeitei disso. Andei a tentar perceber se havia algum interruptor. Não o encontrei. Mas não encontrava mesmo, porque eu, as minhas mãos e habilidade, somos um trio imperfeito. Que falta faz um técnico em casa! Só me apetece dizer : Meninas, quando juntarem trapinhos perguntem primeiro se:
Sabe mudar lâmpadas, arranjar estores, sincronizar canais de televisão e todos os afins para a telvisão e DVD, arranjar fusíveis, arranjar torneiras, desentupir canos, desmontar máquinas de lavar, arranjar ferros eléctricos, pintar paredes, arranjar cordas da roupa, pegar em pesos... e depois então se sabe mais alguma coisita que dê jeito, porque senão fiquem sozinhas.
Bem, mas vamos ao que me interessa. O senhor técnico entrou no meu quarto, ( coisa que me incomoda porque entrar no meu quarto, é entrar na minha intimidade ) fez o que tinha a fazer, que foi coisa pouca e voltou para a sala para os últimos trabalhos, que diga-se de passagem foram nenhuns. Quase nenhuns. Verificar se o telefone funcionava e se as luzes do ruter não se apagavam.
O senhor técnico, depois de tudo em ordem, partiu. Deixando um aviso. Se continuasse a falhar que ligasse para a assitência ao cliente.
Mais vai continuar a falhar? Perguntei eu, muito fina e cínica.
Só sei que desde as 8 da noite até agora já falhou que nem um motor de arranque. Vezes demais.
Por isso amanhã quando me telefonarem para confirmarem que o técnico me visitou e eu tiver que dizer que continuou a falhar depois da visita, vão pensar que sou doida varrida e eu vou ficar na dúvida. Será que é o cão que morde na gente ou é a gente que morde no cão? É que com isto tudo já, não sei. Eles dão comigo em doida. E pior, é que eu pago para endoidecer.

afinidades

Está aí está a chegar o tempo das romãs.
Adoro. Sentar-me no sofá e comer uma, duas, três romãs, bago a bago. Num ritual que me faz lembrar tardes frias. Castanhas e roupa de lã. Golas altas e cachecois.
Tenho alguém que amo muito que adora fazer-me companhia nesse ritual. Será que este ano se vai sentar ao meu lado nas tardes de domingo, a comer romãs?
Quem me dera! Recuperar coisas boas, porque não?
É mais o ciclo. As estações e com elas as pessoas. As afinidades.

toc toc toc toc

Saí apressada. Eram 8.07 horas. Que voltas dei, não sei, mas atrasei-me. Acho que hoje estou mais lenta do que nos outros dias.
Desci a ladeira, a Rua do Cabelo do Rato. Como é que pôem um nome destes a uma rua, ainda por cima com uma vista tão bonita, soberba mesmo, para o Vale do Alvorão e Serra de Aire...
Eu cá, cada vez que me perguntam pela rua, digo sem hesitações: Via Panorâmica. Recuso a idéia da rua ser cabelo de rato. Que asco! Que poucochinho!
Via Panorâmica era o seu nome, não percebo que gente tão pouco sensível foi essa que alterou o nome a rua tão bonita. Talvez algum iluminado que teve uma namorada que o mandou ir dar banho ao cão, e por vingança... ai é? Vais ver como elas te mordem...e pagam todos por uma história passional, os da rua do cabelo do rato, ou melhor Via Panorâmica. Que não é o caso.
Como dizia, descia eu a ladeira e subitamente uma criatura sai do prédio onde supostamente mora e inicia a sua marcha apressada, como que imitando a minha. Quando dei por ela, tinha um indivíduo do outro lado da rua, num toc, toc, toc, toc, igual, mas é que era mesmo igual ao meu. Ecoava pela rua abaixo. os meus passos e depois os dele. Uma coisa um pouco esquisofrénica. Como que em competição. Já ao fundo da rua, e porque parecia mais uma cena de filme, lembrei-me da cena da casa de banho, do filme, A Caminho de Santiago, que fui ver no fim de semana. Uma cena tipicamente, cinema espanhol, Almodovar puro, isto é, copiado. Uma criatura está a escovar os dentes, e a outra criatura entra e olha. E começa a escovar. E de repente parecem estar em competição. E a cena não pára e mais parece uma cena de sexo que um procedimento higiénico e diário. Que acaba como que num orgasmo. Os espanhois no seu melhor.
Eu não estava para ali virada. Nem faço filmes pela manhã, nem isto é Almodovar, os meus dentes já estavam lavadinhos e que eu saiba, os meus pés pisando o chão não podem inspirar-me ou a outros a um episódio de sexo. Mas o facto é que a criatura que não sabe que sou doida e penso coisas que nada têm a ver, não aguentou a pedalada e ficando para trás, abandonou a competição que tinha iniciado. A minha passada era bem acelerada e há que ter perna para dar o passo...
Não desisti e cheguei a tempo do senhor motorista me avistar ao longe e abrir a porta do autocarro para que eu entrasse.
Não vos falei do filme mas aconselho a que vejam. Está aí nas salas de cinema. Sem pressas e sentados. Ah, e outro, Entre Irmãos, pesado, pesado, mas, assim como assim, com a aproximação do Outono, tudo o que é soft tem tendência a ir com o sol e as andorinhas. Queremos mesmo é muitos dias assim, cinzentões, como o de hoje, para nos sentirmos bem infelizes, vítimas, até, e um filmezinho vem mesmo a calhar. Daqueles dramáticos que nos façam acreditar que há quem tenha vidas bem piores que a nossa.

passado

Há dias em que são mais as saudades, do que os sonhos.
Hoje é um desses dias. :-(

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Madredeus - Vem (Come to Me)

À memória de Francisco Ribeiro, violoncelista e fundador dos Madredeus.

Is This Love - Bossa & Marley

Tchim, tchim Julieta

Ofereço-te flores.
E beijos e abraços de parabéns.
E desejo muito que tenhas um dia bem passado. Que o comemores junto dos amigos e de alguma família que tens por perto.
Desejo-te tudo de bom como desejo para mim. Tu sabes.
Tinhamos o quê?! Catorze anos? Quando fomos da mesma turma do liceu?!...
Nunca mais me esqueci de te ver entrar na sala com uma bata branca diferente da nossa.
O logotipo duma cor um pouco mais esbatida e o branco menos branco. A textura também desigual. A nossa era de sarja. A tua parecia ser terylene. E abotoava atrás. Era uma bata muito ao lado da que exigiam.
Leram o regulamento interno do liceu, como o faziam todos os anos. Para ti era novo. Era o primeiro ano que frequentavas o liceu feminino. Não nos conhecias. Lembro-me de ti bem desconfiada.
Recordo-me da professora te chamar a atenção por causa da bata. Duma forma muito nazi. Simpatizei de imediato contigo. Não por ti. Por ela. Porque não gostava de ver alguém ser maltratado. Exposta perante uma turma inteira de alunas que já se conheciam de outras turmas e outros anos. Tinhas caído ali de pára-quedas e devias sentir-te muito diminuída. Eu sei bem como era aquela selva, naquele tempo. Ou lutavas por um lugar ao sol e eras chefe ou sub-chefe de turma e conquistavas um lugar de superioridade ou eras simpática, contavas anedotas ou fantasias que até inventavas,e tinhas também o tal lugar diferente e que te distinguia, ou eras barra, aluna de quadro de honra, ou então eras pisada, engolida.
Vivias na Vila Alice. Na rua da Churrasqueira, do " lugar " da Sãozinha, da loja do Adérito ( amigo do meu pai ) que eu conhecia muito bem. Que ia dar à loja pintada de cor de vinho, que vendia gelados de covetes, com um palito e sabor a groselha, na Senado da Câmara. Vivias com os teus imãos mais novos e junto dos irmãos mais velhos, cônjuges e sobrinhos de quem cuidavas, juntamente com os irmãos mais novos. Passamos a ir juntas umas por outras, liceu, casa, casa, liceu. Gostávamos dum canção que cantávamos e que nos fazia chorar " Angélita ", cantada em espanhol. Lembras-te?
Passava na tua rua e parava na tua porta para conversarmos, fora do período escolar. Quando deixamos de ser colegas, já éramos amigas. Do peito.
Foste estudar. Para a Escola de Enfermagem. Lembro-me que te acompanhei na primeira vez que ali foste. Depois ficaste interna. Encontrávamo-nos nas tuas folgas ou lá ou na avenida Brasil. Quando acabaste o curso e começaste a trabalhar no Hospital Maria Pia, na unidade de cuidados intensivos, quase não nos viamos. Depois separamo-nos. Mas o destino quis que viesses para minha casa. E procurássemos emprego para ti aqui. A primeira queda que dei neste país foi nas escadas da casa de Saúde, depois de ir pedir emprego para ti ao Dr. Carvalho e ao Dr. Bento, responsáveis e donos da referida Casa de Saúde. O Dr. Carvalho arranjou-te emprego. No Hospital do Entroncamento. Assim, sem sabermos ler nem, escrever, sem nunca nos ter visto. Como foram bons esses tempos. Estávamos sempre juntas. Mas o Entroncamento era pequeno para ti e partiste para Coimbra. Depois para o hospital de Sintra. Eu e a Milú visitamos-te em Sintra e foi a 1ª vez que fomos à Piriquita comer os tais pastéis tão afamados. Como vai longe esse tempo Julieta...
Mas não ficaste em Sintra. Passaste para S. José, em Lisboa. Também aí te visitei algumas vezes. De vez em quando vinhas a Torres Novas passar os fins de semana connosco.
Ainda não estavas em casa. Procuraste o caminho de casa toda a vida. E aventureira como és, partiste para a Suiça. Primeiro Lausanne e depois Genéve, onde estás.
A última vez que estivemos juntas foi em Genéve e tenho saudades. De ti. Sobretudo de ti.
Tu és especial. Um dia, nos meus anos, e não foi há muitos anos, acordaste-me às 5 da manhã para me dares os parabéns. E eu fiquei feliz. Parece estranho para quem saiba disto, para mim não, tu és assim. Quando fui ter contigo a Genéve, recomendei-te que chegasses a horas porque nem queria imaginar-me no aeroporto sozinha sem saber como chegar a ti. Ah sim, vou estar lá antes da hora. Pois o que é que aconteceu? Chegaste nas calmas, passados 20 minutos, seguramente.
Temos um episódio hilariante dos primeiros tempos de Portugal, quando vieste para t.novas para passares uns tempos connosco. Estávamos no quarto prontas para dormirmos. Várias. Para além de nós e da caçula, 3 primas filhas de um tio que viera de Moçambique. Para que não ouvissem as nossas conversas e porque estávamos às escuras, quiseste falar-me ao ouvido e sussurraste: Onde é que está a tua orelha? Eu pedi-te a tua mão para te orientares no escuro mas quis pregar-te uma partida e desviei-a. Foi tão patético, tão nojento, tão divertido que rimos à gargalhada perante a hipótese de me falares, em segredo, mas não ao ouvido. E as primas, as ricas primas furiosas pela nossa diversão, ameaçavam chamar os meus pais. Ainda hoje nos rimos deste episódio louco que nunca esquecemos e que é indicador da intimidade que nos une.
Dissete-me algo, que me emocionou muito, quando estive contigo em Genéve. E de que não me lembrava, mas tu, amiga, nunca mais esqueceste.
Que ao chegares a Lisboa vinda de Angola, em 1975 e me teres escrito, contando que estavas num hotel, pelo IARN e que não tinhas colocação, nem sabias o que fazer, eu te respondi: Vem para a minha casa. Falei com os meus pais e eles dizem que venhas. Vamos todos gostar que fiques connosco.
A amizade é isto, minha querida. Também(?) te devo umas e outras.
Hoje, gostava de te olhar nos olhos, bem de frente e dizer-te que sou feliz por seres minha amiga. Que te respeito muito. Que desejo que sejas feliz.
Gosto muito de ti Julieta e um dia, um dia vamos as duas tomar conta dos " teus " meninos, para Luanda. Esses meninos que a Fundação recolhe e cuida já. E outros e mais outros. Um dia o sonho de ver meninos de rua e desprotegidos crescerem com educação, instrução e amor tornar-se-á uma realidade bonita. Vais ver. Tu começaste, e se depender de mim eu vou fazer de tudo para te acompanhar.
Um bom dia de aniversário. Já tens 55 como eu, mas és uma menina formosa e bonita. Alegre e amiga. Parabéns e bebe uma taça de champanhe por mim.Tchim, tchim...

juventude

Olho os nossos jovens. Observo-os. Também fisicamente. São lindo os miúdos de hoje. Todos.
Ou são os meus olhos...e nós também o éramos aos olhos dos nossos pais, tios, avós, amigos?!
Os jovens hoje têm tudo para terem o Mundo nas mãos.
Há 40, 30 anos, era mais díficil ter só que fosse, metade do mundo sob o nosso olhar. Contudo eu achava que essa metade de mundo era minha.
Se eu tivesse a idade deles, hoje, tentava conquistar a outra metade.
Não é difícil ter o mundo nas mãos. Mais difícil é segurá-lo para que não nos escape.
Dificílimo é carregar o mundo nas costas.
Gosto dos jovens. E do mundo jovem, dos jovens.
Gosto deste tempo presente. Um pouco mais que do outro que vivi.
Gostava de crescer neste tempo.
Em suma, concluo que o que gostava mesmo era de ser jovem.
O resto tentava conquistar...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

as palavras

Inesperadamente recebi um correio.
Que gostava dos meus escritos, aqui do banco dos meus sonhos.
"" Que tara é essa, a dos bancos onde te sentas para " sonhares "? Os sonhos sonham-se melhor deitados" ".
E que sempre que lê os textos que têm como imagem um banco de pedra - " Parece que me chamas a mim para sonhar contigo. Sinto que podia ser comigo. Queria fazer essa viagem...
Sei que não é para mim, sei que não tem que ser para alguém, sei que afinal, são apenas palavras, que teimas em deixar escritas" ...
Eu poderia responder a este correio que me chegou inesperadamente. E dizer que não. Não é para ninguém. Não é para ele, pessoa que me mandou este correio.
Mas me apeteceu continuar, pegando nas palavras deste alguém que afinal não me inspira e sabe que não, e dizer que:
São palavras, que teimosamente quero desenhar. Eu que não sou artista. Palavras soletradas, copiadas, repetidas, deslocadas, intencionadas. Que quero largar como se largam papagaios às cores nos céus da esperança.
Fazê-las viajar nas asas do tempo. Numa viagem para o meu lugar de partida e de chegada.
Fazê-las chegar. A ti. Que sonhas também.
Tu, só tu as podes ler com a certeza de que são para te depositar no colo, quando te sentares no banco de pedra a sonhar. Comigo, ou sem mim. Numa liberdade que não combinàmos. Que está instituida.
São para ti, porque só tu conheces a cor dos meus sonhos se chamo pela mulemba. Ou se cheiro a acácia. Ou se olho a lua prateando a Baía. Ou se me arrepio no silêncio desértico da paisagem. Ou se remexo cinzas de um passado de memórias que vestem ramos de palmeira e sabem a coco e a maresia.
Só tu chegaste aqui e queres chegar além. Onde os animais se passeiam na savana, as hienas choram lamúrias de crianças, as lesmas procuram o caminho de casa, os peixes conversam no tanque, o sal das lágrimas se mistura com o das salinas, o poente é vermelho, o batuque se ouve dentro de nós, os galos cantam à meia noite, e as manhãs são brancas e perfumadas. Os cheiros são fortes, a luz é intensa, as nuvens carregadas, os cacimbos, bençãos.
Onde o sol é inspiração, o mar é uma canção e a terra um poema.
Só tu chegaste aqui e queres chegar além. Por isso são para ti as palavras que escrevo, quando quero sonhar no banco de pedra.