domingo, 8 de novembro de 2009

O gesto

Recebi uma mensagem que dizia - Só para dizer que estou na Avenida Brasil.
Fiz aquela cara feia e espantada que faço muitas vezes e fui ao fim. Ver o nome.
Relaxei, sorri, saboreando o prazer da surpresa boa, o cuidado, o gesto. Sei que disse alto- ohoooooooo, que amoroso.Olharam para mim. Não entenderiam nunca. Não sabem o que é isto.
O lábio tremeu, os olhos brilharam, eu sei, e apressei-me a responder qualquer coisa como- " estou cheia de inveja "...
Recebi uma chamada a seguir e estive a falar de Luanda com a minha surpresa. Que estava em Angola, que deixara o Algarve para viajar com a mulher, a Paula,que nem é angolana, nem nunca lá viveu, mas que adora lá ir. Que estava na casa dos amigos de que já me falara, na avenida Brasil,ali ao fundo, ao pé da minha casa, da loja do meu pai, junto da Cidadela. Que se lembrara de mim e de me fazer essa surpresa...
E eu rejubilei de felicidade. Por ele, por ter voltado a Luanda, e porque sou mesmo bafejada pela sorte, por ter pessoas a cruzarem o meu caminho tão generosas, tão altruístas.
Gestos como estes, fazem das pessoas de África, Escolhidas, por um Deus que acredito que é muito africano, muito angolano. Que bebeu connosco água do Bengo e se sentou na esteira, comendo funge com as mãos, correu como nós, atrás do carro da tifa, roubou maçãs da índia do quintal da vizinha, e foi aos pássaros com a fisga.
Este Deus que viajou connosco na ponte aérea em 1975 e que passou as nossas dificuldades mas que nos disse sempre que não adianta chorar, o que adianta muito é Acreditar.
Bem hajas, João, pelo dia diferente que me fizeste viver.

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