quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Creme de mãos

Há cremes e cremes. O creme que uso com maior agrado, é o das mãos.
As mãos são imprescindíveis. As mãos são uma mais valia nas relações próximas.
Têm uma linguagem bonita, própria e são indicadores da personalidade de cada um.
Gosto de pessoas que gesticulam, que se servem das mãos como forma de expressão, de movimento.A mão que manda um beijo, que acena em despedida, fala mais do que palavras.
A temperatura das mãos também é importante.O toque da mão no cumprimento pode valer uma aproximação, ou um afastamento.
Decididamente, prefiro mãos a rostos.
Há mãos que não esqueço.
As mãos da minha mãe...de uma subtileza no gesto, de um calor que protegia, de uma beleza de rainha.Tenho um apreço especial por mãos e também pelas minhas.Cuido delas com carinho, para que envelheçam com elegância.
Esta coisa das mãos vem-me de uma época de quase menina,quando privava com algumas pessoas que gostavam de divertir-se nas tertúlias, ouvindo fado e conversando muito, sobre política, sobre a sociedade e as relações interpessoais.
De vez em quando aparecia um advogado muito conhecido desta praça, inteligente, perspicaz e sedutor.Como bom sedutor, flirtava com qualquer mulher deste grupo de pessoas, do qual eu fazia parte.Um dia, já um pouco bebido apostou com todos como não advinhariam qual a parte de mim mais bonita, segundo o seu conceito de beleza. Achei ridículo e muito, muito machista este comportamento. Senti-me assim como se fosse gado.
Como ninguém quis apostar e muito bem, ele resolveu fazer render a fruta e foi dizendo: Gostam mais dos olhos? Ou dos lábios? Do cabelo? Pois eu não. O que esta mulher tem mais bonito em si, são as mãos.Ela tem umas mãos que falam...
Fiquei estupefacta. Os demais pediram-me que mostrasse essas mãos faladoras. Não fui nisso. Mais parecia fazer parte desse tempo em que infligiam às mulheres castigos horríveis e as tratavam como escravas fazendo-as abrirem a boca vezes sem conta, para mostrarem os dentes.
Reparei nas minhas mãos.
Ele provavelmente quis mostrar-me que eu tinha muito que aprender.E deu-me uma lição.
Eu batia as pestanas, sorria e atirava com o cabelo para trás, e julgava-me dona do mundo.
Esqueci-me das pessoas desse tempo, mas nunca mais me esqueci das minhas mãos.
Hoje, quando conheço alguém, dou comigo a olhar as suas mãos, porque tenho para mim, que a par com os olhos, elas são o espelho da alma.

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