domingo, 15 de novembro de 2009

Os vizinhos

Não vivo isolada no campo.
Vivo numa cidade, de província, vá, mas cidade.
E bonita.Tem Biblioteca, Palácio de desportos, Cine-teatro, centro comercial,auto estradas, para nos pormos a cavar dali para fora...
E tem castelo. E tem um rio. Bonito, com chorões na sua margem, com quedas de água e tudo.
E que foi palco de muitos concursos de pesca noutros tempos.
Tempos em que os vizinhos eram família.
Não conheço os meus vizinhos. Não lhes sei o nome sequer. Não me pedem salsa,um ovo ou um pouco de sal.
Mas até la tenho um colega de trabalho, de outros tempos, o único de quem sei o nome.
Nunca estou. Nunca precisaram de mim.A administradora do prédio é simpática.
Mora no andar abaixo.Passei muitas noites acordada porque os seus filhos choravam toda a noite.
Nas reuniões de condomínio tentam que eu seja responsabilizada por actos que não cometi.Tentam, " bater no ceguinho ".Tentam, mas não conseguem e arrepiam caminho.
Participo nas reuniões há pouco tempo. A única culpa que tenho é a da ausência. Não me zango com eles. Não sabem nada. Nem me conhecem." Não sou saco de porrada " de ninguém.
Mas estes são os que vivem no mesmo prédio que eu. Há os outros, aqueles que estão ali de frente, à janela, debaixo das persianas, vendo as luzes, esperando que automóveis parem em frente aos prédios, seguindo o percurso dos vizinhos até abrirem a porta, acenderem a luz e dirigirem-e aos seus andares.
Não acreditam? Vão passar uma semana à minha casa e verão como tenho razão e não estou a sofrer de mania de perseguição paranóica ou depressiva.
Eu ando entretida, desde sempre. Encolho os ombros e faço asneiras com os dedos para gente que não olha para dentro de si e não se observa, não copia comportamentos e não quer ser melhor, pelo exemplo.A minha distracção dura o tempo que tenho de Portugal. Porque se assim não fosse, caía na malha da mediocridade. É muito fácil.
Alguns dos meus vizinhos nem fazem por mal ( ? ). Querem ajudar. Querem proteger.
Senão vejamos.
Raramente chego à noite, que não chegue acompanhada. Há 3 ou 4 pessoas que me vão deixar em casa. Eles já as conhecem.São amigas e família, também.
Se acaso me detenho, uns minutos ( às vezes, muitas vezes, fico num namoro que dura horas, sobretudo com uma amiga do peito )ora, quando assim é, há luzes que se acendem, janelas que se abrem e cabeças que espreitam. Não sei o que se passa com o mulherio da minha rua que à hora que chego, dá-lhe para o cumprimento das obrigações. Fazem máquinas de roupa e estendem-na num orgulho desmedido de domésticas cumpridoras dos seus deveres.Também pode ser pela tarifa da noite.Para pouparem...
A mim é que não me poupam.E insolentes chamam a atenção." Alô, estamos aqui"...parecem dizer, correndo os cordéis da roupa naquele ruído metálico, num gesto zangado. Já me ocorreu tirar-lhes uma fotos, para mais tarde, recordarem, e oferecê-las no Natal próximo. Um gesto simpático, seria o meu... a perpetuar as tão apreciadas funções de uma mulher à beira de um ataque de nervos.
Tenho uma amiga, que as cumprimenta a cada noite com um sinal de luzes. Damos gargalhadas como putos travessos e sentimo-nos vingadas.
Recolhem à solidão das suas famílias. Batem os estores com violência, apagam as luzes e eu não consigo sentir nada, por gente, que na pressa de querer tomar conta da minha vida, não sabem como se encontrar.

3 comentários:

Ana Maria disse...

Clara,
Tá muito bom, essa dos vizinhos!

maria disse...

Alguns vizinhos são assim, sobretudo vizinhas, dor de cotovelo, muita, por seres como és.
Retratas neste texto, o que hoje são as pessoas que nos rodeiam. Antigamente é que era.

Unknown disse...

IGNORA-OSSSS.......

ADOPTA A FILOSOFIA DA VACA,K TA .... E ANDANDO