quinta-feira, 25 de março de 2010

Quotidiano

O " camarote " estava, esta manhã, irrequieto e divertido.
Sentei-me muito no meio desta diversão, porque o tempo estando mau, o autocarro enche-se de putos que não querem molhar-se a caminho da escola e este ia repleto de jovens.
Eles não se ralam comigo. Mais, ignoram-me.
Não sei o que se passa comigo, mas tenho chegado a horas. Tão a horas que um dos putos faz aquele sinal com a mão, muito cavalheiro, a dar-me passagem à sua frente.
Gosto. Gosto que me dêm passagem. Sinto-me bem tratada, com delicadeza. Que é o que vai faltando aqui e acolá. Não há como Luanda e os angolanos para no seu machismo tratarem as mulheres com esta deferência e outras.
Mas, então, uma vez sentada no meio dos imberbes tive que me sujeitar. Não, à presença mas ao seu linguajar.
E se eles têm a língua afiada e comprida...
Oiço-os todo os dias, vou perto deles, mas tão por dentro, nunca tinha ficado.
Hoje particularmente, estavam excitados. Percebi que o autocarro onde vinham, teve um problema. Um furo num dos pneus.
Diziam então assim:
Estava a ver que nunca mais chegavámos aqui.
Se perdessemos esta, a stora marcava-nos falta.
Sabes o que eu digo? Como dizem os mecânicos. A culpa é do carburador...

Quanto é que tiraste a Filosofia o ano passado?
Oito.
Então tens que tirar doze.
Como é que eu tiro doze?
Estudando...

Se Deus quiser, para o ano nesta altura já estou a tirar a carta e na faculdade, vai ser bués...

Essa gaja ainda anda na escola?
Ela vem para Torres, na camioneta, todos os dias.
Isso é para vir para o café.
Todos os dias?
Todos.
F.....que p...


Estás cada vez mais comprida, minha.
Qualquer dia vou p'ra te cumprimentar e dou-te uma cabeçada nas mamas...

Eh pá, esse gajo a jogar futebol é cá uma bicha!...

Eu é que não jogo mais futebol aqui.
Porquê?
No asfalto, meu, não.
A última vez, com as sapatilhas rotas, arrancou-me um bife...
Deixa lá que eu nesse jogo fiquei com menos 3 quilos de carne...

Depois, sairam divertidos e descontraídos, para mais um dia de escola onde pode acontecer de tudo.
No autocarro nada aconteceu de novo, até chegar ao emprego.

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