sábado, 19 de dezembro de 2009

Uma História

Quando estava em Luanda, ouvi uma história que me encantou.
Contaram-ma e eu prometi que a escreveria no blog.
Uma miúda de 16, ou 17 anos teve o seu primeiro namorado ali, na Luanda de outrora. Foi aquele primeiro amor sem consequência. O que hoje se chama, Amigo Colorido. Durou meses, talvez não chegasse a um ano. Acabou porque tinha que acabar. Eram uns miúdos. Ela era branca e ele mestiço.Ela encantou-se por outro, um homem já, com emprego e tudo. Que cantava canções e tocava guitarra. Entre elas,as canções, a do bandido. E a miúda foi na cantiga e acabou aquele romance de príncipe e princesa que foi o seu primeiro namoro, com sabor a proibido, pela cor de ambos.
Também não foi bem sucedida nesse segundo namoro, mas a história nada tem a ver com isto.
Deixou Angola muito depois do primeiro namoro ter acabado. Nunca mais viu esse seu príncipe mestiço. Nem soube dele. Nem perguntou a ninguém. Passara ao passado.
Depois da guerra terminar, voltou a Angola e esteve com pessoas que conheceram o tal príncipe que ficara a chorar quando ela o deixou.
E manifestou vontade de o voltar a ver. Quis saber dele. Ficara sempre aquela coisa amarga de não se ter portado bem. Tinha essa conta para ajustar.
Uma dessas pessoas, tinha o número do telefone dele e pô-la a falar ao telefone ao fim de muitos, muitos anos.
Ele podia não se lembrar dela, podia não querer falar com ela, mas ainda assim ela falou.
Cumprimentou-o e disse-lhe que queria saber dele, falar-lhe. Que ele a conhecia e que estava a viver fora de Angola.
Ele gaguejou um pouco, pediu-lhe que falasse um pouco mais porque queria perceber quem era. E segundos depois disse-lhe que só podia ser...ela.
Ela...fraquejou. Emocionou-se quando ele disse o seu nome.
Perguntou-lhe como sabia que era ela.
Ele respondeu-lhe que ela fora o amor da vida dele. O único amor que sentira, o mais forte.
Ela assustou-se. Pela atitude que tivera. Não queria ouvir aquilo. Só queria saber dele. Como estava, o que fazia, enfim...só queria deixar de ter remorsos, por o ter deixado a chorar numa noite em que lhe dissera que ele já não era o seu príncipe encantado.
E ele falou dele, da sua vida depois dela, do que fizera todos estes anos, que fora a Portugal e fora à sua procura. Que tinha um hoby que gostava muito.Compunha música, escrevia letras e tocava piano entre outros instrumentos. Afinal, como o namorado, ex, depois, por quem ela o tinha deixado.
Quis saber dela e ela contou o que achou oportuno, contar, apenas. Ele também não quis saber mais.
Ficaram assim. Ele quis vê-la. Ela aceitou, mas sabia que não. Que não seria prudente. Para que não houvessem equívocos. Ficaria para uma próxima. Quando ele não lhe falasse de amores passados nem pusesse no futuro, possibilidades.
Ouvi esta história e prometi contá-la porque a achei deliciosa.
Na minha terra acontecem histórias de encantar, com pessoas encantadoras, que têm memória dos afectos e não têm medo deles. Na minha terra há gente corajosa que enfrenta os fantasmas para se livrar deles.
As histórias nem sempre têm um final feliz. Eu, creio, que esta teve.

2 comentários:

maria disse...

Feliz, feliz era se a mulher da tua história se reapaixonasse pelo príncipe mestiço.Mas isso só nos filmes, não é?
Concordo contigo. História bonita esta.Não há só em Angola, nem só com angolanos, histórias destas, mas tu quiseste torná-la mais bonita, com gente da tua terra não foi?
Percebi que chegaste bem, agora, é tocar a vida para a frente até nova viagem. Bjos Clarita. Já tinha saudades tuas.

m.c.s. disse...

Maria, esta história é verídica, digo-te eu e eu não tenho por hábito mentir. E aconteceu em Angola, tal e qual como a narrei. Salvaguardo a identidade dos intervenientes, como é óbvio. É uma história, não interessa quem a protagonizou.Uma história simples, deliciosa, inocente, como inocente foi o que uniu estas pessoas.Bjs e bom fim de semana.