quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

( In ) conformação

Fiquei para o fim. Apenas ficámos três funcionárias e a senhora da limpeza.
Esta anda muito cansada, abatida e triste.
Das minhas colegas, uma é a que me leva para a terra onde vivo, todos os dias.
A outra, conheço-a há muitos anos. De um tempo em que éramos todas felizes. E mais novas. E sonhávamos a cores futuros empolgantes,fantásticos, mais ricos.
Tinhamos vidas parecidas e desejávamos vidas parecidas também. Os nossos filhos eram muito pequenos e os nossos medos enormes face ao seu futuro.
Hoje estamos no Natal.
Senti-me a estrangular. Que se diz a pessoas que têm uma cruz tão grande, tão má, tão pesada e penosa, a propósito do Natal e de um Ano que acaba e outro que se aproxima?
Porque a minha velha e antiga colega e a senhora da limpeza estão a passar o diabo.
Ambas e cada uma têm a fatalidade nas suas vidas e esperam. Ou já não esperam.
E hoje senti culpa de estar bem, apenas um pouco melancólica com a aproximação do Natal. A minha melancolia é uma felicidade comparada com o sentimento que une estas duas pessoas, cada uma por si.
Vá, um Santo Natal.
Quem me dera já a 2ª feira, Clara. Disse-me a minha colega.
Os dias vão passar no seu tempo. Aproveita este Natal, querida, que tenham uma noite calma e em paz.
As lágrimas saltaram-lhe dos olhos, vindas do coração cansado e sofrido.
De manhã quando lhe dei um mimo em forma de lembrança, como faço há muitos anos, desculpou-se dizendo que não dava nada a ninguém, não tinha cabeça.
Esta mulher tem cabeça e corpo e coração e alma e dava parte do que tem para não ver partir a pessoa com quem se uniu e jurou amar e respeitar até que a morte os separasse...
A senhora da limpeza, nas mesmas circunstâncias tem o sofrimento marcado no rosto, um rosto que envelheceu anos, em poucos meses.
O que se diz, nesta quadra natalícia a dois seres em sofrimento pela perda que vêm antecipada?
Mentalmente, digo asneiras. Todas, cabeludas.
Porquê? Porque é que estas pessoas têm que sofrer tanto?
A elas desejo que consigam ultrapassar estes momentos, com calma.
Saí hoje do emprego para regressar apenas no dia 29.
Saí com o coração partido e com culpa por estar bem.
E senti-me deprimida.
Que Deus ajude estas pessoas e lhes dê um Santo Natal.

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