terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Josefina

A Josefina apareceu-me de repente. Sorridente e bem disposta.
É minha protegida. Angolana. Negra como tição.Cabelo quase rapado, elegante e bonita.
Está em Portugal há 18 anos. Tem 3 filhos. A última não conhece o pai.
E diz que tem pena. Porque os colegas todos falam dos pais. Menos ela que nunca o viu.
O homem da Josefina foi embora, fugindo. Para Angola, mas fez asneiras e foi preso.
Ela há muito, nada sabe dele. Apenas que está preso em Luanda.
Bem feito. Me abandonou a minha mais nova estava na barriga. Não presta. Eu criei os meus filhos sozinha.
A Josefina chegou ao balcão, viu-me e o rosto iluminou-se, azulando-se.
Apontou com o dedo na minha direcção.
Olha ela, já voltaste?
Ri-me. Sei que ela quando ali vai quer um favor qualquer.
O que é que a traz cá?
Recebi isto, mostrando uma carta.
Vim a semana passada te procurar mas a senhora não estava. A sua colega diz que foste em Luanda. Aquilo lá está bom?
Demais, Josefina. Tem que voltar e levar os seus filhos.
Eles não querem ir. Tambem, não tenho dinheiro, fazendo o gesto com os dedos.
Fiz-lhe o requerimento. Ela mal sabe escrever, assina o nome e viva o velho.
Para dizer a data de nascimento do pai dos filhos e o número do BI.
Ria nervosa perante as minhas perguntas.
Não sabia quantos anos tinha e a data de aniversário do ex companheiro.
Este deixara de pagar a pensão aos miúdos.
Telefonou ao mais velho.
Os anos do teu pai, sabes?
Euê também não sabes? Onde já se viu? Filho que não sabe o nascimento do pai...também, muito bem feito, ele vos abandonou. Agora está lá na prisão.
Josefina, tem mais algum filho?
Deus que me livre. Só 3. A pequenina estava na barriga quando ele fugiu.
Não quero mais homem.
A Josefina é uma mulher bonita. Trabalha numa fábrica de confecção e os filhos andam na escola. O mais velho no 12º ano. Vai tendo ajudas.
Quer mostrar-me o filho mais velho que passa por ali a caminho da escola, todos os dias. Deve ser o seu orgulho. Diz-me: É um menino alto que passa aqui...
Fiz-lhe o requerimento e não comprovei a assinatura com o passaporte ou cartão de residência. Ela é conhecida em juízo. E é minha protegida. Porque é angolana e simpatizei com ela. E esta terra é uma selva.
A Josefina, despediu-se agradecendo mais uma vez.
Tenho nela, uma amiga do peito.

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