terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A D. Vitória

Os putos da escola secundária estão de férias.
O motorista do autocarro está de férias.A este, não conheço.
Somos seis pessoinhas para um autocarro enorme. O costume.
O autocarro estava frio, os bancos gelados. Eu, não me importo.
A D.Vitória, uma mulher relativamente nova, funcionária do Hospital, queixa-se constantemente da chuva, da humidade, do nevoeiro e do frio.
Hoje, o frio incomodou-a. Esteve muito tempo à espera, entre o autocarro dos Riachos e este.
Por norma nem se ouve. É tímida e vai metida com ela, num silêncio que ninguém quebra.
Foi uma surpresa ouvi-la, alto e bom som, do fundo do autocarro.
Sr. Motorista, ligue o aquecimento porque senão chego doente ao Hospital.
Vitória da minha alma, saidinha da casca...quem havia de dizer. E com piada, sim senhora.
Todos riram. O motorista não percebeu.
Doente, ao Hospital?
Sim senhor Motorista, não quero chegar doente.
E ele: Quer aquecer? Venha aqui para a minha beira que está cá quentinho.
Olharam todos uns para os outros.
Querem lá ver o parvo do motorista?!...dizer estas coisas à Vitória, tão calada, tão certinha, tão coradinha de vergonha que ela ficou...
A Vitória sai na mesma paragem que eu.
Saiu à minha frente.
Ao passar pelo motorista este disse-lhe:
Ponha aqui a mão.
Abri os olhos de espanto. Mas não. Ele estava inocente. A caixa que sustenta a máquina dos bilhetes, escaldava. Vai-se lá saber porquê.
O Sr. Motorista quis brincar com a Vitória, respondendo-lhe à letra, mas que se ia dando mal, lá isso ia, porque as pessoas da D.Vitória estavam atentas e afinal, não é por acaso que viajam juntas há vários anos.

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