quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A minha amiga Milú

A minha amiga Milú, levou-me ao aeroporto.
Entrou comigo. Pôs o cartão ao peito e aí vai ela, de braço dado comigo.
Fazer o check in. Mas antes, passamos pelo homem que está à porta, para começar o percurso que nos leva à sala de embarque. Um dos homens que naquele dia em que precisava ir ao quarto de banho, lhe cantei a canção do bandido e me deixou passar sem qualquer identificação.
Desta vez, mostrei o passaporte e o bilhete de avião. Nem olhou para mim. Olhou sim para o que a minha amiga levava ao peito.
Depois chegámos perto da passagem com a mala, onde podem abrir-nos a mesma e criarem-nos " purblemas ", se quiserem. Vai sempre algo a mais, que não deve passar, artesanato, kitutes da terra...
Tambem aí não fui barrada. Depois ainda, e uma segunda vez, mostrei o passaporte e o bilhete de avião. Por fim, ao balcao, um, entre vários a funcionarem e bem, que me atendeu. Uma senhora morena, bonita e conhecida da minha amiga.
Saimos para a rua, para o exterior do aeroporto. Ela, a senhora que me atendeu, disse-me que deveria entrar na sala de embarque às 19 horas.
A minha amiga não quis que eu entrasse tão cedo. Que ia ser uma seca, sozinha lá dentro.
Mas quando passaram das 19, comecei a ficar inquieta.
A tripulação foi chegando. Parando, para cumprimentar a minha amiga.
A minha amiga Susete, finalmente apareceu.
A minha amiga Milú disse-lhe que levasse os meus doces de coco e os sacos de paracuca, para que entrasse com eles.Depois resgata-lo-ia.
Percebeu que eu estava muito inquieta. Não queria chegar tarde ao avião.
Perguntou-me se não tinha já feito o check in. Se o avião ia sem a tripulação e esta ainda não tinha passado por nós.
Não costumo viajar com muita àvontade. Mas para Angola e vinda de Angola, não tenho medo.E por isso, se era para ir embora, então quanto antes. Aquele tempo de espera é difícil de suportar. A minha amiga, entrou de novo comigo. Tivemos o mesmo procedimento. Não pôde avançar mais do que a porta onde estavam os polícias a ver as bagagens. Ficámos ali num canto. Era hora de nos despedirmos. Despedirmo-nos em Luanda, não é a mesma coisa que em Lisboa. Ali é mais sentida. Pela minha parte há um reconhecimento, uma gratidão muito forte, uma pena enorme de a deixar naquele lugar.Uma perda profunda desses momentos bons, cumplices, que sempre tivemos, desde miúdas. Das nossas confidências. Dessa coisa bonita de sermos nós próprios sem qualquer máscara, porque os nossos amigos conhecem-nos tão bem que percebem quando não somos postissos, a fingir.
Como que duas mãos encaixando os dedos uns nos outros e unindo as palmas.
Na hora da despedida, disse-me que eu estava muito melhor, quase lá, que ia conseguir fazer melhor e ser melhor.Que ia conseguir...
Esta força que ela me dá, acreditando em mim, permitiu que eu não dasabasse milhentas vezes na vida. Ainda hoje, percebeu como me sinto e brincou, escrevendo nos vários posts, comentando com a linguagem dos adolescentes e do povo, que fala com tanto calão que já nos escapa até a idéia.
Porque será que o ser humano quando se despede de alguém, ainda olha para trás, na esperança de qualquer coisa, como que querendo não partir, pedindo ajuda, talvez...
Eu antes de desaparecer numa porta qualquer, olhei para trás e ela estava lá, dizendo-me adeus com a mão.
Sorri-lhe com os olhos cheios de lágrimas.
E tive a certeza de sempre. Que tenho uma amiga de verdade. Como se fosse a minha própria sombra.
E tive a certeza de que estará sempre lá, no sítio que a deixei, à espera que olhe para trás.

1 comentário:

Anónimo disse...

AMIGO
EH UM PRESENTE QUE DAMOS A NOS
MESMOS