terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Parabéns Tio

Os meus heróis são todos no masculino.
Ou por outra, a maioria é do género masculino.
O meu avô, o meu Pai, o Paulo e o meu Tio.
Este último, hoje é o primeiro.
Porque completa mais um ano de vida.
Porque está de parabéns e bem o merece.
Lembro-me dele ainda andava ao colo da minha mãe.
Se calhar, porque era muito mimalha.
Porque se calhar, à semelhança, ainda, de hoje, estava sempre a pedir colo.
Ou se calhar porque tinha 3, 4 anos talvez, mas não mais. E a mãe, dava-mo.
Chorei que nem uma madalena ao colo da minha mãe, quando ele foi para a tropa, para o mato. Esteve em Cabinda, Silva Porto, e depois mais tarde no Andulo.
Tenho presente o momento em que se queria despedir de mim, pedindo-me um beijo e eu chorava desalmadamente, já com saudades dele.
Depois, quando foi para a Polícia. E trazia das terras por onde andava bichos, como galinhas do mato, às pintinhas, águias, gansos, tudo vivinho da silva, que se passeavam pelo quintal fora, até as entregar a quem de direito, que era um comissário ( Mira Godinho )seu amigo, que vivia ali para os lados do Cruzeiro e tinha um verdadeiro jardim zoológico.
E lembro-me de o ouvir cantar uma música de que era fã, e que passava na rádio a toda a hora - Fica comigo esta noite, e não te arrependerás, lá fora o frio é um açoite, calor aqui tu terás, terás meus beijos de amor, minhas carícias terás, fica comigo esta noite e não te arrependerás...
Seria mais ou menos assim, mais tanga menos tanga.
E de dançar tango na minha sala de jantar. E querer ensinar-me a dançar. E jogar à bola com o meu irmão e ser um pesadelo para a minha mãe, que cada dia, acendia o fogareiro para pôr a panela do feijão a cozer e às vezes a bola ia lá parar...e entornava-se o caldo...
Depois, o seu casamento. Ele lindo, com um penteado formosíssimo, que o barbeiro, o Sr. António fez. Com secador e tudo, e laca, muita laca para que não saisse um cabelo do lugar e ela maravilhosa. Ele dizendo-me que deixaria de lhe chamar, a ela, Fernandinha, para lhe passar a chamar tia, e foi o que eu fiz até hoje. E tem sido minha tia adorada.
De seguida, os filhos. O mais velho, que nasceu a 10 de Setembro, num sábado à tarde. Na maternidade de Luanda. E a sua alegria a dizer-mo...depois o mais novo, que nasceu na véspera de Natal e foi o culminar da alegria.
E era a única pessoa que me arrancava de casa e da austeridade do meu pai sem sequer lhe pedir. Quando o meu pai dava por isso já ele estava a dizer que íamos.
E iamos para a praia do Sol, e íamos ao cinema, ao Cinema da Polícia e iamos ao futebol.
E levava-me ao Cazumbi, aos domingos, ali na cinema Miramar. E não sei porque razão achava que eu tinha boa voz e inscrevia-me no concurso para cantar. Era amigo da Alice Cruz, que apresentava o concurso e fazia-me dar-lhe um beijo.
E adorava quando me comprava caixas de bolos na pastelaria Royal ou na Detinha. E quando eu e o pai de manhã, à 2ª feira íamos tomar o pequeno almoço à Baixa, ao TIJUCA, mesmo em frente ao Comando da Polícia, ali junto à Lello e ele ia ter connosco. E comíamos pregos no prato, com picles, azeitonas e ovo estrelado. E empadas com galinha e ovo cozido que vinham da Royal.
Sempre me tratou por " filha " com um carinho bom, de irmão mais velho, Sempre me abraçou protector e amigo, na rua, e sempre me protegeu.
Houve 3 homens na minha vida que eu Amava de paixão. O meu Avô, o meu pai e o meu tio Augusto.
Os outros já partiram.O tio Augusto hoje completa mais um ano de vida. Graças a Deus.
Porque Angola tomou o rumo que tinha que tomar, de ser um país livre e independente, os portugueses partiram. E com essa vinda para Portugal, ficámos afastados uns dos outros.
Procuro, apesar disso estar sempre presente. Telefonando ou aparecendo lá por cima, onde vive, quando me é possível.
Quando lhe falo ao telefone, quase sempre me diz - Clara, tu és aquela máquina, nunca te esqueces, salvas a honra do convento, filha.
E eu que sou sua sobrinha, sinto-me uma filha de facto, porque o amo como se fosse o meu pai. Um pouco mais novo. Apenas 16 anos temos de diferença, mas um pai que na sua estima por mim, sempre provou que estaria à altura de o ser. E não sendo" aquela máquina " tenho o cuidado de não me esquecer. E tenho a alegria de lhe falar de vez em quando e saber como está. E sei que está bem. Que não envelhece porque participa nas coisas da terra, da autarquia. E lê jornais, e viaja, e está sempre informado e dá gosto ouvi-lo... e dava um político de mão cheia. E é um pai exemplar e tem uma mulher admirável, que é a tia Fernanda...e netos.
Hoje faz anos e eu desejo-lhe muita, muita saúde. E desejo-lhe todo o bem do Mundo.
E um dia destes vou fazer-lhe uma visita. Me aguarde querido tio, porque quero falar-lhe de Angola e da minha viagem. E dizer-lhe que me lembrei dele e da nossa conversa antes de embarcar. E contar-lhe que o sobrinho Filipe adorou conhecê-lo e me falou muito bem dele, o que me encheu de orgulho. Reconheci-o nos elogios que lhe teceu, ali em Luanda.E eu pensei de lágrimas nos olhos. - Ontem como hoje ainda se fala do tio Augusto em Angola -
Os meus heróis serão eternos, porque por algum motivo são Heróis.
Parabéns...

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