terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Uma Aventura

Uma aventura na cidade do Almonda, hoje pela manhã.
Que falta de criatividade!
Mas que foi uma aventura, lá isso...
Percebi assim que pûs o pé na rua, que seria tarefa difícil, o meu percurso até à Rodoviária.
Chovia, e bem.
Não fosse o dinheiro fazer-me jeito, quer dizer, falta, muita falta, nem que seja para chapéus de chuva, botins de borracha e impermeáveis e hoje ninguém me tirava de casa. Do aconchego do lar, onde a minha Pitanguinha ficou só e abandonada.
Mas dizia, que, o dia não estava propriamente a acenar-me com luva branca nem sorrisos pepsodent.
Percebi que teria de avançar pela chuva dentro, ou fora, e fi-lo desafiadora, atrevida e empertigada.
Não teria andado 200 metros e um ás dos volantes, brindou-me. Com um molhado e nojento banho de água e lama. E eu brindei-o espumando de raiva com um f.d.p. bem encorpado, como se tivesse a boca cheia de favas, mas para dentro de mim, muito, muito baixinho, tão baixinho que nem eu ouvi. Mas que foi um alívio, lá isso foi.
Logo ali decidi que teria que enfrentar o TUT até lá abaixo. Um risco, claro, mas o que é um TUT ao pé de uma manhã de temporal? E depois, todos os inteligentes ou com pretensões a sabichões dizem que a vida é um risco , e que o BOM está para além do risco. A seguir ao TUT só via o " meu " autocarro de todos os dias, mas pronto, quem sabe...
E eis senão quando o projecto de autocarro chega e o motorista, uma agradável surpresa, uma menina modernaça, que me sorriu. Já estava a correr melhor. Pediu-me então 1,25 €, pois então, que é uma pressa e lá me deixei estar bem perto dela, em pé. Nem queria olhar o povo cinzentão que se passeia pelo TUT desta manhã. Nem queria olhar...uma senhora toda vestida de negro disse-me que estava ali um lugar. Mesmo ao lado dela. Ai, ai, ai, tudo o que eu não queria. A envolvência, aquela coisa da familiaridade, do sorriso, do toque da carteira no seu colo, do desculpe se estou a incomodar, do vai para onde? Ou mesmo, conheço-a? Ah, é dali do T......., já há muito tempo que não a vejo, e os meninos estão bem? E pronto, lá vêm outras perguntas,que eu conheço-as bem.
Em vez disso agradeci, sim, e fui sentar-me. Tranquei a cara, sem dar hipótese, mas não pude desligar o meu sentido apuradíssimo. O olfacto. E surgiram então todos aqueles odores estranhos, desde cheiro a guisado, a nafetalina, roupa guardada, e mais não digo...
Não deixei de pensar que o povo do TUT é todo igual. Sempre.
Mas hoje, mais igual que nos outros dias.
Tinha pensado no passe, para dias como este, mas não. As ruas da cidade do Almonda estão muito bem, e eu sei andar nelas. Depois a chuva é uma benção, o Inverno qualquer dia vai embora e blábláblá...a única coisa de que tenho a certerza é de que ninguém me obriga a andar no TUT só porque tenho passe. Não aos passes, portanto.
Mas nos 8 minutos em que viajei, eu povo, no meio do povo, não evitei pensar que eu ando para lá de pensativa, que é um desconforto. E muita resignação.
Não, nunca tirarei passe para o TUT, chova a potes, a cântaros ou até canivetes.
Não tenho nariz que aceite guisados pela manhã e outros odores afins, nem estômago para a conformação.
Cheguei ao meu destino molhada que nem um pinto, ou uma galinha.
Muito infeliz e zangada com a manhã.

Continua a chover, mas já estou a salvo, ou não...

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