A Fuga da Pitanga

Há a fuga das galinhas, a fuga dos Judeus, mas " A Fuga da Pitanga "...ia sendo o filme mais dramático dos últimos tempos.
Chego à triste conclusão de que a minha Pitanguinha anda insatisfeita. Curiosa. Talvez saudosa do que teve antes de me conhecer. Anseia liberdade.
Não quero ser injusta, mas parece-me que também não é muito leal nem grata.
Será que estou a ser muito injusta? Se não vejamos.
Eu estava num sufoco, já sofrendo por antecipação e do que eu precisava mais era de um mimo, um colinho de gata, pois esta contrariedade vai ser complicada de resolver.
Chamei-a. Para lhe dar de comer. Para sair de seguida. Ir à minha vida que ela não come de borla. Não respondeu. Ouvi um miar muito sumido. O meu coração disparou. Sentia-o na garganta, na cabeça.
Único e rápido pensamento - A Pitanga " pirou-se ". Abri a porta, louca da vida.
Ouvia o miar muito mais nítido. Desci ao 2º andar. Nem vestígios. Desci ao 1º sempre chamando. Estava já virada para cima, a caminho de casa, olhando para mim muito de frente, enfrentando-me sim, sem medos, sem remorsos, desafiadoramente.
Agarrei nela e apeteceu-me ajustar contas logo ali. Pensei para mim - Já conversamos minha atrevida ingrata, minha siamesa duma figa. És torta e eu não consigo pôr-te na linha...
Mas o meu coração não me permitiu esse confronto, essa conversa de " ao pé de orelha ".
Nem o tempo, também.
Vim trabalhar como sempre, no transporte de sempre, porque Deus dá a roupa conforme o frio. Mas fiquei a pensar nisto. O que a Pitanga fez não se faz. Apanhar-me distraída, fragilizada e " bazar ".
Isto pode ser independência, curiosidade, saudade, desejo de liberdade, mas também é desamor, ingratidão, deslealdade. Não vos parece? Digam-me se estiver errada.