domingo, 24 de janeiro de 2010

Nas Urgências


Acompanhei uma pessoa doente, à Urgência do Hospital da Luz.
Ali tudo é melhor do que nos Hospitais Civis de Lisboa.
Tudo, não será.
O que eu quero dizer é que estes novos hospitais particulares, são mesmos novos, modernos, limpos, organizados.
Os senhores do atendimento parecem mais bem pagos.
Não têm aquela tristeza, aquela culpa estampada no rosto que os outros, os funcionários públicos exibem.
Conduziram-nos a um piso onde a consulta de especialidade se fazia.
Que o médico viria chamar.
Que esperasse na sala própria.
Enquanto esperava, ouvi um telefonema.
Estava uma criança para nascer ali ao lado.
A avó esperava, como eu, mas com uma ansiedade redobrada.
Adivinhava-lhe a alegria.
Acto contínuo, os meus olhos encheram-se de lágrimas.
Foi como se estivesse a descascar uma cebola.
Sem querer. Sem pensar.
Um acto reflexo.
Depois sim.Foi tudo pensado.
Pensei que poderia estar naquele lugar, eu, esperando o nascimento de um neto.
Pensei no nascimento dos meus filhos.Já lá vão tantos anos...
Ao longo dos tempos, não tenho esperado em salas de hospitais por nascimentos.
Os filhos das minhas amigas, nasceram longe de mim. Da família, os que nasceram não eram tão íntimos assim que me fizessem ansiosamente esperar numa sala de hospital.
Os meus sobrinhos nasceram numa fase em que também eu tive os meus e andava distraída com os seus nascimentos.
Descobri hoje que essa ansiedade, essa alegria de contar os minutos para ver um rostinho pequenino, uma pele macia, um choro parecido com o miar de um gato, uma coisa muito fofinha, frágil e ao mesmo tempo poderosa, nossa, que não parimos, mas que o faríamos para poupar dor e sofrimento à parturiente, eu nunca tive.
O mais perto que estive da ansiedade de esperar que uma criança nasça, para a conhecer, para lhe pegar, para a sentir, foi da Teresinha, a menina da Aurora.
A Aurora é mãe do Rafael. O Refael está com a Manuela. E a Manuela é minha amiga...
Tudo simples mas ao mesmo tempo complicado.
Hoje, mesmo sem querer, pensei na possibilidade de ser avó.
E gostei muito da sensação que adivinhei naquela senhora mais ou menos da minha idade que esperava que o seu neto nascesse.
Mentalmente, desejei uma hora pequenina àquela mamã.
E tudo, tudo de bom.

1 comentário:

Anónimo disse...

Amiga percebes agora porque sou positiva mesmo nos momentos dificeis???? porque esse é mais 1 dos motivos porque me considero RICAAAA.... vivi «N» momentos desses com a chegada dos sobrinhos e hoje já os tenho revivido com os sobrinhos netos....é uma sensação ainda maior, mais intensa, olhas para akele ser frágil lembras-te a mãe ou do pai, procuras e encontras centenas de semelhanças com ela(e), e emocionas-te...a familia aumenta, é mais um(por enquanto só tenho sobrinhos netos-4-), k se vai abraçar a ti, aninhar no teu colo, chamar-te «tia»
É GRATIFICANTE, e enriquece a minha vida