segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Para lá da janela

Sou curiosa.
Gosto de saber, ter conhecimento, poder estar a par.
Gosto de observar o que fazem as pessoas, quem são, para onde querem ir, o que as faz serem como são.
Tenho verdadeiro deslumbramento pelos prédios do Eixo Norte/Sul.
Pelo interior desses prédios. Pelas casas das pessoas que ali vivem. Pelas pessoas.
Pelo que há para além da janela, da porta, da varanda...
Os quadros das paredes, as estantes cheias de livros, os candeeiros pendurados nos tectos.
Se calha passar ali noite dentro, ou de madrugada, e há luz nos diversos apartamentos, eu olho. Como se fosse a primeira vez, como se fosse criança.
A altas horas da noite, vêm-se mais homens do que mulheres.
Concluo que estes, se deitam mais tarde.
E estarão a trabalhar? A ler? A escrever? No computador? Vendo televisão? A comer?
Quem são estas pessoas? O que fazem? Como vivem? O que querem? O que esperam?
As vidas são para serem vividas por cada um.
Eu quero viver a minha.
Mas o fascínio sentido por outras vidas, quem sabe algumas vividas de forma tão vazia, tão solitária, ou tão intensa e preenchida, não o quero perder.
Quando passo no eixo norte-sul de noite, a luz, a janela aberta, a ausência de cortinas, permite-me que entre um pouco nessas casas, como uma brisa ou uma pena branca de pássaro. Sem ser notada, sem estar escondida.
Não penetro na vida destas pessoas nem nas suas casas. Não interfiro.
Isto são taras minhas.
Encantamentos pelo que não está claramente exposto.
Se acaso passo no Eixo Norte/Sul e não dou por isso, é porque estou ocupada a responder a questões que habitualmente coloco aos outros.
O que quero, o que faço, como faço, onde estou, para onde vou, o que sinto, o que quero sentir, o que vivo, o que quero viver...

1 comentário:

Unknown disse...

Clara: este teu escrito trouxe-me à memória as "janelas" de Maluda...
Beijinhos