segunda-feira, 9 de agosto de 2010

recordação


" Pápá, mira como nado! "
Como se a voz estridente da criança, saisse de um túnel, ouvi-a a uns metros de mim.
Ainda não almoçara mas passara já pelas brasas. O tempo ameno, encoberto, mas com algumas abertas, com o sol nesse jogo de esconde-esconde, vindo tocar-me ao de leve e provocando essa sonolência preguiçosa e doce e ouvindo Zeca Baleiro saindo do meu (?) MP3, acordei completamente, com a voz da " chica " chamando a atenção do " pápá ", que me pareceu mais o avô, e isto é só uma constatação, porque não serei eu a educar a criaturinha, logo não tenho nada a ver com isso. O papá em questão passou os 60 há algum tempo e " mirava a chica " enternecido e paciente.
Aproximou-se da piscina e num de repente a dar para o precipitado mergulhou indo juntar-se à filha.
Foi então que me lembrei de pessoas que gostam do mar, ou de nadar.
A ouvir Ócio do Zeca Baleiro, só podia lembrar-me de alguém que me apresentou esta música linda e que andará a braços nadando ou não, com água salgada e barcos e pesca e lazer, e binóculos, talvez nos mares do sul, de um sul mais a sul que este sul,observando os albatrozes em vôos rasantes.
E também me lembrei de alguém que fez várias tentativas para que eu aprendesse a nadar e a mergulhar, nos mares do sul, mas menos a sul que o outro sul, ali na contracosta, em frente à praia da Floresta, na Ilha de Luanda.
Ambas angolanas estas pessoas surgem-me como que em sonhos, que sonhei faz tempo e que guardo em gavetinhas que tenho no coração. Ligadas ao mar, permanecem no horizonte que observo quando estou tranquila e não preciso de nada. Apenas abrir essas gavetas e espreitar.
A " xica " e o " pápá " aproximaram-se das minhas lembranças, e afastaram-nas. Com a máquina fotográfica, ele esticou o braço e pediu-me que lhes tirasse uma fotografia.
Acedi, sorrindo. E sorrindo pensei que uma fotografia é o suficiente. Uma imagem, um gesto, ou uma música, para mais tarde recordar...

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