segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A senhora é de lá?

Um casal entrou e parou em frente a mim.
- Queremos registos criminais. Três.
- Para quem?
-Para mim, minha mulher e minha mãe.
- O fim a que se destinam?
-Aquisição de nacionalidade estrangeira. Angolana...
Quando disse isto vi-o. Até ali olhara mas não vira. Eram números. 3 para a minha contabilidade. Eram 10,50€.
Ainda assim, segurei-me e de mim para mim enquanto entrava no sistema e me preparava para introduzir dados, pensava: - maria clara, deixa para lá as pessoas. Não faças perguntas nenhumas sobre Angola. Vá lá, só desta vez, deixa as pessoas sossegadas. Quase consegui. Mas a mãe da criatura entrou e é já minha velha conhecida. De tirar vários r.cs. para ela e filhos e as minhas boas intenções cairam por terra. Lembrava-me inclusive que moram na Praia do Bispo e o filho mais novo não tem estes trabalhos porque nasceu em Angola e tem a nacionalidade angolana há muito tempo.
A velha senhora fez-me uma festa e apresentou-me a família. Vinha com as netas mais novas, duas delas mestiças, de cabelos loiros e encaracolados a confirmarem o que já me tinha dito, que uma nora era de " côr " assim num segredar só para mim, porque até sou de lá, da terra dos " pretos ".
Perguntei como está Luanda.
- Em obras, sempre em obras.
Na 6ª feira estive com uma amiga que partiu no sábado para Luanda e nem lhe perguntei como estava a cidade. As nossas conversas decorrem como se vivessemos as duas ou cá, ou lá. As histórias sobre a terra e as pessoas surgem naturalmente.
A estas pessoas perguntar por Luanda é permitir que falem da terra. Que me dê a conhecer.
-A senhora é de lá?
Era o que eu queria ouvir. Para ficar mais próxima da realidade deles. Fui logo dizendo que sim. A matriarca contou que já lá tinha ido duas vezes.
-E quando volta?
-Em Dezembro.
Como gosto de dizer isto. E já me vejo dentro do " cabrito " com as meninas e as menos meninas ( as da minha idade que conheço ) da TAAG, e apetece-me tudo menos estar num computador a debitar trabalho em tempo de férias judiciais.
Os utentes partiram. Sem que evitassem perguntar-me: - Quer alguma coisa para Luanda?
- Que as obras terminem para que possamos todos desfrutar mais e melhor...

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