quinta-feira, 12 de agosto de 2010

encontros e desencontros

Doze de Agosto. 1973. Domingo. Vila Alice. Luanda.
Fizera há um mês precisamente, 18 anos.
Vestia calças vermelhas. Blusa azul escura,debroada a branco. Manga curta. De malha.
Calçava socas altíssimas de salto grosso, azuis, brancas e vermelhas.
Tinha o cabelo comprido, a bater no meio das costas. E o cacimbo em dia de sol, beijando-me a idade das quimeras.
Fumava um cigarro Baía, ao portão de casa de amigas queridas. Tiráramos fotografias e conversávamos numa tarde de futebol internacional. A jogar-se no Huambo.
A rua era pouco movimentada. Quem ali passasse poderia ir ter à Senado da Câmara, ou voltar para a Vila Alice. Uma rua de dois sentidos.
De um automóvel branco, três rapazes sorridentes meteram-se connosco. E seguiu-se um cerco que durou toda a tarde.E que nos divertiu em dia de nada para fazer. Sem que esperássemos, o automóvel abrandou quase até parar. O condutor, um rapaz lindo de morrer, com uns olhos claros, e um sorriso muito malandro, fazendo rir os olhos em gargalhadas inconsequentes, disse, para mim que era a única que estava a fumar:
- Sabe que o cigarro faz mal?
-É a mim que faz- respondi. Do mesmo jeito que hoje pensaria, mas que talvez já não respondesse.
Nessa noite, em frente à minha casa um automóvel businou num som que se usava muito e não era o original.
E durante muito tempo, esse automóvel parou em frente à minha porta na avenida Brasil.
Foi com o dono desse automóvel, o rapaz lindo de morrer, de sorriso iluminado e jeito de criança, que sonhei casar, de vermelho, na igreja da Nazaré.
A 29 de Junho de 1975, despedimo-nos em Luanda.
Passados que foram 18 anos, voltámos a ver-nos. Em Torres Novas.
A última vez que o vi foi em Lisboa. Não há muito tempo...
Passaram 37 anos desde 12 de Agosto de 1973.
As nossas vidas não se uniram para todo o sempre.
Porém há afectos que são para sempre.
Hoje vou para Norte. O rapaz do sorriso que nunca mais esqueci, está a Sul. O outro Sul. Seria improvável um encontro.
O meu coração, abriu uma gaveta e achou-o, hoje...

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