quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Vizinhança


















Os meus vizinhos do andar, assim, mesmo ao lado de mim, paredes meias, a respirarmos todos, eu e eles, ali bem aconchegadinhos, repito, os meus vizinhos, são muito estranhos.
E são muitos. Nem têm conta, vê-los entrar no prédio, subir as escadas, como se fossem para uma manifestação, bem dispostos, barulhentos, sujos e despreocupados...
Deixam a porta de casa aberta e circulam por lá de luz apagada.
Têm camas na sala, que eu já vi.
E não é por ser quadrilheira, não sou. É só porque tenho que passar à porta deles e se está aberta, aguça-me a curiosidade, e eu olho. Não espreito porque não é preciso, mas não ponho a mão nos olhos para não ver.
Hoje cruzei-me com uns poucos. Eu descia e eles subiam. Os horários são estranhos como eles. A meio da noite, ruidosamente, saem de casa batendo a porta com força e som.
Em coro, como se estivessem na escola, deram-me os bons dias.
O sotaque é do leste. As barbas que ostentam, medonhas, quais anões da Branca de Neve.
E não foi difícil olhar para aquele aglomerado de machos e pensar nos 7 anões cantando " Eu vou, eu vou, ..."
Os meus vizinhos são estranhos, mas tá-se bem.
Sinto-me protegida.
Também, com tanto homem com ar de machões das cavernas, qual o deliquente que se atreve a subir as escadas e indiciar-se no mundo do crime?

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