domingo, 21 de fevereiro de 2010

Rábanos e Ovos cozidos


















Quando se faz um percurso mais ou menos longo, de comboio, ( cerca de 4 horas, atravessando um país como França ) temos de entreter o tempo, ou entretermo-nos nós, e eu para além de olhar a paisagem, ver as peripécias de um gato siamês que viajava à minha frente com a sua dona, e que me fez lembrar a Pitanguinha e ter saudades, assisti a umas séries giras, pelo netbock, ouvi música, tirei fotos e comi.
Mesmo à minha frente estava uma rapariga que não teria mais de 25 anos e viajava sozinha.
Nunca falámos uma com a outra. A língua diferente tem destas coisas. Para mim é um bloqueio.
Se fosse a escrever...mas não. Ela ia na cena dela, a senhora do gato também, o casal já entradito na idade, idem e nós, bem nós íamos mesmo numa de, tá-se bem.
Tive fome e como tinha farnel, feito muito discretamente no hotel, com o que não comi do pequeno almoço, investi nisso. Preparar a nossa refeição para o comboio, portanto. Nunca o tinha feito em hotel nenhum, por vergonha, não por achar mal, desta vez, e pelo preço do pequeno almoço, pago à parte, não tive hesitação nenhuma nem vergonhas, que isso, ensinaram-me que vergonha é roubar e enquanto estivesse na sala das refeições podia comer ou...levar. Não roubei pois não? Agora que penso nisso...Não. As peras foram tiradas à saída, mesmo nas barbas da menina que ali estava junto à mesa e ela nem pestanejou.
Tinha croissants com queijo e fiambre, folhados de chocolate, bolos secos, fatias de bolo mármore e peras. O normal, pensava eu, para o pequeno almoço, ou para um almoço num comboio.
Mas eis senão quando, a dita menina da frente e porque isto da vontade de comer é como o bocejo, boceja um, nem que seja ao telefone e bocejam todos à volta, retira de um saco um ovo cozido. Ai que nojo! Sem pão, sem molho, sem uma alfacezita que fosse ou umas rodelas de queijo fresco. Assim, simples, a empapar na boca...brrrrr!
Eu sou curiosa. Sou mesmo. E gosto de ver o que o parceiro da frente vai a fazer, numa viagem mais ou menos secante e longa. Eles também o fazem e eu nem por isso me importo...
E a sua refeição não ficou por aqui. Muito sorrateiramente, vi-a retirar do saco uma coisa que parecia uma cenoura bebé, trincava e deitava fora a parte que não se come e tem folhas.
O que era então? Rábanos. E se ela comeu!
Por fim ainda sacou de uma barra energética e bebeu água. Depois sossegou o estômago, lendo, e eu sosseguei a minha vesícula, que já não vinha boa, de tanta asneira feita em Monteppelier e que, com esta contemplação ficou a latir completamente.
Eu já vi muita coisa, até porcos a andarem de bicicleta, mas apanhar com alguém pela manhã a comer ovos cozidos e rábanos...só em França!

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