A Rotina das 4ªs

Às 4ªs feiras vou jantar com a minha irmã, à " Tasca ". Um restaurante aqui do burgo, de que gosto muito.
Já aqui o disse.
O Sr.Vítor é o dono do restaurante e o Alfredo, o empregado.
Há duas frases que o Sr. Vítor diz, à nossa chegada.
A primeira é: O marido está melhor?
E claro que é dirigida à minha irmã e a propósito do Paulo e do estado de saúde em que se encontra. Porque a mim é-me perguntado, se estou boa.
Há dias em que me apetecia brincar com o assunto e responder-lhe que: Estou muito boa. Mas era dar-lhe idéias e é melhor não. Até que o Sr. em questão é simpático e como se usava muito dizer no antigamente - Respeitador, e não merece que eu lhe acene com malandrices.
Bem, mas o jantar correu muito bem ( ? )
Ela, a caçula, cheia de sono, por ter dormido apenas 3 horas e eu...bem, eu numa vontade imensa de mandar tudo para as ortigas, isto é, enrolar-me sobre mim mesma e esquecer o mundo e pedir ao mundo que me largue da mão.
Ando um pouco assim. Sem paciência para as coisas pequenas.
Até o que pedimos para comer é reflexo do nosso mau feitio de hoje.
Dois bifes. Eu, bife à Tasca e ela, bife com molho de cogumelos.
E muitas batatas fritas, lambuzadas naquela molhanga bem amarela e cheia de colesterol.
E no fim, o meu doce com ananás e natas, o do costume.
A caçula, falou, menos que noutros dias, mas falou e fez-me bem.
E ajuda-me a ver a vida com outros olhos.
Com a segurança de quem tem uma função específica na Terra e sabe o que quer.
E acalmou a minha noite e fez-me bem falar com ela hoje...
À saída, o Sr. Vítor, que hoje estava inspirado, gabou-me o chapéu que coloquei na cabeça pouco antes de sair.
Agradeci sorrindo, que o homem não tirara pedaço nenhum; é gentil e educado e não me incomoda. Mas não evitei dizer de mim para mim, Já te atendo! Vai-te embora, mês de Agosto...
Hoje o Sr. Vítor esqueceu-se de me gabar o perfume.
Todas as 4ªs feiras o faz. Como um disco, com o ênfase que a situação dita.
Estava virado para o chapéu e para a viagem próxima, a Angola, querendo saber quando voltaria à minha terra.
Apeteceu-me dizer-lhe que estou já de viagem de novo, não para Angola, mas ao encontro de um amor grande, tão grande que não cabe no mundo. Mas este homem não tem nada com isso.
Gosto de ir à " Tasca ". Gosto de falar com o Alfredo que hoje não esteve falador e gosto da comida que lá como, apesar de hoje, nem eu nem a caçula estarmos no nosso melhor. Ambas sabemos porquê e não disfarçàmos.
Hoje, não houve gargalhadas nem conversa de deitar fora.
Há noites assim.
O que vale é que estou de partida.
E até me apetece cantar- Indo eu, indo eu, a caminho de Viseu, encontrei o meu amor, ai Jesus que lá vou eu...
E como quem canta seus males espanta, vou pensar na possibilidade de dar um concerto, para me purificar, pondo a " mexer " daqui para fora todos os fuidos negativos que me têm atormentado.
Allez, allez!...