terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Delicadeza

Chegou-se ao balcão.
A um metro de mim.
Olhando-me nos olhos.
Os seus eram verdes. Luminosos, sorridentes.
Perguntei o que desejava.
Antes de responder à minha pergunta, disse:
Já está mesmo bom?
Costumo ser rápida no raciocínio.
Porém, estava longe de entender o que um jovem rapaz ucraniano, pretendia com essa pergunta.
Devo ter feito um ar muito pateta, porque riu-se e apontando a garganta voltou a perguntar:
Sua garganta, já está bom?
Sorri agradecendo a preocupação, dizendo que estava bem.
Hoje não estou nos dias em que fico afónica, mesmo que não esteja constipada.
Senhora estar mal, outro dia que vim tratar registo criminal.
Não me lembrei dele. Passam pelo balcão tantas pessoas! Nacionais e estrangeiros, solicitando para além do R.C. outros documentos e depois, estava doente, infeliz, ranhosa, afónica... ainda que jovem, e com uns olhos verdes, lindos, não retive na memória essa figura.
Mas fiquei enternecida com a delicadeza, o cuidado, com que esta pessoa me tratou. Tê-lo-ei tratado bem, concerteza, porque a acção provoca a reacção, como todos sabemos, mas quantos de nós no dia a dia somos gentis, educados, simpáticos, com quem está do outro lado de um balcão, de uma Repartição Pública?!
Não vou esquecer por algum tempo, estes olhos verdes, este sorriso de menino, como se fosse sua mãe, ele, meu filho...
Há dias em que se vivessemos na Ucrânia, seriamos felizes, sobretudos dias depressivos, tardes intermináveis, em que um sorriso bonito, um gesto generoso nos diz que afinal estamos cá por algum motivo, aqui, na China ou na Ucrânia.
Há sempre alguém que olha para nós e nos VÊ...

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