sábado, 20 de julho de 2013

ele há coisas!

Ele há coisas!!!
Há tempos fui contactada por uma menina muito profissional ( da comunicação ) que por acaso é amiga da minha cria, para falar sobre os tempos difíceis e inesquecíveis de 74/75, em Angola, para um projecto de rádio e televisivo. Aceitei. Simplesmente, aceitei. Ela foi a Torres Novas em dia marcado e num fim de tarde, na minha sala, falámos informalmente sobre o tema que me é muito difícil ainda hoje, porque há sentires que nunca morrem nem esquecem. 
Esqueci o acontecido até que a minha cria me alertou para o programa que iria passar na Antena 1 num domingo próximo.   
Chegou o dia do programa onde eu seria  " a estrela da companhia ". E eu, confesso, borradinha de medo e de alguma vergonha por não saber como me teria portado na entrevista à Inês. Por não saber o que aproveitariam da minha confusa, gaguejante,  enervada e dolorosa narrativa sobre os tempos mais complicados e sofridos da minha existência. Aqueles tempos que me separaram da minha placenta para sempre.
Gosto de vozes. A minha, enfim, é o que se sabe. Tenho a maior admiração por gente que não precisa de se materializar de outra forma. Seja quem for a pessoa. Se for possuidora duma voz poderosa tem a minha  rendição absoluta. Fico absolutamente fascinada. 
Quando iniciei a escuta do programa onde eu iria falar sabe-se lá como, pois à época percebi que não tinha sido tão difícil assim, mas no momento da escuta do programa fui assaltada pela total insegurança e apreensão sem fim, como se fosse esse programa mudar muito a minha vida, como se fosse eu mudar também ou ser vedeta, enfim. 
Com a habitual e exagerada importância que dou às coisas percebi como  funcionaria o alinhamento do programa. A Iolanda Ferreira tomaria as rédeas do programa, os meus depoimentos seriam mais ou menos interrompidos pela locutora que daria a palavra  a uma historiadora, dona duma voz magnífica, dona dum saber que me fascinou, dona duma convicção que me encantou.  
Esta senhora elucidaria os ouvintes acerca da história feita. Assim que comecei a ouvi-la percebi que o programa passou de imediato a ser o programa da historiadora. A voz dela ficou-me na pele e  na alma. Tentei imaginar o seu rosto. A sua idade. 
Não consegui. Transformou-se na mulher sem rosto e sem idade.
Como tudo o que não é o mais importante da nossa vida, esqueci a entrevista, a minha voz e a minha narrativa, o programa e as intervenientes. 
Hoje estava na minha sala no computador a escrever um texto qualquer e tinha a televisão ligada. Ouvi uma voz que se tornou familiar. Olhei a dona da voz. Claro que não a reconheci simplesmente porque nunca vira antes. Apostaria este mundo e aquele que era a " minha " historiadora. Tentei perceber a sua função no programa de televisão e logo percebi que de facto a voz que deu alma àquele outro onde eu participei no início do ano na Antena 1 não era senão a voz da historiadora Helena Matos.
Senti-me assim como que amiga de longa data desta senhora possuidora duma voz poderosíssima que dá gosto ouvir só porque sim. 
Percebi porque fiquei tão presa à sua voz. Quando andava no liceu tive uma professora de História fantástica. Chamava-se Aida. Era tão poderosa, também, a sua voz,que era impossível ser-se má aluna à disciplina.
Hoje gostei muito de conhecer fisicamente a historiadora. Gostei de lhe reconhecer o timbre, a velocidade dada às palavras e à ideia. à conclusão. Ao conhecimento dos factos.
Enfim, foi um prazer.    

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