O tempo dos tambarinos e das mangas, foi o tempo do nascimento dos afectos.
Foi o tempo das brincadeiras na rua. Dos contos de sereias e kimbandas. Homem do saco e simão toco.
Foi o tempo da cacimba do bairro índigena. Da igreja de São Domingos.
Das bonecas de papel. Dos cigarros negritas e dos baleizões de gelo. Das maçãs da índia roubadas do quintal dos vizinhos. Das corridas, de pé descalço, atrás dos meninos e experimentando a velocidade e o risco, pedalando a bicicleta alugada na oficina do Sr. Arlindo.
Do amor de mãe e pai. Dos vizinhos. Foi o tempo da minha rua. Do meu bairro. Da minha cidade.
Foi o tempo da minha angolanidade real. Da minha consciência de africana. Comigo, com as gentes e com a pátria.
A construção da posse engrandece a alma e o coração de quem sente que é gente.
Ficou-me desse tempo, o encontro comigo. E com os sentimentos. Com os outros.
Ficou-me desse tempo prolongado até ao estado adulto uma imensa certeza de que nada é igual ao resto, quando se constroem sentimentos, se desenvolvem afectos, se olha a nossa terra como mãe que nos tem, nos dá e nos acolhe e protege.
Ficou-me desse tempo, gente que me ajudou a construir a minha angolanidade, sem triagens nem redes.
Ficou-me desse tempo, eu própria. Em estado primitivo.
Hoje vou fazer a reconstrução desse tempo.
E sou feliz por isso.
A Vila Alice estará presente em mim mais do que ontem ou amanhã.
Hoje é hoje e o abraço do tamanho do universo que tenho para dar me envolve de alegria.
Hoje é o tempo certo de ser feliz.
( reporta-se a 29 de Junho último )
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