segunda-feira, 22 de julho de 2013

meeeedo!

Uma criatura tem uma noite de, raios a parta, valha-me Deus e nos acuda também, que quero dormir e o prostituto do sono está cá, porque está mesmo, mas não consigo olhar para dentro, que não sei o que isso é, nunca experimentei essa carência, só sei de lhe ouvir falar, mas até nem dava valor aos pobres que se debatem com essa anormalidade, dizem e agora eu sei, desesperadamente desesperada, a que chamam insónia.
Uma criatura mal adormece, depois de aquecer leite simples, nhac, nhac, no micro-ondas, que dizem que acalma, e nesse relaxamento pode ser que calhe, contar carneiros de invenção, ovelhas e todos os bichos que consegue imaginar às cinco da matina, mesmo se não têm quatro patas, e pronto, depois  de expulsar do quarto o único animal com quem convive pacificamente e adormecer sem se dar conta, vai ter de acordar dali a instantes.
O compromisso a chama e é daqueles que não pode fingir que não existe. Por isso, mesmo a bater com a cabeça nas paredes, dizendo mal da vidinha, vai à sua, tropeçando nas coisas, na manhã e no tempo, que é escasso e está marcado. O querer tem muita força e mesmo que não tenha energia para fazer força, também, aí vai ela.
Ela, eu, está bom de ver. Lá estou eu a falar na terceira pessoa! Que coisa foleira!
Mas, adiante, quando finalmente volto para casa, passam horas. De aflição e ansiedade.  
Adormeço no autocarro. Acordo a tempo de tocar para a minha paragem.
Quando abro a porta de casa parece estou no céu, sendo que nunca lá fui mas quero crer que será o melhor lugar do mundo para se dormir na santa paz dos deuses e sonhar com os anjinhos e todos os santos. 
E minutos depois não me faço rogada. Ainda tenho tempo para pensar que é um prazer dos diabos, um privilégio de algumas pessoas, meu, poder abandonar-me ao aconchego da cama, à maciez dos lençóis, ao acolhimento da minha almofada e depois, zzzzzzzzzz apaguei.
Duas horas depois, acordei. Com o barulho da chave abrindo a porta da rua. O coração disparou numa taquicardia desenfreada, daquelas que só pára no Samouco para meter água. Meeeedo! 
Nenhum dos filhos por cá. Ninguém mais tem a chave de casa. Ou...tem? Por segundos pensei naquela chave que perdi há cerca de um mês, sabe-se lá onde ou como, porquê, já que nunca perco nada, quer dizer sou do melhor para perder pessoas, momentos, tempo e até sentimentos, mas coisas, utensílios, não. Nunca.
De medo em medo, até chegar ao pânico foi outro segundo. 
A chave parou. A Pitanga nem sequer se mexeu, tão pouco acordou. 
Levantei-me e fui olhar a porta. Espreitei pelo óculo. Nada. Tranquilo.Tudo na mesma como a lesma. 
Eu suando das mãos, palpitando-me o coração percebi, que mais uma vez aconteceu. Nunca me dei bem com sestas. Sempre acordei delas, assustada. Desta vez não foi diferente. Do mal o menos. Ninguém entrara na minha casa. Valha-me ao menos isso. É que não vivo completamente sossegada com a ideia da minha chave em mãos alheias, tipo mãozinhas de veludo. Meeeeeeedo!


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