Depois de pés ao caminho, mente desejando e voluntariando-se na imaginação para não ser longo e chato,
depois de passar a avenida dos castanheiros selvagens a passo de caracol,
depois de avistar o azul ao longe e o desenhar todas as vezes que não venho até aqui e que hoje não esteve verde esmeralda mas que foi tão acolhedor como há muito tempo não era, num baloiçado embalo, umas vezes doce outras mais alvoraçado, sempre branco e divertido,
depois do túnel das toalhas pindericamente garridas, eis-me finalmente, bem lúcida, na praia que é igual a ontem, e a todos os ontens e anteontens que já a vivi e se torna especial porque é a que tenho. E foi escolhida, imposta por mim para este fim. Um dia feliz.
Sim, porque não percorro tanto caminho para morrer na praia, se bem que facilite. Por vezes acho mesmo que me estou só a pôr a jeito. Mas não há-de ser grave. A insolação. Que mereça internamento e cuidados médicos e hospitalares. É verão, calor e ilusão....
Céu, mar e areia é tudo o que preciso para reconstruir o clima.
Há um povoado inteiro na beira da praia. Na margem de cá.
Como um rio navegável, há uma fileira de cabeças e corpos seminus ondulando-se ao sabor da maré. Correntes trazendo e levando prazer. Parece baloiço de kanuco. Parece posso ir ao sabor da espuma, na primeira onda que me há-de encorajar. Até chegar à outra margem, feito rio, eu jangada, chegando finalmente a terra quente e firme.
Até te avistar. Sim, porque mesmo na imaginação, mesmo na saudade do futuro, não faço a viagem em vão. O momento é este. E eu estou aqui só para te dizer, olá.
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