quarta-feira, 13 de outubro de 2010

saudade de não sei quê

Amarelam as folhas dos castanheiros da avenida. O rio acinzenta-se numa cor de burro quando foge ao tempo húmido destes dias mais pequenos.
Há um odor nauseabundo, cheirando a ratos, de cartão espapassado, que me enoja.
Os cães farejam as flores do jardim bacilento da beira-rio.
Os patos nadam na água lodosa a caminho da represa, indiferentes à estação. Será que os patos são imbecis como as galinhas?
Não vi partir as andorinhas e tenho pena. Não lhes acenei em jeito de despedida. Para a próxima substituo os lenços de papel por outros. De caxemira. Quando é que elas voltam? As andorinhas? Quando aparecerem os ninhos no meu varandim estará na hora da Primavera. E voltarei a ouvir o piar jovem dos passarinhos.
Das sarjetas entupidas nasce água como cascatas e inunda a estrada calcetada. Os mosquitos iniciam passos de dança. Uma dança histérica e canibal.
As horas parecem esquecidas de mim. Perdidas nos minutos que não passam. Nem por mim nem pela minha melancolia. Fazem-me caretas. Esboço sorrisos. Acalmo o meu choro numa canção de ninar...
Hoje foi mais Outono que ontem e menos que amanhã. Olho a cidade e os efeitos deste tempo inquieto já me atingiram. Não quero transportar tempestades, frios e cheiros. Fantasmas e sonhos pequenos. Mas fui apanhada no calendário.
Planeei atravessar este tempo, leve como uma pluma, nas asas do meu pássaro livre.
Que foi feito do meu esboço traçado na folha de papel cavalinho? Transformei-o num barquinho de papel. À deriva. Falta-lhe o mar. Se ao menos tivesse sono, dormia agarrada à onda numa praia de sonho de outono até que o ano passasse e voltassem as andorinhas. Quando o sol já fizesse das suas...

2 comentários:

Elizabeth disse...

Olá Clarinha, tás muito nostálgica! Se estivesses na Av. Brasil não estarias assim! Pois também eu que lá passava todos os dias várias vezes, a caminho da Terra Nova onde fui muito feliz, estaria bem melhor que hoje! Beijinhos e bfs.

Maria Clara disse...

Olá amiga.
É. Estou assim, desse jeito. Se estivesse na avenida brasil, se estivesse na minha, nossa Luanda, teria muito colo, muito solo, muito mar, muito coloridomuita vida...
É amiga. Tou muito assim. Nostálgica.
És um amor, querida. E mereces tudo de bom. Espero que estejas bem. Deus há-de ajudar-te porque tu és especial.
Um abraço grande. grande, daqueles do tamanho do Mundo.