domingo, 31 de outubro de 2010

encontro de afectos


Há encontros que duram um tempo semelhante a um intervalo de anúncios com imagens de sonho. São encontros de amigos e família. Quer dizer, kambas e " familha ".
Sou muito repetitiva. Porque gosto de bizar esses encontros. Como no liceu, no sumário repetitivo de : Revisão da matéria dada.
Uma refeição que dura o tempo do encontro. Tudo a que temos direito.
Kitutes da terra. Cacussos dire(i)ctamente do Mulemba X'Angola, batata doce e banana cozida, feijão de óleo de palma. Escondidinho de carne seca. Escondidinho de bacalhau ( escondidinho é um prato brasileiro, como o empadão, feito com mandioca cozida em vez de batata ). Confeccionado pela kamba anfitriã. Grelhados com miga ( miga feita por mim, pois então ) e canja. E doces. E broa com chouriço vinda do Ribatejo pela kamba que mora lá mas não sou eu, é aquela que se queixa sempre que tem uma escoliose porque durante o nosso tempo de liceu eu andava sempre com a minha mão no ombro dela, na rua a caminho do liceu, nos intervalos das aulas, etc, fazendo-lhe pressão no ombro e que assim provoquei o problema que ficou com ele mesmo até hoje ( não acredito mas pronto, entro na brincadeira.
Éramos muitos. Inicialmente a família e nós. Depois as colegas do liceu. E por falar em liceu, eu, a kamba dona da casa, a Olívia e a Paula já com alguma sangria e champanhe resolvemos relembrar as aulas de Canto Coral da professora Dilma e a vozes cantámos o hino do Liceu. As músicas que íamos cantar ao cinema Restauração pelo coro do Liceu, a Igreja de Jesus e outros. O mais grave (?) foi sabermos de cor o hino da Mocidade Portuguesa. Acho até que para darmos uma de que não estamos nem aí, nos aprimorámos na cantoria e saiu direitinho e maravilhoso. Quem achou foi o kamba Zezé, que nos transmitiu isso mesmo. Ah, foi bom, recordar esses tempos como se já não tivéssemos amanhã. As aulas no ginásio com os fatos de ginástica brancos com a sainha curta por cima e no peito o emblema da dita mocidade portuguesa e nos pés os quedes brancos.
E as aulas de Lavores irrequietas e enfadonhas, uma verdadeira sarna que quebrávamos com repetições dos ralhetes da professora, enquanto nos distraiamos do ponto pé de flor ou cruz, e que nos valiam uma falta de presença para não ser disciplinar, o que até agradeciamos porque nos permitia ir para a Cerca assistir aos campeonatos de ringue que eram um verdadeiro vício.
Falou-se do Baba. Sempre presente o nosso amigo Baba. E as suas exigências, como sendo, camisas de manga comprida sempre, de manga curta nunca, e fatos completos às riscas. E ai de quem não satisfizer essas necessidades do Baba.
Das tradições nos óbitos, que deram lugar às ostentações ridículas e exageradas de uma riqueza sabe-se lá ida buscar onde. Do perigoso tribalismo que faz retroceder as mentalidades e o progresso.
E até dos amores e desamores da sociedade angolana. Daquela que conhecemos melhor. A Luandense.
Pela tarde e noite fora sucederam-se as estórias da nguimbi.
Entre outras, duma história que não acabou bem, de uma viagem ao Uganda de ida e volta que acabou sendo de uma semana, por avaria, e desde mulheres casadas que mentiram aos maridos para viajarem com os amantes a maridos com casos com catorzinhas, assustados porque iam ser descobertos pelas legítimas, que disseram ir comprar peixe à Funda e afinal a Funda afundou-se numa mentira cabeluda e passional, a kanukas que foram dormir às avós e afinal saiam para se encontrarem com os namorados, havia de tudo e uma avaria no avião fez perceber que a mentira tem rédea curta. Então? Eu não digo? Para quê mentir?! Bem feitos os que foram apanhados, pois então?!
Em suma, foi um encontro daqueles...
Foi o verdadeiro dia de " actividades ". Que acabou depois da hora mudar, bem depois.
Esta kamba promove destes encontros de afectos que nos dão vida.
Qual chuva qual carapuça.
...brigada amigos que estiveram presentes.

Sem comentários: