domingo, 10 de outubro de 2010

a filha da romena

Ponham-se nesta cena:
Uma mulher nova, com ar (?) de romena ( deus que me perdoe pelo preconceito )aborda-vos. Sabem de antemão que é para pedir qualquer coisa. Mendicidade pura. Esperam que vos peça dinheiro. E de repente ouvem: senhora, dê qualquer coisa na pastelaria para a minha menina.
E vocês apanhados de surpresa perguntam: Qual menina? -Porque não havia menina nenhuma por perto. Ela, a mãe aponta e chama: Tamiana vem cá.
O que é que vocês fazem?
Eu digo. Sigam o coração.
E esqueçam que vos querem tramar. Que são farsolas e vivem de esquemas. Que deviam era estar a trabalhar. Ou voltar para as suas terras.
Olhem a mãe. Olhem a menina. Esta, com menos de dez anos. Morena, olhos grandes e meigos, cabelo escorrido e castanho. Mal vestida. Olhando para vocês. Com a certeza no olhar, que ia para a pastelaria escolher o que comer porque vocês não iam virar-lhe as costas.
Então vá, vamos lá à pastelaria para escolheres o que queres. E a senhora também.
A menina saltita à minha frente e pára em frente à vitrine. Tanta coisa boa. Mas ela vai direita a uma napolitana, carregadinha de chocolate.
Disse-lhe que escolhesse o que queria beber. Apontou para uma coca-cola, mas a mãe não deixou. Ficou-se e bem, por um sumo natural de laranja. Insisti com a mãe para escolher o pequeno almoço e ela acabou por pedir um folhado misto. Apenas.
Quer a criança, quer a mãe, antes, agradeceram muito.
Esta manhã, junto ao metro de Sete Rios, sabe-se lá porquê, estas duas pessoas fizeram sentir-me melhor pessoa. Não foi a acção. O que eu fiz. Isso foi o de somenos.
Foi o olhar da Tamiana. Doce e agradecido. Uma menina do leste em terras de Lisboa a expensas de estranhos...
E agora vocês dizem-me: As miúdas aprendem com as mães a serem manhosas, espertalhucas. As romenas são as piores. Só querem pedinchar aqui e ali.
E eu digo, o olhar duma menina, desta menina, não é um olhar mentiroso.
Tamiana, a menina romena, ainda tem o olhar dos inocentes.

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