quinta-feira, 15 de julho de 2010

rafeiro

Não tenho medo de cães. Mesmo quando me ladram.
A D. Branca é minha vizinha. Do prédio ao lado. Conheço-a há mais de 20 anos atrás de cães e gatos, com latas de comida. Dá-lhes nomes. Trata deles. Leva-os ao veterinário. Protege-os.
Diariamente a encontro sentada no pseudo-jardim em frente aos prédios do pseudo bairro. Na " calhandrice " com outra vizinha. Olhando o Vale de Alvorão, a Serra de Aire e a vida dos outros.
De junto dela, partiu que nem um tiro, direito a mim, um rafeiro seu protegido. Castanho, arruivado. E imaginem, com barbas. Feio que nem trovões. De dente afiado. Parou nas minhas calças de ganga, sorte a minha que as tinha. Ladrando que nem um condenado, a fera não se fez rogada e deitou-me o dente ao gémeo. Senti-lhe os dentes caninos. Sacudi-o, dando-lhe com a carteira. A D. Branca correndo de pau na mão, praguejava com o rafeiro, ameaçando-o com o pau.
- D. Clara ele não faz mal. Só quer brincar.
- Olhe que a brincadeira dele ia-me arrancando um naco.
- Que disparate D. Clara. Ele é tão meiguinho.
Apeteceu-me mordê-la rafeiramente e rosnar-lhe aos ouvidos. Em vez disso:
- Pronto, está bem. Mas meiguices destas dispenso bem.
Segui o meu caminho. Estava quase à porta do prédio.
Não me deu uma veneta, como algumas que já tive. Nem sequer fiquei a pensar no rafeiro e na d. branca, até hoje de manhã.
Saí depois das 8 horas. Má volta, tendo em conta que não há aulas e os autocarros andam certinhos. Desci as escadas apressadamente e ia tropeçando à saída, numa coisa castanha, enrolada, em cima do tapete da entrada.
Advinhem quem esperava por mim ( ? ) à minha porta? Quem?
O rafeiro. Pensei de mim para mim: Olá, estou mesmo feita ao bife com este rafeirão canino.
Mas não. Nem ladrou nem afiou os dentes.
E continuei dizendo para mim: Como é, companheiro? O que é que tu queres?
Como se me entendesse, seguiu-me.
Não o achei tão horroroso. De barbas, pronto, um cão de barbas é um cão desleixado, velho, maltrapilha, mas com uma cor de pêlo que tomara muitos.
Não podia estar com salamaleques porque precisava quase correr, mas ele acompanhou a passada.
Percebi. Percebi que voltara a mim para fazermos as pazes.
Deixei escapar um, vá lá lindo, deixa-me em paz que tenho de ir trabalhar. Abanou o rabo de contente.
Parei. Assim também já era demais. Pazes sim, amigos nem tanto.
-Vá lá amiguito, volta para trás. Vai...fiz sinal com a mão.
O rafeiro, parou, bocejou e deixou-se ficar sentado à beira da estrada.
Eu segui o meu caminho, apressada e intrigada.
Os animais surpreendem-nos, sempre. Ou não...

1 comentário:

Anónimo disse...

andas enroscada na gata....
axo k o cão se tá a candidatar a asilo no teu kubico.....