terça-feira, 14 de setembro de 2010

recomeço

" Eh pá, outra vez esta seca, as férias parece que foram ontem que começaram e já estamos aqui outra vez, porra..."
" Eh pá puto, apoiado, dá cá mais cinco, tuge "... foi o que me apeteceu dizer-lhe, numa solidariedade antiga, do tempo do colégio quando só arrastando-me é que me conseguiam sentar no banco da escola. Sempre lavada em lágrimas. E acomulando promessas disto e daquilo, que nem sempre cumpriam. Quando era o avô, sim. Em dobro.
Porém hoje sei que estas, as férias, terminaram não ontem, mas anteontem, e as próximas são pr'amanhã.
No intervalo temos de viver. Muito e bem. E estudar e trabalhar.
Por isso e com um saudosismo masoquista, sorri ao puto.
Eles são como bandos à solta por estas ruas fora. E esperando autocarros. De novo.
No meu autocarro houve novidades. O motorista do tempo de aulas regressou. Aquele que é meu amigo e me guardou a carteira que perdi. Fez-me um sorriso bem disposto e perguntou-me assim numa confiança que lhe dei: Como é que a senhora está? As férias? Lá temos que voltar ao sacrifício, não é?- Apeteceu-me dizer-lhe que não devia ser, não, mas que remédio. É para isso que nos pagam, como diz uma colega minha, que por acaso até está de férias.
Os putos que vão ser a minha alegria nesses 20 minutos, ( porque lhes acho piada e não por serem muito engraçados ) iam calmos e silenciosos. Alguns devem estar a dizer palavrões lá para os lados das faculdades a que concorreram porque não iam no autocarro. A menina da Escola Profissional também não. Minha vizinha que partilhava tarefas comigo, e sorria sempre quando eu me aproximava, apressando-se a tirar as suas coisas do banco para que me sentasse.
Vistas bem as coisas, não me esqueci destas pessoas. Apaguei-as temporariamente. Algumas não voltarei a ver. Viajarão por outras estradas. Aprenderão outros palavrões, ambicionarão outros sonhos...
Eu, quem sabe que viagens farei, com quem ou se as partilharei, que palavrões aprenderei ainda e que sonhos me faltará sonhar ...
Enquanto não, vou iniciar assim, o meu percurso de trabalhadora do estado, tentando desempenhá-lo o melhor que souber e puder e me deixarem. Porque isto da Justiça não está fácil e já ninguém acredita nela. É que, nem eu. Mas não comentem, porque não me fica bem à cara dizê-lo. E depois tenho sempre presente que um dia há muitos anos disse estas palavras " Juro por minha honra que cumprirei com lealdade as funções que me foram confiadas ". A minha parte eu cumpro...

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